quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24546: Fotos à procura de... uma legenda (176): A "rainha de Catió", fotografada em 1964/66 (pelo João Sacôto) e em 1972 (pelo Mário Arada Pinheiro)

Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > "Mulher grande, rainha de Catió". 

Foto do álbum do João Gabriel Sacôto Martins Fernandes, de seu nome completo, ex-alf mil da CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66) e depois piloto da aviação civil onde chegou a comandante da TAP, reformado desde 1998. Conviveu com a população, fula e balanta, de Catió e arredores, incluindo Príame (a tabanca do cap 'comando' graduado João Bacar Jaló, 1929-1971).

Foto (e legenda): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Região de Tombali > Catió > BCAÇ 2930 (Catió, 1970-72) >  O então maj inf Mário Arada Pinheiro, 2.º cmdt do BCAÇ 2930, com a "rainha de Catió" e algumas das suas netas (?)... Em chão nalu, ela era fula. As miúdas mais pequenas estão "meio escondidas", envergonhadas ou intimidadas (como era normal, na presença dos "tugas")... (**)

Foto (e legenda): © Mário Arada Pinheiro (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Será a mesma senhora? A "rainha do Catió", fotografada por volta de 1964/66, pelo João Sacôto, e seis ou oito anos mais tarde, em 1972, pelo Mário Arada Pinheiro?

Ambos os fotógrafos lhe chamam "rainha de Catió", " mulher grande", "fula em terra de nalus"... Mas o Cherno Baldé, o nosso assessor para as questões etnolinguísticas, tem dúvidas, tendo deixado este comentário no poste P24549 (*):

(...) "Em Catió, na altura, o Bairro dos fulas, melhor dizendo futa-fulas, era logo à entrada em Priame, onde também vivia a família do Cap 
Cmd João Bacar Jaló. Por isso, quer-me parecer que a mulher grande aqui apresentada como a "rainha de Catió" poderia muito bem ser uma das suas viúvas ou uma familiar muito próxima, para merecer as visitas de um alto oficial do Batalhão sediado em Catió.

"Os fulas não têm rainhas e muito menos no chão Nalú, mesmo estando em terras conquistadas pelos seus antepassados. Talvez o Mário Arada Pinheiro nos possa esclarecer a dúvida." (9 de agosto de 2023 às 16:29 (...)

2. Comentário do editor LG:

Obrigado, Cherno, estou agora, neste mês, quase todos os dias com o coronel Mário Arada Pinheiro, tem casa de férias aqui na Praia da Areia Branca... Pertencemos ambos ao GAPAB / Vigia (Grupo dos Amigos da Praia da Areia Branca). Vou-lhe "espicaçar" a memória, que é muito boa para quem já teve a felicidade de chegar aos 90 anos. (E ainda há dias o vi a conduzir aqui na Lourinhã.) Realmente nunca vi nenhuma rainha "fula"... Dos nalus conheci, em 2008, o "rei", Salifo Camará, falecido em 2011... Aliás, "Aladje Salifo Camará, régulo de Cadique Nalu e Lautchandé, antigo Combatente da Liberdade da Pátria, o rei dos nalus" (tinha 87 anos em 2008).

Em Angola, sim, houve várias rainhas, que ficaram na história, começando pela mais célebre, Mwene Nzinga Mbandi (c. 1582, - 1663), também conhecida por rainha Njinga ou Ginga, ou Ana de Sousa (para os portugueses).

Vamos lançar o desafio aos nossos dois fotógrafos e aos nossos camaradas que tenham passado por Catió... Quem é (era ou foi) esta "mulher grande, rainha de Catió"? (***)
____________

Notas do editor:

(*) Vd,. poste de 28 de março de 2019 : Guiné 61/74 - P19628: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte VII: Catió e arredores: contactos com a população civil

(**) 9 de agostoi de 2023 > Guiné 61/74 - P24540: Fotos do álbum do cor inf ref Mário Arada Pinheiro, antigo 2º cmd do BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72) e cmdt do Comando Geral de Milícias (Bissau, 1972/73)

(***) Último poste da série > 30 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24519 Fotos à procura de... uma legenda (175): Capinadores e "homens armadas" em Cutia, tabanca e destacamento no setor de Mansoa, ao tempo do BCAÇ 2885 (1969/71) (José Torres Neves, capelão)

5 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Segundo informação que me deu o cor Pinheiro, a guineense da foto era conhecida como a "rainha de Catió", e não tinha qualquer relação com o cap 'comando' graduado João Bacar Jaló (falecido em combate, na zona de Tite, em 1971).

A "rainha de Catió" era a lavadeira do então mejor Mário Arada Pinheiro, 2º cmdt do BCAÇ 2930, que esteve em Catió, de set 71 a ago 72, ou seja, no 2º ano da comissão do batalhão. A "rainha de Catió" tinha vários filhos, ao mais novo pós.-he o nome João Pinheiro, em homenagem ao filho do do major ("mas eu não sou o pai da criança!", diz-me ele com o seu apurado sentido de humor)...

Depois de ir para Bissau, para o QG, na Amura, a "rainha de Catió" apareceu-lhe um dia lá em casa (ele vivia com a esposa e filhos numa vivenda em Santa Luzia), queria visitar uma filha que estava hospitalizada no HM 241, com uma perna esfacelada por um estilhaço de foguetão 122 mm (num dos ataques a Catió).

Em conclusão, "rainha de Catió" era uma alcunha, cognome ou "nick name" dado a esta senhora pela tropa, logo desde o início da guerra, uma vez que era conhecida como tal já tempo do João Sacôto (1964/66). Devia ser futa-fula, tinha um porte altivo, e o seu vestido branco comprido parece ser o mesmo nas duas fotos...

Cherno Baldé disse...

Caro amigo Luís,

Obrigado pelo pelo trabalho que se deu para nos esclarecer melhor, pois era evidente que não se tratava de uma rainha no verdadeiro sentido da palavra, sendo uma mulher Fula em terras de Nalus. Todavia a sua beleza e imponente figura bem que merecia o título honorífico.

Também em Fajonquito existia uma figura semelhante, uma mulher da etnia Papel oriunda da cidade de Fátima que, na verdade, era uma espécie de chefe das lavadeiras, pois não sendo fula, não estava sujeita as restrições e a pressão social das mulheres fulas, era conhecida por todos e tinha acesso livre ao quartel, de modo que tinha muitos clientes aos quais depois distribuía as mulheres da aldeia que, por serem casadas, não podiam frequentar o aquartelamento e muito menos entrar em contacto com a tropa metropolitana. Mas, como o ser humano é muito complexo e seus caminhos insondáveis, algumas dessas mulheres que, aparentemente, não podiam frequentar o quartel e entrar em contacto com os brancos apareceram depois, misteriosamente, grávida, dando a luz filhos e filhas mulatos/as.

Claro que o vestido usado pela "rainha" não podia ser o mesmo passados mais de 6/7 anos entre as duas fotos, mas a sua beleza continua quase a mesma.

Cherno Baldé

Anónimo disse...

Errata: quis dizer cidade de Farim, e não Fátima.

Cherno AB

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O meu amigo Pinheiro acaba de me completar a informação dada esta manhã : sempre a conheceu como a "rainhá de Catió. Tinha vários filhos,o marido era o motorista do administrador ostra dor de Catió,portanto alguém já um pouco mais diferenciado... Para ser condutor, deveria ter sido militar antes ou no início da guerra.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

...Queria dizer "administrador de Catió".