As cidades ou vilas que mais amei ou odiei antes de ser mobilizado para a Guiné.
Fiz a Recruta no Regimento de Infantaria em Beja, cidade que conhecia por ser capital do distrito onde nasci e morava.
Visitava periodicamente Beja porque como cidade tinha algumas mordomias que na vila não desfrutávamos. Então uma das visitas era à célebre rua da Branca onde por hábito dizíamos ir mudar a água às azeitonas, mas com o decreto-lei 44579 de 19 de Setembro de 1962 a rua da Branca ficou escura como a noite.
Na recruta, em Beja, durante o dia tinha a instrução militar por esse motivo só à noite, até ao toque de recolher, tinha tempo para passear. Aos fins-de-semana o destino era a terra.
O Pelourinho da cidade de Beja
Foto WIKIPÈDIA com a devida vénia.
A seguir fui para a Escola Prática de Infantaria em Mafra para tirar a especialidade de transmissões.
A Mafra, durante a tropa, aplica-se a mesma rotina que em Beja só que as viagens ao fim-de-semana de Beja para a terra eram feitas de motorizada, em Mafra ia para estrada pedir boleia para Moscavide, onde morava a minha irmã, e aproveitava para conhecer Lisboa, um mundo totalmente diferente do que tinha sido toda a minha vivência.
Da então vila de Mafra guardo em memória toda a imponência e beleza do convento e da tapada.
Convento de Mafra e paisagem
Foto rcmafra.com com a devida vénia
Já mobilizado fui para Évora para aguardar embarque sem saber para onde ia.
Évora, cidade que também conhecia, tal como Beja, mas por ter estado lá a trabalhar como eventual na C.P.
Évora além de cidade museu, na minha juventude gozava do estatuto das jovens bonitas, as eborenses, que não deixavam os seus créditos por mãos alheias. Será que é uma das razões do título da canção do Vitorino "Alentejanas e amorosas?"
Em Évora, como estávamos a aguardar embarque, até parecia que não estávamos na tropa. A começar pelo RAL3, Regimento de Artilharia Ligeira nº3, onde ficámos aquartelados após as semanas de mato ou sobrevivência, que tinha quase como finalidade aquartelar os soldados que estavam mobilizados a aguardar embarque, pois mantinha um pequeno grupo de militares para a manutenção dos equipamentos.
A vida militar a sério era logo ali, com dizem os meus conterrâneos. No RI16 e no quartel General. Daí que tínhamos a preparação física na parte da manhã pois ela era importante porque quase de certeza iríamos enfrentar uma guerra, a seguir umas palestra sobre a vida militar e em parte sobre o que nos esperava, mas não adiantavam muito porque dependia para a província ou "Colónia" que nos saísse em sorte.
Pelo que acabo de citar, tínhamos muito tempo para dar largas aos nossos passeios. Pelo que acabei de escrever, não odiei nenhuma cidade ou Vila por onde, por força das circunstâncias, passei de todas gostei umas mais outras um pouco menos.
Foto página do município com a devida vénia
A ter que escolher a que mais amei, sem qualquer dúvida Évora.
Lugar ou local que odiei, foi o Cachil na Guiné, não cometi nada para sofrer um castigo de dez meses e uma semana de isolamento e uns extras como complemento que não desejo a ninguém.
José Botelho Colaço
Soldado TRMS
CCAÇ 557
Cachil, Bissau, Bafatá
1963/65
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Nota do editor
Último poste da série de 21 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12617: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (7): As localidades por onde passei, sofri e amei (Veríssimo Cardoso)
2 comentários:
Caro camarada José Colaço
Tiveste sorte!
Como foste dos 'do princípio', tirando Mafra, por causa da especialidade, andaste sempre pelas capitais dos distritos alentejanos, afinal o teu 'terreno de caça'....
Dizes uma coisa que afinal deve ter sido comum a muitos de nós e que é a falta de tempo, durante as recrutas, para desfrutar as terras onde estivemos, daí não se poder falar com muito conhecimento.
Mas dizes que, no fundo, gostaste de todas, sendo Évora a primeira nos teus afectos.
E não disfarças nada quanto ainda teres o Cachil 'atravessado'....
Amigo, já passou! És um sobrevivente! Cabeça erguida com a consciência de teres vivido tempos extraordinários e, porventura, irrepetíveis.
Abraço
Hélder S.
Obrigado Hélder és um homem de uma sensibilidade extra.
Os teus subordinados na tropa pois eras graduado e os teus alunos na vida civil de certeza que deves ter recebido de eles surpresas tão agradáveis com as quais tu nem por sonhos admitias que tal fosse possível.
Um abraço.
Colaço.
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