segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Guiné 63/74 - P16427: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXXIV - Memórias de um pobre cabo quarteleiro que teve de pagar, do seu magro bolso, o valor de 15 cantis que faltavam no inventário...


1. Continuação da publicação das "histórias da CCAÇ 2533", a partir do documento editado pelo ex-1º cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, com fotografias). (*)

Trata-se de uma brochura, com cerca de 6 dezenas de curtas histórias, de uma a duas páginas, e profusamente ilustrada (cerca de meia centena de fotos). Chegou às mãos dos nossos editores, em suporte digital, através do Luís Nascimento, que vive em Viseu, e que também nos facultou um exemplar em papel, para consulta.

Temos a devida autorização do editor e autores para dar a conhecer, a um público mais vasto de amigos e camaradas da Guiné, as peripécias por que passou o pessoal da CCAÇ 2533, companhia independente que esteve sediada em Canjambari e Farim, região do Oio, ao serviço do BCAÇ 2879, o batalhão dos Cobras (Farim, 1969/71).

O primeirop poste desta série é de 16/4/2014. As primeras 25 páginas são do comandante da companhia, o cap inf Sidónio Ribeiro da Silva, hoje cor ref. Tanto esta companhia como a minha CCAÇ 2590 (mais tarde CCAÇ 12) viajaram, juntas no mesmo T/T, o Niassa, em 24 de maio de 1969, e regressaram juntas, a 17 de março de 1971, no T/T Uíge!... Temos, pois, aí uma fantástica coincidência!..

Hoje reproduz-se o texto da autoria do ex-1º cabo Silva, o "arrecadação", o 1º cabo quarteleiro Silva, que, para poder embarcar para a metrópole, e regressar a casa,  teve de pagar do seu magro bolso o valor de 15 cantis que faltavam no inventário (pp. 107-108). 

Como ele esclarece, com fina ironia, ele era o responsável máximo da arrecadação, estando abaixo dele o 1º e o 2º sargentos...

Há "histórias do arco da velha", esta é seguramente uma delas... Como diz o nosso povo, "quando o mar bate na rocha, quem se lixa é o mexilhão"...  Enfim, uma história pouco ou nada edificante sobre os supremos valores que norteavam o nosso glorioso exército... Moral da história: na tropa havia os xicos, os xicos espertos e os filhos do Zé Povinho... que só de 50 em 50 anos é que fazem o célebre manguito,  imortalizado, em 1875,  pelo genial Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905)...  Enfim, somos um povo com reflexos de dinossauro que, dizem, levava  meia hora a reagir quando lhe pisavam o rabo...






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In Histórias da CCAÇ 2533. Edição de Joaquim Lessa, tipografia Lessa, Maia, s/d, pp. 107-108.
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4 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Porra, camarada Silva, "eles" bem mereciam um manguito!...

Anónimo disse...

Camarada Silva

Independentemente de outros comentários que poderia fazer sobre o estado da sua companhia no aspecto administrativo-logístico uma coisa é certa . Muito pouca camaradagem entre o pessoal especialmente das praças que não se solidarizaram consigo. Os cantis em falta facilmente se justificavam num qualquer relatório de operações.Mas já que assim os seus superiores hierárquicos não o fizeram os demais camaradas mesmo aqueles que porventura quiseram ficar com a" recordação" ajudavam o camarada. Nem sempre a tão apregoada camaradagem militar funciona.
Até á próxima.
J.Gabriel Tavares

jpscandeias disse...

Camarada Silva

Eu também paguei um carregador de G3 que perdi, depois de o ter descarregado, quando em fevereiro de 1973 numa operação efectuada pela Ccaaç 12 na Ponta Varela a companhia caiu numa emboscada. E não houve apelo nem agravo. Descontaram no pré os 60 e tal escudos.
Irónico? Injusto? Incompreensível? Naquela altura achei. Hoje acho piada quando recordo esta situação com amigos e ex-camaradas. Por isso, em face do que me sucedeu, até acho que faz sentido os cantis.


João Silva, ex- Furriel Mil At. Inf.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não vais sem resposta. João Silva... Eu lembro-me de ter pago um colchão... Camarada, porreiro, amigp do seu amigo, terei requisitado um colchão, ao quarteleiro da CCAÇ 12, para desenrascar por um ou mais noites um camarada, de passagem por Bambadinca, vindo do mato, a caminho de Bissau...

Tenho ideia que o devolvi, que um colchão não se come nem se leva debaixo para a tabanca, para oferecer a uma bajuda... No fim da comissão, fiquei a arder... Hoje não estou mais pobre por isso... Éramos todos camaradas, mais uns mais camaradas do que outros... Quando chegava o fim da comissão, entrávamos todos em parafuso... Era o salve-se quem puder!...