Esboço do Sector L1 / Zona Leste (Bambadinca) > Vd. legenda
https://arquivo.pt/wayback/20051231221027/http://www.ensp.unl.pt:80/luis.graca/guine_guerracolonial_historia.html
Fonte: História da CCAÇ 12: Guiné 69/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores nº 12. 1971.
Infografia: © Luís Graça (2005)
Extractos de:
História da CCAÇ. 12: Guiné 1969/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores 12. 1971. Capítulo II. 26-28.
Documento policopiado, elaborado pelo ex-furriel miliciano Henriques, com a colaboração e a cumplicidade de muita gente, a começar pelo sargento Piça que me abriu todas as gavetas e dossiês da sua secretaria, posteriormente mandado classificar como reservado pelo comandante da unidade, Capitão Brito, e distribuído, à sua revelia, aos quadros metropolitanos da CCAÇ 12 - alferes, furriéis. sargentos e um ou outro cabo - na véspera da sua rendição individual, em finais de Fevereiro e princípios de Março de 1971...
Não creio que tenha sido nenhum crime de alta traição ou de lesa-pátria, crime cuja autoria, de resto, assumi, publicamente, quando tive o grato prazer de encontar o meu antigo comandante, em Fão, em 1994... Não foi, de resto, nenum acto heróico: o regime de Salazar-Caetano estava já a cair de podre em 1971 e o longo braço da PIDE/DGS já não podia chegar a todo o lado...
Entendi, na altura, que aquele documento, feito com seriedade e até profissionalismo, embora limitado nas suas fontes, pertencia antes de demais aos milicianos e aos soldados do contingente geral que em Maio de 1969 tinham vindo no Niassa, sob o guião da CCAÇ 2590, para dar origem à CCAÇ 12, uma das uniddaes da "nova força africana"... Pertencia a eles e aos nossos 'nharros' que deram o seu melhor na defesa daquilo que eles pensavam ser o seu 'chão', as suas raízes, a sua identidade, os seus interesses, os seus aliados (1)... Infelizmente, poucos sabiam ler português. Hoje estou infinitamente arrependido de não ter deixado uma cópia ao José Carlos Suleimane Baldé.
De qualquer modo, a sua divulgação, ontem como hoje, é - para além de um direito, o direito inalienável à memória individual e colectiva ! - é também uma homenagem a todos os combatentes, de um lado e de outro, incluindo o então capitão Brito, hoje coronel, que era um homem afável e civilizado no trato, um elogio que eu só faria a poucos militares do quadro permanente dos muitos que conheci em quase três anos de tropa e de guerra... A história da unidade foi uma encomenda dele, nas vésperas de ser promovido a major, tendo-me pago com um louvor - incómodo, para mim - dado pelo comandante do BART 2917: contradições que o império tecia!...) (LG).
(9) Março de 1970: Op Tigre Vadio ou uma operação com sucesso à península de Madina/Belel
Esta foi porventura a mais dramática operação conjunta que a CCAÇ 12 efectuou enquanto esteve de intervenção ao Sector L1, às ordens do Comando do BCAÇ 2852 (2).
A missão confiada às NT era bater a área de Madina/Belel, no regulado do Cuor, a fim de aniquilar as posições IN referenciadas do antecedente e eventualmente capturar a população que nela vivesse.
As informações de que se dispunha era que devia existir 1 bigrupo (3) nesta região, pertencente à base do Enxalé e dispondo de 2 Morteiros 60, 1 Metralhadora Pesada Coryonov, além de armas ligeiras (Metr Degtyarev, Esp Kalashnikov, Pist Metr PPSH, etc). Admitia-se também que este bigrupo estivesse reforçado com 1 grupo de Mort 82, pertencente ao Grupo de Artilharia de Sara-Sarauol [a noroeste de Madina/Belel, vd. carta de Mambonco].
A última operação com forças terrestres realizara-se em Fevereiro de 1969, mas as NT não atingiram o objectivo devido à fuga do prisioneiro-guia e ao accionamento dum engenho explosivo que alertou o IN. Verificar-se-ia ainda vários casos de insolação (Op Anda Cá) (4).
Mais recentemente, forças heli-transportadas destruiram vários acampamentos na área de Mamboncó, reagindo o IN com mort 60 na região de Belel durante a Op Prato Verde(em 5 de Março).
