Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
segunda-feira, 27 de novembro de 2017
Guiné 61/74 - P18019: Blogpoesia (540): Tempos duros em que as saudades apertavam (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto do BCAÇ 3872)
1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 25 de Novembro de 2017:
No mês de Novembro de 1972 morre numa mina, entre Galomaro e Saltinho, o 1.º Cabo PELREC Teixeira; são transferidos para o hospital de Bissau o Carlos Filipe e o seu comandante de pelotão, alferes Mota, que vem a falecer dois dias depois.
Foi um tempo duro em que as saudades apertavam e, em sentido figurado, também se morria de amor.
Um abraço
Juvenal Amado
Meu amor morro de saudades
O papel fino
Letra redonda tão harmoniosa,
Feminina sem segredos
Água fonte dos meus sentidos
Cheirava a ti o papel
Lá estavam os iis com corações
A tua escrita tinha aroma de pêssego
Sabia onde tinhas colado a tua boca
O teu sabor a maçã
Perfume dos nossos lugares
Erva fresca pinheiro e eucalipto
Relia o cabeçalho
- Meu querido... Morro de saudades
meus olhos perdiam-se nos iis com corações
Como sobrevivemos longe
Como suportamos a longa espera
Guardava as tuas palavras
Enquanto aguardava o regresso a ti
Doía-me a ausência de nós
Na solidão da noite tudo parecia irreal
Fustigavam-me todas a dúvidas
Os meus fantasmas ganhavam formas
Vagueavam entre o suor e o calor
Voltava a ler a magia nas tuas palavras
- Meu querido… morro de saudades
Guardava-te junto ao peito
Nunca te amei tanto
e…
Também eu morria de saudades
____________
Nota do editor
Último poste da série de 26 de Novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18015: Blogpoesia (539): "As rampas...", "Apanágio de poucos..." e "Arame farpado...", poemas de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
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3 comentários:
A sorte de ser amado por uma mulher, e Amado no nome. Amado pelos deuses.
Abraço,
Anntónio Graça de Abreu
Juvenal, poeta de grande sensibilidade... Quem teve uma amada à sua espera, no cais da Rocha Conde Óbidos no no aeroporto de Figo Maduro (não sei se as deixavam lá entrar...) teve mais sorte... O amor ajudou-nos a suportar melhor o pesadelo daqueles vinte a tal meses... Quem disse que os morreram "não morriam de saudades" ?... No futuro, serão os robôs a matarem-nos e os robôs não tem lágrimas e muito menos saudades... Mais do que a inteligência, é a emoção que é a nossa "marca humana"...
Lindo!... LG
saudade | s. f. | s. f. pl.
sau·da·de |au| ou |a-u|
(latim solitas, -atis, solidão)
substantivo feminino
1. Lembrança grata de pessoa ausente, de um momento passado, ou de alguma coisa de que alguém se vê privado.
2. Pesar, mágoa que essa privação causa.
3. [Botânica] Planta (Scabiosa atropurpurea) da família das dipsacáceas. (Mais usado no plural.) = ESCABIOSA, SUSPIRO
4. [Botânica] Nome de várias espécies de plantas com flores de cores variadas. (Mais usado no plural.)
5. [Botânica] Flor de uma dessas plantas. (Mais usado no plural.)
saudades
substantivo feminino plural
6. Boas lembranças ou recordações (ex.: a antiga chefe não deixou saudades).
7. Cumprimentos a alguém (ex.: mande-lhe saudades minhas).
Palavras relacionadas: ressaudação, saudante, ressaudar, saudação, saudar, escabiosa, saudável.
"saudade", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/DLPO/saudade [consultado em 28-11-2017].
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