1. Mensagem de Fernando Gouveia, ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70, com data de 23 de Outubro de 2009:
Caro Carlos:
São passados quarenta dias desde o meu último escrito no blog (no caso um comentário).
Impus a mim mesmo esta quarentena, após o triste caso que nessa altura ocorreu.
Pude então verificar quão pertinente é o prazo de quarenta dias (a tal quarentena) para tirar a limpo qualquer caso de possível doença, etc.
Felizmente tudo ficou resolvido pelo melhor.
Aí vai mais uma estória para a série A Guerra Vista de Bafatá para publicares se assim o entenderes, mas não sem que antes refira duas coisas:
1.º - Desde logo, há quarenta dias atrás (13 de Setembro), registei sensibilizado o teu comentário ao meu comentário.
2.º - Que consideres a mudança do meu endereço electrónico, agora do Gmail, pois o anterior, da TVTEL, vai ser cancelado dado que a ZON comprou a TVTEL.
Um abraço para ti e para todos os outros camaradas.
A Guerra Vista de Bafatá
13 – O Comando de Agrupamento – 1.ª parte
Por Fernando Gouveia
Prometi que desta vez iria falar da vida interna do Comando de Agrupamento mas o que me levou a fazê-lo foi sobretudo a vontade de contar alguns factos relacionados com os muitos majores que por lá passaram, cada qual o mais esquisito mas, desde já refiro, que lá estiveram Majores, óptimas pessoas.
Irei começar por todo o resto do pessoal e só posteriormente falarei dos Majores. Já noutras estórias falei nas personalidades dos dois Comandantes que tive: os Cor Hélio Felgas e Neves Cardoso, bem diferentes um do outro. Nunca o Cor Felgas tiraria o lugar, previamente marcado num Dakota, a uma jovem esposa dum Alferes, acabada de chegar da Metrópole, que ia de Bissau para Bafatá ter com o marido, obrigando-a a ficar sozinha em Bissau. Nunca o Cor Felgas delegaria no Alf Of de Informações, sem para isso estar preparado, o planeamento de uma Operação de apoio à vinda, por estrada, do BCAÇ 2851 de Mansabá para Bafatá. Fê-lo o outro Comandante e só aceitei tal ordem por ter visto planear muitas Operações ao Cor Felgas.
O Cor Felgas talvez tivesse aspirações a substituir o Gen Spínola mas o Cor Neves Cardoso enquanto no COP de Nova Lamego só aspiraria a substituir o Cor Felgas no Agrupamento, aliás o que veio a acontecer quando o Cor Felgas acabou a comissão.
O Cor Felgas e o Ten Cor Teixeira da Silva, Chefe do Estado Maior do Comando de Agrupamento.
Chefes do Estado Maior houve também dois na minha comissão: Primeiro o Ten Cor Ferreira Coelho, do AGR 1980 e depois o Ten Cor Teixeira da Silva do AGR 2957. O primeiro, sempre de ar cansado, ou farto da Guiné, num determinado dia chamou-me e admoestou-me por me ter visto a jogar iuri (uri, ori ou orim) com um furriel (para ele um inferior), que por acaso era o Furriel Carlos Miguel (o fininho), que todos devem ter visto na TV. Que me teria acontecido se ele viesse a saber das almoçaradas (convívios, portanto) que regularmente fazíamos sempre que ia à caça ou quando o pessoal de Transmissões recebia algum petisco da Metrópole, contando que o único Oficial presente era eu?
Numa almoçarada com o pessoal das Transmissões, nas traseiras do pavilhão da arrecadação. Comeu-se polvo cozido que um deles recebeu da Metrópole no estado de seco, lógico.
O segundo Chefe do Estado Maior foi o Ten Cor Teixeira da Silva, nada militarista, para quem a guerra não fazia sentido, e das pessoas mais cultas que por lá passou. Com ele, melómano convicto, faziam-se sessões de música clássica, tendo aprendido com ele, nessa altura, que um bom gira-discos teria que ter uma cabeça com o peso máximo de um grama. Também costumava dizer que para se ouvir boa música se tinha que estar de bata branca e numa sala despojada de muitos adereços. E o que ele delirava quando eu dava uma sessão de slides, principalmente com bajudas… Se eu pudesse andar por aí como o Gouveia… Lamentava-se ele.
Um dia, estando os dois juntos do mapa onde se marcava a actividade IN com lápis dermatográficos, pediu-me que lhe chegasse um lápis de determinada cor. Como os ditos até estavam mais perto dele do que de mim, achei muito estranho. Se fosse um Major, para não se mexer, até podia compreender. Logo ele me explicou que era daltónico, etc. etc. Ainda lhe cheguei a perguntar como tinha conseguido entrar para a Academia Militar mas não lembro que resposta me deu.
Hierarquicamente a seguir havia os Majores, um na Secção de Operações e outro na de Material e Pessoal, tendo no entanto passado por lá muitos. De todos eles falarei por último.