Participaram nesta operação [Op Tigre Vadio] as seguintes forças:
- CCAÇ 2636 (2 Gr Comb) + Pel Caç Nat 52 (Dest A)
- CCAÇ 12 a 3 Gr Comb reforçados (Dest B)
- Pel Caç Nat 54 + 1 Esq Mort 81 / Pel Mort 2106
Guião da CCAÇ 2636 a companhia açoreana a que pertenceu o nosso camarada João Varanda (Có/Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/70; Bafatá, Saré Bacar e Pirada, 1970/71).
(5)
Foto: © João Varanda (2005)
Desenrolar da acção:
Em 30 de Março [de 1970], as forças empenhadas na Op Tigre Vadio concentrar-se-iam em Missirá, iniciando às 23h a marcha em direcção ao objectivo. Por falta de trilhos e por dificuldade do terreno, muito arborizado, não foi possível fazer a progressão por itinerários paralelos, como estava inicialmente previsto, pelo que o Dest B teve de seguir na rectaguarda do Dest C.
Sancorlá só foi atingida pelas 2.45h por dificuldades de orientação dos guias, o que ocasionaria, de resto frequentes paragens no decorrer da acção.
Às 4.40h houve uma paragem de meia hora para descanso do pessoal.
Atingir-se-ia Salà às 7h e Queba Jilã às 8h, não se tendo detectado até aqui quaisquer sinais da presença ou passagem do IN e utilizando-se sempre um antigo trilho, muito arborizado dos lados, o que impossibilitava a progresso por colunas paralelas~.
Depois de um novo auto em que se entrou em contacto com o PCV, as NT atingiram o início da península onde depararam, pelas 9h, com uma extensa cortina de fogo, em frente a Madina, pelo que foi necessário pedir ao PCV novas indicações e orientação, uma vez que já não se podia cumprir o plano estabelecido para a batida a desenvolver em linha conjuntamente pelos Dest A e B.
Dada ordem pelo PCV para seguirem na direcção W, torneando a queimada linear feita pelo IN, as NT encontrariam um trilho muito batido no sentido N/S e na direcção de Belel. Seguindo o trilho, iriam detectar por volta das 14h um acampamento IN do lado direito, composto por oito moranças de colmo e 7 de adobo. O Dest A tomou imediatamente posição para o assalto enquanto 1 Gr Comb do Dest B se dispunha de maneira a cortar a retirada ou o eventual afluxo de reforços vindos de Madina e os outros montavam à rectaguarda e à direita a fim de interceptar quaisquer fugas para N.
Desencadeado o assalto com bazuca, foi abatida imediatamente a sentinela e incendiadas as barracas de colmo. Como IN reagisse com RPSH e RPG-2 enquanto iniciava a fuga para NW, foi aberto fogo de armas automáticas, dilagrama e morteiro 60.
O Dest C, instalado na rectaguarda dos grupos de assalto fez fogo cm os dois Mort 81, batendo a mata para onde os elementos IN se refugiaram. Os Gr Comb que montavam segurança à direita, viram aparecer na orla da mata vários grupos fugindo para norte, pelo que imediatamente abriram fogo, tendo uma das granadas caído no meio dum grupo de 3 elementos que não mais foram vistos. Numa rápida batida à orla da mata, encontraram-se muitos rastos de sangue que conduziam à mata onde o IN se internou.
Depois do assalto foram referenciados mais 11 elementos abatidos e nove rastos nítidos de sangue na direcção NW, além de ouvidos gritos de dor nas imediações. Na busca realizada ao acampamento, verificou-se haver numa das barracas a arder 6 armas carbonizadas que pareciam ser Pist Metr PPSH (6). Também foi vista uma bicicleta no meio do incêndio, o que vinha comprovar a utilização por parte do IN daquele meio de transporte e comunicação no “corredor do Oio”.
As 8 casas de colmo arderam completamente, tendo-se depois completado a destruição das 7 casas de adobe, assim como de todos os meios de vida existentes.
Foi impossível recolher ou capturar armamento ou munições pois o fogo ateado desenvolveu-se rapidamente, começando também a mata a arder devido ao vento que soprava.
