quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12385: O que é que a malta lia, nas horas vagas (4): a revista "Flama", o jornal "A Bola"... e o livro de contos e narrativas do Armor Pires Mota, "Guiné, Sol e Sangue" (Braga, Pax ed., 1968) que havia na biblioteca... (Luís Nascimento, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71)



Guiné > Região do Oio > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) > Foto nº 1 >  "O Crioulo, lendo a 'Flama' à porta do abrigo de transmissões, com fundo decortado a manjericos, e sentado em cadeira de verga artesanal... Enfim, o meu pátio alfacinha"...

[Na opinião de Patrícia Fonseca, a "Flama" foi "uma das revistas mais marcantes do século passado, sobretudo na segunda metade dos anos 60 e início dos anos 70 (...) a par de outras revistas, como O Século Ilustrado ou a Vida Mundial", tendo introduzido "nos hábitos de leitura dos portugueses o gosto pelas newsmagazines, que há muito faziam sucesso noutros países"].





Guiné > Região do Oio > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) > Foto nº 2 > "Leitura junto à Morança Nova, tabanca de Caanjambari".



Guiné > Região do Oio > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) >  Foto nº 3 > "Sentado junto ao  abrigo das transmissões, bebendo uma 'bazuca' e fazendo as palavras cruzadas de um jornal ou revista.


Guiné > Região do Oio > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) > Foto nº  4 > "Ali no fim do mundo também se lia a 'Bola', na companhia do Borges, cantineiro, e outro camarada. Ao fundo o depósito de géneros, sem telhado, após tornado que levou a companhia a comer arroz com marmelada durante 15 dias"...



Guiné > Região do Oio > Farim  > CCAÇ 2533 (1969/71) > Foto nº 5 > "Em Farim, à noite, na cama, lendo possivelmente a Flama".


Guiné > Região do Oio > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) >  Foto nº 6 > "Velho moicano, ao fim de 22 meses de comissão, já apanhado pelo clima, de pera e bigode, muito do agrado do cap Sidónio, o 'Cabra',  que prometeu dar-me uma porrada e não cumpriu".

Fotos (e legendas) : © Luís Nascimento (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. Mensagem do Luís Nascimento, enviada ontem, através da sua neta Jessica Nascimento (como habitualmente):

Boa noite Sr. Luis Graça,

Junto envio texto e fotos das histórias do meu avô. Abraço do Sr. Assassin.


2. Pedido do editor a todo o pessoal da Tabanca Grande, enviado a 2 do corrente:

Amigos e camaradas: Foi aberta uma nova série no nosso blogue, "O que é que a malta lia, nas horas vagas"... E eu aqui, faço um apelo, mais uma vez, à vossa generosa participação, para que nos enviem textos e fotos dos momentos de ócio, ao sol, no abrigo, no bar, lendo livros, jornais, revistas... Em muitos aquartelamentos havia pequenas bibliotecas alimentadas pelo Movimento Nacional Feminino... É possível que também chegassem pelo correio jornais e revistas... Ainda se lembram de quais ? Um ou outro assinava publicações periódicas... Enfim, essa informação interessa-nos para melhor documentar o nosso quotidiano naquela terra verde e vermelha onde passámos alguns dos nossos verdes anos.. Luís Graça, editor.


3. Resposta do Luís Nascimento > Acerca do que se lia na Guiné…

Eu, como encarregado da biblioteca, tinha ao meu dispor uma gama de literatura abundante. Lembro-me de ler a “Flama”, o “Século ilustrado” e mais edições da Agência Portuguesa de Revistas, com sede na Saraiva de Carvalho, ali a Campo de Ourique.

Foi na biblioteca de Canjambari que li o primeiro livro à cerca da guerra na Guiné “Guiné Sol e Sangue” de autoria de um Alferes [, Armor Pires Mota, nosso grã-tabanqueiro!], que esteve em Jumbembem e contava a história de um ex-turra de nome Faustino que vim a apurar mais tarde, ser um civil que trabalhava na cozinha da 33, como copeiro (era ele que lavava os panelões) e ia dormir à tabanca onde perdeu um olho por se ter enganado na mesma, pois ali morava um soldado milícia com a sua bajuda e onde arranjou manga de chatice por levar a cabeça grande de “água de Lisboa” [vinho tinto].


