sexta-feira, 1 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P20928: 16 anos a blogar (10): Independências - Parte II (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR)

 

1. Em mensagem do dia 28 de Abril de 2020, o nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem", enviou-nos um longo texto subordinado ao tema "Independências", do qual publicamos hoje a segunda parte.




(Clicar na imagem para ampliar)


INDEPENDÊNCIAS - PARTE II

(Continuação)

No cortejo de misérias o pior ainda está para vir, com a desestabilização das potências emergentes, que não conseguiram, não puderam, ou não quiseram alterar a relação do poder com os seus cidadãos, distribuindo para o bem geral as riquezas que os seus territórios são detentores.
Quando o dinheiro entrava a rodos teria sido muito mais barato criar infra-estruturas como rede de esgotos, água, habitação e emprego, sistemas de saúde, do que o custo a pagar pelas epidemias, de cólera, ébola, sarampo, guerras com milhares de mortos e estropiados para não falar na hecatombe que esta pandemia fará num continente tão desprotegido apesar de tão rico, se atentarmos no mapa da distribuição das suas riquezas.

Como já mencionei, o problema já não pode ser resolvido pelos próprios países que ficaram reféns das grandes companhias que dominam a economia mundial, que não estão nada interessadas nisso.
As moedas nacionais não contam para nada, são os dólares ou francos que encharcam as economias conforme a zona de influência. Vejamos a acusações dos ganhos que a França aufere com a sua moeda tutelar sobre as moedas nas ex-colónias em África a que até a nossa Guiné já se rendeu funcionando aí um franco oriundo do Senegal.

Dizem economistas que estudam o fenómeno da pobreza em pais ricos, enquanto esses povos são empurrados para becos sem saída. Não há solução pois os seus países são impedidos de promoverem o desenvolvimento sustentável equilibrado, porque as empresas petrolíferas e de minério, passam a explorar essas riquezas despejando milhões de dólares sobre esses países, que assim, não transformam o tecido produtivo mas passam auferir do que não produzem, não deixando as mais-valias que receberiam se o transformassem e vendessem depois da transformação.

"Não lhes dês peixe ensina-os a pescar". Assim diz o ditado.

A Noruega, quando foi descoberto petróleo na sua costa, era um país pobre de pescadores. Negociou duramente, foi chantageada, mas conseguiu não ser relegada e assim participar no bolo que lhe permitiu ser hoje o que é. E porquê? Porque era um país com uma vincada politica social para redistribuição as riquezas ali descobertas.

Outro caso paradigmático passou-se na Holanda.

A Doença Holandesa

No Norte da Holanda, a Royal Dutch Shell em parceria com Exxon junto à aldeia de Shochterem em 1959, descobre a maior jazida de gás da Europa. Seguiu-se a fartura do gás. Mas não tardou muito que os dirigentes desse país se questionassem sobre os benefícios de tal descoberta e se ela seria uma bênção. As pessoas começaram a perder os empregos e outros sectores da economia afundaram-se, criando assim um padrão que a revista The Economista chamou em 1977 como a “Doença Holandesa”. Está claro que a Holanda reverteu essa situação para seu bem e não para sua desgraça.

Mas em África dirigentes deslumbrados com tudo o que conseguem comprar, vivem numa bolha embriagados com uísque nunca menos de 18 anos, vinho importado das melhores castas e roupas compradas nas melhores capitais europeias . O dinheiro parece cair das árvores sem fim.
Os preços são alavancados, a produção cai a pique, impera o desenrasque do pequeno comércio de rua nas grandes cidades e quem tem posição de chefia começa a amealhar. O preço do petróleo tomando por exemplo Angola ($3,5 milhões dias antes da baixa desse produto) dá para tudo e como não há incentivo à produção, não se produz, importam-se até produtos de primeira necessidade, que eram produzidos antes, só pelo o luxo de dizer que é importado.

