domingo, 30 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24519 Fotos à procura de... uma legenda (175): Capinadores e "homens armadas" em Cutia, tabanca e destacamento no setor de Mansoa, ao tempo do BCAÇ 2885 (1969/71) (José Torres Neves, capelão)




Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Destacamento e tabanca de Cutia >  Uma jornada de capinagem... A população da tabanca é balanta.

Foto (e legenda): © José Torres Neves (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. É uma imagem (editada) do álbum  do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) (*).

Do alto da estrada (Mansoa-Cutia-.Mansabá), o capelão tirou uma magnífica foto de um conjuntio de cerca de 3 dezenas de capinadores em ação. 

O capim, nas imedaiações e tabanca de Cutia,  atingia uma altura considerável (3 a 4 metros), constituindo obviamente um perigo para a segurança da tropa e da população civil... Era preciso cortá-lo,  periodicamente... 

Ao mesmo tempo, o capim era, na altura,  a base das coberturas das moranças, precisando ser renovadas regularmente, na época seca. 

O que pode ser mais insólito nesta foto são os dois elementos armados de G3 ou outras armas automáticas (assinalados por um círculo a amarelo) que devem ser parte da escolta de segurança aos capinadores... Serão civis armados, milícias ou militares ? 

Fica a dúvida e o desafio para o leitor completar a legenda ou comentar a foto (**)... LG
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8 comentários:

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,
Sobre a afirmação do(s) Editor(es) de que o capim a volta das localidades e picadas seria a "base de cobertura das casas (palhotas) dos nativos não é exacta. Neste caso podemos falar, para fazer a distinção, de capim vs palha. O capim nasce em todos os sítios e, sobretudo, em zonas do mato com ou sem arvoredo. A palha, que servia para cobrir as casas, nasce somente nas partes altas das bolachas ou lálas, são mais finas, de uma cor entre o castanho e o amarelo, brilhantes e mais resistentes aos insectos roedores (bagabagas) podendo atingir a altura entre 1,20 m até 2m com variações que vão do norte ao Sul em função do volume de chuvas e fertilidade dos solos.

Contudo, está excelente espécie nativa de palha das bolachas, outrora muito apreciada e utilizada para a cobertura das casas de colmos em África a fim de amenizar o calor sufocante durante a época seca, está a desaparecer pouco a pouco vítima das mudanças climáticas e diminuição das chuvas no território. Se na Guiné, sobretudo no Sul, ainda vai resistindo, nos países do sahel há muito que já tinha desaparecido, constituindo assim uma das principais razões do aumento da procura das chapas de zinco para a cobertura das casas em toda a zona África ao sul do Sahara.

Com um abraço amigo,

Cherno Baldé

Anónimo disse...

Errata: onde está bolachas ler bolanha(s). Normal, pois o corrector deve ser americano ou brasileiro e não conhece a palavra "bolanha".

Cherno AB

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Cherno, eu tinha obrigação de saber donde provinha a palha que cobria as casas das tabancas de Badora, Xime, Cossé, Corubal, Enxalé, Joladu, e outros regulados do Leste que conheci... Na realidade não assisti a uma operação deste tipo, seja do corte da tal palha de que falas, das partes altas das bolanhas ou lalas, seja da capinagem p.d. (ao longo das estradas / picadas ou nas proximidades das tabancas)...

No meu tempo, assisti sim a "queimadas" (controladas, umas, e não-controladas, outras, provocadas, por exemplo, pelos guerrilheiros do PAIGC ou população sob o seu controlo, no Xime por exemplo...)

Vou transformar o teu comentário em poste... Ainda há muita coisa da tua/nossa terra que a gente não sabe. E reconhecer a ignorância não é vergonha. Mantenhas. Luis

Anónimo disse...

Caros Amigos,

As armas referenciadas nos círculos amarelos serão G3? Tenho dúvidas?

Abraço do

José Carvalho


Tabanca Grande Luís Graça disse...

José Carvalho, tens toda a razão, a primeira arma não é de todo uma G3... Ampliando ainda mais a fotpo, parece-me talvez uma PPSH-41 (a "costureirinha"), apanhada ao PAIGC... Náo ponho a hipótese da escolta ser composta por gajos do... PAIGC. Cutia, de população balanta, era uma pequena tabanca sob o ocntrolo das NT...

Valdemar Silva disse...

Julgo que as armas assinaladas são G3.
A do homem da lado direito não deixa dúvidas, vemos o punho, o carregador e o tambor da mira.
A do primeiro homem tem uma inclinação com a base de punho e carregador virados para a objectiva que em perfil parece não existirem, mas a parte colocada no ombro à frente do carregador e o agarrar na ponta do cano não engana.
A PPSH-41 é mais curta e tem o cano todo igual.

É minha opinião, e como diria o outro pode não ser.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

Cherno Baldé disse...

Voltando ao Poste do dia e sobre o fundo da questão, acho que estamos na presença de imagens que, na linguagem da época da Guiné portuguesa, se designava por "trabalho obrigatório" ou "trabalho forçado". Do ponto de vista oficial, era trabalho voluntário de limpeza das vias e arredores dos aquartelamentos, mas na realidade e para a população civil era um trabalho a que eram obrigados a fazer por ordens dos chefes de Postos e autoridades tradicionais legítimas ou impostas.

A presença dos individuos armados com mauseres e G3 no meio dos trabalhadores tanto poderia ser para a segurança assim como um meio de pressão psicológica e de intimidação, tratando-se sobretudo de jovens pertencentes a etnia Balanta de Cutia e arredores.É a minha opinião a luz da realidade dos anos 60/70 de que fui testemunho e participante. No meio disso tudo, alguns elementos da tropa metropolitana, mal preparada préviamente, sobre os reais objectivos e fundamentos da colonização, paradoxalmente, contrariavam estas linhas de orientação que muitas vezes não compreendiam e mal aceitavam excepção feita aos oficiais superiores que estavam melhor informados. Na fase final da guerra, o Gen. Spínola tentou acabar com estas práticas, consideradas muito nocivas e que não se enquadravam na nova política "por uma Guiné melhor" chocando-se fortemente com hábitos há muito estabelecidos e que davam jeito aos comandantes e chefes de Postos nos aquartelamentos do mato a braços com problemas de meios humanos, financeiros e materiais para todas as tarefas necessárias.

Cherno Baldé

Valdemar Silva disse...

Cherno Baldé é que sabe.
Vendo bem a arma do primeiro homem, da esq., para ser uma Mauser.

Valdemar Queiroz