domingo, 26 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20905: Blogpoesia (674): "Sobre o Vinte e Cinco de Abril", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) este poema sobre o 25 de Abril:


Sobre o Vinte e Cinco de Abril

Receio bem que as gerações nascidas depois do vinte e cinco de Abril nunca cheguem a dissipar as névoas, tendenciosas que toldam, intencionalmente, esse acontecimento.
O Cavalo de Troia que o trouxe foi aquele minúsculo movimento de capitães, de carreira, por uma causa muito particular e interesseira, a de se libertarem da sina de se verem a arriscar a vida em comissões sucessivas a caminho de África.
Eu residia com minha família, de três filhos, em Almada e trabalhava em Lisboa.
Assistimos a tudo na cratera do vulcão.
Depois de regressar da Guiné e de ter tirado a ferros, o curso de Direito.
Rapidamente o movimento dos capitães foi subalternizado pelo movimento marxista internacional.
Viu nele a oportunidade de cravar aqui em Portugal uma outra versão da experiência cubana.
Vi chegar a Santa Apolónia, dum dia para outro, o líder Álvaro Cunhal.
Vindo de Moscovo.
Mário Soares. De Londres ou Paris.
Cada qual com interesses políticos antagónicos.
Cunhal, pró-soviético, colectivista;
Soares, pró Ocidente, capitalista. Do livre mercado e da democracia.
Extremaram-se as posições. Em movimentos contrários.
Um verdadeiro tsunami político-social.
Aceleradamente se desencadearam saneamentos das cátedras e das altas patentes das estruturas militares.
Uma onda de ocupações selvagens, das empresas mais poderosas; a reforma agrária selvagem irrompeu devastadora.
Os canais da TV e da Rádio foram ocupados.
Anunciou-se a perseguição religiosa.
As universidades pararam. Desertas de docentes capazes.
O MRPP insolente, escavacou num instante uma série dessas faculdades.
Quem estava no fim dos seus cursos superiores ficou perdido, sem saber o que fazer.
O País ficou partido ao meio: A fronteira, guardada a fogo, era Rio Maior.
Estancaram os mantimentos para Lisboa.
Havia que secar as praças e mercados. Vi o da Ribeira sem nada nas bancas.
Houve famílias com miúdos pequenos, que fugiram para a província.
Eu fui um deles.
Tentei emigrar para o Canadá e os serviços da política não me deixaram.
Foi um período muito turbulento que se implantou.
Foi o Vinte e Cinco de Novembro, com Ramalho Eanes e um grupo patriota de militares conseguiu clarear e inverter a supremacia comunista.
A partir da sua vitória, muito lentamente o País foi voltando ao normal.
Outro facto político de tremenda importância foi a chamada descolonização.
Depois de 13 anos de sacrifício não houve família que não visse partir para a guerra de África algum dos filhos.
Quantos por lá ficaram para sempre.
E é de ressaltar que a guerra do ultramar estava práticamente sobre controle.
Em Angola, Moçambique e na Guiné.
Havia prosperidade e progresso crescentes. Reais. Sobretudo nas duas primeiras.
O Governo estava a estudar instituir uma União ou Confederação das províncias ultramarinas com a metrópole.
As potencialidades desta fusão de interesses, respeitadores dos interesses nacionais, era enormes.
Mas, a gula dos países europeus ocidentais ficou embriagada com a hipótese de entrarem gratuitamente em África, para lhe sugarem as riquezas.
Rapidamente, o poder políticos passou para as mãos glutonas desse países oportunistas.
As populações "brancas" residentes e que já viviam bem, viram-se abandonadas pelas nossas forças militares.
E, depois, foi a debandada. Aquele movimento escabroso de aviões em cortejo a despejarem retornados com seus caixotes. O cais, desde a Ribeira até lá longe, ficaram a rebentar com tanto caixote.
Os retornados que trabalhavam na banca e nas funções públicas entraram, e bem, para os quadros. Entupindo por dezenas de anos as carreiras de quem cá estava.
Desenvolveu-se um certo confronto e hostilidade entre ambas as partes.
De realçar também que o Governo nacional estava a desenvolver uma reforma administrativa profunda.
A legislação fundamental, Constituição incluída, foram revistas em pontos muito importantes. Implantando uma igualdade de cidadania real.
Entre homens e mulheres. Em todos os sentidos.
Tudo ficou paralizado e sujeito ao vendaval das facções políticas.
Esta visão, tudo isto, foi ocultado e desvirtuado às novas gerações.
Creio bem que quem hoje tem para baixo de cinquenta anos já não vai ter tempo de dissipar as nuvens de desinformação que lhes meteram na cabeça...