No assalto ficou ferido o soldado Mauro Balbé (3° Gr Comb da CCAÇ 12), com um tiro no antebraço, além dum outro soldado do Pel Caç Nat 52 com um estilhaço de granada de RPG-2 no peito.
Devido ao ataque de abelhas, muito material e munições (principalmente o que era transportado pelos carregadores) ficaram abandonados, não tendo sido possível a sua recuperação total. Entretanto, não se conseguiu pedir mais evacuações devida à avaria dos micros do único AN/PRC-10 que nessa altura ainda funcionava, nem aliás a DO e o helicóptero com o reabastecimento de água chegariam já a localizar as NT naquele dia.
Os Dests continuaram a progressão a corta-mato em direcção a Enxalé, transportando os feridos em maca e amparando os elementos mais debilitados.
Devido à escuridão e à vegetação densa, os Dests começaram a fraccionar-se, perdendo-se a unidade de comando, enquanto o Pel Caç Nat 52 caminhava na vanguarda orientando-se pela bússola, uma vez que os guias davam provas de não conhecer a zona. A progressão tornava-se, de resto, cada vez mais penosa devido aos crescentes casos de esgotamento físico e psicológico provocado pela marcha quase ininterrupta durante uma noite e um dia, e sobretudo pela desidratação e pelo ataque de abelhas.
Pelas 22h, as várias fracções dos Dests que, embora seguissem trilho feito pelo Gr Comb que ia na frente, não tinham ligação visual ou contacto-rádio, entre si, estacionaram para pernoitar a uns 8 quilómetros do Enxa1é.
Ao amanhecer reiniciou-se a marcha, depois dos 3 Dests se reorganizarem, tendo o grupo da frente atingido o Enxalé por volta das 10h com o auxílio do PCV que orientou o deslocamento. A maior parte do pessoal, porém foi transportado de viatura a partir do cruzamento de São Belchior, depois de se ter dessedentado com água trazida em bidões.
Em resultado da acção das NT, o IN sofreu 15 mortos (entre referenciados e confirmados), 10 feridos confirmados e baixas prováveis, não sendo possível discriminar os elementos combatentes dos elementos pop.
Desta operação o Comando colheu os seguintes ensinamentos:
- A surpresa conseguida deve-se ao facto de se ter atingido o objectivo pelas 14h, hora que o IN abranda a vigilância por que sabe que as NT fazem habitualmente um alto entre as 11h (8). Outra razão foi ter-se convencido que as NT retiravam devido à cortina de fogo que havia lançado ao capim.
-Um ataque de abelhas tem pior consequências que uma flagelação, pois que naquele caso as NT entram em estado de pânico, abandonando armamento e equipamento num instinto de defesa e tornando impossível a manobra de comando.
Transcrição da Mensagem 1404/C do Com-Chefe (Rep Oper):
COM-CHEFE MANIFESTA SEU AGRADO REALIZAÇÃO RESULTADOS OBTIDOS OP TIGRE
VADIO.
____________
Notas de L.G.
(1) Vd. post de 3 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XI: O Sector L1 (Xime-Bambadinca-Xitole): Caracterização (2)
(...) "Colaboração dos fulas com as NT
Os fulas, que são a maior etnia do sector, desde o princípio da guerra que se têm mostrado fiéis as NT mas a sua colaboração é profundamente influenciada por vários factores.
Apontam-se como factores positivos: (i) o tradicional respeito dos fulas às nossas autoridades;(ii) a rivalidade existente entre a etnia fula e as restantes etnias da Guiné, especialmente os mandingas e os balantas;(iii) e ainda a hostilidade dos chefes fulas em relação ao PAIGC.
E como factores negativos:(i) a ausência de um sentimento de nacionalidade;(ii) a islamização;(iii) o receio do potencial IN;(iv) e sobretudo o estado de regressão em que a etnia fula se encontra (em virtude da estrutura tribal em que vive, da poligamia e economia de autoconsumo que pratica, da vida contemplativa que adopta, da perda de qualidades de trabalho, etc.).
Mas duma maneira geral a população fula do sector (e em especial a dos regulados de Xime e Badora) tem prestado colaboração activa as NT, aceitando a autodefesa, alistando-se voluntariamente no Exército e nas forças militarizadas, combatendo o IN e resistindo aos seus ataques. Embora não haja uma fronteira étnica definida, o fula mostra grande apego ao seu chão donde não quer ser desenraizado.
