domingo, 5 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25480: Capas da Gazeta das Colónias (1924-1926) (8): Timor, "terra abençoada por Deus", que os portugueses só conheciam, em 1925, "através de uma tradição de má fama" (isto é, como "lugar de desterro")



Gazeta das Colónias, Ano I, nº 20,Lisoa, 12 de março de 1925 (Com a devida vénia à Hemeroteca Digital de Lisboa / Câmara Municipal de Lisboa)


Artigo de F. C. da Silveira Fernandes (pp. 23/24)
 












1. Timor, tal como a Guiné,  ocupava pouco espaço (e tempo) na cabeça dos "colonialistas" da I República e na imprensa de temática colonial.  

As "joias da coroa" continuavam a ser para tanto para monárquicos como republicanos Angola e Moçambique, as duas grandes colónias, com potencialidades como "terras de povoamento",  que despertavam "a cobiça dos nossos rivais" europeus. Mesmo depois da I Grande Guerra, e da criação da Sociedade das Nações, a soberania portuguesa sobre estes territórios estava longe de estar assegurada. Daí a República se ter tornada uma acérrima defensora do "império colonial".

Além disso, tanto a Guiné como Timor vão continuar a ser, nos anos 20 e 30,  os piores lugares de desterro (para deportados políticos e presos de delito comum), pelo mau clima, pela lonjura e pelo isolamento (**).

Nos 38 números da "Gazeta das Colónias", publicados em dois anos e picos (entre 19/6/1924 e 25/11/1926) e disponíveis em formato html e pdf na Hemeroteca Digital de Lisboa, não encontrámos nenhum cuja capa exibisse um motivo guineense (monumento, topónimo, paisagem, etnia...). E sobre Timor, encontrámos apenas esta a capa que publicamos acima publicamos, da edição nº 20, de 12 de março de 1925.

Recorde-se que a "Gazeta das Colónias"  teve por diretores os majores Oliveira Tavares (que foi também seu administrador até ao n.º 2), António Leite de Magalhães (1878-1944) — a partir do n.º 21, de 25 de abril de 1925 — e José Veloso de Castro (1869- 1930) — do n.º 37 (10 de setembro de 1926) em diante; foram seus editores Maximino Abranches e, a partir do n.º 6 (7 de agosto de 1924), Joaquim Araújo — resumindo-se a este pequeno núcleo a sua estrutura 'fixa', composta à vez por duas pessoas, onde não não havia corpo de redatores." (...)

Em contrapartida, tinha um vasto leque de colaboradores, muitos deles "africanistas" e "colonialistas", com experiência de administração colonial.

A publicação vai encerrar com o nº 41, de 25 de novembro de 1926, já em plena Ditadura Militar, instaurada com o golpe militar de 28 de maio de 1926.

Neste pequeno artigo, o autor, F. C. da Silveira Fernandes (administrador colonial. de quem não sabemos mais nada) fala das "potencialidades agrícolas" da pequena colónia do sudoeste asiático (nomeadamente em culturas  como  a do arroz e do café), e não deixa de fazer comparações com os "rivais holandeses". 

Um dos pontos fracos do território era as comunicações (interna e externas), tal como h0je.   E o autor dá como termo de comparação a ilha de Java, colónia holandesa, com os seus 4 mil quilómetros de caminhos de ferro, as suas infraestruturas portuárias, etc.... A prosperidade de Java é aquela que o autor sonhava para Timor. E pergunta: "Têm porventura os outros mais valor e capacidade colonizadora do que nós?"... Resposta pronta e patriótica: "Não, não têm porque o muito que eles sabem aprenderam connosco"...
_________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 15 de janeiro de  2024 > Guiné 61/74 - P25071: Capas da Gazeta das Colónias (1924-1926) (7): etnomedicina na região de Libolo e elogio da cidade de Luanda, com cerca de 20 mil habitantes no final da I República

(**) Vd. poste de 28 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25454: Notas de leitura (1686): Timor Leste, que já foi lugar de desterro e encarceramento (Luís Graça)

5 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Veja-se a foto de "Dilly", a baía de "Dilly" (era assim que se escrevia em 1925)... A cidade devia ser o palácio do Governador (!) e pouco mais...