Também não há cobrança de impostos de monta, a justiça funciona na lei de extorsão do mais forte, segurança social é coisa que nem ouviram falar, o estado é assim uma cadeira do poder só para alguns e raros, são os que não acabaram nas malhas da corrupção numa rede infindável de filhos, sobrinhos e alguns amigos que esbanjam pelo o Mundo fora o dinheiro que não lhes custou a ganhar, já que a liberdade tão duramente conquistada, perde-se na falta de solidariedade e da Justiça social e duma politica e reguladora da causa pública.
Para essas fortunas existem sempre contas especiais e os offshore mal de que sofre a economia portuguesa, também onde se cruzam muitas vezes.
Em Angola por exemplo a teia não é diferente da de outros países.

Por estranho que pareça, embora seja a ideia aqui no blogue, não foram a URSS nem os seus satélites apoiantes das lutas armadas, os beneficiários das riquezas e julgo que o seu envolvimento acaba por ser deficitário, pois só a Rússia emerge como potência económica e militar. Os outros apressaram-se erigir duvidosas democracias musculadas e a recolher-se sob o manto da NATO, participando em aventuras como Iraque, Afeganistão, e em manobras que visam intimidar os antigos patronos, com resultados que espero nunca sejam funestos para eles e para nós, a julgar pelos resultados do passado.

Assim o desenvolvimento da industria petrolífera da Sonangol deve-se à BP, do Reino Unido e a Chevron e a Exxon Mobil, dos Estados Unidos e à Total francesa que extraiu mais petróleo do país do que qualquer outra empresa. As receitas do petróleo angolanas, em 2011, equiparam-se às receitas da Coca-Cola ou da Amazon em todo o Mundo. A China, maior importador de petróleo do Mundo, também reclama o seu pedaço com empresas estatais. Também Moscovo, Manhattan, Coreia do Norte e Indonésia, todos associados em offshores, a BP, a Total, mais empresas petrolíferas, mais o gigante da distribuição Glencore, sediada na Suíça, formam a Queensway Group que tem como riqueza o que sacam do subsolo africano.

Uma última palavra para a “nossa Guiné” tão maltratada pelos seus dirigentes, que lutam num pós-independência por um poder de riqueza de pouca monta. Sem riquezas no subsolo, têm deixado desbastar as suas florestas, que saem do país rumo à China e alimentam assim a fome devoradora que o pais tem pela transformação que, depois vende ao Ocidente com valor acrescentado.

Fala-se pontualmente da existência de alumínio e petróleo mas a verdade é que são produtos como o caju, os únicos produtos dignos de nota numa monocultura perigosa. A Guiné é acusada de ser um narco-estado e qualquer um pode ver também que é um estado falhado. Os golpes de estado, institucionais ou armados, são uma constante, as eleições são subvertidas constantemente, a parte que perde nunca aceita o resultado e a que ganha através de chapelada eleitoral, também finca os pés num daqui não saio, daqui ninguém me tira.
Que estará guardado para aquele pais onde a sua maior riqueza será a diversidade étnica, que também pode ser o seu maior problema pois o sonho de Amílcar Cabral, de um País um povo e uma só bandeira está cada vez difícil de atingir?
Será anexada pelos vizinhos do Norte, mais bem posicionados?
Esperar para ver é o que nos resta.

Por cá, a busca do precioso ouro preto também tem tido a suas épocas de procura obstinada. Em Alcobaça furaram em vários lados, fizeram tremer zonas residenciais, perfuraram em zonas agrícolas, e por último no mar em Aljezur o que irá por em risco o nosso turismo bem como meio ambiente. Não sei se com algum ganho, pois os ganhos tirando os gastos, também reportados, o estorno para o Estado português e, uma vez que não temos condições para a própria exploração, logo os galifões mundiais assentarão arraiais de onde levarão a maior parte do lucro, de nada servindo a boa experiência Norueguesa ou da Doença Holandesa, que de má memória foi convertida a tempo e não se transformou em pandemia.

“Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome.”
Mahatma Gandhi

Um abraço caseiro para todos os camaradas
Dia 28/04/2020
45.º dia de confinamento e com muito tempo ainda pela frente.
Juvenal Amado
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20925: 16 anos a blogar (9): Independências - Parte I (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR)

11 comentários:

Anónimo disse...

