segunda-feira, 4 de setembro de 2006

Guiné 63/74 - P1042: Estórias do Zé Teixeira (10): camaleões, putos e cobras (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)

Mensagem do Zé Teixeira, com data de 7 de Agosto:

Eih, Luís.
Nem em férias descansas e deixas de pensar no blogue ? Então aí vão algumas estórias para tempo de férias.

Um abraço e continuação de boas férias

Zé Teixeira

(Ex-1º cabo enfermeiro, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá, Empada, 1968/70)




Vivências num país em guerra – pequenas estórias para tempo de férias

Conheci e vivi histórias engraçadas.

Periquitos (pássaros e não militares recém chegados ao teatro de guerra) a quem se cortava o bico ou se desafiava a picar a chama do cigarro para ganharem medo e não picarem o proprietário e os amigos e que se tornavam uma paixão assolapada do seu dono, chegando a gerar conflitos entre camaradas; macacos saguins ao ombro, e, ai de quem se aproximasse ou fizesse um gesto de agressão ao patrão: tinha o macaco à perna; cães amestrados como o parafuso que corria atrás de um arco, metia a cabeça e trazia-o de volta pendurado no pescoço; embalsamadores de passarinhos que os punham em exposição na caserna e depois vinha um gato atrevido e...zás!

Agora segue-se uma sobre a minha pequena colecção de camaleões.

Comecei por passar horas a observar as diversas camisas que vestiam ao mudar de ambiente.

Achei imensa graça e cacei uma meia dúzia. Amarrei-lhes uma linha de costura a uma pata e prendi-os a um pau junto a um charco. Durante alguns dias, foram a minha distracção e a alegria da pequenada. Divertíamo-nos a apreciar as cores que tomavam face ao local onde se encontravam e sobretudo à sua capacidade de caçar insectos e formigas com a grande língua bifurcada.

Foram baptizados um a um, pelo seu tamanho, já que quanto a cores ou outros pormenores... tinham sido criados segundo o mesmo modelo de série e mudavam de camisa enquanto diabo esfregava um olho. Era um espectáculo.

Os putos tinham medo de pegar neles, pois que na sua defesa bufavam e assustavam os miúdos.

Faziam-se apostas sobre qual o mais rápido a apanhar a mosca ou insecto que aparecesse. Buscavam-se folhas e cascas e árvores, pedregulhos e outros adereços para provocar a sua mudança de cor. Até que apareceu, possivelmente, uma cobra e...teve um lauto banquete.

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