sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18930: Toponímia de Lisboa: em dez nomes de "heróis do ultramar", consagrados nas ruas da capital no tempo do Estado Novo, em Olivais Velho, Benfica e Alcântara, 7 são de militares falecidos na Guiné e os restantes em Angola


Ilustração: Toponímia de Lisboa (2017) (com a devida vénia)

1. Toponímia de Lisboa é um blogue do Departamento de Património Cultural da Câmara Municipal de Lisboa – Núcleo de Toponímia, que se publica desde novembro de 2012. Nele fomos encontrar um artigo interessante sobre ruas, em Lisboa, com os nomes de "dez heróis do Ultramar", 3 falecidos em Angola e 7 na Guiné. [Contacto: toponimia@cm-lisboa.pt].

Com a devida vénia reproduzimos um extenso excerto desse poste:

Toponímia de Lisboa > 23 de Fevereiro de 2017 > Dez Heróis do Ultramar em Olivais Velho, Benfica e Alcântara

 Dez anos após o início da Guerra Colonial, a edilidade lisboeta colocou através de um único Edital (22 de junho de 1971), de acordo com a legenda, dez «Heróis do Ultramar» em Olivais Velho, Benfica e Alcântara, «falecidos no Ultramar, em combate ao terrorismo», conforme se lê no despacho do Presidente da Câmara de então, Engº Santos e Castro.

Este procedimento está justificado na Ata da reunião da Comissão Consultiva Municipal de Toponímia de 16 de junho de 1971 da seguinte forma:

 «Despacho de Sua Excelência o Presidente, solicitando parecer sobre a consagração na toponímia de Lisboa, dos nomes dos seguintes militares falecidos no Ultramar, em combate ao terrorismo : major aviador Figueiredo Rodrigues, alferes Mota da Costa, Carvalho Pereira e Santos Sasso, furriel Galrão Nogueira, soldados Rosa Guimarães, Santos Pereira e Purificação Chaves e marinheiros Correia Gomes e Manuel Viana. Considerando justificar-se plenamente uma homenagem à memória de tão heróicos militares e, tendo em vista a circunstância de os soldados e marinheiros não terem patente, a Comissão emite parecer favorável à consagração dos seus nomes».

[Olivais Velho:]

Os seis topónimos fixados em Olivais Velho foram:
  •  a Rua Alferes Mota da Costa/Herói de Ultramar/1937 – 1961,
  •  o Largo Américo Rosa Guimarães/Herói de Ultramar/1945 – 1967, 
  •  a Rua Furriel Galrão Nogueira/Herói de Ultramar/ 1941 – 1965, 
  • a Rua Alferes Carvalho Pereira/Herói de Ultramar/1941 – 1966, 
  • a Rua Alferes Santos Sasso/Herói do Ultramar/1941 – 1965 
  • e a Rua Major Figueiredo Rodrigues/Herói de Ultramar/ 1939 – 1969.

Manuel Jorge Mota da Costa (Porto – freg. Cedofeita/14.05.1937 – 14.05.1961/Angola), alferes paraquedista da 1.ª Companhia de Caçadores Paraquedistas do Batalhão de Caçadores 21 em Angola onde chegou a 17 de abril de 1961 e onde faleceu menos de um mês depois no Bungo, aos 24 anos, condecorado a título póstumo com a Medalha de Prata de Valor Militar com palma, ficou no Impasse 1 do Plano de Urbanização de Olivais Velho. 

O soldado Américo Rosa Guimarães (Oeiras/21.09.1945 -05.10.1967/Angola), condecorado postumamente com a Medalha de Cobre de Valor Militar com palma, também faleceu em Angola, aos 22 anos, e foi fixado no Impasse 2 do Plano de Urbanização de Olivais Velho.

Os outros quatro militares fixados em Olivais Velho faleceram na Guiné. 

O Furriel [Silvério] Galrão Nogueira (1941 – 1965/Guiné), falecido aos 24 anos, foi perpetuado no Impasse B do Plano de Urbanização de Olivais Velho. 

Ao alferes miliciano de Infantaria José Alberto de Carvalho Pereira (Lisboa/13.02.1941 – 12.03.1966/Guiné), falecido aos 25 anos e condecorado a título póstumo com a Medalha de Cruz de Guerra de 3ª classe, coube-lhe o Impasse 3 do Plano de Urbanização de Olivais Velho. 