Interessante análise meu Caro Juvenal.

“Quando o dinheiro entrava a rodos teria sido muito mais barato criar infra-estruturas como redes de esgotos,água,habitação e emprego,sistemas de saúde......”

Quase julguei que te estavas a referir ao Portugal do Sr.D.Joao V aquando do incrível influxo de riqueza vindos do Brasil e restantes colónias
Ficou-se pelo Mosteiro de Mafra, e grandiosas embaixadas ao Papa e outros potentados europeus,pouco mais.
Mas como a partir do ano de 1730 o nosso querido Portugal se tornou numa verdadeira colonia da Inglaterra lá se acaba por efectuar a ligação ao teu interessante texto.

E,se juntarmos “a criação de uma pensão mínima para os camponeses” lá acabamos de somar na lista de quando havia (!) dinheiro a política social da ditadura salazarista.
Só que,mesmo essa tão reduzida pensão para os camponeses,apesar das riquezas coloniais,só chegou bem tarde,no reinado do ditador que lhe sucedeu.
E lá estou eu a divagar entre colonizados de ontem e hoje cuja diferença única será a cor da pele.
Alguns nunca aprendem.

Um abraço do J.Belo

Valdemar Silva disse...

O meu filho, há uns anos, perguntava-me a propósito do Tratado de Tordesilhas qual a razão dos castelhanos Cortez , Pizarro e cia. conseguiram entrar e 'civilizar' em toda América, com excepção do Brasil, da Patagónia à Califórnia e do Atlântico ao Pacifico e durante alguns séculos sacaram o 'el dorado', e os portugueses apenas conseguiram entrar numas pequenas regiões de África e só sacaram o trato dos escravos e no oriente asiático sacaram o comércio da especiarias por pouco tempo até à chega dos holandeses.
Lembro-me de ter respondido, de Portugal ser um pequeno país com pouca gente e muito fizemos nós.
Mas os holandeses também, teria ele respondido.
Pois...

Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Meu caro Valdemar Queiroz

Sem dúvida que os holandeses também eram um país bem pequeno.
Mas de um modo que se pode considerar hoje quase incrível os judeus e cristãos novos expulsos de Portugal e que lá foram recebidos quase de braços abertos,vieram a ser a eficiente base de ligações,contactos economicos,e principalmente administração adequada,que vieram a possibilitar a expansão do império holandês.
O Portugal de então não “necessitava”de tais indivíduos no Reino.
O Portugal de sempre tem infelizmente afastado tantos e tantos que,a seu modo,têm vindo a contribuir,tanto na cultura,riqueza,como na investigação científica .
Só nos Estados Unidos de hoje os exemplos desses portugueses deveriam criar-nos exaltados orgulhos nacionais.
Sendo eu um português que escolheu viver fora de Portugal há mais de quarenta anos muitas vezes me pergunto porque não conseguirão estes nossos concidadãos os mesmos êxitos na Pátria?
Lamentavelmente creio não ser a economia a única razão.

Um abraço do J.Belo

Antº Rosinha disse...

Ai Juvenal, se os pais do PAIGC e MPLA te ouvissem, não iam gostar nadinha do que falas, pois eles (estudantes do império e da sanzala) garganteavam que saberiam governar aquilo muitíssimo melhor do que o portuga, que nem a sua terra sabiam governar.

Mas ainda estão aí alguns vivinhos, só que não te ouvem, Pedro Pires, o pai da Isabel dos Santos e poucos mais, mas estão aí as numerosas proles de todos os dirigentes espalhados por essas capitais europeias especilmente em Lisboa.

Só que ninguém se digna em nos ler.

Aí talvez ficassem de alguma maneira aliviados, pois que a exploração das riquezas, segundo o que escreves, foram terceiros, não são eles os responsáveis.

Valdemar Silva disse...

