terça-feira, 13 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25836: Verão 2024: olá, nós por cá todos bem (1): Um "haiku" à minha moda (António Graça de Abreu)


O poeta, algures no Império do Sol Nascente, s/l, s/d, com "o monte Fuji abrimdo-se em rendilhados de neve".

Fonte: Facebook do António Graça de Abreu > 12 de agosto de 2024,  23:19

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. No tempo em que havia férias, em que fazia sentido haver férias, em que a rapaziada ainda trabalhava (alguns, como eu, que só me reformei quase a fazer os 71, no final do ano letivo de 2017/2018) ...), os editores do blogue pediam aos nossos leitores que lhes mandassem um "bate-estradas", um postal ilustrado dos destinos exóticos por onde a malta parava, ou simplesmemnte uma mensagem a dizer "Olá, nós por cá todos bem"...

Chegámoa até a criar algumas sérias mais apropriadas ao "dolce far niente" associado à canícula do verão:

  • "Passatempos de verão"
  • "No versão de 2015 mandem-nos um bate-estrada"
  • "O nosso querido mês de agosto, pós-pandémico: o que é ser português, hoje?"...

Hoje já não há férias, nem o "nosso querido mês de agosto", porque todos  os meses do ano parecem iguais... E depois, com as alterações climáticas, já não sabem0s se é verão ou inverno...

Dito isto, sabe-nos bem receber um miminho como este que o António Graça de Abreu nos manda de São Pedro do Estoril (ou já da China ?). 

Um "haiku". Aliás, vários "haikus a meu modo"...

Aprendem também com ele (e os poetas japoneses) a fazer um "haiku" (Vd. aqui,  "como fazer um haiku")

(...) "O Haiku teve a sua origem no Japão no séc. XVII. No princípio era considerado como um jogo de palavras ou ideias mas só com Matsuo Basho (1644-1694) é que passou a ser considerado como literatura. 

"Considerado poesia contemplativa, o Haiku valoriza a apenas três versos. natureza, as cores, as estações do ano, os contrastes e as surpresas. Desenvolveu-se num verso que é capaz de expressar sentimentos profundos pela natureza, incluindo os seres humanos. Isto responde à ideia tradicional japonesa que defende que o homem faz parte do mundo natural e deverá viver em harmonia com esse mundo". (...)

Tem 3 regras, simples: Regra n.º 1 – As quatro estações do ano; Regra n.º 2 – Reflete o teu mundo e o teu coração; Regra n.º3 – Capta um momento...

Nada melhor para estrear a nossa série de partilha de mensagens de "Verão 2024: olá, nós por cá todos bem" (subtítulo roubado a um filme do Fernandes Lopes, de 1977,  com música do Sérgio Godinho).

Caros leitores: mandem-nos "haikus à vossa moda", tanto pode ser uns versinhos, como um "postalito", ou meia dúzia de linhas com as vossas  impressões dos dias  que correm neste versão do nosso (des)contentamento... Aqui, hoje em Portugal ou nos arredores, tanto faz...: nas América(s), em Timor, na China, ou na Guiné, neste mundo ou no outro...

2. Mensagem do António Graça de Abreu, poeta, viajante, sinólogo, e sobretudo nosso amigo e camarada da Guiné (já não precisa de apresentação, já cá está há muito, tem 350 referências no nosso blogue):



Com Ueshima Onitsura, nascido em 1661, contemporâneo de Bashô.


Jantar com Onitsura,
o cricrilar do grilo,
o ronronar do gato.

Vem, outra vez
ao meu encontro.
Borboletas voando.

No céu, o monte Fuji,
abrindo-se em rendilhados de neve.
Todo o Japão.

Quantas sílabas
tem o cantar do cuco?
Neblina na lua.

Dia de Primavera,
o banho dos pardais
na areia do rio.

Na tepidez do Verão.
os deuses dançando
na brisa do entardecer.

O sonho de Outono,
acordo com o grasnar dos corvos.
A viagem para o vazio.

O Inverno gelado.
Duas ou três palavras
para aquecer a noite.



António Graça de Abreu, 12/8/2024

4 comentários:

antonio graça de abreu disse...

Mais haikus, de minha autoria, suavemente eróticos

Nua, quente,
um vestido de nuvens coloridas.
Parece saída do sol.


Os meus olhos presos.
Ouro e prata
nos teus seios.


Os meus olhos são chuva
humedecendo os teus seios,
ao de leve.


Dois montes de carne,
Fruta, mel
e alabastro.


Mãos maduras no teu seio,
maçãs da Primavera,
o pecado perfeito.


Sublimes
os seios.
E duas moscas.


Sorrir-te.
Transformar-te
em sol e mel.


Beber a ternura.
Festa serena
antes do desvairo e da loucura.


A menina nua
na coberta de brocado.
Ai, flores do verde pino!...


A menina nos meus braços,
deitada no leito lacado.
Mais flores do verde pino!...


Abres-te.
A névoa do dia
entre as tuas coxas.

Anónimo disse...

Belo poema de amor!!!
Obrigado pela partilha
Abraço
Eduardo Estrela

Tabanca Grande Luís Graça disse...

António, nada como um "haiku", português suave, e suavemente erótico, nestas tardes em que a temperatura aquece... São uma brisa para os nossos sentidos, num ano em que o discurso do ódio, do fanatismo e da violência patológica está a incendiar os povos e as redes sociais...

Anónimo disse...

Afinal, neste verão de 2024, quem disse que "estávamos todos bem?"... (Aqui vai, um desabafio, mesmo "correndo o risco" de entrar pela "atualidade adentro", ou seja, pelo pornográfico espetáculo do mundo em que vivemos.... LG
________________

PORRA!!!


eduardo francisco
domingo, 11/08, 14:43 (há 2 dias)
para mim

Zanguei-me com o mundo Luís!!
Contigo, comigo e com todos os que diariamente são bombardeados com imagens impressionantes de destruição e violência e que se deixam envolver pela inércia e " deixa correr o marfim ".
E alguém dirá! Já somos um pouco menos jovens!!!!.
E eu digo. Então e aqueles que nós educámos?
Vai continuar tudo como sempre!!??
Acabo de ver na televisão, a propósito da " discussão de Gaza" uma criança dizer que perdeu tudo. O pai, o avô e o tio. A mãe já tinha partido antes, parece.
Ontem no Público, li um artigo de opinião e informação a propósito das sevícias praticadas pelos militares às ordens do afilhado da elite económica americana.
É revelador da faceta animalesca do indivíduo que dirige os destinos políticos do povo eleito.
E continuamos, impávidos e serenos a aceitar esta demonstração de barbárie.
Andámos numa guerra, mas eu pessoalmente recuso-me a embarcar nesta narrativa de uma só face, que pretende continuar a manter a ilusão dos bons e dos maus.
Que continues a ter força e ânimo, de modo a aumentar o caudal das memórias e contribuir para o engrandecimento da nossa história comum.
Abraço fraterno
Que a solidariedade e respeito prevaleçam
Eduardo

PS . O Manuel Resende já te mandou as legendas das fotografias do almoço de 2 do corrente em Albufeira?