sábado, 7 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12409: O que é que a malta lia, nas horas vagas (10): Assinava o "Comércio do Funchal" e a "Seara Nova" e tinha os meus livros, alguns do Máximo Gorki, por exemplo (Hélder Sousa, ex- fur mil trms TSF, Piche e Bissau, 1970/72)

1. Comentário ao poste P12371 (*), da autoria do Hélder Sousa [ex-Fur Mil de Transmissões TSF, Piche e Bissau, 1970/72]


Pois... o que é que a malta lia...

Sobre este assunto, este tema, já dei algum contributo com um artigo que enviei e que saiu em poste  intitulado "Os meus livros", salvo erro. (**)

Em Piche lia tudo o que por lá aparecia, em termos de jornais, claro. Havia quem recebesse o "Paris Match", a "Playboy", coisas assim. Claro que também tinha os meus livros....

Em Bissau lia os jornais que estavam no bar da messe de sargentos de Santa Luzia, jornais diários de Lisboa, não me recordo com que actualidade mas não teriam mais que um dia de atraso.

Era assinante do "Comércio do Funchal",  que recebia sem problemas, e também duma revista chamada "Seara Nova", embora não versasse temas de agricultura em particular.

Tinha, naturalmente, os meus livros e cheguei a promover a leitura e estudo de um livro sobre economia, que me entretinha a copiar capítulos que dactilografava nas noites de serviço para posterior leitura colectiva e estudo com outros camaradas que também se interessavam pelo tema.

É tudo! (quase) (***)

Abraço
Hélder S.



Capa do livro do Máximo Gorki, "As Minhas Universidades" (Lisboa: Editorial Início, 1971, 416 pp. Coleção Obras Completas, 4)

 _______________

Notas do editor:

(*) 1 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12371: O que é que a malta lia, nas horas vagas (1): a revista "Time", de 10 de maio de 1971 (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)

(**) Vd. poste de 7 de junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4474: Histórias em tempos de guerra (Hélder Sousa) (5): Os meus livros

(...) na Guiné não deixei de pertencer à tal geração do livro, persistindo em mantê-lo por companhia e como elemento essencial de vida. A prová-lo está essa foto que envio, tirada no quarto, em Bissau, na moradia anexa ao Centro de Escuta onde prestava serviço. Estou a ler um jornal que me chegava por correio, visto ter assinatura, e que se chamava “Comércio do Funchal”. Na mesa de apoio, ao lado da cama, é visível um livro intitulado “As Minhas Universidades”, dum conhecido autor russo. Por debaixo desse, está um livro encapado que não me consigo recordar o que seria. Ao lado está um livro sobre economia, que cheguei a estudar com mais dois camaradas de serviço, sendo que para isso aproveitava os turnos de serviço nocturno, das 01.00 às 07.00, para passar a folhas A4 dactilografadas e com papel químico, para serem lidas e comentadas posteriormente. 

Por debaixo dos envelopes das cartas de avião está um outro livro encapado, mas esse sei que seria um livro intitulado “A Mãe”, do mesmo autor de “As Minhas Universidades” [, Máximo Gorki]. Tinham capas para furtar a curiosidade dos bisbilhoteiros e/ou bufos e tentar preservar o mais possível a integridade física (a minha). (...)

(***) Último livro da série > 6 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12403: O que é que a malta lia, nas horas vagas (9): O único título que lembro é o "Diário de Lisboa" (Vasco Pires)

7 comentários:

José Botelho Colaço disse...

Olá Hélder as tuas leituras eram um caso à parte muito bem.
As minhas ficaram por um mundo,como hei-de dizer mais terra terra.
Como nesse tempo ligava mais à bola do que nos dias de hoje, pedi à minha irmã que fizesse uma assinatura do semanário o jornal desportivo Record e assim todas as semanas quando havia avioneta para o mato neste caso Catió e depois a lancha para o Cachil recebia o referido jornal que servia de biblioteca para a companhia.
Este jornal embora por vezes tivesse a sua tendência que dizia-mos ser verde mas era um género de Juiz para pôr fim a qualquer discussão se foi ou não penalti, fora de jogo, mão etc.

Um Alfa Bravo.
Colaço. Cachil, Bissau Bafatá 1963/65.

Tony Borie disse...