Exactamente José Belo. É isso mesmo.
Como curiosidade, o meu filho vive na Holanda há cerca de vinte anos, foi para lá trabalhar e por lá constitui uma família de luso-holandeses, e certo dia organizaram uma das muitas e habituais festas no quintal, quando apareceu um casal convidado que pediu desculpa por chegar um bocado atrasado. Chegaram agora de Portugal teria dito a minha nora, ao que o meu filho lhes teria respondido, em português, estar a perceber o atraso, por Portugal ficar quase a 2.500 km de lá. E houve um silêncio geral por, a não ser um dos meus netos, ninguém percebeu o que ele lhes disse.
Afinal o tal casal tinha chegado de Poortugaal, pequena localidade perto de Roterdão.
Poortugaal (vogais dobradas para abrir a pronúncia) foi fundada no séc. XVI por comerciantes portugueses da região de Tomar, que tem no seu brasão as cinco quinas bem representadas e no cemitério local haver várias campas com inscrições de 'Tempelares'. Provavelmente seriam comerciantes judeus, que para lá mudaram devida a perseguições religiosas tal como já tinham feito muitos outros, incluindo os pais de Espinoza. É interessante verificar que dentro das cinco quinas, em vez das chagas de Cristo aparecem estrelas de David.
Tem sido sempre assim ou longo dos tempos, por várias razões muitos portugueses foram expulsos ou abandonaram Portugal para procurarem melhor vida.

Um abraço, bons petiscos e ainda estamos à espera de saber como é que se escreve 'mulher' aí para esses lados nórdicos e o que tem de comum com uma forte/bela palavra do nosso norte.

Valdemar Queiroz
para esses

Valdemar Silva disse...

'para esses'. Apareceu escrito não sei porquê.

Valdemar Queiroz

Juvenal Amado disse...

Não nos admiremos meus caros camaradas
A nossa entrada na CEE, foi precedida de mais ao menos do mesmo mal.
Portugal também foi inundado com dinheiro. As Fábricas de cerâmica ( mas aconteceu em todos os ramos) por exemplo que é o que conheço mais de perto, a produção passou para segundo plano e algumas foram criadas só para dar cursos de formação profissional. Assim as empresas recebiam uma quantia por formando, que para além de terem um uma carga horária de algumas horas de aulas, eram depois empregues na produção normal como se estivessem só a aprender. Sempre dava para uns botões.
Era obrigação contratual que as empresas garantissem o emprego findo o curso . Ora penso que ninguém cumpriu. O assunto arrastou-se em tribunais e por as empresas faliram e acabou-se a estória.
Mas muito desse dinheiro foi gasto a comprar quintas, cavalos, férias com as amantes no estrangeiro, casas na praia, carros de alta cilindrada e foi ver os filhos começaram a chegar ao secundário a conduzirem algumas bombas daquele tempo.
Na entrada para a moeda única acontece exactamente o mesmo. Os preços passam a ser artificiais em função do Euro. No dia a seguir uma alface quem antes pediam na praça 1 escudo passou a pedir 1 Euro mas os ordenados ficaram na mesma e quem ganhava 100 mil escudos passou a ganhar 500 euros para enfrentar um custo de vida cada vez mais caro.
Mas tão mais grave foi o abate da nossa frota pesqueira, foram o jovens agricultores que só receberam subsídios para que estes fossem consumidos , foi a nossa produção destruída em prol da importação de bens essenciais que antes se produzíamos cá.
Segundo li só somo auto-suficientes em leite (embora os produtores tenham sido multados por isso no passado) mas mesmo assim são importados milhões de litros.
Quem vai a um super-mercado vê bem qual a prática de quem faz anúncios nas TV,s para que consumam produtos portugueses, quando nas bancas toda a fruta ou praticamente toda é importada.
Mas o que digo no meu texto é que aconteceu aos novos países africanos foi que eles foram cercados e quem lá mandava antes continuou a mandar. Ora nós só servimos para lá ir bater com os costado no fim foram sempre as grandes companhias que lá mandaram.
Mataram os dirigentes que não alinharam tentaram separar os territórios mais ricos.
Quem beneficiou com isso? Inglaterra, França, Estados Unidos, Bélgica contas offeshore traficantes de armamento etc, ruiu tudo à sua volta mas nos interesses deles ninguém mexeu . As guerras civis existem porque eles as querem e acabam quando elas decidem acabar.
O Rosinha diz que os dirigentes nacionalistas ficavam chateados com este meu texto.
É possível mas ninguém faz o caminho sem o percorrer.
Possivelmente alguém estará do lado dos espanhóis quando dizem que Portugal não tem razão de existir como país independente e não ficam chateados que um país com quase 1000 anos seja considerado por grande parte do Mundo como sendo parte da Espanha?
O colonialismo é um crime, a auto-determinação dos povos é um direito, mas ninguém deixou que fosse assim e nós, sabemos quantas vezes perdemos e recuperamos a nossa.

