Queridos amigos,
Estava bem intencionado em fazer o roteiro de todas estas opulentas igrejas barrocas, nem a energia nem a concentração são hoje o que foram, o roteiro ficou incompleto, isto a despeito, posso dizer com orgulho, de ter cirandado por locais do maior interesse, logo o Museu Hof van Busleyden, a catedral, Nossa Senhora para lá do Dyle, a igreja de S. Pedro e S. Paulo, a basílica Hans Wijk, a igreja de Nossa Senhora do Vale de Lys, por fim o Museu do Holocausto, há razões para querer voltar, gostei da catedral, da visita de médico à igreja de S. João Baptista e S. João Evangelista, Malines é uma cidade aprazível, consorcia muito bem a arquitetura antiga e as experiências modernas, é desafogada e impressiona as preocupações da preservação patrimonial. Já um tanto derrancado, como recomenda a idade, ponho-me a caminho da estação ferroviária, tenho o dia de amanhã por minha conta, a secreta esperança de que vou dormir bem e amanhã vou de novo conquistar Bruxelas, digo sem nenhuma prosápia que mantenho com esta urbe um diálogo infindável, estou cada vez mais convicto que o meu amor pelo sonho europeu aqui se cimentou, com o entusiasmo e as inquietações do costume. E que o leitor tenha complacência, vou começar o dia na feira da ladra, vou pagar bem caro uma pechincha de tomo, uma edição de quilos da obra de Piero della Francesca, novinho em folha, bem regateado, o castigo veio depois, andar o dia todo com aquele trambolho às costas.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (114):
Oh Bruxelles, tu ne me quittes pas! (5)
Mário Beja Santos
Confesso a singularidade desta visita a Malines, em tudo se distingue dos aliciantes e atrativos que encontro, por exemplo, na lista bem alargada dos museus de Bruxelas, pelo menos sete dezenas de hipóteses de ir conhecer instrumentos musicais, brinquedos, comunicações, arquitetura, publicidade, indústrias do trabalho, pintores como Camille Lemonnier, cervejas, museus locais de Belas Artes como o de Ixelles, a casa de Erasmo, o Museu Real de África Central, e fico-me por aqui. A ida ao departamento de turismo aqui em Malines acicatou-me a curiosidade: a que se deve este fausto, esta opulência da antiga capital da Burgúndia/Borgonha dos Países-Baixos Meridionais com tal enaltecimento do barroco? À procura de resposta, entrei no roteiro das igrejas históricas, já conversei com o leitor confessando que este estilo entre o barroco austero e o rococó exuberante não é santo do meu culto, isto sem querer negar algumas respostas estéticas que me deslumbram, os trabalhos em madeira, a pintura de Rubens, as soluções para as capelas laterais, por exemplo. E aqui estou, na segunda e última fase da viagem pelas igrejas de Malines, às vezes já troco os nomes, e momento houve em que julguei que entrava ali pela primeira vez e já ali tinha estado de manhã.
Estamos agora na igreja de Nossa Senhora para lá do Dyle, o tal rio que atravessa a cidade, há falta de dotes fotográficos, e dado que o templo tem a sua fachada numa rua apertada, preferi seccionar as imagens. Trata-se da segunda maior igreja gótica de Malines e caracteriza-se por 28 guildas e corporações da cidade, cada uma delas dispor ali um altar; além do mais, é aqui que podemos ver o admirável quadro de Rubens, A Pesca Milagrosa.
Chamo a atenção do visitante que neste embrechado de gótico e barroco há por vezes a surpresa de ainda se poder ver pintura antiga, como é o caso desta parede junto um órgão lateral.
Um dos órgãos de Nossa Senhora para lá do Dyle.
Altar-mor tendo como tema pictórico A Última Ceia.
Uma das capelas laterais alusivas a guildas e corporações.
O grande órgão da igreja, classicamente implantado no coro.
Quadro, A Pesca Milagrosa, de Rubens.
Já arrasto os pés, desisto de cumprir em rigor o roteiro, tinha esperança de visitar a igreja gótica de Santa Catarina, tem a particularidade deter uma abóbada de berço em madeira e escultura de dois grandes artistas de Malines, Lucas Faydherbe e Nicolaas van der Veken, já não estou em condições físicas e ainda tenho o Museu do Holocausto para visitar, pelo caminho paro na basílica de Hans Wijk, tem uma bela cúpula, ornamentação exuberante, prima por este belo contraste entre o branco e o dourado. E fico muito agradecido a Malines de ter conhecido este belo barroco (para quem gosta), a visita que mais me preencheu, digo abertamente, foi a catedral de S. Rumoldo, inesquecível.Novo edifício do Museu do Holocausto e dos Direitos do Homem, Malines
(continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 29 DE JULHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24515: Os nossos seres, saberes e lazeres (583): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (113): Oh Bruxelles, tu ne me quittes pas! (4) (Mário Beja Santos)
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