Mafra, 25 de Abril de 2020
10h23m
Jlmg
____________

Nota do editor

Último poste da série de 19 de Abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20873: Blogpoesia (673): "Grande buraco", "Está posta a mesa" e "Seguramente, vem...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

17 comentários:

Valdemar Silva disse...

Mendes Gomes, também há o poema 'As Portas que Abril abriu', do Ary dos Santos.
É um poema longo, como longos foram os outros tempos.

Ab. e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Caro Mendes Gomes

A análise política "Sobre o Vinte Cinco De Abril" será a sua, assim como a de muitos.
Outros tantos näo faräo análises semelhantes,nem tiraräo as mesmas ilacöes.

A História sempre se escreveu, e certamente continuará a escrever-se,segundo as perspectivas dos historiadores.
Felizmente que,fora das ditaduras,estas divergem.
Seria muito limitativo o considerarmos as nossas maneiras de analisar os acontecimentos como que quase "iluminada" frente ás opiniöes e perspectivas de outros.
Näo quero de modo algum afirmar ser esse o caso quanto ao seu texto, pois säo as suas opiniöes e como tal devem ser respeitadas.
Näo sendo as minhas, que me seja permitido frontalmente discordar.

Mas,e quanto ás razöes originais do Movimento dos Capitäes, trata-se de factos e näo de opiniäo .
Este Movimento surgiu das reivindicacöes de tipo "corporativo/militar" quanto ao conflito futuro a ser criado por promocöes em Quadro paralelo ao Quadro Permanente de Oficiais das F.Armadas.
As restantes(!) reivindicacöes foram levadas por alguns,posteriormente(!) para o interior do Movimento.
Aproveitando este facto, alguns rapidamente compreenderam que, ao embrulharem-se em tais bandeiras,criavam uma imagem pública muito diferente e...conveniente para alguns políticos que pairavam nas sombras envolventes dos mais ingénuos,ou ignorantes.

Abr. J.Belo

António J. P. Costa disse...

Caro Camarada

Também eu "receio bem que as gerações nascidas depois do vinte e cinco de Abril nunca cheguem a dissipar as névoas, tendenciosas que toldam, intencionalmente, esse acontecimento". É mau que tal suceda.
Todavia gostava de recordar que em História - e é de História que falamos - os facto têm causas: muito ou menos remotas, mais ou menos próximas e causas-pretexto.
Foi o que trouxe aquele "minúsculo movimento de capitães, de carreira, por uma causa muito particular e interesseira, a de se libertarem da sina de se verem a arriscar a vida em comissões sucessivas a caminho de África". Por mim, já estava farto de levar comigo ou ver embarcar contingentes de militares - meus concidadãos - que, normalmente, não sabiam ao que iam, se queriam e se os sacrifícios que iam fazer valiam a peno. E se soubessem iriam?
Por mim já sabia que perderia em dois tabuleiros: perante os meus concidadão que me acusavam de os levar para a guerra (perdida ou no marasmo) e perante os que para lá me mandavam que não tinham por mim (e por quem ia) o mínimo respeito.
Quanto ao tal "Cavalo de Tróia" nunca o vi e nem sei se existiu.

Eu residia em Coimbra. Daí que só me fosse possível ver as coisas pela TV, felizmente ainda sem censura (sub-liminar) e manipulação, como actualmente.

"Rapidamente o movimento dos capitães foi subalternizado pelo movimento marxista internacional"? Estes factos aconteceram porque havia condições para tal.
É o conflito Oeste-Leste no qual já tínhamos participado, como interpostas pessoas. Aí não pode haver dúvidas.

Vi pela TV chegar a Santa Apolónia, [...] o líder Álvaro Cunhal, vindo de Moscovo e o Mário Soares de Paris. Cada qual com interesses políticos antagónicos, como era fácil de ver... Por isso, extremaram-se as posições e movimentos contrários". Veio à superfície o nosso valor estratégico no conflito latente, mas sempre vivo, ao tempo.

A CIA -leia-se EUA - só se pode queixar de si própria. Em vez de se impor a tempo e forçar uma solução politicamente negociada "deixou correr o marfim". Por isso teve que empatar aqui um dos seu pesos pesados, como viemos a ver. E até já vi celebrar!...

