terça-feira, 11 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24469: Memória dos lugares (449): "Chez Toi" / "Gato Negro", uma das referências da "noite de Bissau" (Nelson Herberto / Mário Serra de Oliveira / José Diniz de Sousa Faro)

Guiné > Bissau > s/d > "Aspecto parcial e Câmara Municipal"... Bilhete postal, nº 133, Edição "Foto Serra" (Colecção Guiné Portuguesa")... Ao fundo, do lado direito vè-se a ilha de Rei,

Colecção de postais ilustrados: Agostinho Gaspar / Digitalizações: Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).



Guiné- Bissau > Bissau > c. 1975 > Novo mapa, pós-colonial, da capital da nova república, já com as novas designações das ruas, avenidas e praças, que vieram substituir o roteiro português: av 3 de Agosto, av Pansau Na Isna, etc. Veja-se a localização do porto do Pidjiguiti (para os barcos de pesca e de cabotagem), à esquerda do porto de Bissau (para os navios da marinha mercante). (*)

A av da Unidade Africana separava a antiga Bissau Colonial dos bairros mais populosos como o Cupelon (de Cima e de Baixo), mais conhecfido pelas NT como "Pilão".

Por exemplo, a rua Eduardo Mondlane (assiinalada com um traço a zul) era antiga rua Engenheiro Sá Carneiro:,  parte do Chão de Papel (av. do Brasil), atravessa a av. Amílcar Cabral, a artéria central ( a antiga av. da República,) e vai até ao Hospital Simão Mendes, ao cemitério municipal e à antiga zona industrial...

Era a rua dos Serviços Meteorológicos e da messe de sargentos da FAP (com a independência, foi a primeira chancelaria da embaixada da China.). Em frente aos Serviços Metereolgicos ficava o "Chez Toi" (restaurante, pensão, bar e "boite", mais tarde "Gato Negro").

 
Foto: © A. Marques Lopes (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Segundo o nosso amigo guineense, de origem cabo-verdiana, Nelson Herbert,  jornalista que trabalhou na VOA - Voice of America, e viveu nos EUA, estando hoje reformado no Mindelo, São Vicente, a casa de duas moradias que se vê à direita  na primeira imagem acima,  foi a antiga "boite" ou "cabaret" "Chez Toi" (mais tarde "Gato Negro", como antes terá sido "O Nazareno", restaurante e casa de fados)... 

Em frente era a "Estação Meterológica de Bissau".. Antes da independência, esta rua, que era perpendicular à avenida da República (que partia da praça do Império até ao cais do Pidjiguiti) chamava-se rua do engº Sá Carneiro (antigo subsecretário de Estado das Colónias que visitou o território em 1947, sendo governador-geral Sarmento Rodrigues). (***)

2. Mário Serra de Oliveira é outro dos nossos amigos (e camaradas) que conheceu este e outros estabelecimentos da noite  da velha Bissau Colonial, quer como empregado quer depois como empresário do ramo da restauração coletiva.

[Foto à direita: Mário Serra de Oliveira, ex-1.º cabo escriturário, nº 262/66, BA 12, Bissalanca, 1967/68; esteve destacado na messe de oficiais em Bissau, entre maio de 1967 e dezembro de 1968; depois, já como civil, entre janeiro de 1968 e agosto de 1981, como empregado e como emtrsário passou por diversos estebelcimentos: Café Restaurante Solmar, Grande Hotel, Pelicano,  Ninho de Santa Luzia (uma casa sua, que abriu em 14/11/1972), Tabanca, Casa Santos, Abel Moreira, José D’Amura e Oásis; trabalharia ainda  na embaixada dos EUA; é autor, entre outros, do livro "Palavras de um Defunto... Antes de o Ser"(Lisboa: Chiado Editora, 2012, 542 pp, preço de capa 16€]

 
Num extenso texto, reproduzido na Net,  ele fala da “boate” Gato Negro, que antes se chamava "Chez Toi" (**):

(...) "O dono era um locutor de rádio cujo nome creio que era Soares Duarte, uma figura avultada cuja mulher não sei se o suportaria em cima, na exclusividade!" (...)