Olá Helder.
A tua leitura, já era um pouco "avançada"!.
Era de alguém, com alguma instrução e que queria saber um pouco mais, queria notícias da sua terra natal, queria saber porque estava ali, queria ler o que vinha escrito nas mensagens que vinham escritas nas entrelinhas da "Seara Nova", enfim, queria saber o que é que o rodeava.
Eu infelizmente, não tinha essa instrução, limitava-me a ler o que conseguia roubar da messe dos sargentos, que era o "Século Ilustrado", às vezes "a Bola" e claro, já atrasados, mas o "Século Ilustrado", às vezes trazia umas gajas em fato de banho, que a malta adorava!.
Também lá aparecia pelo aquartelamento de Mansoa, que o Movimento Nacional Feminino para lá mandava, a revista da "Santa Terezinha", "o Milagre de Fátima", e uma "Bíblia", já com falta de muitas folhas!.
Um abraço.
Tony Borie.

Hélder Valério disse...

Caros amigos

Os vossos comentários levam-me a fazer alguns 'acrescentos'.
É claro que todas estas coisas têm antecedentes....

Onde vivia, o meu vizinho do andar de baixo, da minha idade (sou mais velho cerca de 2 meses e meio) tinha um pai que era ao tempo (anos 50/60)gerente da Caixa de Crédito Agrícola e isso permitia-lhe ter uma vida mais desafogada. Nesse sentido havia lá por casa dele o "Tintin", o "Mosquito", o "Cavaleiro Andante", o "Pato Donald", o "Patinhas", coisas assim, beneficiando eu dessa realidade. Ao ler esses livros e revistas tomava-se conhecimento de muitas coisas e também com facilidade se 'entrava' na pele dos heróis.

Na Escola Primária, para a qual já entrei com boa capacidade de leitura adquirida antes, tive a sorte de ter o excelente Professor Afonso que incentivava a criatividade, na escrita, e fomentava a leitura.

Posteriormente, na Escola Técnica, tive igualmente a sorte de contar com vários excelentes Professores, entre os quais a Prof.ª Elisa Calheiros que também muito me acarinhou e incentivou na leitura e criação de pequenos textos para as peças teatrais das turmas, havendo ainda a realização duma espécie de 'jornal de parede'.

Acrescem ainda outros factos.
Ao viver em Vila Franca beneficiava de todo o fervilhar da produção da literatura hoje classificada como "neo-realismo", do Alves Redol, do Soeiro Pereira Gomes, etc.
Também uma prima do meu pai, Dra. Rosália Ferreira, que se notabilizou por ser pioneira num trabalho desenvolvido na Madeira sobre saúde materno-infantil, criando o primeiro 'dispensário' (de que aliás ainda me falaram quando estive lá há 20 anos atrás) teve bastante influência na minha dedicação à leitura, emprestando-me livros e procurando depois ter comigo alguma 'discussão' sobre o seu conteúdo, as suas mensagens...

Ainda antes de ir para a tropa já era colaborador da Secção Cultural da UDV (União Desportiva Vilafranquense), verdadeira Escola de formação de valores, de virtudes, de personalidades, dedicando particular atenção à sua Biblioteca a que se deu o nome de "Alves Redol" e também na secção de cinema, participando na criação posterior do Cine-clube.

Era visitante da "Feira do Livro" de Lisboa, embora comprasse realmente muito pouco, por falta de 'incentivo' (leia-se... verba) e cheguei a comprar 'alguns' livros 'com desconto de 100%' em certas livrarias que, penso eu, até sabiam que as coisas se passavam assim, estando a falar, claro, de livros menos 'autorizados' pelo poder vigente.

Integrado no Instituto Industrial, fiz parte da Associação de Estudantes e era frequentador assíduo das sessões do Cine-Clube Universitário e das sessões clássicas do Cinema Império. Depois dos filmes havia quase sempre sempre discussão sobre os mesmos, no sentido de se extraírem as 'lições' dos seus conteúdos.

Finalmente, na Guiné, tive a sorte de me terem obrigado a ir para o Centro de Escuta onde entre outras coisas tinha acesso directo, diário, ao que era produzido na BBC, Voz da América, ORTF, etc., o que me permitiu estar sempre a par do que se passava no mundo e também em Portugal. Por exemplo, em 12 de Outubro de 1972, um mês antes de me vir embora, tomei conhecimento, quase em directo, dos acontecimentos do assassinato do estudante Ribeiro dos Santos na Faculdade de Económicas em Lisboa e dos desenvolvimentos dos dias seguintes, através dos 'despachos' das 'agências noticiosas' estrangeiras, "France Press" e outras.

