Foto: © António Rosinha (2006). Direitos reservados
1. Texto do António Rosinha (2):
Assunto - RTP: Chover no molhado ou... caça à audìência ? A Guerra (3)
por Antonio Rosinha
Depois de ver pela enésima vez, durante mais de 30 anos, as imagens do primeiro episódio da "NOSSA GUERRA", (mais um nome para a confusão), prometi para mim, que não emitiria opinião sobre o assunto, nem com familiares, muito menos para os tertulianos.
Embora tivesse assistido a uma das cenas em Luanda, pelo menos à manifestação em frente à embaixada da América, perto da minha residência. Estava achegar a casa, vindo do quartel, pois já havia sido re-convocado, a seguir ao célebre 15 de Março de 1961.
Para completar o relato dessa imagem, onde a população deitou o carro da embaixada à baía de Luanda, essa mesma população marchou para uma Igreja da missão adventista, perto do mercado dos Lusíadas, pois já se sabia que fora nessas missões financiadas pelos EUA, (para dilatar a fé e o império, provavelmente), que o caldinho das matanças fora organizado. Essa igreja, mais tarde foi destruída. Claro que o Joaquim Furtado, mesmo em nove epísódios, [não pdoe contar todos estes pormenores,] nem em 90...!
Mas como disse, prometi não falar, mas cá estou a faltar à promessa, tudo porque... eu vi, apalpei, cheirei, respirei, vi o princípio, o meio, e só não vi o fim, porque para mim ainda não terminou a nossa guerra, porra!!! E já saí de Bissau em 1994. No entanto escrevo, porque, outros se anteciparam a mim. O caso do nosso maior, o Homem garandi, o Luís.
E penso que os tertulianos que me lerem, como não me acompanharam no pelotão daquela vida, 1957-1975, me vão desculpar se eu contar algo que nenhum tertuliano testemunhou.
Peço ainda ao Luís ou co-editores que exibam a mesma foto em que o Luís fala da minha FBP.
Primeiro é para dizer que essas FBP estavam inoperacionais em geral, porque as poucas que existiam em Angola eram da instrução, e com tanto "monta e desmonta" as molas de recuperação já não actuavam. Mas a mim não me fez diferença, pois que, tirando a carreira de tiro, nunca fiz fogo a não ser à caça. Nem fiz nem ouvi. Vivi 200 dias por ano em toda a Angola, durante os 13 anos de guerra, menos a tropa, em barracas de campanha.
O 25 de Abril apanhou-me nas terras que Lobo Antunes chamou "Os cus de Judas", numa barraca de campanha, acompanhado por 10 serventes, aparelhos de topografia e um Land Rover em estudo de estradas. Apenas soube do 25 de Abril no Domingo a seguir.
Segundo, é para dizer que a minha vivência em Angola está bem demonstrada nessa foto, pois desde os 3 furriéis até aos soldados recrutas que me acompanham não estão por ordem de altura nem côr, e que profissionalmente e socialmente foi essa a minha vivência e de milhares. Dentro do fabuloso "espírito desorganizativo" peculiar.
O que é que me fez continuar em Angola (conscientemente) depois de ver o efeito daqueles massacres? E depois de o primeiro capitão do quadro vindo da metrópole, que eu conheci de camuflado (Sousa e Silva, ou Silva e Sousa), me ter massacrado durante uma viagem, que estava ali a sofrer, porque nós os que estavamos em Angola, eramos uns ladrões, roubávamos os pretos e maltratávamo-los etc.? (Essa viagem foi numa picada de uma manhã inteira entre Golungo Alto e Cerca em 1961, num Jeep Wyllis). Escrevo isto porque tenho antigos colegas, e hoje já muita gente lê o nosso Blogue.
A principal explicação, ouvimo-la todos na RTP, da boca de Holden Roberto a Joaquim Furtado:
-Vou reivindicar o massacre antes que o MPLA o reclame.
Em Angola todos assimilaram isso e a maioria sabia que o MPLA era URSS e a UPA era EUA. A guerra fria. E um pouco de demagogia enganava aquele povo. Até hoje Angola sofre os efeitos daquele dia. Pois inicialmente, era um movimento só no Congo, e os angolanos não esqueceram durante os últimos trinta e tal anos de guerra, e jamais esquecerão.