Mudou de nome e de d0no:

(...) passou a chamar-se... "Gato Negro", cujo dono era o Chico Fernandes. E, aí, ele foi a Portugal de propósito a contratar gado novo – todas com um “Gato Negro” um pouco mais abaixo do umbigo... Algumas vinte, aptas para todo o serviço.

Recordo aqui, já eu com "O Ninho de Santa Luzia" aberto, principalmente às sextas- feiras, me telefonava – sim, tinha telefone naquela ocasião, podia era não trabalhar mas que tinha, tinha… para um almoço para 22 ou 23, depois das 3 da tarde. A ideia, era tentar afugentar os 'mirones'. (...)

(...) Que inocència, a do Chico!... O problema era que...havia tantos esfomeados de 'carne fresca' – mesmo que besuntada de outros  – que até parece que lhes dava o cheiro!...

Então, após já estarem a almoçar, vinham aqueles tipos que só faltava 'comerem-nas com os olhos'...  Ainda tive problemas com alguns, porque se sentavam mesmo em frente da registadora – local do meu trabalho mais assiduamente , e...a comentarem ' olha p’rá aquelas trancas,  caralho!'

 (...) Claro que eu não permitia provocações diretas! O respeitinho era muito bonito e eu tratava de fazer vingar o mesmo!... Enfim...longa estória." (...) (**)



3. Outro depoimento (há mais no blogue), este do nosso tabanqueiro José Diniz Carneiro de Souza e Faro, ex-fur mil art, 7.º Pel Art (Cameconde, Piche, Pelundo e Binar, 1968/70), em comentário ao poste P18910 (***)

(...) De facto no início de 1970 (março a  a junho) existia o Chez Toi onde eu e os meus camaradas da BAC 1 nos untávamos para umas bebidas, era o tempo de partida para a Metrópole (17 de junho no Carvalho Araújo).

 Nessa altura,  creio, foi quando mudou de nome e o gerente era um locutor da Emissora Nacional que esteve na Índia (Goa),  de nome Oliveira Duarte (?), ex-sargento.

 Era um local simpático, com bailarinas recrutadas nas "boites" de Lisboa. Um dos fadistas era o Marco Paulo, já com muito sucesso. Uma das bailarinas era a Luísa,  uma mocinha atraente que encontrei em Lisboa,  na "Cova da Onça" (Av da Liberdade). 

Como estávamos no fim da comissão (com 27 meses), não ficávamos muito tempo nesses locais de risco, passando o resto da noite no Bar do Biafra (QG-Stª Luzia) ouvindo as aventuras e desventuras dos 'Piriquitos' (era só cheiro a pólvora) em trânsito de e para o mato. (...)  (****)

_____________

Notas do editor:

(**) Blogue A Guerra Nunca Acaba Para Quem Se Bateu em Combate > segunda-feira, 21 de novembro de 2011 > Guiné, Bissau, Pelicano, Solmar, Nino de Santa Luzia, Tabanca, Meta, Chez Toi (Gato Negro) e a longa e atribulada missão de serviço do 'camarada' Mário de Oliveira, de 1967 a 1981

(***) Vd. poste de 10 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18910: Memória dos lugares (378): Restaurante, pensão e "boite", o Chez Toi fazia parte do roteiro de "Bissau, by night"... O estabelecimento situava-se na rua engº Sá Carneiro... Desdobrável publicitário: cortesia de Carlos Vinhal.

(****) Último poste da série  > 25 de janeiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24009: Memória dos lugares (448): a "Esnoga", a sinagoga portuguesa de Amesterdão (séc. XVII) e a história incrível da sua comunidade

9 comentários:

Valdemar Silva disse...