António J. P. Costa disse...

Volto à antena
Aceleradamente se desencadearam saneamentos (normalmente bem necessários) das cátedras e das altas patentes das estruturas militares. Em relação à academia de Coimbra, basta recordarmos das crises de 69 e 73.
Em relação à hierarquia militar não se poderia permitir o retrocesso. A chegada do Gen. Spínola pôs em evidência a decrepitude (principalmente mental) e incompetência dessa mesma hierarquia que sempre se tinha "conformado" para sobreviver e passar o tempo. Não estava só! O povo também jogava nisso sempre que era "solicitado" a "cumprir o dever patriótico". Se calhar enganavam-nos uns aos outros... Quando assim é, perdemos todos.

Uma onda de ocupações selvagens das empresas mais poderosas? Sim! O capitalismo tem regras e, na maior parte dos casos as falências era inevitáveis, como se viu depois quando as empresas caíram com o fim da guerra. Exemplo a Marinha Mercante: velha cara e sem resposta às necessidades do país. Ainda hoje assim se mantém.
Quanto à "reforma agrária selvagem", para além de mais uma demonstração de folclore revolucionário temos que convir que os grandes latifúndios estavam falidos e ninguém procurava alternativas, seguros de que assim fora e assim continuaria a ser. Só há poucos anos surgiram alternativas.

Havia apenas um canal de TV que foi disputado, como era de prever. As Rádios também nomeadamente a da Igreja que tinha uma "missão" a cumprir e que nada tinha a ver com a religião. Como viemos a ver na fundação da "4", hoje TVI.

Anunciou-se a "perseguição" religiosa. É um facto que a Igreja se pôs a jeito, salvo raras e honrosas excepções. Basta vermos a actuação dos capelães militares e a pouca acorrência dos jovens aos seminários e as múltiplas desistências. A Igreja tapava o Sol com a peneira...

"O MRPP insolente, escavacou [...] uma série dessas faculdades"? Fez o seu papel!
Porém, lembro que o grande "comentador" Marcelo R. de Sousa recordou que o MRPP foi uma boa "escola de políticos" que hoje andam por aí, brilhando como comentadores, deputados, fiscalistas, juízes, primeiros-ministros que vão às reuniões internacionais servir cafés e vêm o que não existe e depois se passam para o "capitalismo mais desenfreado"
Quem estava no fim dos seus cursos superiores ficou perdido, sem saber o que fazer? Aqui poderia dizer que deveria ter-se defendido do que estava a suceder, mas prefiro constatar que, quanto maior fosse o granel, nos sítios que interessava, melhor. No fundo, era necessário criar condições para o ensino privado nas áreas do "papel e lápis" que é que melhor (de)forma os políticos "que interessam".

António J. P. Costa disse...

E pela 3.ª vez
Não me lembro de terem estancado os mantimentos para Lisboa. "Se havia que secar as praças e mercados. Vi o da Ribeira sem nada nas bancas", tudo fazia parte do granel a criar...

"Houve famílias com miúdos pequenos, que fugiram para a província"?
Há sempre, mas não creio que esse êxodo seja por causa das crianças.
Hoje continua a haver gente a emigrar para fora da "zona de conforto" e depois é cumprimentado pelo PR devido ao seu desempenho profissional. E os serviços da política incentivaram-no!...

Foi realmente "um período muito turbulento que se implantou". Não tenho conhecimento de drásticas modificações político-sociais - muito necessárias e urgentes - feitas por decreto estudado e intensamente debatido. Mas deve porque ando cá há pouco tempo...

O Vinte e Cinco de Novembro, com Ramalho Eanes e um grupo patriota de militares conseguiu clarear e inverter a supremacia comunista. Talvez, mas eu não creio que os soviéticos viessem a correr pela Europa fora com uma foice numa mão, um martelo na outra e uma estrelinha vermelha (de preferência) no alto da cabeça. O conflito Leste-Oeste nunca se materializaria assim. Além disso, os tempos eram outros.

Outro facto político de tremenda importância foi a chamada descolonização? Confirmo. No fim, tudo girava à volta da questão colonial que o regime nunca tentou (sequer) resolver.
Depois de 13 anos de sacrifício não houve família que não visse partir para a guerra de África algum dos filhos. Lamento e confirmo. Infelizmente
Quantos por lá ficaram para sempre? Mais de 8000, fora os feridos, como o camarada sabe. Há aqueles a quem falta um bocado do corpo ou do espírito ou os que ficaram deformados também no corpo ou na alma. Creio que há uma contabilidade feita. É só ler e acrescentar 10% para compensar imperfeições de cálculo.