E quanto à Holanda restam algumas duvidas que escolheram o mercado e nós a beatice?

Valdemar Silva disse...

Juvenal, tudo muito bem.
O dinheiro que veio da CEE para a formação foi um fartar vilanagem.
Houve alguma utilidade a acudir aquele franja de jovens dos 18 anos sem emprego e sem escolaridade, subsidiando Centros de Formação com escolaridade e formação profissional e realmente muitos poucos ficaram empregados, mas durante um/dois anos estiveram ocupados e sempre aprenderam alguma coisa.
O pior foram as 'grandes jogadas' com lucros de milhares e situações caricatas ao ponto de se adquirirem barcos inutilizados e, depois, sacarem um subsídio por ter sido abatido à frota pesqueira.
Essa de Portugal ser a Espanha foi difícil de publicitar, a nível internacional, que Espanha e a Ibéria não são a mesma coisa. Tenho um envelope enviado dos EUA para uma empresa em Lisboa, nos anos de 1970, que dirigia para uma Rua em Lisboa, Portugal e por baixo (Espanha). Julgo que quem a escreveu convenceu-se que tinha que ser endereçada para cá chegar, mas isso acontecia principalmente com a correspondência vinda dos EUA, por eles serem burros.
Quanto à questão da Holanda, as suas Companhias das Índias, pese embora formadas por gente religiosa (na maioria protestantes e judeus), eram sociedades capitalistas e nunca se importaram por onde se fixaram com questões religiosas.

Ab. e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Infelizmente,não só nos States como em muita Europa do Norte,em noticiários políticos ou referências mais culturais,a ideia Ibérica é usada,e abusada,como um meio de .....”aprofundamento “ localizativo “.
E lá surge o tal Lisboa/Portugal/Espanha nos envelopes postais por vezes enviados dos States.
(Mas experiências piores para os nossos egos de representantes de um país universal já me sucederam algumas vezes inesquecíveis quando o interlocutor ao ouvir-me dizer “Portugal” me perguntou: Fica na Europa?
Mais “inesquecível “ pelo facto de quem perguntou não o ter feito em situação de “gozar” com este pobre lusitano.)

Concordo com Valdemar Queiroz quando escreve:”......eram sociedades capitalistas e nunca se importaram por onde se fixaram com questões religiosas”.
Diria eu que,para eles as questões religiosas não tiveram as bases teológicas de cruzada missionária como as Ibéricas.
Mas que antes foram as bases fundamentais dos seus êxitos comerciais e ,principalmente ,financeiros.
No caso do estabelecimento de colónias nos actuais Estados Unidos da América as afinidades religiosas não foram de modo algum tão periféricas como em outras paragens.

Um abraço do J.Belo

Manuel Luís Lomba disse...