Estou a ver o fotografia e a recordar-me das casas e das instalações da Meteorologia .
Em Agosto de 1969 e Julho de 1970 fiquei numa Pensão, que agora não me lembro o nome, muito próximo da Meteorologia que só podia ser a Pensão "Chez Toi/Gato Negro".
Era só para dormir, e tinha particularidade de ser igual à tropa.
As camas de ferro como as da tropa, os lençóis e o travesseiro sem fronha como da tropa e o copa metálico do café como o da tropa.
Julgo que era uma senhora a dona da Pensão, mas diziam que era de um Sargento que tinha "comprado" a outro que acabou a comissão.
Continuo o lembrar-me do "Chez Toi" mas só do nome, não me lembro de mais nada, bem podia ter sido algum grande bioxene que limpasse o disco da memória.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Carlos Pinheiro, que conheceubem a Bissau do seu tempo (1967/70) já aqui escerveu:

Antes de ser CHEZ TOI era uma casa mais ou menos de fados, vadios, O Nazareno.

23 de outubro de 2021 às 15:33

W sobreas "bailarinas" do Cherz T&oit, o António Ra,malho comenntoi:

(...) (ii) No Chez Toi, versão francesa, Gato Preto, versão guineense, há um pormenor que ainda hoje me arrepia, que era o facto das raparigas ficarem "encurraladas" na cave durante o dia, uma tristeza!

Todavia nunca assisti a cenas desagradáveis como a que referes (...)

Era um pequenino oásis onde nas poucas vindas a Bissau nos esquecíamos do resto...

Tinha um camarada de Engenharia que tudo fez para conseguir retirar uma daquelas raparigas daquele degredo para irem almoçar... Fartou-se de namorar, nunca o conseguiu. Tinha um vestido lindíssimo em seda para lhe oferecer no dia do repasto, mesmo assim teve dificuldade em fazê-lo chegar à destinatária!

(iii) Uma noite, em Lisboa, fomos tomar um copo à Tágide, ironias do destino, reencontrou-a lá!... Estás a imaginar a cena?!... Foi uma festa, até as paredes abanaram, e a Ponte Salazar também, naquele tempo, presumo eu! (...)


9 DE AGOSTO DE 2018
Guiné 61/74 - P18907: Estórias de Bissau (19): O Pilão e o Chez Toi que eu conheci... (António Ramalho)... Comentários de Valdemar Queiroz, Virgílio Teixeira, Costa Abreu e Juvenal Amado sobre o primeiro "night club" que abriu na capital guineense...

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2018/08/guine-6174-p18907-estorias-de-bissau-19.html

Abilio Duarte disse...

Pelos vistos, Valdemar, esquentamentos, era mato!
Abílio Duarte

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Havia ou não prostuição, "encapotada", em Bissau ? Havia, como havia em Luanda, Lisboa, Porto, Coimbra, e por aí fora...O regime era hipócrate, acabou com as casas de passe, mandou as prostitutas para a rua (sem qualquer controlo sanitário...) e depois começaram a proliferar os mais imaginativos lugares e formas de prostituição...

Ver aqui alguns excertos sobre o enquadramentyo legal da prostituição em Portugal do sécúlo passado:

(...) A situação legal da prostituição em Portugal sofreu várias alterações ao longo do tempo.

Em 1949, foi elaborada uma dura lei (Lei nº 2036/1949 de 9 de Agosto)[6] sobre doenças sexualmente transmissíveis (DST) impondo mais restrições àqueles que se prostituíam, e proibindo a abertura de novas casas de prostituição.

As casas existentes podiam ser encerradas caso se suspeitasse que podiam ser um perigo para a saúde pública. Um estudo da época estimou que existiam 5.276 prostitutas e 485 casas, concentradas nas principais áreas urbanas, nomeadamente Lisboa, Porto, Coimbra e Évora. No entanto, aquelas prostitutas registadas representavam uma pequena percentagem do total do conjunto. Esta lei pretendia erradicar a prostituição.(...)

