Anúncio do livro de Samuel Maia, "Manual de Medicina Doméstica" [1ª edição, Portugal-Brazil, 1910], in Ilustração, nº 242, 16 de janeiro de 1936, nº 242, 11º ano [Revista que custava na época 5$00 escudos, e era Propriedade da Livraria Bertrand.] (Cortesia da Hemeroteca Municipal de Lisboa...)
1. Comentário (*) do nosso camarada Adriano Moreira [, ex-fur mil, enf, CART 2412, 1968/70, foto da época, à esquerda]
É engraçado, na Guiné
em todos os sítios onde estive, acho que nenhum tinha biblioteca ou até
qualquer arremedo de biblioteca. Não tenho ideia nenhuma de mesmo em Bigene
haver.
Sendo assim só li banda desenhada e cowboyadas [coboiadas].
O único livro sério que levei e li as vezes que precisei, foi o Manual
de Medicina Doméstica, escrito pelo
médico dos Hospitais de Lisboa, Samuel
Maia.
Ajudou-me muitas vezes a tirar dúvidas e a proceder mais
correctamente onde os meus apontamentos eram demasiado vagos, ou em capítulos [em que esses apontamentos eram omissos].
Por aquilo que me lembro, achava também que não tinha o ambiente adequado
à leitura de grandes obras.
Um grande abraço para todos.
Adriano Moreira,
Ex-Fur Mil Enf, Cart 2412
Bigene, Binta,
Guidage, Barro.
2. Comentário de L.G.:
É verdade, Adriano, a Guiné (, não digo Bissau ou Bubaque...) não foi propriamente uma colónia de férias para a maior parte de nós... Dizes, e muito bem, que no mato não havia "o ambiente adequado à leitura de grandes obras"... Muitos dos nossos aquartelamentos eram um amontoado de chapas de bidão, troncos de cibe e argamaça, a que chamavamos abrigos...
A segurança era a nossa primeira preocupação. E só muito depois é que vinha a decência, o conforto, o bem-estar (físico)... Alguns de nós levaram livros para a "comissão de serviço" no TO da Guiné, mas depressa nos apercebemos que não estávamos propriamente em férias, num país tropical...
Por outro lado, poucos dos oficiais, que nos comandavam, se preocupavam com o que fazer nas "horas vagas" (... e muito menos com "os nossos seres, saberes e lazeres")... Alguns incentivaram, e bem, a criação de postos escolares militares, abertos à população local amis jovem e às praças sem a escolaridade obrigatória (na época, equivalente à 4ª classe)...
Tínhamos, à epoca da guerra colonial, um problema sério de analfabetismo na população portuguesa, sem falar do analfatismo funcional (aplicável aos individuos que, mesmo sabendo "ler, escrever e contar", não tinham desenvolvido a capacidade de interpretar textos e fazer operações matemáticas). Recorde-se que em 1960, segundo o o censo, a percentagem da população residente com 10 e mais anos que não sabia ler nem escrever era de 26,6% e 39% para os homens e para as mulheres, respetivamente. Baixou, em 1970, para 19,7% e 31%, respetivamente. Infelizmente, não dispomos de dados do analfabetismo por grupos etários... (Fonte: Pordata > Analfabetismo).
As nossas praças, sem escolaridade obrigatória, iam em geral para os serviços básicos (cozinha, etc.). Eram, depreciativamente, apelidados de "básicos". Na minha CCAÇ 2590 (mais tarde, CCAÇ 12), havia dois soldados básicos o João Fernando R. Silva e o Salvador J. P. Santos, num total de meia centena de quadros e especialistas de origem metropolitana, E dos soldados dos recrutamento local, em cerca de 100, só 1 (o 1º cabo José Carlos Suleimane Baldé) sabia ler e escrever português...
Mas quantos aquartelamentos dispunham de "bliotecas ou de arremedos de bibliotecas" (leia-se: um armário com livros) ? A tua pergunta é pertinente. E a tua resposta, espontânea, sincera, nada tem de "provocador": "É engraçado, na Guiné em todos os sítios onde estive, acho que nenhum tinha biblioteca ou até qualquer arremedo de biblioteca"
Ou seja, por onde andaste, em 1968/70, na região do Cacheu (Bigene, Binta, Guidaje, Barro) não te lembras de ver umas simples prateleiras de livros, à disposição de oficiais, sragentos e praças... Restavam-te os livrinhos aos "quadradinhos", as coboiadas... e o teu livro de cabeceira, que para um furriel enfermeiro era uma "ferramenta de trabalho", o célebre "manual" do dr. Samuel Maia, de cerca de mil página, que tinha um título do tamanho de um comboio: Manual de medicina doméstica : higiene, dietética, gimnástica, enfermagem, farmácia caseira, definição e tratamento das doenças, socorros de urgência... Segundo as minhas contas, a primeira edição deveria remontar a 1910. Foi tendo sucessivas reedições, e pelo que vejo chegou ao teu/nosso tempo!
