domingo, 17 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15628: (Ex)citações (304): O que fez de mim um homem ? Sei lá!... Quando entrei para a tropa, aos 22 anos, já era um homem: trabalhava há 10 anos... Quem me dera agora ter 12 anos! (Valdemar Queiroz)

Valdemar Queiroz

1. Comentário do Valdemar Queiroz [ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70; , foto à esquerda, em Contuboel, 1969] ao poste P15622 (*)


O que fez de mim um homem ?....

Sei lá!

Com doze anos já era paquete de escritório numa grande empresa, nos Restauradores, em Lisboa. 

(Quem me dera ter agora doze anos!).

Julgo ter sido o mais jovem empregado descontar prá Caixa: em 1 de abril de 1957, tinha feito doze anos em 30 de março. 

(Quem me dera ter agora doze anos!|).

Na grande empresa, onde trabalhei, o meu chefe de secção era familiar de militares e de comportamentos 'não se pode fazer isso'. O paquete, 'EU', era o primeiro a entrar e o último a sair. 

(Quem me dera ter agora doze anos!).

Depois, com o tempo a passar, fui prá Veiga Beirão, no Carmo, à noite, fazer o Curso Comercial. 

(Quem me dera ter agora aqueles extraordinários anos!).

Quando entrei prá tropa já era um homem. Em Santarém, em 16 de julho de 1967, quando fui prá tropa (não sei porquê, chamaram-me com 22 anos), já trabalhava há 10 anos.

Quem me dera estar, agora, em 1957, tinha doze anos de idade!

Quem me dera, agora, começar!...

Quem me dera!|...

Valdemar Queiroz

_____________

3 comentários:

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

No texto que produzi e vou apresentar ao blog esqueci-me de exemplos como este. Havia muitos que trabalhavam desde muito cedo, embora a lei estabelecesse que só se podia trabalhar a partir dos 14 anos. Com a 4.ª classe terminada aos 10/11 era claro que com 13 anos, se tivesse 12, já podia começar a levar calduços na oficina. Foi assim que ao chegar à tropa "o pessoal da ferrugem" e tantos outros tinham conhecimentos e gesto profissional (como hoje se diz) que permitiam realizar aquelas obras que deixámos ou que permitiram uma melhor sobrevivência das unidades. Recordo um electricista já encartado que havia na CArt 1692, com cerca de 22 anos.
Os comentários (positivos ou negativos) a este tipo de situações levavam-nos longe, mas era a realidade sociológica daquele tempo. E contra isso só há que constatar...

Um Ab.
António J. P. Costa

Luís Graça disse...

Tó Zé: Sei que tens uma grande "alergia" aos inquéritos "on line" que aqui realizamos... Como já tneho dito, mais do que uma vez, o seu objetivo não é "científico", mas apenas "didático"... Se a malta agarrar o tema e produzir textos como o teu, que acabamos de receber, então já valeu... o famigerado inquérito "on line"... Dei 20 valores ao teu texto, que é o máximo que posso dar, na escala de 0 a 20... Ou seja, excelente!

Valdemar e Tó Zé: pode ser que apareçam mais testemunhos.. Reparem que é uma geração, a nossa, em que se começava a trabalhar cedo... 4ª classe, 10 anos, e ala,moço!, ... que "o trabalho do menino é pouco, (mas) quem não o aproveita é louco"...

E no norte, meus caros, nas famílais de pequenos camponeses e rendeiros começava-se a trabalhar ainda mais cedo... Lá o pai era pai e patrão...

Um alfabravo. Luis

José Botelho Colaço disse...

Luís não era só no Norte o Sul era o reverso da medalha o meu pai era um pequeno agricultor e para ele trabalhava por vezes um Homem que tinha muitos filhos quase todo do séxo masculino e como o meu pai tinha unm pequeno rebanho de ovelhas, esse sr. falou com o meu pai para que o seu filho Chico fosse guardar as ovelhas o miudo tinha uns 7 ou oito anos entretanto os anos passaram o miúdo já era zagalote começou a trabalhar com os homens, mas como ele tinha um irmão mais novo o Manuel, ficou o manuel no lugar do Francisco o ordenado aumentou passou de 30$00 para 50$00 por mês também com a alimentação, a seguir foi o irmão Belchior substituir o Manuel destes tres irmãos só o Belchior é que foi com a instrução primária.
Estes miudos na casa dos meus pais eram tratados como se fizessem parte da família, comiam à mesa connosco, a cama é que era normal ser na casinha ou arramada das bestas ou ao lado no palheiro, mas nessa casinha até o meu pai lá dormia para durante a noite alimentar os animais porque ao nascer do sol já tinham a canga em cima para mais um dia de trabalho de sol a sol.
Nota: estes miudos eram uns mouros de trabalho eles ajudavam em tudo o que era necessário desde as limpezas dos corrais do gado etc. etc. Hoje se pedisse a um adulto para fazer o trabalho dessas crianças tinham de certeza por resposta que o tempo da escravatura já acabou.
Mas situações destas e muito mais caricatas era o normal da vida desses tempos.

Um abraço Colaço.