quinta-feira, 7 de setembro de 2006

Guiné 63/74 - P1056: Estórias avulsas (1): Mato Cão: um cozinheiro 'apanhado' (Joaquim Mexia Alves)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 > 1972 > O Alf Mil Mexia Alves, ao centro, ladeado pelo seu impedido, o Mamadu (à esquerda) e o cozinheiro, herói desta estória (à diereita).

Foto: © Joaquim Mexia Alves (2006)


Texto do Joaquim Mexia Alves, com data de 3 de Agosto de 2006:

Caro Luis Graça:

A propósito de apanhados (1) e outras vivências, junto fotografia tirada no Mato Cão, onde estou eu, o Mamadu, impedido da messe, e o cozinheiro, de quem não lembro o nome, mas penso que pertenceria ao Pelotão de Morteiros de Bambadinca, que tinha uma secção no Mato Cão (2).

O referido cozinheiro era um bom rapaz, muito ingénuo e um pouco apanhado, e que nunca tinha saído para o mato (já lhe chegava estar no Mato Cão!).

Retenho esta história:

Um dia, irritado com as graças e ditos acerca da sua pessoa, declarou solenemente que se ía embora.

Meteu pernas ao caminho, passou o arame farpado no lado contrário ao do Rio Geba e continuou pela mata dentro.

Claro que eu não fiquei nada preocupado e disse ao resto do pessoal:
- Não há problema. O gajo anda um pouco, vê-se sozinho e volta a correr.

Só que o tempo foi passando e o cozinheiro não havia modo de voltar.

Ao principio fiz um pouco de finca-pé, do tipo "Se pensas que te vou buscar estás muito enganado", mas depois comecei a ficar preocupado.

Lá vesti qualquer coisa mais conveniente para sair para a mata, peguei nas armas e acompanhado - salvo o erro, pelo Furriel Bonito -, saí do perímetro para ver se o encontrava.

Não estava muito longe, mas como tinha começado a escurecer o medo era tanto que já não andava nem para a frente nem para trás.

Lá o trouxemos para dentro, preguei-lhe a descasca conveniente e, claro, no outro dia a seguir lixou-se, porque foi mais gozado que antes.

No entanto todos gostavam muito dele e por isso era tudo foi feito com muita camaradagem.

Mais uma história leve, que também servia para nos irmos libertando das tensões.

Abraço

Joaquim Mexia Alves
Termas de Monte Real
Tel: +351 244 619 020 / fax: +351 244 619 029

_______

Nota de L.G.

(1) Sobre a temática dos cacimbados ou apanhados, vd. entre outros os seguintes posts:

2 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1018: Eu, cacimbado, me confesso (João Tunes) (III): E o jipe nunca voou

1 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1013: Também eu, apanhado, me confesso (Jorge Cabral)

28 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1003: Eu, cacimbado, me confesso (João Tunes)(II): tirem-me daqui!

28 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P999: Eu, cacimbado, me confesso (João Tunes) (I): tudo bons rapazes!

26 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P992: 'Estar apanhado' dava muito jeito e algum gozo (Joaquim Mexia Alves)

21 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P973: Estar ou fazer-se 'apanhado' para não enlouquecer (Jorge Cabral)

19 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P972: Cacimbados ou apanhados do clima ? (Zé Teixeira)

17 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P965: 'Cacimbados', 'apanhados do clima'... ou os nossos comportamentos de risco, bravatas, diabruras, loucuras... (Luís Graça)

13 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P958: 'Gajos das tropas africanas eram doidos' (Joaquim Mexia Alves, CART 3492, Pel Caç Nat 52 e CCAÇ 15)


15 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVIII: Cancioneiro de Mansoa (7): Os periquitos do pós-guerra

13 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXIV: Estórias cabralianas (6): SEXA o CACO em Missirá (Jorge Cabral)

16 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LIX: Esquecer a Guiné...por uma noite! (Luís Graça)

(2) Vd. post de 4 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1024: Pel Caç Nat 52, destacamento de Mato Cão (Joaquim Mexia Alves)

5 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1045: Pedido ao Joaquim Mexia Alves (Pel Caç Nat 52) para ajudar a desvendar o passado (Beja Santos)

6 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1049: O destacamento de Mato Cão (Paulo Santiago)

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