Fui encontrar, na revista Ilustração (num exemplar disponível, "on line", digitalizado pela valiosíssima Hemeroteca Municipal de Lisboa, correspondente á edição de 16/1/1936), um anúncio do "teu" manual... Faço questão de publicar a respetiva imagem, em tua honra e dos nosos bravos furrieis enfermeiros...
Já agora ficas a saber algo mais sobre o Samuel Maia, um um escritor popularíssimo, polifacetado, autor de vários bestsellers, no campo da literatura de divulgação médica, mas também da ficção e de outros domínios, e hoje completamente esquecido. Sobre ele diz a Infopédia o seguinte:
Médico, romancista, poeta e dramaturgo português, de nome completo Samuel Domingos Maia de Loureiro, nascido em 1874, em Ribafeira, Viseu, e falecido em 1951, em Lisboa. A ficção de Samuel Maia reflete uma evolução da tradição naturalista para a narrativa regionalista, centrada no contexto social e geográfico beirão. Colaborou em publicações periódicas como O Século, Jornal de Notícias, Diário Populare Ilustração. Fonte: Samuel Maia. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-12-05]. Disponível na www:
2. Comentário de L.G.:
É verdade, Adriano, a Guiné (, não digo Bissau ou Bubaque...) não foi propriamente uma colónia de férias para a maior parte de nós... Dizes, e muito bem, que no mato não havia "o ambiente adequado à leitura de grandes obras"... Muitos dos nossos aquartelamentos eram um amontoado de chapas de bidão, troncos de cibe e argamaça, a que chamavamos abrigos...
A segurança era a nossa primeira preocupação. E só muito depois é que vinha a decência, o conforto, o bem-estar (físico)... Alguns de nós levaram livros para a "comissão de serviço" no TO da Guiné, mas depressa nos apercebemos que não estávamos propriamente em férias, num país tropical...
Por outro lado, poucos dos oficiais, que nos comandavam, se preocupavam com o que fazer nas "horas vagas" (... e muito menos com "os nossos seres, saberes e lazeres")... Alguns incentivaram, e bem, a criação de postos escolares militares, abertos à população local amis jovem e às praças sem a escolaridade obrigatória (na época, equivalente à 4ª classe)...
Tínhamos, à epoca da guerra colonial, um problema sério de analfabetismo na população portuguesa, sem falar do analfatismo funcional (aplicável aos individuos que, mesmo sabendo "ler, escrever e contar", não tinham desenvolvido a capacidade de interpretar textos e fazer operações matemáticas). Recorde-se que em 1960, segundo o o censo, a percentagem da população residente com 10 e mais anos que não sabia ler nem escrever era de 26,6% e 39% para os homens e para as mulheres, respetivamente. Baixou, em 1970, para 19,7% e 31%, respetivamente. Infelizmente, não dispomos de dados do analfabetismo por grupos etários... (Fonte: Pordata > Analfabetismo).
As nossas praças, sem escolaridade obrigatória, iam em geral para os serviços básicos (cozinha, etc.). Eram, depreciativamente, apelidados de "básicos". Na minha CCAÇ 2590 (mais tarde, CCAÇ 12), havia dois soldados básicos o João Fernando R. Silva e o Salvador J. P. Santos, num total de meia centena de quadros e especialistas de origem metropolitana, E dos soldados dos recrutamento local, em cerca de 100, só 1 (o 1º cabo José Carlos Suleimane Baldé) sabia ler e escrever português...
