domingo, 8 de setembro de 2019

Guné 61/74 - P20133: Em bom português nos entendemos (23): Morocunda, topónimo mandinga = Moro (o que se converteu ao islamismo) + Cunda (localidade ou habitação) (Cherno Baldé)

1. Comentário de Cherno Baldé ao poste P20130 (*)

Um pouco de história e etnografia da Guiné e/ou da Senegâmbia:

Morcunda, Morocunda ou Moricunda é a designação em mandinga, do Bairro ou localidade (assentamento) de mandingas de confissão muçulmana, assim como Fulacunda significa assentamento de Fulas, na mesma lingua. 


Estas terminologias teriam sua origem no império de Kaabu ou Gabu, em meados do séc. XIX, com o aparecimento das guerras santas [Jiade] e dos primeiros reinos teocráticos fundados por marabus fulas e saracolés no território do actual Senegal, Mali e Guiné-Conacri.

O prefixo Moro ou Mori faz referência aquele que deixou a religião tradicional dos soninquês (idólatras) e se converteu à religião dos Mouros ou Maures (Mauritanos e Marroquinos) e aprendeu alguns versículos corânicos e sua escrita em Árabe.

Cunda, como se pode notar nos topónimos de muitas aldeias da Guiné [Bajocunda, Cancunda, Colicunda, Faracunda, Fulacunda, Iracunda, Massacunda, Sissaucunda, Tienecunda ...], significa localidade ou habitação em Mandinga.

Com um abraço amigo,

Cherno Baldé

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 7 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20130: Controvérsias (133): Os trágicos acontecimentos de Morocunda, Farim, de 1 de novembro de 1965, um brutal ato de terrorismo, cuja responsabilidade material e moral nunca foi apurada por entidade independente: causou sobretudo vítímas civis, que estavam num batuque: 27 mortos e 70 feridos graves

(**) Último poste da série >  15 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19981: Em bom português nos entendemos (22): nas grandes ocasiões, como o nosso léxico pode ser tão.. pequeno!

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