Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Finete > 2003 > "Bacari Soncó vestido a preceito, fotografia que ele mandou para o seu irmão Mário, único irmão que ele tem branco". É o actual o régulo do Cuor. É irmão do Malã e do Fodé Dahaba.
Lisboa > Hospital Militar Princiapal > 1969 > Fotografia do 2º sargento Fodé Dahaba, "com um sorriso muito triste, tirada nos jardins do Hospital Militar Principal em Lisboa"... Elemento do Pel Caç Nat 52, foi gravemente ferido na Op Anda Cá (Fevereiro de 1969).
Texto e fotos : © Beja Santos (2006)
Continuação da publicação das memórias do Beja Santos >
Diário do Tigre de Missirá, na terceira semana de Agosto de 1968 (1)
Matar ou morrer?
Beja Santos
Em meados do mês de Agosto, regressávamos do abastecimento em Bambadinca quando o Saiegh me mostrou triunfante, enquanto esperávamos a piroga, as insígnias em plástico que ele concebera para o Pel Caç Nat 52: era uma coisa assim apiratada com caveira e tíbias, um verde fluorescente e a frase "Matar ou Morrer". O meu olhar gelou e o Saiegh não resistiu a dizer-me: - Já vi que não gosta. Será por a iniciativa ser minha?
Como estávamos rodeados de soldados, pedi-lhe para conversarmos depois do jantar e a sós. As nossas relações estavam tensas, habitualmente a seguir ao jantar eu pedia ao furriéis (nesta altura só estavam em Missirá o Saiegh, indiscutivelmente o sargento mais apto e prestigiado junto das tropas, e o Ferreira, que não escondia a expectativa de viver em paz as poucas semanas que o separavam da peluda) para prepararmos a agenda do dia seguinte constituída pela inevitável ida a Mato de Cão, um patrulhamento ou limpezas e gestão do aquartelamento e outras trivialidades.
O Saiegh ouvia as minhas propostas e gradualmente afundava-se no silêncio. Aquela já não era a sua guerra. É no decurso da segunda semana de Agosto que durante um patrulhamento acima de Finete, descendo entre Gã Joaquim, Gã Gémeos e Gambicilai que encontrámos vestígios pronunciados da passagem de guerrilheiros. Mais: no chão, descobrimos dois carregadores de PPSH e um de uma pistola (que mais tarde vim a saber que era uma Tokarev). Quando analisámos a situação a três, lembro-me de ter comentado que os guerrilheiros seguramente atravessavam ali o Geba (fazer a cambança) e deveriam abastecer-se em Mero, junto dos balantas.
Como se tivesse sido ferido na sua sensibilidade, Saiegh protestou dizendo que no passado patrulhara muitas vezes aquela área e não havia informações nesse sentido. Ora, a seguir a este patrulhamento, dias depois, encontrámos em Mato Madeira um novo trilho que passava o rio de Biassa até se internar no velho caminho que na carta vai na direcção de Quebá Jilã. Saiegh emergiu num mutismo absoluto, agravado com a conversa que tivemos em particular com Quebá, o irmão do régulo Malâ, e que era o nosso picador. Quebá foi muito claro:
- Inimigo vai buscar comida aos Balanta, mas também gente que vai para o mato. Se atacarmos ali o inimigo, guerra vai crescer.
E a guerra cresceu mesmo: a partir de finais de Agosto passámos a ter emboscadas diárias entre Malandi e Canturé, ou entre Canturé e Gã Gémeos, ou entre Boa Esperança e Gambicilai... fomos estreitando a vigilância na margem esquerda do Geba em torno de Mero e Fá Balanta. Inevitavelmente, as colunas foram detectadas, houve baixas, o contra-terror fora detonado. A 6 de Setembro, veio a primeira flagelação de Missirá, bem brutal por acaso. Seguir-se-ão as minas, as curtas flagelações , as mensagens na picada, as tentativas de rapto das populações civis em Finete.