Mas quantos aquartelamentos dispunham de "bliotecas ou de arremedos de bibliotecas" (leia-se: um armário com livros) ? A tua pergunta é pertinente. E a tua resposta, espontânea, sincera, nada tem de "provocador": "É engraçado, na Guiné em todos os sítios onde estive, acho que nenhum tinha biblioteca ou até qualquer arremedo de biblioteca"
Ou seja, por onde andaste, em 1968/70, na região do Cacheu (Bigene, Binta, Guidaje, Barro) não te lembras de ver umas simples prateleiras de livros, à disposição de oficiais, sragentos e praças... Restavam-te os livrinhos aos "quadradinhos", as coboiadas... e o teu livro de cabeceira, que para um furriel enfermeiro era uma "ferramenta de trabalho", o célebre "manual" do dr. Samuel Maia, de cerca de mil página, que tinha um título do tamanho de um comboio: Manual de medicina doméstica : higiene, dietética, gimnástica, enfermagem, farmácia caseira, definição e tratamento das doenças, socorros de urgência... Segundo as minhas contas, a primeira edição deveria remontar a 1910. Foi tendo sucessivas reedições, e pelo que vejo chegou ao teu/nosso tempo!
Fui encontrar, na revista Ilustração (num exemplar disponível, "on line", digitalizado pela valiosíssima Hemeroteca Municipal de Lisboa, correspondente á edição de 16/1/1936), um anúncio do "teu" manual... Faço questão de publicar a respetiva imagem, em tua honra e dos nosos bravos furrieis enfermeiros...
Já agora ficas a saber algo mais sobre o Samuel Maia, um um escritor popularíssimo, polifacetado, autor de vários bestsellers, no campo da literatura de divulgação médica, mas também da ficção e de outros domínios, e hoje completamente esquecido. Sobre ele diz a Infopédia o seguinte:
Médico, romancista, poeta e dramaturgo português, de nome completo Samuel Domingos Maia de Loureiro, nascido em 1874, em Ribafeira, Viseu, e falecido em 1951, em Lisboa. A ficção de Samuel Maia reflete uma evolução da tradição naturalista para a narrativa regionalista, centrada no contexto social e geográfico beirão. Colaborou em publicações periódicas como O Século, Jornal de Notícias, Diário Populare Ilustração. Fonte: Samuel Maia. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-12-05]. Disponível na www:
Por mera curiosidade, tens a seguir uma lista de 49 títulos do Samuel Maia, de acordo com a pesquisa feita na Porbase - Biblioteca Nacional.
Sabemos que foi também diretor da Ilustração, entre 1933 e 1935. Formado na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, nos finais do séc. XIX), o médico viseense é, além disso, considerado um escritor, ficcionista, de algum mérito, como antecessor do neorrealismo, com direito a referência na clássica História da Literatura Portuguesa, de António José Saraiva e Óscar Lopes.
___________
Notas do editor:
(**) Lista de obras da autoria de Samuel Maia (Viseu, 1874 -
Lisboa, 1951), de acordo com pesquisa na Porbase -Biblioteca Nacional
(organizada por ordem alfabética dos títulos)
[Foto do autor, à direita. Cortesia da página do Instituto Politécnico de Viseu]
Lisboa, 1951), de acordo com pesquisa na Porbase -Biblioteca Nacional
(organizada por ordem alfabética dos títulos)
[Foto do autor, à direita. Cortesia da página do Instituto Politécnico de Viseu]
A actividade celular e o vinho / Maurice Loeper ; com uma
nota prévia do Dr. Samuel Maia. Lisboa : Ministério da Agricultura, 1937.
Acção das cantinas
escolares / Samuel Maia de Loureiro. Lisboa : Instituto Geral das Artes
Graphicas, 1909.
Augusto Monjardino / Francisco Gentil, Ferreira de Mira,
Samuel Maia. [S.l. : s.n.], 1941.
Banhos de sol / Amílcar de Sousa ; pref. de Samuel Maia. Porto : Livr. Civilização, 1937.
Boa comida gôsto da vida : as velhas dietas e as actuais /
Samuel Maia. Lisboa : Bertrand, 1940.
Braz Cadunha / Samuel Maia. Lisboa : Portugal-Brasil, 192 .
Breviário de medicina preventiva : para uso das famílias /
Samuel Maia. Lisboa : Bertrand, 1942.
Congresso Nacional de Mutualidade : da acção da mutualidade maternal e infantil : criação de maternidades e de dispensários de assistencia infantil : as gotas de leite / Samuel Maia. [S.l. : s.n., 1900.
Congresso Nacional de Mutualidade : da acção da mutualidade maternal e infantil : criação de maternidades e de dispensários de assistencia infantil : as gotas de leite / Samuel Maia. [S.l. : s.n., 1900.
