segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24537: O Nosso Blogue como fonte de informação e conhecimento (102): Há uma diferença entre o "capim" e o "colmo" (utilizado na cobertura das moranças) (Cherno Baldé)


Guiné > Região de Tombali > Gadamael - Porto > s/d [1973?] > Tabanca, reordenada pelas NT. Em primeiro plano, do lado esquerdo, uma morança ainda com a tradicional cobertura de "colmo" (palha) (material que não deve ser confundido com o "capim")... As casas reordenadas já eram revestidas com "chapa de zinco".

Foto: Autor desconhecido. Álbum fotográfico Guiledje Virtual. Gentileza de: © Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (Bissau) (2007).




Guiné >Região de Tombali > Gadamael - Porto > 1968 > A construção do primeiro reordenamento do CTIG, na opinião do cor art ref António J Pereira da Costa, membro da nossa Tabanca Grande. As casas ainda eram cobertas a colmo.

Fotos (e legenda): © António J. Pereira da Costa (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Guiné > Região de Tombali > Cufar > Matofarroba > Tabanca > 1973 > Aspeto do reordenamento feito pelas NT. Matofarroba ficava/fica, a 2km/3km, a sul de Cufar.

Foto (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Destacamento e tabanca de Cutia > Uma jornada de capinagem... A população da tabanca é balanta.



Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Destacamento de Bissá > c. 1970 > Celeiro para a "bianda", neste caso o arroz... Em balanta, chama-se "flu". Ao fundo, a tradicional casa balanta, ecológica, feita de adobe e colmo.

Fotos (e legenda): © José Torres Neves (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário de Cherno Baldé  (nosso colaborador permanente, assessor para as questões etnolinguísticas, vive em Bissau, tem 280 referências no nosso blogue) ao poste P24519 (*):

(...) Sobre a afirmação do(s) Editor(es) de que o capim à volta das localidades e picadas seria a "base de cobertura das casas (palhotas)" dos nativos não é exacta. 

Neste caso podemos falar, para fazer a distinção, de capim vs palha (colmo) (**):

(i)  o capim nasce em todos os sítios e, sobretudo, em zonas do mato com ou sem arvoredo;

(ii) a palha (colmo), que servia para cobrir as casas, nasce somente nas partes altas das bolanhas ou lálas, são mais finas, de uma cor entre o castanho e o amarelo, brilhantes e mais resistentes aos insectos roedores (bagabagas) podendo atingir a altura entre 1,20 m até 2m com variações que vão do norte ao Sul em função do volume de chuvas e fertilidade dos solos.

Contudo, esta excelente espécie nativa de palha das bolanhas, outrora muito apreciada e utilizada para a cobertura das casas de colmo em África a fim de amenizar o calor sufocante durante a época seca, está a desaparecer pouco a pouco, vítima das mudanças climáticas e diminuição das chuvas no território. 

Se na Guiné, sobretudo no Sul, ainda vai resistindo, nos países do sahel há muito que já tinha desaparecido, constituindo assim uma das principais razões do aumento da procura das chapas de zinco para a cobertura das casas em toda a zona África ao sul do Sahara. (...)

30 de julho de 2023 às 19:24 
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 30 de julho de 2023  Guiné 61/74 - P24519 Fotos à procura de... uma legenda (175): Capinadores e "homens armadas" em Cutia, tabanca e destacamento no setor de Mansoa, ao tempo do BCAÇ 2885 (1969/71) (José Torres Neves, capelão)

(**) Último poste da série > 29 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24438: O Nosso Blogue como fonte de informação e conhecimento (101): Pedido de apoio para a obtenção de antigos manuais escolares do PAIGG (com destaque para o livro da 4ª classe). editados na Suécia, em Upsala, impressos na Wretmans Boktryckeri AB (Jorge Luís Mendes, Primeiro-Conselheiro da Embaixada da República da Guiné-Bissau no Brasil)

3 comentários:

Antº Rosinha disse...

Em Portugal tambem se usava no mundo rural o colmo para cobrir cabanas de pastores de agricultores, ou casa de aldeia de algum pobre que não tinha dinheiro para comprar telhas.

O colmo próprio, em Portugal hoje será difícil de encontrar pois que pouco se cultiva o centeio o trigo, principais fornecedores de palha, e se houver é tudo tratado mecanicamente e a palha é traçada e enfardada.