Naquela noite, expliquei ao desmotivado Saiegh que Matar ou Morrer não era a minha insígnia: - Desculpar-me-à quanto aos seus propósitos, mas não estamos em guerra santa. Temos populações civis a defender e consciências a salvar. Isto não é nenhum maniqueísmo, estou-lhe a demonstrar que não fico à espera do inimigo dentro do arame farpado, esse inimigo tem populações civis que não vamos chacinar. Nada tenho que apoiar as insígnias que você criou e asseguro-lhe que não as vou proibir. Mas não me peça que adira entusiasticamente a uma fórmula que não obedece ao meu sentir.
E assim arrumámos o assunto... ainda que o Matar ou Morrer viesse a ser pintado na base do pau de bandeira. O projecto da escola iria começar em meados de Setembro, dois abrigos apodrecidos começaram a ser substituidos, negociei com o Teixeira das transmissões a cimentação do armazém da comida. Em Bambadinca, pedi ao antecessor do David Payne,[médico do BCAÇ 2852], que recebesse uma vez por semana a população civil, em horário a estipular. Iniciava-se assim as consultas a pedido da população ou por minha própria iniciativa.
Diário do Tigre de Missirá, na terceira semana de Agosto de 1968 (1)
Matar ou morrer?
Beja Santos
Em meados do mês de Agosto, regressávamos do abastecimento em Bambadinca quando o Saiegh me mostrou triunfante, enquanto esperávamos a piroga, as insígnias em plástico que ele concebera para o Pel Caç Nat 52: era uma coisa assim apiratada com caveira e tíbias, um verde fluorescente e a frase "Matar ou Morrer". O meu olhar gelou e o Saiegh não resistiu a dizer-me: - Já vi que não gosta. Será por a iniciativa ser minha?
Como estávamos rodeados de soldados, pedi-lhe para conversarmos depois do jantar e a sós. As nossas relações estavam tensas, habitualmente a seguir ao jantar eu pedia ao furriéis (nesta altura só estavam em Missirá o Saiegh, indiscutivelmente o sargento mais apto e prestigiado junto das tropas, e o Ferreira, que não escondia a expectativa de viver em paz as poucas semanas que o separavam da peluda) para prepararmos a agenda do dia seguinte constituída pela inevitável ida a Mato de Cão, um patrulhamento ou limpezas e gestão do aquartelamento e outras trivialidades.
O Saiegh ouvia as minhas propostas e gradualmente afundava-se no silêncio. Aquela já não era a sua guerra. É no decurso da segunda semana de Agosto que durante um patrulhamento acima de Finete, descendo entre Gã Joaquim, Gã Gémeos e Gambicilai que encontrámos vestígios pronunciados da passagem de guerrilheiros. Mais: no chão, descobrimos dois carregadores de PPSH e um de uma pistola (que mais tarde vim a saber que era uma Tokarev). Quando analisámos a situação a três, lembro-me de ter comentado que os guerrilheiros seguramente atravessavam ali o Geba (fazer a cambança) e deveriam abastecer-se em Mero, junto dos balantas.
Como se tivesse sido ferido na sua sensibilidade, Saiegh protestou dizendo que no passado patrulhara muitas vezes aquela área e não havia informações nesse sentido. Ora, a seguir a este patrulhamento, dias depois, encontrámos em Mato Madeira um novo trilho que passava o rio de Biassa até se internar no velho caminho que na carta vai na direcção de Quebá Jilã. Saiegh emergiu num mutismo absoluto, agravado com a conversa que tivemos em particular com Quebá, o irmão do régulo Malâ, e que era o nosso picador. Quebá foi muito claro:
- Inimigo vai buscar comida aos Balanta, mas também gente que vai para o mato. Se atacarmos ali o inimigo, guerra vai crescer.
E a guerra cresceu mesmo: a partir de finais de Agosto passámos a ter emboscadas diárias entre Malandi e Canturé, ou entre Canturé e Gã Gémeos, ou entre Boa Esperança e Gambicilai... fomos estreitando a vigilância na margem esquerda do Geba em torno de Mero e Fá Balanta. Inevitavelmente, as colunas foram detectadas, houve baixas, o contra-terror fora detonado. A 6 de Setembro, veio a primeira flagelação de Missirá, bem brutal por acaso. Seguir-se-ão as minas, as curtas flagelações , as mensagens na picada, as tentativas de rapto das populações civis em Finete.
