sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Guiné 63/74 - P5184: Controvérsias (40): Carta Aberta ao Senhor Ministro da Defesa Nacional (José Martins)



1. Mensagem de José Martins* (ex-Fur Mil, Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos,Canjadude, 1968/70), com data de 8 de Outubro de 2009:



Carta aberta

Exmº. Sr. Ministro da Defesa Nacional
Exmº. Sr. Chefe do Estado-maior General das Forças Armadas
Exmº. Sr. Chefe do Estado-maior do Exército

Com conhecimento:

Exmº. Sr. Presidente da Liga dos Combatentes
Exmºs. Dirigentes das Associações de Combatentes

Excelências
Camaradas de Armas

O nosso País, e disso são os Combatentes prova viva, teve largos períodos em que teve necessidade de mobilizar os seus cidadãos para fazer face a eventuais e efectivas afrontas à nossa soberania como Nação.

Um desse períodos, do qual ainda há sobreviventes, foi o período de 1939/1945, durante o qual se desenrolou a II Grande Guerra Mundial que, pela sua extensão e barbárie, deixou para segundo plano, tudo aquilo que foi considerado “esforço menor” (palavras nossas), face às notícias profusamente difundidas.

Refiro-me à necessidade que as Forças Armadas tiveram de, contra ventos e marés, mobilizar tropas para reforçar as suas guarnições militares locais, das então Províncias Ultramarinas, com o envio de forças expedicionárias, além de ter de prover a defesa do próprio território continental, a chamada Metrópole, face a qualquer contingência da guerra em curso.

Consultando a brochura que contém os Estatutos, o Regulamento e as Disposições Diversas, e editado pela Liga dos Combatentes, e no respeitante à atribuição de medalhas comemorativas, para o período em análise (1939/1945), apenas existe a alusão ao extracto do Decreto nº 568/70 de 20 de Novembro, que estabelece a atribuição de medalha “aos tripulantes dos navios mercantes durante a guerra de 1939-1945 e/ou defesa do ultramar”.

Assim, e dada a inexistência de uma medalha que possa ser atribuída aos participantes, ainda vivos, de tais expedições, e, ao ler o preambulo de Decreto-lei nº 316/2002 de 27 de Dezembro (Regulamento da Medalha Militar e das Medalhas Comemorativas das Forças Armadas), refere, o mesmo, a instituição de uma condecoração “destinada a premiar serviços notáveis nele prestados (MDN) ou em beneficio da Defesa Nacional em geral” e …“a ser atribuída a militares que em circunstâncias de situação de campanha ou em circunstâncias com ela directamente relacionada, bem como noutras missões de serviço em território nacional”… “Neste sentido é criada a medalha de reconhecimento”.

Neste sentido, permitimo-nos, pois, sugerir que seja atribuída a todos os expedicionários para os antigos territórios portugueses, mormente aos que foram destacados para os arquipélagos dos Açores e de Cabo Verde, cujos territórios ofereciam, face às circunstâncias, maiores riscos, seja atribuída, dizíamos, a MEDALHA DE RECONHECIMENTO.

Este gesto seria, não só o reconhecimento do País àqueles portugueses que, no tempo devido, puseram a sua vida ao serviço da Pátria e, alguns anos mais tarde, seriam eles a entregar os próprios filhos, para defenderem o então Ultramar Português.
Seguidamente, poder-se-ia iniciar o processo de protecção dos combatentes do ultramar, especialmente os que se encontram em situação mais precária, a que muitos chamaram “Os últimos Soldados do Império”.


José da Silva Marcelino Martins
Ex-Furriel Miliciano de Transmissões de Infantaria
Companhia de Caçadores nº 5 do C.T.I. da Guiné
Junho de 1969 a Junho de 1970
josesmmartins@sapo.pt


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Descrição da Medalha de Reconhecimento

Suspensa por uma fita de seda branca, cortada por dois filetes longitudinais de negro, tem pendente uma estrela, em cobre, de cinco pontas, cinzeladas, cada uma terminando por uma pequena esfera armilar pequena, tendo ao centro um emblema nacional, circundado com a legenda RECONHECIMENTO.

O reverso é igual ao anverso, alterando apenas o centro em que tem a legenda A QUEM SE SACRIFICOU PELA PÁTRIA, disposta em seis linhas e cercada por duas vergônteas de louro, frutadas e cruzadas nos topos próximos.

(José Martins)

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Nota de MR:

Vd. último poste desta série em:

6 comentários:

Anónimo disse...

Caro José Martins
As minhas singelas palavras apenas para exprimir
O MEU RECONHECIMENTO
pela combatividade que manifestas, em "lembrares" aos governantes, aspectos tão simples dum passado militar que teimam em ignorar.
Abraço
Jorge Picado

Luís Graça disse...