E é de ressaltar que a guerra do ultramar estava praticamente sob controle?. As guerras não controlam. E ao fim de 13 anos ou se ganham ou se perdem

No que à Guiné diz respeito, o camarada sabe que não era assim. Em Moçambique, sabemos agora que em Abril de 74 cerca de 27% do pessoal em rendição individual ou em unidades estava em "mata-bicho". Solução: subir o tempo de permanência para 30 meses ou aumentar o contingente incorporado forçando o "potencial humano" da nação para além do seu limite.

António J. P. Costa disse...

E a 4.ª vez
E em Angola, já sabemos que MPLA só tinha quadroS, não tinha militantes, o FNLA não existia e a UNITA estava sob o controlo da PIDE. Então para quê continuar a aumentar o efectivo presente? É difícil de explicar, mas...

Havia prosperidade e progresso crescentes? Onde? Talvez houvesse, mas não muita.
O Governo "estava a estudar". instituir uma União ou Confederação das províncias ultramarinas com a metrópole. Estranho governo este que necessita de 13 anos de guerra para estudar um assunto... E ainda por cima com uma União ou Confederação, depois de ter verificado que todas as soluções deste tipo tinham falhado... Nunca é tarde para aprender.
As potencialidades desta fusão de interesses, respeitadores dos interesses nacionais, eram enormes? E ninguém via isto? O povo é mesmo estúpido!
Mas, a gula dos países europeus ocidentais ficou embriagada com a hipótese de entrarem gratuitamente em África, para lhe sugarem as riquezas. As democracias europeias sempre varreram a questão do colonialismo português para baixo do capacho. E se não se implantavam lá era porque os portugueses não deixavam. Coitados destes portugueses que assim impediam o progresso que os outros tinham possibilidade de fazer e eles não eram capazes. Egoísmo ou estupidez?
E agora as tais potências europeias iam perder uma oportunidade? A política não é Casa do Padre Américo! Mesmo assim perderam-na, mas por outras razões.
O poder políticos passou para as mãos glutonas desse países oportunistas? Já disse que não são contas do meu rosário, mas acrescento nunca esperei que a miséria atingisse estes níveis. De qualquer modo quem lutou (tanto tempo e com tanta violência) para atingir estes objectivos, se não tem competência, não se estabelece.

As populações "brancas" residentes e que já viviam bem, viram-se abandonadas pelas nossas forças militares. "Já" vivia bem? Mas alguma vez viveram mal, especialmente se comparadas com as populações "pretas"? Viram-se abandonadas? Evidentemente. A situação não poderia eternizar-se e os exemplos dos outros países de África não eram eloquentes? Era só prever e precaver-se.
A "debandada" tinha que suceder. Porém alguém foge de alguém por alguma razão, Era bom aprofundarmos esta questão.
Aquele movimento "escabroso" de aviões em cortejo a despejarem retornados com seus caixotes, foi a possível solução para uma guerra civil e racista que se avizinhava e já tinha sucedido noutros países.
O cais, desde a Ribeira até lá longe, ficou a rebentar com tanto caixote? Eram as célebres "camisinhas" que traziam na pele...
"Os retornados que trabalhavam na banca e nas funções públicas entraram, e bem, para os quadros. Entupindo por dezenas de anos as carreiras de quem cá estava". Parabéns camarada! Esta expressão fala por si.

António J. P. Costa disse...

Esta é a última
Desenvolveu-se um certo confronto e hostilidade entre ambas as partes? Era de calcular, não?
De realçar também que o Governo nacional estava a desenvolver uma reforma administrativa profunda? Como se impunha, não é verdade?
A legislação fundamental, Constituição incluída, foram revistas em pontos muito importantes, implantando uma igualdade de cidadania real, entre homens e mulheres e em em muitos outros sentidos. Parece-me que estas medidas vão no sentido certo. Digo eu...
Tudo ficou paralisado e sujeito ao vendaval das facções políticas. Mas parece que cedo começámos a andar...
"Esta visão, tudo isto, foi ocultada e desvirtuada às novas gerações"? Se foi não deveria ter sido. A verdade não se deturpa. É feio, mau e a "mentira tem perna curta".
"Creio bem que quem hoje tem para baixo de cinquenta anos já não vai ter tempo de dissipar as nuvens de desinformação que lhes meteram na cabeça..."
Infelizmente. E quanto mais lhe fornecerem facto deturpados ainda será mais difícil

Um Ab para todos
António J. P. Costa

PS: Foram 5 comentários, mas a culpa é do blog

Hélder Sousa disse...