A seguir vinham os três Alferes. Eu, na Secção de Informações e os outros dois na Secretaria Geral e nas Transmissões. No AGR 1980 na Secretaria estava o Alf Ribeiro e nas Transmissões o Alf Vaz. No AGR 2957 estavam respectivamente os Alf Costa e Martins. Há que destacar a simpatia dos dois primeiros que me receberam muito bem quando, ainda periquito, cheguei a Bafatá. Por lá passaram também os Alf Correia, outro Vaz (suponho), que veio a casar com uma libanesa giríssima e o Santos com quem partilhei o quarto nos dois últimos meses da minha comissão.
Duas vistas das paredes do quarto que partilhei com o Alf Mil Santos. No fim da comissão deu-me para isto.
Depois, os Furriéis distribuídos pelas Secções. Como já referi fui encontrar lá o Fur Carlos Miguel, actor, que mais tarde viria a aparecer em séries de TV mais como cómico (o Fininho). Outro Furriel, que por lá passou, vindo de Nova Lamego, irá protagonizar a próxima estória (de faca e alguidar).
Cabos e Soldados (Metropolitanos e Africanos), eram vinte ou trinta. Uns eram Condutores outros apoiavam as Secretarias e a maior parte fazia a guarda ao aquartelamento. Destaco aqui o Cabo Russo encarregado da Arrecadação que sempre me acompanhou na caça às chocas (perdizes), aos coelhos (que por acaso eram lebres pequenas) e a toda uma série de aves, cada qual a mais linda e exótica.
Com o Cabo Russo. Um cinto de chocas e uma cartucheira IN. (Foi desta foto que tirei a parte para a inscrição na Tabanca Grande.
Depois de uma caçada. Uma das aves, um faisão real, foi a ave mais espectacular que capturei.
Fotos e legendas: © Fernando Gouveia (2009). Direitos reservados.
Na 2.ª parte desta estória, a meu ver mais interessante, descreverei os nossos Majores com algumas passagens hilariantes.
Até para a semana camaradas.
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 3 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4769: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (12): O Mercado de Bafatá
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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6 comentários:
Boa noite a todos Amigos da tabanca era so para informar o Fernando Gouveia que o Coronel neves Cardoso foi O Cmdt do sector L4 em Piche e Cmdt do Bart 2857. sem mais um abraço. josé rocha
Caro Fernando Gouveia
O Carlos Miguel esteve na CCAÇ 5 comigo. Encontrei-me com ele, várias vezes, no Porto e, principalmente, em Campo de Ourique (Lisboa) onde morava. Depois perdi-lhe o rasto. Saberás por acaso onde se pode encontra-lo?
Um abraço
José Martins
Caro José Marcelino:
Não sei onde encontrar o Carlos Miguel. Só se for por intrmédio da Casa do Artista em Lisboa.
Um abraço.
Caro Fernando Gouveia
Agradado com o teu regresso, espero poder continuar a acompanhar as tuas histórias, que sempre me pareceram bastante interessantes.
Gostei, principalmente, dessa tua idéia da "quarentena". Acho que mais alguns a têm praticado, embora sem o referir ou ter consciência disso.
Um abraço
Hélder S.
CARO FERNANDO GOUVEIA,
SERÁ QUE PASSADOS ESTES ANOS CONSEGUIRIAS TRAÇAR O PERFIL PSICOLÓGICO DESSE "ACÉFALO" COELHO?
FOI POR CAUSA DE COELHOS DESSE TIPO,HABITUADOS A FUGIR E VIVER ESCONDIDOS NAS LURAS,QUE A GUERRA DUROU TREZE LONGOS ANOS...
PARA ALÉM DE "BÁSICOS",NA GENERALIDADE,QUIÇÁ MERCÊ DA "ACEFALIA",ERAM "ELITISTAS",PARA ALÉM,ÓBVIAMENTE,DE RACISTAS.
ESPÉCIMES DESTES HOUVE-OS
INFELIZMENTE EM CATADUPA...
NO MEU BATALHÃO,POR EXEMPLO,
O COMANDANTE,(UM ANTIGO GNR ENVIADO P`RA GUERRA POR CASTIGO DEVIDO AO NEBULOSO ENVOLVIMENTO NUM NEGÓCIO DE GASOLINAS...) APARECEU-NOS NA SEMANA DE CAMPO PARA BARAFUSTAR PELO VISUAL DE BARBA CRESCIDA QUE TODOS(CAP, MILº INCLUSIVÉ...)OSTENTÁVAMOS...
UM ABRAÇO
MANUEL MAIA
Sr. Fernando Gouveia:
Que o Tenente Coronel Ferreira Coelho teria um ar cansado estou de acordo, que seria militarista também concordo, mas, para mim, até
nem era má pessoa.
AOA
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