Naquela noite, expliquei ao desmotivado Saiegh que Matar ou Morrer não era a minha insígnia: - Desculpar-me-à quanto aos seus propósitos, mas não estamos em guerra santa. Temos populações civis a defender e consciências a salvar. Isto não é nenhum maniqueísmo, estou-lhe a demonstrar que não fico à espera do inimigo dentro do arame farpado, esse inimigo tem populações civis que não vamos chacinar. Nada tenho que apoiar as insígnias que você criou e asseguro-lhe que não as vou proibir. Mas não me peça que adira entusiasticamente a uma fórmula que não obedece ao meu sentir.
E assim arrumámos o assunto... ainda que o Matar ou Morrer viesse a ser pintado na base do pau de bandeira. O projecto da escola iria começar em meados de Setembro, dois abrigos apodrecidos começaram a ser substituidos, negociei com o Teixeira das transmissões a cimentação do armazém da comida. Em Bambadinca, pedi ao antecessor do David Payne,[médico do BCAÇ 2852], que recebesse uma vez por semana a população civil, em horário a estipular. Iniciava-se assim as consultas a pedido da população ou por minha própria iniciativa.
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Missirá > Pel Caç Nat 52 > 1968 ou 1969 > Uma das raras fotos do furriel Saiegh, da época da sua passagem por Missirá: aqui na frente de uma viatura, na picada da bolanha de Finete, entre o Alf Mil Beja Santos, comandante do Pel Caç Nat 52, de óculos escuros, e o condutor. O Saiegh, guineense de origem sírio-libanesa, sairá mais tarde desta unidade para ajudar a formar a 1ª Companhia de Comandos Africanos, aonde chegaria à posição de capitão, depois da morte de João Bacar Jaló. Foi fuzilado pelos homens do PAIGC, depois da independência (2) .
Foto: © Beja Santos (2006)
Eu sabia das febres e das pestes mas nunca vira uma elefantíase, um testículo até aos pés, um rosto comido por o que me parecia uma lepra. Havia igualmente o ritual da fome e que eu conhecia por vários processos escabrosos: por exemplo, sair do abrigo às 6h da manhã e uma mulher espremer-me diante dos meus olhos uma pele murcha que fora um seio e dizer-me: -Leite cá tem, minino muri....
Aí o Comandante da CCS perguntou-me se eu tinha enlouquecido:
-O quê, você quer dar Nestogeno a estes putos todos? Tenha juízo!
Criou-se então um fundo só para leite... O meu regime de sonos alterava-se: com a preocupação de acompanhar a vigilância nocturna, só adormecia entre as 2 e as 3h da manhã. Passei a escrever e a ler furiosamente. Simulava ser poeta, e guardo uns papéis amarelecidos com disparates como este, em homenagem a um grande poeta francês, Saint-John Perse, laureado com Nobel:
Ode a Saint-John Perse
Acreditar no vento como feto aborígene!
Ouvir nos caijueiros em flor as flotilhas de morcegos.
Desfolhar um livro nestas noites de emboscadas em que os campos de cana
Lembram terra de morangos.
Imaginar caçadores furtivos que se deslocam na bruma na pista dos búfalos.
Esperar que as águas tropicais nos apaziguem o sofrimento.
E enviar uma mensagem a quem me lembra e esquece:
Em Missirá há um homem que esgrime com uma catana mutilada, à espera de uma árvore [prometida.
O poeta pede um milagre: que as águas encham a vereda da estrada e que haja um permanente [batuque no céu.