Em 1954, o decreto nº 39606, de 9 de Abril, proibiu em todas as províncias ultramarinas o exercício da prostituição.

Em 1963, a prostituição passou a ser ilegal também no Portugal metropolitano, via decreto-lei nº 44579 de 19 de Setembro de 1962, a partir de 1 de Janeiro de 1963.

Os bordéis e outras instalações foram encerrados. Esta lei, abolicionista, punha um termo à era em que a prostituição era regulamentada, incluindo consultas médicas regulares das prostitutas.

No entanto, esta lei pouco efeito prático obteve e, a partir de 1 de Janeiro de 1983, através do novo Código Penal de 1982,[8] foi parcialmente alterada, permitindo a prostituição individual (por omissão no texto da lei), mas proibindo a sua exploração e encorajamento por terceiros.

A acusação continuava a ser possível sobre as ofensas à moral e decência públicas, mas raramente isso acontecia, embora o seu cumprimento estivesse nas mãos das autoridades locais. Assim, esta situação podia ser vista como um exemplo de "tolerância". A prostituição masculina nunca foi reconhecida. (...)

https://pt.wikipedia.org/wiki/Prostitui%C3%A7%C3%A3o_em_Portugal

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Lembram-se do caso "Ballet Rose", em fianis de 1967 ?

https://www.museudoaljube.pt/2020/12/10/caso-ballet-rose/


(...) Neste dia 10 de dezembro de 1967 o católico e puritano Portugal da ditadura, dos brandos costumes e do viver habitualmente, é abalado por notícias na imprensa britânica sobre um hediondo esquema de pedofilia, prostituição e abuso de menores envolvendo altas figuras do Estado Novo: o caso “Ballet Rose”.

(...) Entre os envolvidos no escândalo sexual estão ministros do governo de Salazar, militares, grandes empresários ligados à indústria, banca e alta finança, membros da aristocracia ou da Igreja. A investigação em poucos resultados práticos se traduz e o caso acaba sem a condenação dos principais e mais notórios perpetradores, deixando incólumes as altas figuras do Estado Novo.

O falso moralismo da ditadura escondia assim um sórdido esquema de abuso sexual de menores, sendo este caso revelador, ainda hoje, do quão errónea é a narrativa do regime íntegro e incorruptível. (...)

Valdemar Silva disse...

Duarte, nunca me tocou nada pra estragar o marmanjo.
O nosso fur. enfermeiro Edmond (bancário na Augustino Reis & Cia.) tinha uma pomadinha para
prevenção, o nosso 1º. era cliente e parece que teve azar.
E o velho Lacrau Almeida que, diziam, obrigava numa inspecção 'mostra lá isso' com uma vela de torcida de garrafa com petróleo sendo corrido a osso por entornar e queimar a pequena.
Em Nova Lamego, levei um beliscãozinho numa batucada que deu pra passar a noite fora do Quartel, já fora da zona com iluminação eléctrica e dormi que nem um anjo.

Em Bissau era de passagem, muita confusão e não entrava em aventuras.

Assim nasceram muitos filhos de branco e preta, agora, por cá, está a acontecer o contrário e já não são tratados de mulatos.

Saúde da boa, que isto não está nada bom
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, com a tua DPOC tinhas-te livrado de conhecer a Guiné e os seus sitosites mal frequentados... Mas já estarias cá para "reinar c'a gente" no nosso blogue... Poupa-te, com m estes dias tramadosem. Luís

Tabanca Grande Luís Graça disse...

,,, queria mas infelizmente já NÃO estarias cá...

Como dizia o meu "velho"... " mais vale andar neste mundo de múletas do que no outro em carretas"... Cuida-te.

Valdemar Silva disse...

Luís, obrigado
Mas isto não está nada bom.

Valdemar