(2) vd. post de 29 Junho 2005 > Guiné 69/71 - LXXXVIII: O baptismo de fogo da CCAÇ 12, em farda nº 3, em Madina Xaquili (Julho de 1969)
(3) 1 bigrupo= 50/60 homens. Vd post de 10 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXXVI: Um bigrupo, quantos homens eram ?
(4) O relatório da Op Nada Consta será publicado em breve. Nela participou o nosso camarada Beja Santos, na altura comandante do Pel Caç Nat 52. O seu prisioneiro-guia estava confiado à guarda dos homens desta unidade, destacada em Missirá. Nesta operação realizada em Março de 1970, a Op Tigre Vadio, o comandante das forças terrestrs também foi, prática, o Alf Mil Beja Santos. Esta era, de resto, a sua zona de acção e era de Madina/Belel que, quase sempre, vinham as forças de guerrilha atacar Missirá e outros objectivos das NT...
(5) Vd. posts de:
22 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLIII: Notícias da açoreana CCAÇ 2636 (Bafatá, Contuboel, Saré Bacar, Pirada)
19 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXC: CCAÇ 2636 (Bafatá, 1970/71) (6): Mimos do PAIGC em Mansomine
(6) Mais conhecidas, entre as NT, por costureirinhas.
(7) Vd. post de 2 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - XCIV: Um alfa bravo para os nossos Op TRMS (1)
(8) Vd. post de 14 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIX: Op Lança Afiada (IV): O soldado Spínola na margem direita do Rio Corubal
(...) A Op Lança Afiada decorreu durante 11 dias. As temperaturas verificadas neste período foram as seguintes: Máxima à sombra – Entre 39 e 43,6 graus centígrados; Máxima ao sol – Entre 70 e 74,5 graus centígrados. Estes números são elucidativos. Por um lado justificam que um homem necessite muita água (entre 8 a 10 litros por dia). Por outro lado aconselham as NT a deslocarem-se e a actuarem ou de noite ou ao amanhecer. Entre as 11 e as 16h, o melhor é parar, se possível à sombra (...).
Fonte: História da CCAÇ 12: Guiné 69/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores nº 12. 1971.
Infografia: © Luís Graça (2005)
Extractos de:
História da CCAÇ. 12: Guiné 1969/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores 12. 1971. Capítulo II. 26-28.
Documento policopiado, elaborado pelo ex-furriel miliciano Henriques, com a colaboração e a cumplicidade de muita gente, a começar pelo sargento Piça que me abriu todas as gavetas e dossiês da sua secretaria, posteriormente mandado classificar como reservado pelo comandante da unidade, Capitão Brito, e distribuído, à sua revelia, aos quadros metropolitanos da CCAÇ 12 - alferes, furriéis. sargentos e um ou outro cabo - na véspera da sua rendição individual, em finais de Fevereiro e princípios de Março de 1971...
Não creio que tenha sido nenhum crime de alta traição ou de lesa-pátria, crime cuja autoria, de resto, assumi, publicamente, quando tive o grato prazer de encontar o meu antigo comandante, em Fão, em 1994... Não foi, de resto, nenum acto heróico: o regime de Salazar-Caetano estava já a cair de podre em 1971 e o longo braço da PIDE/DGS já não podia chegar a todo o lado...
Entendi, na altura, que aquele documento, feito com seriedade e até profissionalismo, embora limitado nas suas fontes, pertencia antes de demais aos milicianos e aos soldados do contingente geral que em Maio de 1969 tinham vindo no Niassa, sob o guião da CCAÇ 2590, para dar origem à CCAÇ 12, uma das uniddaes da "nova força africana"... Pertencia a eles e aos nossos 'nharros' que deram o seu melhor na defesa daquilo que eles pensavam ser o seu 'chão', as suas raízes, a sua identidade, os seus interesses, os seus aliados (1)... Infelizmente, poucos sabiam ler português. Hoje estou infinitamente arrependido de não ter deixado uma cópia ao José Carlos Suleimane Baldé.