Valdemar Silva disse...

".. Resposta pronta e patriótica: "Não, não têm porque o muito que eles sabem aprenderam connosco"..."

Esta é boa, aprenderam como, se não há nada que possa servir para aprendizagem.

Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Mark Rutte Pede Desculpas À Indonésia Pela Violência Usada Durante a Revolução Nacional Da Antiga Colónia

Portugueses na Holanda 18.02.22

https://portuguesesnaholanda.blogs.sapo.pt/mark-rutte-pede-desculpas-a-indonesia-379754

Na tarde de quinta-feira, o primeiro-ministro Mark Rutte ofereceu as suas "profundas desculpas" ao povo da Indonésia em uma resposta inicial à investigação sobre a violência usada pelos militares holandeses durante a Revolução Nacional da Indonésia (1945-1949). Rutte também acha que as desculpas são apropriadas para "todos na Holanda que têm que conviver com as consequências, incluindo os veteranos".



O relatório apresentado na quinta-feira mostra que o exército holandês usou violência estrutural e extrema em larga escala durante a Revolução Nacional da Indonésia (1945-1949). A violência foi deliberada e os responsáveis ​​em Den Haag teriam aprovado isso como táctica de dissuasão.

Rutte considera as conclusões de "difíceis e inevitáveis" e acredita que a Holanda "deveria encarar a verdade". "A Holanda travou uma guerra colonial em que a violência extrema foi sistemática e amplamente utilizada, até a tortura, que na maioria dos casos ficou impune", disse o primeiro-ministro.

"A cultura predominante era de olhar para o lado, esquivar-se e um sentimento equivocado de superioridade colonial. Essa é uma observação dolorosa, mesmo depois de tantos anos, e temos que levar isso em conta", disse Rutte.

O primeiro-ministro sublinha que a responsabilidade não recai sobre os soldados individualmente ou outros militares, mas "em primeiro lugar" com as autoridades (o governo, o parlamento, as forças armadas como instituição e as autoridades judiciárias) da época.

A Nova Posição Do Governo

As conclusões do relatório não estão de acordo com a posição anterior do governo holandês, que remonta a 1969, disse Rutte. Nesse chamado memorando de excessos, afirmava-se que não se tratava de atrocidades sistemáticas. Actos excessivos de violência foram a excepção.

"Mais de meio século depois, temos que nos distanciar dessa conclusão", disse o primeiro-ministro na quinta-feira. Ele também se desculpou pelo "desinteresse dos governos anteriores".

O primeiro-ministro não quer classificar a "violência extrema" como crimes de guerra. "Essa é uma qualificação legal e uma questão para o Ministério Público", disse Rutte.

Em Março de 2020, o rei Willem-Alexander já tinha pedido desculpas pela violência durante uma visita oficial à Indonésia.

Em 2005, durante uma visita ao país, o então ministro das Relações Exteriores, Ben Bot, disse que a Holanda estava "do lado errado da história" com as tentativas de impedir à força a independência da Indonésia.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não sabia que o termo "pico" designava, segundo o Dicionário de Língua Portuguesa Priberam, uma antiga unidade de peso da China.

Vejo pelo texto que um pico eram 62 quilos, em 1925. A antiga colónia holandesa de Java (a principal ilha da Indonésia onde fica hoje a capital, Jacarta) produzia 500 mil picos de café nos anos 20 do século passado, ou sejam, 31 mil toneladas de café...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A luta pela independência da Indonésia também não foi pera doce...

https://en.wikipedia.org/wiki/Indonesian_National_Revolution