Zé:

Apreciei o teu gesto, a tua sugestão, a tua provocação, a tua imaginaão, a tua ousadia, remando contra a maré do esquecimento e da ingratidão...

A nossa Pátria sempre foi (ou tem sido) madrasta dos filhos que a defendem, com sacrifício da sua juventude, da sua saúde e até da sua própria vida...

Aconteceu connosco que durante 13 anos fizemos a guerra colonial (ou do Ultramar, como quiseres); aconteceu com os nossos pais que foram guarnecer as nossas colónias (era assim que se dizia na época) de África e da Ásia, durante a II Guerra Mundial; acnteceu com os nossos avós, que combateram na Flandres, mas também na Guiné, Angola e Moçambique, na I Guerra Mundial ou antes e depois; aconteceu com os nossos bisavós que estiveram nas primeiras "guerras de pacificação" em África, a seguir a 1890 (Conferência de Berlim)... E por aí fora.

No caso dos nossos pais que fizeram parte de forças expedicionárias enviadas para os Açores e Cabo Verde, em especial, receio bem que o devido reconhecimento chegue já tarde demais... Temos falado aqui de três homens que estiveram na Ilha de São Vicente, entre 1941 e 1944: casos do meu pai, Luis Henriques, do pai do Nelson Herbert, Armando Duarte Lopes, e do pai do Hélder de Sousa, Ângelo Ferreira de Sousa.

Este último já morreu há uns anos. Os dois primeiros estão a caminho dos 90 anos (em 2010, se lá chegarem). Muitos outros companheiros de expedição já morreram. E eu duvido até que o Ministério da Defesa Nacional tenha registos actualizados dos homens que foram mobilizados na época...

Mesmo assim, concordo contigo, Zé, que importa o país dar, através do Estado (e do poder executivo em especal), um sinal claro, inequívoco, forte, de reconhecimento público, histórico, pelo sacrifício dessa gente.

Mesmo que seja um pequeno sinal, simbólico, imateral, que, em termos de futuro, poderá ajudar a reforçar o tão débil ou inexistente sentido de Pátria e de patriotismo, uma coisa que as actuais gerações pura e simplesmente ignoram, dado que os partidos do poder e as suas juventudes partidárias tudo fizeram para, demagógica e perfidamente, acabar com o republicano serviço militar obrigatório... No máximo, a Pátria e o patriotismo são hoje valores associados à selecção nacional... de futebol.

Mas cheira-me que que ELES (os homens e as mulheres que estão no poder...) vão achar a tua ideia serôdia, arcaica, incomóda, démodée, tonta, lamechas, quiçá até passadista e... reaccionária.

A tua proposta subentende uma questão: como transmitir os valores autênticos do patriotismo sadio, informado, interiorizado, consensual, assumido por cidadãos conscientes e homens livres, vivendo e respirando em ambiente livre, pacífico, aberto e democrático ? Como transmitir esses valores aos mais novos, aos nossos filhos e netos, através do bom exemplo dos mais velhos, dos pais e dos avós ?

Se, para além da reparação (histórica) de justiça, a ideia for também didáctica, eu posso e quero estar contigo... Um Alfa Bravo. Luís

mario gualter rodrigues pinto disse...

Caro Camarada José Martins

Aprecio a tua iniciativa ousada de imaginação mas também dum ultraismo enorme.
Só temo que a tua proposta vá cair em saco roto como tantas outras de igual conteudo.
Quem nos governa ou "desgoverna",
não está para aí virado, a não ser que consiga tirar da tua proposta dividendos Políticos.
Infelizmente "os ultimos soldados do Império", é para morrer no esquecimento e passar anónimos á História.
A nossa História de Portugal já mais será como outrora agora os herois são outros.
Os corruptos os vilões e ladrões infelizmente são os novos valores da Sociedade.


Um abraço

Mário Pinto

Anónimo disse...

Camarada Zé Martins congratulo pela tua iniciativa,oxalá ela tivesse eco na cachimónia dos vendilhões do Templo.
Saudações Amigas aos atabamcados nesta grande morança.
José Nunes
Brá,68/70
GUINÈ

Anónimo disse...

Obrigado José Martins!

És uma grande referência de todos aqueles que passaram pela Guiné!


Mário Fitas

Hélder Valério disse...

Caro José Martins

A tua iniciativa é exemplar.
Mesmo que não encontre qualquer eco por parte daqueles a quem se dirige, fica sempre o incómodo que lhes causa.
Concordo com as considerações que o Luís faz.
Hélder S.