De qualquer modo, a sua divulgação, ontem como hoje, é - para além de um direito, o direito inalienável à memória individual e colectiva ! - é também uma homenagem a todos os combatentes, de um lado e de outro, incluindo o então capitão Brito, hoje coronel, que era um homem afável e civilizado no trato, um elogio que eu só faria a poucos militares do quadro permanente dos muitos que conheci em quase três anos de tropa e de guerra... A história da unidade foi uma encomenda dele, nas vésperas de ser promovido a major, tendo-me pago com um louvor - incómodo, para mim - dado pelo comandante do BART 2917: contradições que o império tecia!...) (LG).
(9) Março de 1970: Op Tigre Vadio ou uma operação com sucesso à península de Madina/Belel
Esta foi porventura a mais dramática operação conjunta que a CCAÇ 12 efectuou enquanto esteve de intervenção ao Sector L1, às ordens do Comando do BCAÇ 2852 (2).
A missão confiada às NT era bater a área de Madina/Belel, no regulado do Cuor, a fim de aniquilar as posições IN referenciadas do antecedente e eventualmente capturar a população que nela vivesse.
As informações de que se dispunha era que devia existir 1 bigrupo (3) nesta região, pertencente à base do Enxalé e dispondo de 2 Morteiros 60, 1 Metralhadora Pesada Coryonov, além de armas ligeiras (Metr Degtyarev, Esp Kalashnikov, Pist Metr PPSH, etc). Admitia-se também que este bigrupo estivesse reforçado com 1 grupo de Mort 82, pertencente ao Grupo de Artilharia de Sara-Sarauol [a noroeste de Madina/Belel, vd. carta de Mambonco].
A última operação com forças terrestres realizara-se em Fevereiro de 1969, mas as NT não atingiram o objectivo devido à fuga do prisioneiro-guia e ao accionamento dum engenho explosivo que alertou o IN. Verificar-se-ia ainda vários casos de insolação (Op Anda Cá) (4).
Mais recentemente, forças heli-transportadas destruiram vários acampamentos na área de Mamboncó, reagindo o IN com mort 60 na região de Belel durante a Op Prato Verde(em 5 de Março).
Participaram nesta operação [Op Tigre Vadio] as seguintes forças:
- CCAÇ 2636 (2 Gr Comb) + Pel Caç Nat 52 (Dest A)
- CCAÇ 12 a 3 Gr Comb reforçados (Dest B)
- Pel Caç Nat 54 + 1 Esq Mort 81 / Pel Mort 2106
Guião da CCAÇ 2636 a companhia açoreana a que pertenceu o nosso camarada João Varanda (Có/Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/70; Bafatá, Saré Bacar e Pirada, 1970/71).
(5)
Foto: © João Varanda (2005)
Desenrolar da acção:
Em 30 de Março [de 1970], as forças empenhadas na Op Tigre Vadio concentrar-se-iam em Missirá, iniciando às 23h a marcha em direcção ao objectivo. Por falta de trilhos e por dificuldade do terreno, muito arborizado, não foi possível fazer a progressão por itinerários paralelos, como estava inicialmente previsto, pelo que o Dest B teve de seguir na rectaguarda do Dest C.
Sancorlá só foi atingida pelas 2.45h por dificuldades de orientação dos guias, o que ocasionaria, de resto frequentes paragens no decorrer da acção.
Às 4.40h houve uma paragem de meia hora para descanso do pessoal.
Atingir-se-ia Salà às 7h e Queba Jilã às 8h, não se tendo detectado até aqui quaisquer sinais da presença ou passagem do IN e utilizando-se sempre um antigo trilho, muito arborizado dos lados, o que impossibilitava a progresso por colunas paralelas~.
Depois de um novo auto em que se entrou em contacto com o PCV, as NT atingiram o início da península onde depararam, pelas 9h, com uma extensa cortina de fogo, em frente a Madina, pelo que foi necessário pedir ao PCV novas indicações e orientação, uma vez que já não se podia cumprir o plano estabelecido para a batida a desenvolver em linha conjuntamente pelos Dest A e B.