A Guiné com a desertificação só com telha ou zinco e ar condicionado.

Um telhado, feito por mestres, sobre umas paredes de adobe, com esteiras de quirintim, fazia-se um palácio.

Mas agora lá vai o que era bom.

Até se vê no google numa terra onde havia imenso tipo de capins próprios, Angola, grandes sanzalas tudo com o horrível zinco.

Quando antigamente só o chefe de posto é que tinha a característica casa colonial, mas tinha nas trazeiras da casa sempre um coberto de capim para aquela sesta.

Nas o que era bom, foi-se, agora na Guiné e Angola já se vêem os ministros de casaco e gravata, quando tinham aqueles alfaiates que faziam aquela fardas leves tipo safari que até assentavam muito bem no Nino Vieira e no seu motorista, e o Luís Cabral ficava-lhe que nem uma luva.

Viva o ar condicionado!







Valdemar Silva disse...

Antº. Rosinha
É notório que as habitações são feitas dos materiais que estão mais à mão nos locais em que são construídas.

A palha de centeio e principalmente o colmo sempre foi utilizada para cobertura das habitações, utilizando a ardósia e a telha em locais sem esse cereal. Mas também era utilizada a giesta que se ia substituindo conforme a necessidade
A grande e cara matéria prima para a produção de telhas, a argila, era utilizado em telhados das casas de gente rica.
(há uma série de fotografias dos anos 1940/50s de Eduardo Portugal de casas de pedra e telhados de colmo ainda habitadas nesse tempo)

A propósito de telhado vem à ideia o célebre José do Telhado.
Uns dizem que era assim conhecido por a sua casa ter telhas, telhado, ou diziam que era por ele ser salteador e entrava nas casas pelos telhados.
O nome do homem era José Teixeira da Silva, mas era conhecido por Zé do Telhado, por Telhado ser o lugar em que nasceu. Lugar do Telhado, Castelões, Penafiel.
E o lugar chamava-se Telhado por ter "fornos de cozer telhas".

Nos Países Baixos é chique e caro grandes casas com telhados de colmo, isolam a chuva e o frio.

A ideia dos novos telhados com chapas de zinco, lá se vai o descanso com o barulho da chuva e o calor da chapa para dentro das casas.


Saúde da boa
Valdemar Queiroz

Fernando Ribeiro disse...

Caro Antº Rosinha,

Por volta de 1990, encontrei em Trás-os-Montes uma aldeia que era totalmente constituída por casas cobertas de colmo, menos a capela que era coberta de telhas. A aldeia chamava-se (e chama-se) Barreiro e fica quase nos píncaros da serra do Alvão, distrito de Vila Real. Julgo que a aldeia pertence ao concelho de Mondim de Basto, mas não tenho a certeza. Falei com um habitante local, que me disse que as casas com cobertura de colmo eram muito mais confortáveis do que as outras, sobretudo no inverno, quando as temperaturas naqueles altos atingem valores de muitos graus negativos. Disse-me ele que o colmo tornava a sua casa aconchegante e não queria outra cobertura.

Numa aldeia próxima, situada mais abaixo e chamada Varzigueto, quase sobranceira às lindíssimas Fisgas do Ermelo (uma cascata na qual o pequeno Rio Olo se despenha do alto de dezenas e dezenas de metros e com uma vista para o Monte Farinha (Senhora da Graça para os fãs do ciclismo), em Mondim de Basto, que é de cortar a respiração), já não havia casa nenhuma coberta de colmo.

Ainda mais abaixo, uma outra aldeia chamada Bilhó não tinha casas cobertas de colmo, mas sim cobertas de placas de ardósia, dado que aquela serra é xistosa.

Próxima da aldeia do Barreiro, mas sem ligação direta por estrada com ela e do lado de Vila Real, também encontrei uma outra aldeia que tinha muitas casas cobertas de colmo, mas não todas. Esta outra aldeia chamava-se Lamas de Olo e a estrada que lhe dava acesso a partir de Vila Real tinha um troço muito íngreme.

Aposto que agora nem no Barreiro, nem em Lamas de Olo, nem em lado nenhum se encontra alguma casa coberta de colmo. O uso da telha deve ter-se generalizado.