Dona sem dono / Samuel Maia. Lisboa : Bertrand, 1935.
Elogio do vinho / Samuel Maia. Lisboa : Livraria Bertrand. 1932.
Entre a vida e a morte / Samuel Maia. Lisboa: Rio de
Janeiro : Companhia Editora Americana : Portugal-Brasil, 1920.
Este mundo e o outro / Samuel Maia. Lisboa : Bertrand, 1937.
Folclore e turismo / Samuel Maia. Lisboa : [s.n.], 1936.
História maravilhosa de Dom Sebastião imperador do Atlântico / Samuel Maia. Lisboa : Bertrand, 19 .
História maravilhosa de Dom Sebastião Imperador do Atlântico
/ Samuel Maia. [S.l. : s.n.], 1940.
Lingua de prata / Samuel Maia de Loureiro. Lisboa : Portugal Brasil, 192 .
Lingua de prata / Samuel Maia. Lisboa : Portugal-Brasil, 19
.
Livro da alma : versos / Samuel Maia. Porto : Oficina
Occidental, 1894.
Luz perpétua : romance / Samuel Maia de Loureiro. Lisboa :
Portugal-Brasil, 1923.
Manual de medicina doméstica / Samuel Maia. 6a ed. [S.l. : s.n.], 1947.
Manual de medicina doméstica / Samuel Maia. 5a ed. Lisboa :
Bertrand, 194 .
Manual de medicina doméstica : higiene, dietética, gimnástica, enfermagem, farmácia caseira, definição e tratamento das doenças, socorros de urgência / Samuel Maia. 5a ed. Lisboa : Bertrand, 19 .
Manual de medicina doméstica / Samuel Maia. 4a ed. [S.l. : s.n.], 1940.
Manual de Medicina Doméstica / Samuel Maia. Segunda edição /
Por Samuel Maia... Lisboa : Livr. Bertrand Rio de Janeiro : Livr. Francisco
Alves. 1934.
Methodo de leitura / Samuel Maia. Porto : José Figueirinhas
Júnior, 1904.
Mudança de ares / Samuel Maia. 2a ed. [S.l. : s.n., 1938.
O diabo da meia-noite : romance / Samuel Maia. Lisboa : Bertrand, 19 .
O diabo da meia-noite : romance / Samuel Maia. Lisboa :
Bertrand, 194 .
O meu menino / Samuel Maia. 10a ed. Lisboa : Bertrand, 1961.
O meu menino : como o hei-de gerar criar e tratar se adoecer / Samuel Maia. Nova ed. Lisboa : Bertrand, 1955.
O meu menino / Samuel Maia. 6a ed. [S.l. : s.n.], 1944.
O meu menino : como o hei-de gerar, criar e tratar se adoecer / Samuel Maia. Sétima edição. Lisboa : Livr. Bertrand, 1940.
O meu menino : como o hei-de gerar, criar e tratar se adoecer / Samuel Maia. 4a ed. Lisboa : Bertrand, 1938.
O meu menino / Samuel Maia. Lisboa : Portugal-Brasil, 1920.
O meu menino : como o hei-de gerar, criar e tratar se
adoecer / Samuel Maia. 2a ed. Lisboa : Portugal Brasil, 1915.
O vinho : propriedades e aplicações / Samuel Maia. [S.l. :
s.n.]. 1936.
O vinho : propriedades e aplicações : resumo de comunicações
e pareceres aprovados nos últimos congressos médicos / Samuel Maia. 2a ed.
Lisboa : Imprensa Portugal-Brasil. 1936.
Por terras estranhas / Samuel Maia. Lisboa : Typ. Mendonça, 19 .
Quem não viu / Samuel Maia. Lisboa : Bertrand, 194 .
Quentura sadia, friamente doentia / colab. Samuel Maia.
Porto : Lit. Nacional, 1939.
Sexo forte / Manuel Maia. 4a ed. [S.l. : s.n.], 1941.
Sexo forte / Samuel Maia. 3a ed. [S.l. : s.n.], 1935.
Sexo forte / Samuel Maia. Lisboa : Portugal-Brasil, 1917.
Tratamento da prisão de ventre / Samuel Maia. Lisboa : Ofic. Ilustração Portugueza. 1915.
Variantes de prosódia / Samuel Maia. [S.l. : s.n.], 1948.
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