Passando às coisas sérias, relia Alexandre O'Neill que descobrira pelos meus 20 anos (3). Dentro do baú tirei um livro da Ulisseia, As andorinhas não têm restaurante. E no ar pesado da noite comecei a ler o seu texto admirável O Cotovelo Trinchado. Ora oiçam:
"Você conhece esses restaurantes de traz-que-eu-engulo, de engole-vai-embora, esses esófagos da cidade que mal dão tempo para fazer glu? No calor da nalga recém-partida você assenta a sua própria nalga recém-chegada, mas o desgosto dura o tempo de fusão dos dois calores. Outra virá, meu filho, desgostar-se (breve) do calor da sua... É nessas estações da devoração que você se reabastece de azias, de opilações, de engulhos, de flatulências, de tonturas e ardências. É aí que você faz glu com um vinho que, bebido, lhe deixa no fundo da garrafinha uma inesperada linda frase: A CEPA O DEU, VOCÊ O BEBEU!".
O'Neill representava para mim a mudança mágica na literatura portuguesa, um pouco à semelhança do que já fizera José Cardoso Pires na novela e Herberto Heldér na poesia. Mal sabia eu nessa altura que viria a conhecer o O'Neill graças ao Ruy Cinatti (4) e até por razões profissionais iríamos mutias vezes falar de publicidade. Mal sabia eu que dentro em breve a Cristina me iria enviar a obra mais influente que li durante toda a guerra: O Delfim, do José Cardoso Pires. Como relíquia, guardo este livro como o único que não me ardeu no incêndio de Março de 69 e que ainda hoje releio com prazer inexcedível. Mais adiante falarei dele.
Esta tarde partirei para Finete. Levo rações de combate para não criar problemas a ninguém. Finete não resistirá ao fogo de dois obuses, durante meia hora. Há que abrir valas, fortalecer os abrigos, contagiar com entusiasmo o Pelotão de Milícias nº 102.
A grande surpresa é a amizade que vou fazer com Bacari Soncó, irmão de Malá e Fodé Dahaba. O primeiro é hoje o régulo do Cuor. Quando nos reencontramos em 1991 guardo na memória o seu esforço para conter a comoção. Adorava as suas qualidades humanas, percorremos as margens do Geba a falar de fauna e flora. Era e é um principe e na noite de 15 Outubro de 1969 (5) irá atirar-me com um balde de água à cara que provou que afinal não tinha perdido o olho esquerdo.
Fodé, um dos homens mais lindos que conheci, gargalhava a torto e a direito e vai ficar brutalmente mutilado na Anda Cá, a última operação que farei no Cuor, em Fevereiro de 1970 (6). Vale a pena falar seguidamente destas ternas amizades que perduram no meu coração.
___________
Notas de L.G.:
(1) Vd. último post, de 15 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1070: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (10): A visita do soldado desconhecido.
(2) Vd. também post de 19 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1038: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (6): Entre o Geba e o Oio, falando do Saiegh e dos meus livros:
Eu sabia das febres e das pestes mas nunca vira uma elefantíase, um testículo até aos pés, um rosto comido por o que me parecia uma lepra. Havia igualmente o ritual da fome e que eu conhecia por vários processos escabrosos: por exemplo, sair do abrigo às 6h da manhã e uma mulher espremer-me diante dos meus olhos uma pele murcha que fora um seio e dizer-me: -Leite cá tem, minino muri....
Aí o Comandante da CCS perguntou-me se eu tinha enlouquecido:
-O quê, você quer dar Nestogeno a estes putos todos? Tenha juízo!
Criou-se então um fundo só para leite... O meu regime de sonos alterava-se: com a preocupação de acompanhar a vigilância nocturna, só adormecia entre as 2 e as 3h da manhã. Passei a escrever e a ler furiosamente. Simulava ser poeta, e guardo uns papéis amarelecidos com disparates como este, em homenagem a um grande poeta francês, Saint-John Perse, laureado com Nobel:
Ode a Saint-John Perse
Acreditar no vento como feto aborígene!
Ouvir nos caijueiros em flor as flotilhas de morcegos.
Desfolhar um livro nestas noites de emboscadas em que os campos de cana
Lembram terra de morangos.
Imaginar caçadores furtivos que se deslocam na bruma na pista dos búfalos.
Esperar que as águas tropicais nos apaziguem o sofrimento.
E enviar uma mensagem a quem me lembra e esquece:
Em Missirá há um homem que esgrime com uma catana mutilada, à espera de uma árvore [prometida.