Dada ordem pelo PCV para seguirem na direcção W, torneando a queimada linear feita pelo IN, as NT encontrariam um trilho muito batido no sentido N/S e na direcção de Belel. Seguindo o trilho, iriam detectar por volta das 14h um acampamento IN do lado direito, composto por oito moranças de colmo e 7 de adobo. O Dest A tomou imediatamente posição para o assalto enquanto 1 Gr Comb do Dest B se dispunha de maneira a cortar a retirada ou o eventual afluxo de reforços vindos de Madina e os outros montavam à rectaguarda e à direita a fim de interceptar quaisquer fugas para N.
Desencadeado o assalto com bazuca, foi abatida imediatamente a sentinela e incendiadas as barracas de colmo. Como IN reagisse com RPSH e RPG-2 enquanto iniciava a fuga para NW, foi aberto fogo de armas automáticas, dilagrama e morteiro 60.
O Dest C, instalado na rectaguarda dos grupos de assalto fez fogo cm os dois Mort 81, batendo a mata para onde os elementos IN se refugiaram. Os Gr Comb que montavam segurança à direita, viram aparecer na orla da mata vários grupos fugindo para norte, pelo que imediatamente abriram fogo, tendo uma das granadas caído no meio dum grupo de 3 elementos que não mais foram vistos. Numa rápida batida à orla da mata, encontraram-se muitos rastos de sangue que conduziam à mata onde o IN se internou.
Depois do assalto foram referenciados mais 11 elementos abatidos e nove rastos nítidos de sangue na direcção NW, além de ouvidos gritos de dor nas imediações. Na busca realizada ao acampamento, verificou-se haver numa das barracas a arder 6 armas carbonizadas que pareciam ser Pist Metr PPSH (6). Também foi vista uma bicicleta no meio do incêndio, o que vinha comprovar a utilização por parte do IN daquele meio de transporte e comunicação no “corredor do Oio”.
As 8 casas de colmo arderam completamente, tendo-se depois completado a destruição das 7 casas de adobe, assim como de todos os meios de vida existentes.
Foi impossível recolher ou capturar armamento ou munições pois o fogo ateado desenvolveu-se rapidamente, começando também a mata a arder devido ao vento que soprava.
No assalto ficou ferido o soldado Mauro Balbé (3° Gr Comb da CCAÇ 12), com um tiro no antebraço, além dum outro soldado do Pel Caç Nat 52 com um estilhaço de granada de RPG-2 no peito.
Devido ao ataque de abelhas, muito material e munições (principalmente o que era transportado pelos carregadores) ficaram abandonados, não tendo sido possível a sua recuperação total. Entretanto, não se conseguiu pedir mais evacuações devida à avaria dos micros do único AN/PRC-10 que nessa altura ainda funcionava, nem aliás a DO e o helicóptero com o reabastecimento de água chegariam já a localizar as NT naquele dia.
O Rádio AN_PRC 10
Imagem: © Afonso Sousa (2005) (7)Os Dests continuaram a progressão a corta-mato em direcção a Enxalé, transportando os feridos em maca e amparando os elementos mais debilitados.
Devido à escuridão e à vegetação densa, os Dests começaram a fraccionar-se, perdendo-se a unidade de comando, enquanto o Pel Caç Nat 52 caminhava na vanguarda orientando-se pela bússola, uma vez que os guias davam provas de não conhecer a zona. A progressão tornava-se, de resto, cada vez mais penosa devido aos crescentes casos de esgotamento físico e psicológico provocado pela marcha quase ininterrupta durante uma noite e um dia, e sobretudo pela desidratação e pelo ataque de abelhas.
Pelas 22h, as várias fracções dos Dests que, embora seguissem trilho feito pelo Gr Comb que ia na frente, não tinham ligação visual ou contacto-rádio, entre si, estacionaram para pernoitar a uns 8 quilómetros do Enxa1é.
Ao amanhecer reiniciou-se a marcha, depois dos 3 Dests se reorganizarem, tendo o grupo da frente atingido o Enxalé por volta das 10h com o auxílio do PCV que orientou o deslocamento. A maior parte do pessoal, porém foi transportado de viatura a partir do cruzamento de São Belchior, depois de se ter dessedentado com água trazida em bidões.
Em resultado da acção das NT, o IN sofreu 15 mortos (entre referenciados e confirmados), 10 feridos confirmados e baixas prováveis, não sendo possível discriminar os elementos combatentes dos elementos pop.
