segunda-feira, 6 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25486: Louvores e Condecorações (15): Cruz de Guerra de 4ª classe, a título póstumo, para o fur mil op esp / ranger Dinis César de Castro, da CCAÇ 2589 / BCAÇ 2885, morto na emboscada de 12/10/1970, na estraad Braia - Infandre

Cruz de Guerra de 4ª Classe. Imagem:
cortesia do Portal UTW - Dos Veteranos da
Guerra do Ultramar


1. Já referimos as cirunstâncias da morte, em combate, do fur mil op esp / ranger Dinis César de Castro,  CCAÇ 2589 / BCAÇ 2885, na emboscada do dia  12 de outubro de 1970, no troço de estrada Braia-Infandre.  (*)

O nosso camarada Dinis César de Castro era natural de Castrejo, Bragança, e o seus restos mortais foram inumados no cemitério do Prado do Repouso (Porto). 

Segundo o nosso coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro, o Dinis foi  um dos 20  "rangers", saídos do CIOE - Centro de Instrução de Opreações Especiais, em Lamego, que morreram no TO da Guiné.

Escreveu o nosso camarada Afonso Sousa (*), baseando-se no testemunho de vários camaradas que participaram no socorro às vítimas (a começar pelo fur mil  António Silva Gomes, do Pel Caç Nat 58,  que veio do destacamento de Braia, bem como de outros  como  o 1º cabo enf do HM 241, António Oliveira,  e o 2º srgt mil Augusto Ali Jaló (comandante da coluna, será ferido com gravidade; "na cerimónia do 10 de junho de 1970, em Bissau, foi condecorado com a medalha de cobre de Serviços Distintos com Palma; em Agosto, seguinte, foi promovido a 2.º sargento"):

(...)  O furriel Dinis César de Castro foi capturado, tendo-lhe sido exigido que tirasse a farda. Recusou-se, com grande determinação e enorme sentido de patriotismo. Foi cruelmente rasgado, de lado a lado, com rajada de metralhadora. 

Este incomensurável gesto de patriotismo haveria de ser reconhecido pelo Estado português,  quando, na cerimónia do 10 de Junho de 1971,  Dinis César de Castro foi condecorado, a título póstumo,  com a Cruz de Guerra. (...)


Recorde-se a medalha da Cruz de Guerra destina-se a galardoar "actos ou feitos praticados em combate" (sic), sendo a atribuição de qualquer das classes da Cruz de Guerra (1ª, 2ª 3ª e 4ª) "dependende(nte) da posição hierárquica da entidade que confere o louvor, sendo condição essencial, justificativa da concessão de qualquer das classes desta condecoração, que os louvores respectivos refiram actos ou feitos praticados em combate, demonstrativos de coragem, decisão, serena energiadebaixo do fogo, sangue-frio e outras qualidades que honrem o militar em frente doinimigo." (Portal UTW - Dos Veteranos da Guerra do Ultramar).

 

Furriel Milicianio de Infantaria Dinis César de Castro, CCaç 2589/BCaç 2885 - RI 15,  Guiné  > Cruz de Guerra de 4ª Classe (Título póstumo) (**)

Transcrição do Despacho publicado na OE nº 022 - 3ª série, de 1971.

Agraciado com a Cruz de Guerra de 4ª classe, a título póstumo, nos termos do artigo 12.° do Regulamento da Medalha Militar, promulgado pelo Decreto n." 35667, de 28 de Maio de 1946, por despacho do Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné, de 21 de Junho findo, o Furriel Miliciano de Infantaria, Dinis César de Castro, da Companhia de Caçadores n.º 2589/Batalhão de Caçadores n.º 2885 - Regimento de Infantaria nº 15.