Enfim, episódios da vida.
Abraços
Hélder S.

José Botelho Colaço disse...

Amigo Hélder a parte final do teu comentário de teres ido para o centro de escuta leva-me a entrar em dialogo.
Eu também pertencia à arma das transmissões e no Cachil eu e meu colega primeiro cabo cabo Joaquim da Lousa estava-mos de serviço permanente ao posto rádio, pois a nossa camarata era no próprio posto rádio, mas as explorações rádio via Catió durante a noite eram se a memória não me falha de três em três horas e dessa forma tinha todo o resto do tempo para sintonizar o rádio ANGRC-9 e ouvia as minhas preferidas a ex-emissora nacional a BBC, a rádio Moscovo,a seguir gostava muito de ouvir o dialogo dos nossos pescadores na faina da pesca do bacalhau e por último creio que por volta das sete horas da manhã as noticias da voz da liberdade pela voz sonora do refugiado (fugido) locutor português M.A.
Isto sempre com auscultadores para não ser apanhado, não fosse o diabo tece-las.
Um Alfa Bravo.
Colaço C. caç. 557 Cachil, Bissau, Bafatá 1963/65.

Luís Graça disse...

Em 2003 tínhamos 826,2 utilizadores de bibliotecas por 1000 habitantes... Mas em 1960 eram apenas 108...

O aumento da escolaridade e o maior investimento (público e privado: por ex., Fundação Calouste Gulbenlian) em educação e cultura, explicam esta evolução positiva...

Nº de utilizadores de bibliotecas por 1000 habitantes (1960-2003)

1960 108,0
1961 123,0
1962 140,0
1963 225,0
1964 245,5
1965 254,1
1966 270,4
1967 287,8
1968 293,8
1969 293,9
1970 318,2
1971 322,9
1972 331,0
1973 370,8
1974 339,7
1975 341,3
1976 364,8
1977 334,3
1978 376,1
1979 372,3
//

2003 826,2

Fonte: Pordata

http://www.pordata.pt/Portugal/Bibliotecas+utilizadores+por+mil+habitantes+(1960+2003)-589

JD disse...

Viva Helder!
Não vou aqui referir a coincidência da alguns dos nossos hábitos de leitura na longinqua Guiné. Venho apenas referir que do nosso brevíssimo encontro no sábado, tanto eu, como a minha psicóloga, ficámos sem pereceber se, de facto, vocês se cruzaram em algum comício ou manif da juventude mais intransigente de esquerda. Ela pertenceu a um desses clubes. Essas ideias não me eram indiferentes, apesar de só ter paticipado em manifestações a partir do Movimento da Geração à Rasca, quando decidi acompanhar os meus filhos pelas razões cada vez mais evidentes.
Também me lembro de uma ocasião ter deparado com uma cena de pancada num corredor da FDL. Tu que me topas um bocadinho,já imaginas o filme: dirigi-me logo para o local onde se malhava, enquanto procurava identificar a situação. Determinado, abri caminho pelos periféricos, até identificar os vipes do miolo. Sorri, e entre encontrões saí do local. Afinal, era o presidente da Associação que embrulhava de alguns "uéques". Por mim, podiam ter dado cabo dele, mas não deram. Anda por aí, misericordioso.
Já agora, aproveito para dar conta à Tabanca do que leio ultimamente, e que acho de grande importância para melhor entendimento da situação:"Solução para a Crise", de Ventura Leite; "O Escândalo da Dívida e o Sistema Offshore", de Guilherme Fonseca-Statter; "A Paixão do P*oder", de José António Marina; "Occupy", de Noam Chomsky; e "O Preço da Desigualdade".
Desculpem-me os que estão do lado dos mais ricos, ou que apoiam as máquinas partidárias que ao longo dos anos os apoiam e nos conduziram à crise, mas continuo combatente.
Abraços fraternos
JD

JD disse...

"O Preço da Desigualdade", muito importante, é do Nobel da economia Joseph Stiglitz. E um clássico, provavelmente só disponível em algum alfarrabista, "A Manipulação dos Espíritos", de Alexandre Dorozinski.
Agora sim, desejo boa noite ao pessoal.
JD