terça-feira, 1 de agosto de 2006

Guiné 63/74 - P1013: Também eu, apanhado, me confesso (Jorge Cabral)


Guiné > Região Leste > Bambadinca > Fá Mandinga > Pel Caç Nat 63 > O Jorge Cabral e as suas queridas bajudas mandingas

Foto: © Jorge Cabral (2006)



Guiné > Região Leste > SEctor L1 > Bambadinca > Fá Mandinga, sede do Pel Caç Nat 63 e da 1ª Companhia de Comandos Africanos > Diversos furriéis e alferes da CCAÇ 12 e da CCS do BART 2917, de visita a Fá Mandinga, no 2º segundo semestre de 1970: Reconheço do lado direito, o Alf Machado (CCS) e o Alf Abel Maria Rodrigues (CCAÇ 12). Do lado esquerdo, também à civil, de camisola vermelha, o Fur António Branquinho e de camisola verde o Fur Humberto Reis (CCAÇ 12).
Foto: © Humberto Reis (2006)

Mensagem do Jorge Cabral:
Amigo Luis,

De apanhados percebo eu! Dos bons, dos divertidos, dos saudáveis apanhados.
Dos outros, maus, perversos, sádicos, falarei em dia mais azedo...

Abraço Grande,
Jorge Cabral
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Também eu, apanhado me confesso !


Cada um de nós, é o que é, ou o que parece ser? Na guerra fomos nós ou encarnámos ficcionadas personagens?

Atribuíram-nos papéis. Representámos todos. Alguns improvisaram e saíram do texto. Outros, humildes figurantes, quiseram ser protagonistas. A Guiné, a Tropa, a Guerra – palco de tragédias, de comédias, de revistas.

Fomos actores. Uns bons, outros assim, assim…

Por mim falo. Eu, um apanhado-mor. Anti-militar e pacífico por natureza, como podia ter mantido a sanidade mental, se não tivesse inventado um alter ego, aquele louco alferes Cabral, do qual se relatavam estranhíssimas peripécias… (Ainda há pouco tempo um ex-alferes do Xime me perguntou se era verdade que eu convidava os turras para jantar em Missirá…).

Claro que da situação de apanhado decorriam benesses, mas também riscos… Regressar sozinho, desarmado, e de noite a Missirá…ou ir para o mato de pingalim e galões… constituíam sem dúvida, estúpidas aventuras, que me podiam ter sido fatais. Mas era assim! Constavam do guião daquele alferes Cabral…

Tal como a declaração de amor à libanesa D. Rosa, na presença do Capitão Barbosa Henriques (1), que ainda hoje conta a cena. Ou as intermináveis discussões com o Major Leal de Almeida (2), sobre a implementação da Guerrilha na Serra da Estrela…

Reconhecido o estatuto de apanhado, conquistava-se a liberdade de opinião. Podiam-se afirmar as verdades todas. Muito se divertia o Polidoro Monteiro (3), quando eu gozava o Major de Operações, dizendo-lhe que na vida civil e em Lisboa, não o encarregaria de planear a minha ida ao café, pois certamente seria emboscado…

Com o tempo, era preciso cuidado para a criatura não se apossar do criador. Não sei se o consegui, pois aquele alferes Cabral, de vez em quando, surge e faz das suas… É ele que escreve as estórias cabralianas (4) e pertence à Tertúlia.

Na semana passada, acordou no Pilão. Um fuzileiro dormia no chão, um bebé chorava, e ela já não estava… Parece que no quarto ao lado, um tal Furriel Henriques, havia desistido por não gostar da música

Jorge Cabral

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Notas de L.G.

(1) Instrutor, em 1970, da 1ª Companhia de Comandos Africanos, sedeada em Fá Mandinga. Vd. post de 11 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - CIII: Comandos africanos: do Pilão a Conacri

(2) Supervisor , em 1970, da 1ª Companhia de Comandos Africanos.

(3) Último comandante do BART 2917 (Bambadinca).

(4) Vd. lista das estórias cabralianas:

5 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXI: Cabral só havia um, o de Missirá e mais nenhum... (inclui a estória a que deveria corresponder o nº 1 > A mulher do Major e o castigo do Cabral)

5 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXII: Rally turra ? (estórias cabralianas) (Estória que corresponderia o nº 2)

7 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXIX: O básico apaixonado (estórias cabralianas) (Estória a que corresponderia o nº 3)

18 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLVIII: Estórias cabralianas (4): o Jagudi de Barcelos.

23 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXV: Estórias cabralianas (5): Numa mão a espingarda, na outra...

17 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 -DXLVI: Estórias cabralianas (5): o Amoroso Bando das Quatro em Missirá

13 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXIV: Estórias cabralianas (6): SEXA o CACO em Missirá

17 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXXIX: Estórias cabralianas (7): Alfero poi catota noba
13 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCC: Estórias cabralianas (8): Fá Mandinga no Conde Redondo ou o meu Amigo Travesti

20 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXVII: Estórias cabralianas (9): Má chegada, pior partida
3 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P836: Estórias cabralianas (10): O soldado Nanque, meu assessor feiticeiro

4 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P936: Estórias cabralianas (11): a atribulada iniciação sexual do Soldado Casto

20 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P974: Estórias cabralianas (12): A lavadeira, o sobretudo e uma carta de amor

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