 O também alferes miliciano de Infantaria Mário Henrique dos Santos Sasso (Lisboa – freg. de Stª Engrácia/14.12.1941 – 05.12.1965/Guiné), da Companhia de Caçadores n.º 728, condecorado com a medalha de Cruz de Guerra de 3ª classe a 2 de julho de 1965 e falecido aos 23 anos, ficou no Impasse 3′ do Plano de Urbanização de Olivais Velho. 

E por último, o major piloto aviador António de Figueiredo Rodrigues (Penalva do Castelo/01.01.1939 – 12.07.1969/Guiné) , falecido aos 30 anos, foi colocado na Rua A do Plano de Urbanização de Olivais Velho.

[Benfica:]

Em Benfica, homenagearam-se 3 militares falecidos na Guiné nos anos de 1964 e 1965, com a Rua José dos Santos Pereira/Herói do Ultramar/ 1943 – 1964, a Rua José da Purificação Chaves/Herói do Ultramar/1942 – 1964 e a Rua Manuel Correia Gomes/ Herói do Ultramar/1936 – 1965.

O soldado José dos Santos Pereira (Torres Vedras – A-dos-Cunhados/19.09.1943 – 15.12.1964/Guiné) faleceu aos 21 anos e foi condecorado, a título póstumo, com a Medalha da Cruz de Guerra de 2ª classe, tendo sido perpetuado na Rua C, à Estrada do Calhariz de Benfica (Quinta de Santa Teresinha). 

O soldado condutor Francisco José da Purificação Chaves (Loures/08.08.1942 – 24.01.1964/Guiné), falecido aos 21 anos na Ilha do Como e condecorado a título póstumo com a Medalha de Cruz de Guerra de 1ª Classe, ficou no Impasse I à Estrada do Calhariz de Benfica. 

O marinheiro fuzileiro especial Manuel Correia Gomes (Vila Verde-Turiz/15.02.1936 – 14.03.1965/Guiné), falecido aos 29 anos e condecorado a título póstumo com a Medalha de Cruz de Guerra de 2ª classe, foi fixado no arruamento de acesso entre a Estrada do Calhariz de Benfica e o arruamento paralelo ao caminho de ferro (Quinta de Santa Teresinha).

Também encontramos a Rua José dos Santos Pereira, em Maceira, no Concelho de Torres Vedras, de onde este soldado era natural, bem como a Rua Francisco José Purificação Chaves em Loures, concelho de nascimento do soldado.

[Alcântara:]

Finalmente, em Alcântara ficou a Rua Manuel Maria Viana/Herói de Ultramar/1944 – 1968, na Rua A à Travessa da Galé, também conhecida por Rua A à Avenida da Índia. 

O marinheiro fuzileiro especial Manuel Maria Viana (Odemira – S. Teotónio/07.08.1944 – 16.08.1968/Angola), integrado no Destacamento n.º 2 de Fuzileiros Especiais faleceu aos 24 anos e foi condecorado a título póstumo com a Medalha de Cobre de Valor Militar, com palma. Em 1971 a Escola de Fuzileiros criou também o Prémio Manuel Viana, em sua honra, a ser atribuído anualmente ao aluno com melhor classificação nos cursos de aplicação do 1.º grau.

A maioria destes topónimos – oito – são exclusivos de Lisboa e não se encontram na toponímia de mais nenhum local do país, excepto nos 2 casos mencionados de homenagem prestada na terra natal. 

Ver também outros artigos relacionados:

1 de Fevereiro de 2017 > A Guerra Colonial nascida há 56 anos, também no tabuleiro da Toponímia de Lisboa

14 de Fevereiro de 2017 > Quinze cidades e vilas de Moçambique na toponímia de Olivais Sul desde 4 de julho de 1967

16 de Fevereiro de 2017 > Doze cidades de Angola na toponímia de Olivais Sul desde 1969

[Revisão e fixação de texto: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Nota do editor:

Último poste da série > 12 de agosto de  2018 > Guiné 61/74 - P18917: Blogues da nossa blogosfera (99): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (18): Palavras e poesia

Vd. também poste de  16 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18927: Furriéis que tombaram no CTIG (1963-1974), por acidente, combate e doença - Parte II: Em combate (n=139) (Jorge Araújo)

5 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O então cap pilav António de Figueiredo Rodrigues morreu, em acidente, em 12 de julho de 1969:

(...) "Devido a colisão com uma antena de rádio, despenha-se em Bafatá - Guiné, o Alouette III com a matrícula FAP 9295, perdendo a vida o Capitão piloto António de Figueiredo Rodrigues e o 1º Cabo MAE António Carlos de Oliveira Machado" (...)

https://acidentesaviacaomilitar.blogspot.com/2017/05/sudaviation-alouette-iii.html