[Foto acima, à esquerda: capa do livro "Guiné, Sol e Sangue: Contos e Narrativas", de Armor Pires Mota, editado pela Pax Editora, Braga, 1968, 162 pp.]

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Nota do editor:

Último poste da série > 2 de dezembro de  2013 > Guiné 63/74 - P12381: O que é que a malta lia, nas horas vagas (3): o trissemanário "A Bola" (Garcez Costa, ex-fur mil, radialista, Com-Chefe, Repartição de Assuntos Civis e Acção Psicológica, Serviço de Radiodifusão e Imprensa, Programa das Forças Armadas, Bissau, 1970/72)

3 comentários:

Luís Graça disse...

Vd. nota de leitura do nosso camarada Beja Santos sobre este livro do nosso camarada Armor Pires Mota, autor também de "Tararafo" (na altura proibido pela censura)...

24 DE JANEIRO DE 2010

Guiné 63/74 - P5701: Notas de leitura (58): Armor Pires Mota (3): Guiné: Sol e Sangue (Beja Santos)

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2010/01/guine-6374-p5701-notas-de-leitura-58.html



(...) No mesmo ano em que Armor Pires Mota recebe o prémio Camilo Pessanha pelo livro de poemas “Baga-Baga” (1968), a Editora Pax publica “Guiné: Sol e Sangue, contos e narrativas”. Onde “Tarrafo” é uma descrição pungente, quase em directo, uma brutal descoberta da guerra do mato e das múltiplas insídias que espreitam o contra-guerrilheiro, onde “Tarrafo” é o diário de uma guerra que se desenvolve em espiral e para qual um jovem alferes não pode ter a nítida percepção da força irradiante do projecto de independência que lhe subjaz, fazendo desse libelo uma reportagem de grande alcance histórico, “Guiné: Sol e Sangue” é uma profissão de fé, um testemunho ideológico, uma catilinária sobre aqueles que descrêem do valor da missão que se trava nas matas densas e nas lalas guineenses. Todas as profissões de fé acabam por retocar a realidade, são a “segunda vida” das recordações, o que se pretende transmitir é que há uma fé no duro combate, é indispensável convencer os indiferentes ou os cépticos sobre a justeza daquela guerra.

Daí o tom panfletário logo nos primeiros parágrafos: “O medo é meia derrota. A guerra não se ganha nas trincheiras. Só a coragem vence falsas bandeiras e perdidos ventos. Há uma Bandeira e uma Fé... Não é a floresta tentacular que me curva a alma. É este não saber a terra que piso, a água que bebo, o ar que respiro. É não saber a verdadeira cor do inimigo... Mordido na pele da alma pelo esbrasear frenético das manhãs sangrentas, espapaçadas de suor e capim, estou com os meus soldados onde há um negro a chamar-nos, uma criança a salvar”.(...)

Luís Graça disse...

Já agora vou pôr ao camarada Luís Nascimento, na sua qualidade de "bibliotecário" de Canjambari, algumas questões:

(i) quantos livros tinha a biblioteca ?

(ii) onde é que estava instalada ?

(iii) quem fornecia os livros ? Movimento Nacional Feminino ?

(iv) que tipo de livros ? ficção, história, poesia, viagens, policial, divulgação científica, filosofia, religião, etc. ?

(iv) era muito procurada ? por quem ?

(v) havia "empréstimo domiciliário" ? a malta podia levar para a caserna, o abrigo, o destacamento, o mato ?

... Abraço grande. Beijinho para a tua neta. LG

Anónimo disse...


manuel amaro
Manuel Amaro
3/12/2013

Ok.
Estou ausente, em férias.
Logo que regresse a Alfragide, vou cumprir esta missão [, responder ao pedido do editor].

Um Abraço

Manuel Amaro