Foto do aldo: Embema daUPA (União dos Povos de Angola, vriada em 1954, pot Holden Roberto). Fonte: Wikipédia (Imagem do domínio público)Holden Roberto [1923-2007], cunhado de Mobutu [1930-1997] (e ajudado por ele e pelos EUA), desapareceu durante uns anos, e só apareceu no 25 de Abril, e todos Angolanos ficaram admirados, ao ponto de se dizer que deveria ser outra pessoa, por ele, (propaganda do MPLA?)... Mal falava português, apareceu em Angola com soldados que só falavam francês, e espero que Joaquim Furtado recupere uma das primeiras entrevistas dele após esse reaparecimento, em que perguntado porque o povo não aderiu, ele respondeu, como um bom adventista:
-São coisas diabólicas, sem explicação.
Outras explicações para a minha permanência em Angola, conscientemente, foi que desde a escravatura das Áfricas, até à construção daquelas cidades e fronteiras, aquela vivência sem ordem de alturas nem cores, aquela desorganização, aquele desenvolvimento/atraso, (também conheci o Congo Belga e a Namíbia e a Zâmbia nas fronteiras), nada tinha a ver com políticas Leste/Ocidente, Salazar, etc.... Tinha sim e muito a ver com Portugal e todos os africanos que conheci. E eram independentistas. Treze anos na Guiné vieram-me confirmar a lógica do meu raciocínio e de milhares em permanecer em Angola.
Prometo aos tertulianos que não volto a referir nada que não se refira só à Guiné.
Um abraço
António Rosinha
__________
Notas dos editores:
(1) Sobre a pistola-metralhadora FBP, a Wikipédia diz o seguinte:
(...) A FBP é uma pistola-metralhadora desenhada [, em 1948,] pelo Major Gonçalves Cardoso do Exército Português, que combina as funcionalidades da MP40 alemã e da M3 americana. O resultado foi uma arma de confiança e com baixos custos de produção.
A arma acabou por ser produzida pela Fábrica de Braço de Prata (FBP) em Lisboa, sendo utilizada pelas Forças Armadas Portuguesas durante a Guerra Colonial.
A versão original FBP m/948 apenas permitia o tiro totalmente automático, inconveniente que podia levar ao grande desperdício de munições. Em 1961 começou a ser produzida uma versão aperfeiçoada (FBP m/961) que permitia, além do tiro automático, o tiro semi-automático.(...)
(2) Vd.post de 29 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1327: Blogoterapia (7): Furriel Miliciano em Angola, em 1961; topógrafo da TECNIL, em Bissau, em 1979 (António Rosinha)
(3) Vd. post de 18 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2193: RTP: A Guerra, série documental de Joaquim Furtado (1): 18 episódios, às terças feiras (João Tunes / Luís Graça)
-São coisas diabólicas, sem explicação.
Outras explicações para a minha permanência em Angola, conscientemente, foi que desde a escravatura das Áfricas, até à construção daquelas cidades e fronteiras, aquela vivência sem ordem de alturas nem cores, aquela desorganização, aquele desenvolvimento/atraso, (também conheci o Congo Belga e a Namíbia e a Zâmbia nas fronteiras), nada tinha a ver com políticas Leste/Ocidente, Salazar, etc.... Tinha sim e muito a ver com Portugal e todos os africanos que conheci. E eram independentistas. Treze anos na Guiné vieram-me confirmar a lógica do meu raciocínio e de milhares em permanecer em Angola.
Prometo aos tertulianos que não volto a referir nada que não se refira só à Guiné.
Um abraço
António Rosinha
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Notas dos editores:
(1) Sobre a pistola-metralhadora FBP, a Wikipédia diz o seguinte:
(...) A FBP é uma pistola-metralhadora desenhada [, em 1948,] pelo Major Gonçalves Cardoso do Exército Português, que combina as funcionalidades da MP40 alemã e da M3 americana. O resultado foi uma arma de confiança e com baixos custos de produção.
A arma acabou por ser produzida pela Fábrica de Braço de Prata (FBP) em Lisboa, sendo utilizada pelas Forças Armadas Portuguesas durante a Guerra Colonial.
A versão original FBP m/948 apenas permitia o tiro totalmente automático, inconveniente que podia levar ao grande desperdício de munições. Em 1961 começou a ser produzida uma versão aperfeiçoada (FBP m/961) que permitia, além do tiro automático, o tiro semi-automático.(...)
(2) Vd.post de 29 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1327: Blogoterapia (7): Furriel Miliciano em Angola, em 1961; topógrafo da TECNIL, em Bissau, em 1979 (António Rosinha)
(3) Vd. post de 18 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2193: RTP: A Guerra, série documental de Joaquim Furtado (1): 18 episódios, às terças feiras (João Tunes / Luís Graça)
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