Vd. também o poste do nosso blogue:

12 DE JULHO DE 2012
Guiné 63/74 - P10144: In Memoriam (121): António Machado, 1.º Cabo Especialista MARME, e António Rodrigues, Capitão Pilav, que pereceram num acidente de helicóptero no dia 12 de Julho de 1969, em Bafatá (Jorge Narciso)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2012/07/guine-6374-p10144-in-memoriam-121.html

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não se percebe os "critérios" da comissão municipal de toponímia de Lisboa, que dá um nome de rua a um piloto da FAP, o então capitão António Rodrigues, morto num lamentável acidente de helicóptero em que perde também a vida o 1º cabo especialista MARME António Machado... O António Rodrigues era natural de Penalva do Castelo.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

o Machadinho, apomtador de helicanhão, tem nome de avenida na sua terra, Viseu:


26 DE DEZEMBRO DE 2013
Guiné 63/74 - P12507: In Memoriam (175): António Carlos de Oliveira Machado, o Machadinho, 1º cabo especialista MARME da FAP, falecido em 12/7/1969, em Bafatá, na queda do helicanhão de que era apontador... Homenagem de Viseu, sua terra natal (Luís Nascimento)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2013/12/guine-6374-p12507-in-memoriam-175.html

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Houve muitos mais acidentes mortais, durante a guerra colonial, com aeronaes da FAP... Por exemplo, em 7 de Maio de 1968, o Alouette III, com a matrícula FAP 9292, é perdido na serra do Canzundo, Angola, devido a ter embatido numa árvore. No acidente morrem o Tenente piloto José Maria do Casal Ribeiro de Carvalho e o 1º Cabo MMA António Pinho Brandão.

https://acidentesaviacaomilitar.blogspot.com/2017/05/sudaviation-alouette-iii.html

O piloto era filho do deputado Francisco de Moncada do Casal Ribeiro de Carvalho, "um dos representantes da linha mais conservadora do Estado Novo, dedicado admirador de Salazar". Esteve na Assembleia Nacional, de 1965 a 1974 (3 legislaturas).

http://app.parlamento.pt/PublicacoesOnLine/DeputadosAN_1935-1974/html/pdf/c/carvalho_francisco_de_moncada_do_casal_ribeiro_de.pdf

Não me constam que tenham nome de rua em Lisboa, tanto o pai como o filho.

https://toponimialisboa.wordpress.com/?s=Casal+Ribeiro

Há em Lisboa uma avenida Casal Ribeiro, 1º Conde Casal Ribeiro (1846-1896)...

https://run.unl.pt/bitstream/10362/9150/1/Patr%C3%ADcia%20Lucas%20Conde%20de%20Casal%20Ribeiro.pdf
https://ruascomhistoria.wordpress.com/2016/05/11/lisboa-e-a-sua-toponimia/

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Já escrevi isto noutro post, mas parece-me que aqui será mais pertinente

Vamos deixar de lado os que morreram ou se incapacitaram por acidente, mas por acidente mesmo.
Já no que respeita às "doenças tropicais" a situação é mais discutível. Até tínhamos um hospital ad-hoc para essas doenças...
Há casos que as autoridades consideravam terem sido acidentes por questões meramente de economia no pagamento das "pensões" e que bem podiam ser considerados mortes ou ferimentos em combate, mas isso obrigaria à reanálise de alguns casos o que, a esta distância, não é possível. Cada caso é um caso... e em alguns casos a destrinça não é fácil.
Esta é mais uma das situações em que as autoridades do tempo actuaram com grande cobardia. Se a guerra (do Ultramar, que nos era imposta, que não desejávamos, mas que não temíamos, etc. e etc. e orgulhosamente sós) era assim uma coisa tão necessária, fundamental, patriótica e etc. etc. e tal, então porque será que não se verificam uma de duas situações:

Em cada localidade uma alameda, avenida ou artéria equivalente (pela sua "representatividade ou importância"com a designação parecida com Rua/Avenida/Alameda/Rotunda/Parque Heróis (da guerra do ultramar)? A guerra durou 13 anos e houve tempo para homenagear os mortos "pela Pátria" de forma colectiva.
Em cada localidade (de naturalidade do morto, por exemp.) a atribuição do respectivo nome (com ou sem qualificativos para além da data de nascimento e morte) na freguesia ou concelho da naturalidade?

No fundo sabia-se que se as homenagens proliferassem era uma forma de publicidade pela negativa.
Ora comentem.
Um Ab.
António J. P. Costa