segunda-feira, 31 de julho de 2006

Guiné 63/74 - P1007: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (15): as colunas logísticas de Galomaro a Bafatá e a Bambadinca

Guiné > 1968 > Mansoa > CCAÇ 2405 > Momentos de descontracção e de convívio. O Alf Mil Paulo Raposo é o único do grupo que está vestido à civil.

Foto: © Paulo Raposo (2006)


XV parte do testemunho do Paulo Raposo (ex-Alf Mil Inf, com a especialidade de Minas e Armadilhas, da CCAÇ 2405, pertencente ao BCAÇ 2852 > Guiné, Zona Leste, Sector L1, Bambadinca, 1968/70 > Galomaro e Dulombi).

Extractos de: Raposo, P. E. L. (1997) - O meu testemunho e visão da guerra de África.[Montemor-o-Novo, Herdade da Ameira]. Documento policopiado. Dezembro de 1997. 42-43 (1).


AS COLUNAS

Das muitas colunas que faziamos de Galomaro a Bafatá ou a Bambadinca, há duas que me ficaram gravadas na memória.

Aquele itinerário não tinha qualquer perigo, era uma zona perfeitamente em paz. Geralmente ao lado do condutor segue o militar mais graduado.

1. Um dia segue connosco o Capitão Portugal e, como era o mais graduado, dei-lhe o lugar ao lado do condutor. Recusou e disse para ir eu nesse lugar e ele seguiu no banco traseiro do Unimog.

Um dos outros encantos de África é o convívio. Passamos a ser bons contadores de histórias. Como não há distracções é o convívio que prevalece. Histórias e episódios havia-os para todos os gostos. A televisão e as novelas não só mataram o convívio familiar como mataram também o convívio e as tertúlias de café.

O nosso Capitão Portugal contou-me ele, tinha estado no Comando Distrital da PSP, quando foi lançada a muita ao peão, em Lisboa. Sim, quem atravessasse uma rua sem ser nas passagens de peão, pagava uma multa de 2$50. Isto talvez se tivesse passado no ano da 1955. Era um pouco caricato. As histórias da reacção de cada um eram sensacionais.

Houve um Senhor, contou ele, que ao ver-se confrontado com a multa de 2$50 pediu ao polícia para lhe vender toda a caderneta das multas. Cada um reage de forma diferente às situações que se deparam e estas variam também consoante o momento.

2. O nosso Capitão [da CCAÇ 2405, Cap Mil José M. N. Jerónimo] não tinha carta de condução, mas não se confessava. A muito custo conseguiu arranjar um jeep para andar nas suas voltas em Galomaro.

Numa ida a Bafatá ele lembrou-se de ir a conduzir o Unimog e eu seguia ao lado. Surge uma curva, ele não abranda, o carro foge-lhe, entra terra dentro e vira-se sobre o meu lado. Por esse facto não consigo saltar. Agarro-me ao banco e abaixo-me. Como os taipais eram mais altos, Nossa Senhora me salva.

Atrás nos bancos que estavam montados costas com costas, seguiam vários militares. Todos saltam excepto o Furriel Vagomestre (2). Teve medo, não saltou, e o carro passa-lhe por cima e parte-lhe a coluna. Segue para Bissau em heli, mas vem a falecer no dia seguinte.

Como a Companhia ficou sem Vagomestre, eu cedo um Furriel do meu Grupo, o Ferreira (3), e o Cândido, que era do Alferes David, vem substituir aquele.

Fiz uma grande amizade com o Cândido (4), que era de Beja. Terminada a Comissão convidei-o para vir trabalhar comigo. Ainda estamos juntos.

Ele é o responsável pela minha fábrica. É uma jóia de rapaz, posso-lhe confiar tudo e ele pode contar comigo seja para o que for.

Já vai para 27 anos que trabalhamos juntos sem nunca ter havido qualquer atrito.

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Notas de L.G.

(1) Vd. post anterior, de 10 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P949: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (14): regresso às tabancas em autodefesa

(2) Arnaldo R. Fonseca (Fonte: História do BCAÇ 2852)

(3) Adriano M. Ferreira (Fonte: Idem)

(4) Cândido R. Trombinhas (Fonte: Idem)

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