domingo, 26 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P18015: Blogpoesia (539): "As rampas...", "Apanágio de poucos..." e "Arame farpado...", poemas de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Gaia ao Pôr-do-sol
© Carlos Vinhal


1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


As rampas…

Aqueles caminhos estreitos,
Por vezes alcantilados,
Que abreviam distâncias
E economizam o tempo,
São o recurso expedito,
Cheio de sabedoria
Que a engenharia natural engendra,
Desde sempre
E em todos espaços da terra.
Dão acesso aos altos cumes,
Onde há, sempre, uma ermida ou um miradouro,
Enriquecedores do espírito
E os telescópios de ver perto o longe e à volta.
Descem ao mar, através de escarpas, inacessíveis e transitáveis.
São promontórios longos a perfurarem o mar, por onde passam os pescadores e suas redes até aos barcos.
São os magníficos escadórios longos,
engalanados de estátuas esbeltas,
que irrompem cá de baixo,
desde o centro da cidade,
numa alameda, frondosa e larga, aos zigue-zagues,
até à cerca do Santuário.
E, com saudade a lembro,
aquela rampinha ensolarada,
rodeada de latadas de uvas,
na estrada antiga de Lisboa ao Porto,
que levava a um restaurante,
“A Rampinha”
em Gaia,
onde o rei era o bacalhau,
de todo o jeito,
como nunca mais provei…

Ouvindo Brahms por Hélène Grimaud ao piano
Berlim, 20 de Novembro de 2017
6h29m
Jlmg

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Apanágio de poucos…

Escrever poemas ou pintar belos quadros de beleza é apanágio de poucos.
É um talento que poisa onde quer.
Seu sustento é de além.
Como a chuva que cai na hora,
Regando a seca,
Fermenta o solo.
Reverdece a cor. Define a luz.
Ressalta os tons.
Como nuvens do céu, prenhes de cores,
As ideias bailam na mente como o sopra o vento.
Desenham figuras. Narram de cor,
Lamentos da noite.
Suspiros de paz.
A meditação contemplativa, essa, está ao dispor de cada pessoa.
Acessível a todos.
Com talento ou não…

Ouvindo Albinoni na despedida da tarde
Berlim, 23 de Novembro de 2017
16h33m
Jlmg

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Arame farpado...

Cúmulo do medo pelo seu igual,
na selva em que o mundo se tornou.
Vivem livres as feras na selva.
Convivem em harmonia.
Basta-lhes a lei natural.
Os privilegiados da inteligência,
aterrorizados por perderem seu trono fraco,
amordaçam-se com cinturões de arame, cravejado de espetos.
Levantam longos muros,
guardados por metralha,
à volta das fronteiras.
Supõe-nos de ferro,
na verdade são de palha.
Acautelam as suas vidas,
cercados de seguranças
que se traficam a quem der mais.
Ostentam um poderio de majestade,
como uma armada invencível,
na realidade, basta um kamikase,
e, tudo rebenta como um balão...

ouvindo Adágio de Albinoni
Berlim, 21 de Novembro de 2017
8h18m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17988: Blogpoesia (538): "Um escadório...", "Os astros..." e "A idolatria das pedras e do metal...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

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