Transcrição do louvor que originou a condecoração (Publicado na OS n. 024, de 17 de Junho de 1971, do QG/CTIG):

Que, por despacho de 09Jun71, o Brigadeiro Comandante Militar louvou, a título póstumo, o Furriel Miliciano, n.º 15398468, Dinis César de Castro, da CCaç 2589/BCaç 2885, porque, numa emboscada levada a efeito por um grupo inimigo numericamente muito superior e tendo a viatura em que seguia ficado na 'zona de morte', patenteou invulgares qualidades de coragem, decisão, sangue-frio e muita serenidade debaixo de fogo.

Ligeiramente ferido num braço logo aos primeiros tiros, reagiu prontamente, tentando a todo o custo aproximar-se da testa da coluna, onde o número de baixas era mais elevado, sendo mortalmente atingido quando prestava ajuda a um camarada que se vira cercado por quatro elementos inimigos.

Com o seu acto, pleno de generosidade, demonstrou o Furriel Castro uma compreensão nítida dos seus deveres que o levaram até à dádiva da sua própria vida, o que além de constituir exemplo inesquecível, ficará a merecer a maior admiração e o respeito de todos.

 Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 5.° volume: Condecorações Militares Atribuídas, Tomo VI: Cruz de Guerra (1970-1971). Lisboa, 1994, pág. 491.

___________


4 comentários:

Valdemar Silva disse...

Lendo o que está escrito no post, não bate certo o que podemos observar:

"Escreveu o nosso camarada Afonso Sousa (*), baseando-se no testemunho de vários camaradas que participaram no socorro às vítimas (a começar pelo fur mil António Silva Gomes, do Pel Caç Nat 58, que veio do destacamento de Braia, bem como de outros

... O furriel Dinis César de Castro foi capturado, tendo-lhe sido exigido que tirasse a farda. Recusou-se, com grande determinação e enorme sentido de patriotismo. Foi cruelmente rasgado, de lado a lado, com rajada de metralhadora. "
-------------------------

"Cruz de Guerra de 4ª Classe (Título póstumo)
Transcrição do Despacho publicado na OE nº 022 - 3ª série, de 1971.

Ligeiramente ferido num braço logo aos primeiros tiros, reagiu prontamente, tentando a todo o custo aproximar-se da testa da coluna, onde o número de baixas era mais elevado, sendo mortalmente atingido quando prestava ajuda a um camarada que se vira cercado por quatro elementos inimigos."

É apenas uma observação, de mais uma das quase 3.100 mortes da guerra da Guiné.

Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, mais uma vez estavas atento. Eu também dei conta da substan cial divergência das duas versões... Há a oficial ou oficiosa, que é sempre a da hierarquia militar; e outra, que é do "mexilhão"..

Qual é a que fica que para a História? Se calhar em Bissau fizeram questão de omitir os aspectos mais bárbaros, sádicos e repugnante da guerra na Guiné, por cSusana do "moral da tropa" e da "inocência" dos mancebos que vinham a caminho da guerrainha, cada vez mais mais mal preparados, desmotivados e "desformatados"....

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Que se atribuam cruzes de guerra aos heróis, tudo bem, é algo normal em todas as guerras. Mas que se omitam, por favor, os aspetos mais macabros da sua morte em combate, como terá sido este caso e como de resto houve outros, mostrando que os rapazes do Amilcar Cabral
também eram "cabras-macho", "coirões" e não propriamente "meninos de coro"...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Amilcar Cabral quis passar uma visão "idealizada" (e até romântica) da guerra, "o lado humano da guerra de libertação" que exaltava os grandes combatentes do PAIGC e o heróico povo guineense acontonado nas "áreas libertadas" e construindo o "homem novo", enquanto "poupava", quando prisioneiros, os filhos do povo português,humilhados e ofendidos pela ditadura de Salazar e Caetano... Daí a sua máxima propagandística: "a guerra não é contra o povo português, mas contra o regime colonialista português"...

A verdade é que foi uma guerra, e como todas as guerras, brutal... Quem matava e morria, de um lado e do outro, eram os filhos do povo, não os "generais"...