O poeta pede um milagre: que as águas encham a vereda da estrada e que haja um permanente [batuque no céu.
Passando às coisas sérias, relia Alexandre O'Neill que descobrira pelos meus 20 anos (3). Dentro do baú tirei um livro da Ulisseia, As andorinhas não têm restaurante. E no ar pesado da noite comecei a ler o seu texto admirável O Cotovelo Trinchado. Ora oiçam:
"Você conhece esses restaurantes de traz-que-eu-engulo, de engole-vai-embora, esses esófagos da cidade que mal dão tempo para fazer glu? No calor da nalga recém-partida você assenta a sua própria nalga recém-chegada, mas o desgosto dura o tempo de fusão dos dois calores. Outra virá, meu filho, desgostar-se (breve) do calor da sua... É nessas estações da devoração que você se reabastece de azias, de opilações, de engulhos, de flatulências, de tonturas e ardências. É aí que você faz glu com um vinho que, bebido, lhe deixa no fundo da garrafinha uma inesperada linda frase: A CEPA O DEU, VOCÊ O BEBEU!".
O'Neill representava para mim a mudança mágica na literatura portuguesa, um pouco à semelhança do que já fizera José Cardoso Pires na novela e Herberto Heldér na poesia. Mal sabia eu nessa altura que viria a conhecer o O'Neill graças ao Ruy Cinatti (4) e até por razões profissionais iríamos mutias vezes falar de publicidade. Mal sabia eu que dentro em breve a Cristina me iria enviar a obra mais influente que li durante toda a guerra: O Delfim, do José Cardoso Pires. Como relíquia, guardo este livro como o único que não me ardeu no incêndio de Março de 69 e que ainda hoje releio com prazer inexcedível. Mais adiante falarei dele.
Esta tarde partirei para Finete. Levo rações de combate para não criar problemas a ninguém. Finete não resistirá ao fogo de dois obuses, durante meia hora. Há que abrir valas, fortalecer os abrigos, contagiar com entusiasmo o Pelotão de Milícias nº 102.
A grande surpresa é a amizade que vou fazer com Bacari Soncó, irmão de Malá e Fodé Dahaba. O primeiro é hoje o régulo do Cuor. Quando nos reencontramos em 1991 guardo na memória o seu esforço para conter a comoção. Adorava as suas qualidades humanas, percorremos as margens do Geba a falar de fauna e flora. Era e é um principe e na noite de 15 Outubro de 1969 (5) irá atirar-me com um balde de água à cara que provou que afinal não tinha perdido o olho esquerdo.
Fodé, um dos homens mais lindos que conheci, gargalhava a torto e a direito e vai ficar brutalmente mutilado na Anda Cá, a última operação que farei no Cuor, em Fevereiro de 1970 (6). Vale a pena falar seguidamente destas ternas amizades que perduram no meu coração.
___________
Notas de L.G.:
(1) Vd. último post, de 15 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1070: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (10): A visita do soldado desconhecido.
(2) Vd. também post de 19 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1038: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (6): Entre o Geba e o Oio, falando do Saiegh e dos meus livros:
(...) "Os olhos de Saiegh cuspiram fogo, mas ele conteve a dimensão da chama. Com o tempo, virei a saber que este descendente de sírio-libaneses também se movia por razões raciais, independentemente dos seus interesses económicos têm sido profundamente afectados pela luta de guerrilhas. O nosso conflito estava armado, mas passados estes anos todos reconheço que ele me deu uma colaboração exemplar, apagando-se progressivamente do mando e da decisão militar. Irei chorar amargamente no dia em que soube do seu fuzilamento" (...).
(3) O Alexandre O'Neil é também um dos meus poetas preferidos e um dos poetas portugueses, do Séc. XX, homenageado no Parque dos Poetas, em Oeiras.
(3) O Alexandre O'Neil é também um dos meus poetas preferidos e um dos poetas portugueses, do Séc. XX, homenageado no Parque dos Poetas, em Oeiras.
Alexandre O'Neil (1924-1986)
Foto: © Instituto Camões (2001) (com a devida vénia...)
