sábado, 20 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19122: Os nossos seres, saberes e lazeres (289): Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (8): Em Pau, com chuva torrencial, à procura de Henrique IV, aqui nascido (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 31 de Julho de 2018:

Queridos amigos,
Ai do viajante que não esteja preparado para momentos desconsoladores, desde greves de comboios a chuva inclemente, situações que levam à alteração de planos. Assim aconteceu ao viandante em Pau, viu a cidade e as suas panorâmicas por um canudo, contudo bem se consolou com uma grata memória aos soldados portugueses que morreram em França, e que são chorados, relembrou o filme "A Rainha Margot", de Patrice Chéreau com a interpretação fabulosa de Isabelle Adjani, muitos dos exteriores do filme foram filmados no Convento de Mafra, para que conste e o castelo onde nasceu Henrique Navarra é uma pérola preciosa do estilo Renascentista.
A chuva não para o viandante e ele amanhã regressa a Toulouse, para uma tocante despedida.

Um abraço do
Mário


Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (8): 
Em Pau, com chuva torrencial, à procura de Henrique IV, aqui nascido

Beja Santos

O que leva o viandante a Pau? Há duas razões de sobra. A primeira tem a ver com as três estrelas de Michelin ao Boulevard des Pyrénées, um vasto terraço que permite desfrutar em dias claros o assombroso panorama que vai do Pic do Midi de Bigorre ao Pic d’Anie, isto para já não falar de nesta varanda se poder igualmente contemplar o gave de Pau, que corre os baixos da cidade, quem a fundou teve a feliz intuição de posicionar a capital do Béarn num ponto que assegura panoramas incontornáveis. A segunda tem a ver com Henrique de Navarra que desde os anos de estudo o viandante esquecera, este Henrique de Navarra nasceu e foi educado aqui, rei protestante, convencionou-se o seu casamento com Margarida de Valois, trama muito trágica que Alexandre Dumas aproveitou para o seu romance “A Rainha Margot” e Patrice Chéreau realizou uma película soberba com Isabelle Adjani na protagonista. Tudo somado, antes de regressar a Toulouse, o viandante quis cuscar a beleza natural e o património desta antiga capital do Béarn, região depois anexada à França.




Tudo correu às avessas, o viandante chega com chuva torrencial, não há transportes, e nisto deu a pensar numa velha imagem de Pau com as suas águas calmas e luzidias e veio cá fora junto de uma eclusa ver passar as águas do gave de Pau em turbilhão e pensou para os seus botões: Nunca te fies com as aparências de uma só imagem, há sempre verso e reverso, toma lá que é para aprenderes.


Vista panorâmica do Pic du Midi de Bigorre ao Pic d’Arie, Pau.

Outra vista panorâmica tirada do Boulevard des Pyrénées, Pau. 

Veja-se uma velha imagem do Boulevard des Pyrénées, atenda-se que o viandante anda com o guia Michelin, onde até se lê que nas montanhas crescem e pastoreiam os rebanhos que dão o leite que depois vai para Roquefort, o queijinho que ele tanto aprecia. Antes de partir, andou a ver imagens na Wikipedia sobre o desfrute panorâmico do Boulevard des Pyrénées, como é que era possível não vir? Uma treta, cai uma cortina de chuva, irritante, está tudo nublado… Nem tudo está perdido, passeia-se na proximidade e é nisto que vem uma rematada surpresa.




O monumento aos que caíram pela Pátria é imponente, ergue-se diante do Boulevard des Pyrénées. Quando o viandante se aproxima tem a suprema alegria de ver os seus compatriotas homenageados: Aos soldados portugueses mortos pela França, sereis chorados. E o viandante faz continência e fica igualmente tocado com a lápide aos republicanos espanhóis que procuraram defender a França, a sua pátria de exílio, foram mortos duas vezes, mas saúda-se a sua suprema coragem.





Não vamos aborrecer o leitor com a história do Béarn, a Navarra do Sul dada à Espanha, nem vamos falar de Margarida d’Angoulême, irmã de Francisco I, trouxe o Renascimento para o castelo e as ideias da Reforma. A sua filha, Jeanne d’Albret, que casou com António de Bourbon e desse casamento nasceu Henrique de Navarra, futuro Henrique IV de França, o senhor do édito de Nantes, que consagrou a tolerância religiosa. Aproveitando uma aberta daquela chuva inclemente, o viandante procurou captar a beleza peculiar de uma residência aristocrática de primeiríssima classe, uma bela construção aprofundada pelo estilo renascentista. E andava nisto quando regressou a chuva, o melhor era fazer horas vagabundeando pelo centro da cidade. E é nisto que fica especado com um curioso cabeleireiro, não resistiu, pediu licença à patroa e fotografou uma atmosfera garrida, não se importaria nada de ver a sua cidade de Lisboa pejada de estabelecimentos como este, um festival de luz e cor. E com tanta chuva à volta, preparou-se para aconchegar o estômago, ler a documentação sobre Toulouse, que amanhã fará presença aqui no blogue, e o tema tem a ver com Património da Humanidade.


(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19097: Os nossos seres, saberes e lazeres (288): Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (7): De Lourdes a Gavarnie, um grande ecrã dos Pirenéus (Mário Beja Santos)

1 comentário:

José Marcelino Martins disse...

Tinha a foto da placa da citação aos portugueses mortos na guerra, do General Jofre, mas não sabia onde estava localizada.
Lancei um pedido de informação no facebook e, um cidadão português residente em França, teve a amabilidade de me enviar nova foto da placa, do monumento e onde se encontrava.