domingo, 7 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15716: Atlanticando-me (Tony Borié) (5): Nunca é tarde (5)

Quinto episódio da nova série "Atlanticando-me" do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66).




Nunca é tarde - Capítulo 5

Companheiros, o tempo cura tudo, o nosso interlocutor, à parte, disse-nos que quando era jovem, também sofreu uma grande dor de amor, pois a sua namorada fugiu para uma praia no México, com o seu melhor amigo, que sabia todos os seus segredos, anos mais tarde, regressaram, pedindo-lhe perdão e, ele já não se lembrava da cara da namorada, mas adiante.
Lembram-se que no último episódio o Mike deixou a política? Cá vai a continuação.

Agora, o Nico, com o filho Mike, à frente de todos os negócios, tinha mais tempo livre, começou por dizer ao filho:
- Eu não preciso de te dizer nada que tu já não saibas, gere os negócios dos teus avós, o melhor que puderes, e se vires que eu ajudo em alguma coisa só dizes, que eu vou acabar com os pensamentos horríveis que tenho na cabeça.

O Mike, ao ouvir estas palavras da boca do pai, ficou um pouco assustado, e responde:
- Que pensamentos horríveis, são esses pai?
E o Nico, diz-lhe:
- Quero ir a Portugal, ver se os teus avós, ainda estão vivos.
O Mike, abraça-se ao pai, e diz-lhe:
- Até que enfim, ganhaste coragem, vai, se forem vivos, podias trazê-los, aqui há muito espaço para eles.


O Nico, outra vez com coragem, vem no comboio até Nova Iorque, compra passagem num navio com bandeira italiana que fazia a carreira da Europa, passando por Lisboa, e embarca.

Passados uns dias, com uma pequena paragem no porto de Vigo, Espanha, desembarca em Lisboa, vem um pouco nervoso, não sabia bem se era dos nervos ou outra coisa qualquer, mas não vinha confiante. Toma o comboio para a cidade de Aveiro, toma um táxi, viajando para o lugar onde vivia quando jovem, que o deixa à porta da taverna, que já não era taverna mas sim um café, com uma esplanada com algumas cadeiras. Entra sem dizer nunca quem era, pergunta pelos pais, se ainda eram vivos, e o dono, homem novo, não se recordava de ninguém com esse nome. Nesse instante, vem de lá de dentro uma mulher, que estava na cozinha, limpando as mãos ao avental que trazia vestido, e diz:
- Devem ser aqueles que viviam naquelas terras perto do canal de água salgada. Oh, já morreram há alguns anos, estão no cemitério numa campa muito bonita, logo à entrada, está sempre cheia de flores.

O Nico não pôde ouvir mais, primeiro começaram uns suores frios, depois começou a faltar-lhe a vista, a cambalear, sentou-se numa cadeira, os donos do café, vendo-o assim, perguntam-lhe:
- O senhor sente-se bem? Oh homem vai buscar um copo com água. Meu Deus, que o senhor está com uma cara!
O Nico, bebeu a água, já com um pouco mais de força, respondeu:
- Não é nada, deve de ser da fraqueza, pois ainda hoje não comi nada, mas digam-me onde é o cemitério?

O Nico, depois de informado, caminha com passos lentos até ao cemitério, vai direito à campa onde pensa que os seus pais estão enterrados, vê uma senhora vestida de preto, ajoelhada na frente da campa, rezando. Ele, a muito custo, pois as palavras não lhe saíam, pergunta:
- Desculpe, é aqui que estão enterrados?...

Não acabou de terminar as palavras, pois essa senhora era a Dina que esperou toda a sua vida pelo seu amor. Ao ouvir estas palavras, logo reconheceu o seu Nico e, tal como fez, quando ele lhe pediu para namorar com ele, o encheu de beijos, na frente de toda a gente. Agora se levantou, olhou para o Nico, abraçou-se a ele, dizendo:
- Eu sabia que regressarias, tal como prometeste, eu acreditava, sabia que falavas verdade quando me disseste que logo virias para casar comigo, me ias levar para os Estados Unidos, afinal, era verdade, continuo com o meu enxoval completo, esperando por ti.
Em seguida lhe contou todos os anos de ausência, esperando por ele, os seus pais, na altura da sua morte, deixaram uma carta onde o perdoavam e o compreendiam.

Casaram numa capela das Gafanhas, regressando ambos aos Estados Unidos, onde o Mike, antigo político de profissão, ao recebê-los, sorridente, de braços abertos, tal como fazia nos comícios de propaganda do seu partido, lhes disse:
- Então pai, que mãe mais bonita me arranjaste, não deve nada à minha falecida mãe. Parabéns pai.

E o clube dos Açores fechou de novo as portas ao público para celebrar uma festa privada, comemorando a chegada do patrão Nico e da sua esposa.

E em breve iria fechar de novo as portas ao público, mas desta vez para celebrar a festa de casamento do Mike, pois andava de amores com uma rapariga cujos bisavós tinham emigrado dos Açores, que era desinibida e sem preconceitos, tinha cabelo preto, quase castanho que lhe tocava nos braços quando lhe falava e usava uma saia curta, mesmo curta, um pouco abaixo do joelho, que quando se movimentava, os deixava ver.

Fim.

Tony Borie, Julho de 2015
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Nota do editor

Último poste da série de 31 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15689: Atlanticando-me (Tony Borié) (4): Nunca é tarde (4)

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