Vd o meu post de 27 de Setembro de 2005 > Blogantologia(s) II - (4): O Parque dos Poetas do Isaltino:
(...) Quem não viu nada,
Mas que riria
Até às lágrimas,
Se fosse vivo,
Seria
O caixa d'óculos do O'Neil,
Agora príncipe
Do Reino da Dinamarca.
Imagino-o,
De Ombro na Ombreira,
Polidor de esquinas,
Desnalgando as gajas,
Mesmo não sendo trolha
Da construção
Nem nunca tendo ido
Para o trabalho,
De lancheira na mão.
Ou de lancheira na mão
Para o trabalho,
Trocando a mão direita
E a esquerda,
A lancheira e a mão,
Subindo e descendo a Avenida
Da Liberdade
À espera talvez de uma outra vida,
Mais segura,
Ou da dita,
Que só era de nome,
Reza a história,
Por causa da Ditadura,
De má catadura,
De má memória.
Mas que pode a palavra, etérea,
De um poeta,
Surrealista, anarca,
Genial,
Mas mais que morto
E enterrado,
Contra a palavra, de pedra e cal,
De um senhor autarca,
No seu feudo, no seu horto, no seu olival? (...).
(4) Vd. post de 10 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1032: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (5): Uma carta e um poema de Ruy Cinatti.
(5) Nesse fim de tarde, o autor sofreu uma violenta emboscada com mina anticarro, na estrada Finete-Missirá. Vd. posts relacionados com este episódio da mina com emboscada ao Beja Santos e ao seus homens:
Vd o meu post de 27 de Setembro de 2005 > Blogantologia(s) II - (4): O Parque dos Poetas do Isaltino:
(...) Quem não viu nada,
Mas que riria
Até às lágrimas,
Se fosse vivo,
Seria
O caixa d'óculos do O'Neil,
Agora príncipe
Do Reino da Dinamarca.
Imagino-o,
De Ombro na Ombreira,
Polidor de esquinas,
Desnalgando as gajas,
Mesmo não sendo trolha
Da construção
Nem nunca tendo ido
Para o trabalho,
De lancheira na mão.
Ou de lancheira na mão
Para o trabalho,
Trocando a mão direita
E a esquerda,
A lancheira e a mão,
Subindo e descendo a Avenida
Da Liberdade
À espera talvez de uma outra vida,
Mais segura,
Ou da dita,
Que só era de nome,
Reza a história,
Por causa da Ditadura,
De má catadura,
De má memória.
Mas que pode a palavra, etérea,
De um poeta,
Surrealista, anarca,
Genial,
Mas mais que morto
E enterrado,
Contra a palavra, de pedra e cal,
De um senhor autarca,
No seu feudo, no seu horto, no seu olival? (...).
(4) Vd. post de 10 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1032: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (5): Uma carta e um poema de Ruy Cinatti.
(5) Nesse fim de tarde, o autor sofreu uma violenta emboscada com mina anticarro, na estrada Finete-Missirá. Vd. posts relacionados com este episódio da mina com emboscada ao Beja Santos e ao seus homens:
24 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P904: SPM 3778 ou estórias de Missirá (3): carta a Alcino Barbosa, com muita intranquilidade (Beja Santos)
24 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P905: A morte na estrada Finete-Missirá ou um homem com a cabeça a prémio
26 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P911: Uma mina para o 'tigre de Missirá'
(6) Lapso do Beja Santos. A Op Anda Cá realizou-se em 1969 e não 1970. Em 1970 foi a Op Tigre Vadio.
Vd. post de 27 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P918: Operação Tigre Vadio (Março de 1970): uma dramática incursão a Madina/Belel (CAÇ 12, Pel Caç Nat 52 e outras forças)
(6) Lapso do Beja Santos. A Op Anda Cá realizou-se em 1969 e não 1970. Em 1970 foi a Op Tigre Vadio.
Vd. post de 27 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P918: Operação Tigre Vadio (Março de 1970): uma dramática incursão a Madina/Belel (CAÇ 12, Pel Caç Nat 52 e outras forças)