Juvenal: manifesto o meu apreço pela tua narrativa, extensivo aos comentários que suscitou.
Os países nórdicos têm um subsolo rico, mas a sua sua maior riqueza residirá sobre o seu solo: a educação. Levaram quase 100 anos de avanço relativamente a nós.
O seu sucesso económico-social assentará na sua Democracia. Assimilaram e desenvolveram todas as transformações da Humanidade sem revoluções nem rupturas de regime constitucional.
No tocante à "nossa" Guiné, no meu tempo de tropa (em 1966), a petrolífera Esso de Rockefeller fez prospecção de petróleo, no Biombo, e terá selado os furos por falta de quantidades economicamente rentáveis.
No referente ao bauxite, fonte de alumínio, abundante nas duas Guinés, quando andei por lá em actividade económica, vai para 40 anos, dizia-se em Bissau que Amílcar Cabral havia obtido o armamento de última geração (e os MIG´s?) celebrando um acordo da sua exploração e escoamento com a Rússia, a troco dum porto comercial e militar a construir por esta potência nas águas profundas de Buba.
A Guiné-Bissau está a fazer o caminho para acabar absorvida pelo Senegal e pela G-Conacri?
Nesse meu tempo de tropa comentava-se que se em 1961 Portugal tivesse entregue a Guiné ao PAIGC, não demoraria 2 anos a ter de nos mandar para lá, a combater a seu lado desse partido pela sua independência, contra essa anexação.
Dias antes do seu assassinato, um jornal (creio que de Argel) inseria um artigo de Skou Touré, reincidente na crítica a Amlcar Cabral, pela sua teimosia em investir no ensino da Língua portuguesa nas escolas das "áreas libertadas"...
Quando do golpe militar de António Indjai, o nosso camarada Francisco Henriques da Silva, embaixador de Portugal em Bissau na crise de Ansumane Mané, disse, num evento no Palácio da Independência, que essas tinham o dedo da França e concluiu que a desestabilização na obedecia a desígnio desse país.
A verdade é que, na Guiné, a Língua portuguesa tem perdido a favor da francesa.
Abr.
Manuel Luís Lomba

Anónimo disse...

Muito interessante comentário meu Caro Manuel Lomba.

Quando se refere a sociedade sueca não se pode esquecer que (também) não participaram em qualquer guerra nos últimos 206 (!) anos.
Nenhum outro país europeu o poderá afirmar.
Apesar de este facto levar internacionalmente a ilações menos verdadeiras,como a confundir esta atitude política-econômico-intereseira com pacifismos subjacentes que,em verdade, não existem na História sueca.
Basta olhar-se a Suécia dos séculos XVI e XVII no seu domínio,que se poderia considerar colonial,dos seus vizinhos escandinavos e de todo o lado oriental do Báltico.
Quanto às revoluções,viveram-ser momentos fortemente pré revolucionáriios no início do século passado quando a Social Democracia se estabelecia no Reino.
Alguns desses “momentos” bastante violentos,tanto por parte dos manifestantes e suas organizações como por parte das forças de ordem governamentais (incluindo forças do exército usadas para restabelecer a ordem pública).

Já agora,um facto interessante da política interna sueca, pouco conhecido internacionalmente,mas que muito diz quanto aos pragmatismos nórdicos.
Quando o Social Democrata Olof Palm era Primeiro Ministro foi-lhe perguntado em conferência de imprensa o porquê de,estando estipulado nos estatutos do seu Partido a abolição da Monarquia está diretiva política nunca fora aplicada pelos sucessivos governos Social Democratas que então dispunham de muito confortável maioria Parlamentar?
Olof Palm ,depois de olhar demoradamente para o jornalista “provocador”, pegou numa folha de papel em branco que estava sobre a secretária e disse: Para tal chega esta folha de papel em branco e... uma assinatura!
Mas é tendo em conta os resultados dos plebiscitos posteriormente efectuados quanto à possibilidade de a Monarquia vir a ser substituída como representante da Suécia,o tal pragmatismo mais uma vez se fez sentir.
Em anos diferentes ,os resultados dos votos dos cidadãos foram de 86% e 94% a favor da continuação da Monarquia.
E,tendo em conta que os maiores Partidos suecos dificilmente ultrapassam os trinta e tal por cento,compreende-se que a Monarquia ainda por aqui esteja longo tempo.

Um abraço do J.Belo

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