Desta operação o Comando colheu os seguintes ensinamentos:
- A surpresa conseguida deve-se ao facto de se ter atingido o objectivo pelas 14h, hora que o IN abranda a vigilância por que sabe que as NT fazem habitualmente um alto entre as 11h (8). Outra razão foi ter-se convencido que as NT retiravam devido à cortina de fogo que havia lançado ao capim.
-Um ataque de abelhas tem pior consequências que uma flagelação, pois que naquele caso as NT entram em estado de pânico, abandonando armamento e equipamento num instinto de defesa e tornando impossível a manobra de comando.
Transcrição da Mensagem 1404/C do Com-Chefe (Rep Oper):
COM-CHEFE MANIFESTA SEU AGRADO REALIZAÇÃO RESULTADOS OBTIDOS OP TIGRE
VADIO.
____________
Notas de L.G.
(1) Vd. post de 3 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XI: O Sector L1 (Xime-Bambadinca-Xitole): Caracterização (2)
(...) "Colaboração dos fulas com as NT
Os fulas, que são a maior etnia do sector, desde o princípio da guerra que se têm mostrado fiéis as NT mas a sua colaboração é profundamente influenciada por vários factores.
Apontam-se como factores positivos: (i) o tradicional respeito dos fulas às nossas autoridades;(ii) a rivalidade existente entre a etnia fula e as restantes etnias da Guiné, especialmente os mandingas e os balantas;(iii) e ainda a hostilidade dos chefes fulas em relação ao PAIGC.
E como factores negativos:(i) a ausência de um sentimento de nacionalidade;(ii) a islamização;(iii) o receio do potencial IN;(iv) e sobretudo o estado de regressão em que a etnia fula se encontra (em virtude da estrutura tribal em que vive, da poligamia e economia de autoconsumo que pratica, da vida contemplativa que adopta, da perda de qualidades de trabalho, etc.).
Mas duma maneira geral a população fula do sector (e em especial a dos regulados de Xime e Badora) tem prestado colaboração activa as NT, aceitando a autodefesa, alistando-se voluntariamente no Exército e nas forças militarizadas, combatendo o IN e resistindo aos seus ataques. Embora não haja uma fronteira étnica definida, o fula mostra grande apego ao seu chão donde não quer ser desenraizado.
(2) vd. post de 29 Junho 2005 > Guiné 69/71 - LXXXVIII: O baptismo de fogo da CCAÇ 12, em farda nº 3, em Madina Xaquili (Julho de 1969)
(3) 1 bigrupo= 50/60 homens. Vd post de 10 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXXVI: Um bigrupo, quantos homens eram ?
(4) O relatório da Op Nada Consta será publicado em breve. Nela participou o nosso camarada Beja Santos, na altura comandante do Pel Caç Nat 52. O seu prisioneiro-guia estava confiado à guarda dos homens desta unidade, destacada em Missirá. Nesta operação realizada em Março de 1970, a Op Tigre Vadio, o comandante das forças terrestrs também foi, prática, o Alf Mil Beja Santos. Esta era, de resto, a sua zona de acção e era de Madina/Belel que, quase sempre, vinham as forças de guerrilha atacar Missirá e outros objectivos das NT...
(5) Vd. posts de:
22 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLIII: Notícias da açoreana CCAÇ 2636 (Bafatá, Contuboel, Saré Bacar, Pirada)
19 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXC: CCAÇ 2636 (Bafatá, 1970/71) (6): Mimos do PAIGC em Mansomine
(6) Mais conhecidas, entre as NT, por costureirinhas.
(7) Vd. post de 2 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - XCIV: Um alfa bravo para os nossos Op TRMS (1)
(8) Vd. post de 14 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIX: Op Lança Afiada (IV): O soldado Spínola na margem direita do Rio Corubal
(...) A Op Lança Afiada decorreu durante 11 dias. As temperaturas verificadas neste período foram as seguintes: Máxima à sombra – Entre 39 e 43,6 graus centígrados; Máxima ao sol – Entre 70 e 74,5 graus centígrados. Estes números são elucidativos. Por um lado justificam que um homem necessite muita água (entre 8 a 10 litros por dia). Por outro lado aconselham as NT a deslocarem-se e a actuarem ou de noite ou ao amanhecer. Entre as 11 e as 16h, o melhor é parar, se possível à sombra (...).
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