Caros camaradas

Acho que já por aqui escrevi algumas vezes que não sendo capaz de apreciar devidamente a poesia tenho, normalmente, uma "boa leitura" dos poemas do J. L. Mendes Gomes acrescentado ainda o bom gosto musical sugerido e até, também, a referência aos locais da escrita, nomeadamente os de Mafra.

Mas neste caso, em que o poema se transforma numa manifestação histórica reprovativa do que o Autor considera ser a "versão oficial", suportada pelas "visões" e conceitos (ou preconceitos) do autor, certamente legítimos por serem os dele (se bem que "aqui e ali" parecem ser ecos do que comummente é utilizado por "certos" meios) mas com os quais não concordo, apenas refiro que registo essas visões como as do JLMendesGomes.

E aproveito para, encurtando razões, subscrever a quase totalidade das observações que o António J P Costa desenvolveu nos seus 5 comentários.

Hélder Sousa

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Faço minhas as palavras do orador anterior.
Aconselho o autor dos poemas a deixar o verso branco.
É pobre, pois a rima e a métrica ao mesmo tempo que se transmite um ideia é mais complicada, porém mais rica. Mas cada um faz o que pode e sabe.
O conselho musical e enológico têm muito valor.
Um Ab.
António J. P. Costa

Valdemar Silva disse...

Com muito respeito pelos princípios e regras do nosso blogue não permitir opiniões de politica partidária, sobre este poema de Mendes Gomes apenas critico uns pormenores dos seus versos.
Naqueles tempos da falta de comidinha nos mercados, em Lisboa, no da Ribeira não sei mas no do Chile nunca faltou o nosso querido bacalhau.
Também nunca, talvez por imposição da censura, a população portuguesa foi informada da tal Confederação, calhando pela Guiné, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Macau e Timor não saberem o que lhes fazer ou de ter de continuar a enviar os milhares de rapazes para manter Angola e Moçambique fora dos glutões europeus, na época Portugal não pertencia à Europa, durante quantos mais anos.
Não achei muito poético o Álvaro Cunhal chegar de comboio a Santa Apolónia, talvez por ter vindo de avião a Portela teria as sílabas mais apropriadas.
Nos belos poemas que Mendes Gomes tem escrito para o nosso blogue, não nos fazia pensar ter na gaveta este tão desbotado, que bem analisado até se pode considerar bolorento e sem a métrica poética.
Sobre o hipotético Terceiro Império padrevieirapessoano da Confederação, em 1967, quando na Especialidade CSM, em Vendas Novas, havia um instruendo como eu, natural de Moçambique mas loiro como um boer e conhecido atleta, que falava estar a ser organizada pelos USA uma 'espécie' de Estados Unidos da África Austral, de que fariam parte os países desde a África do Sul até ao 'paralelo' do Congo. Esta sua conversa era feita, para poucos de nós, sempre com muitas cautelas para evitar que outros ouvissem.
Resta-me pedir a Mendes Gomes mais poemas, mas não destes por serem demasiado político-partidários para os princípios obrigatórios do nosso blogue.

Cuidado com o vírus e lavem sempre as mãos.
Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Voltei a ler com a atenção merecida esta análise política do Abril de 74.
Independentemente de todos os outros detalhes de circunstância (nos States chamaríamos de “Sounbites”)escreve-se:

“O governo estava a estudar instituir uma União ou Confederação das províncias ultramarinas com a metrópole.
As potencialidades desta fusão de interesses,respeitadores dos interesses nacionais eram enormes”.

Coloca-se a pergunta: Que governos está a referir?
Do saloiismo iluminado da ditadura de Salazar?
O mesmo que recusou as ofertas dos aliados mais próximos e da União Indiana de uma possível Confederação com uma Goa independente?
A escolha entre esta possibilidade política e a triste total derrota militar foi evidente.
O governo da ditadura de Caetano?
O mesmo Caetano que não permite a Spinola negociar com Amílcar Cabral soluções políticas que (então!) ainda poderiam salvaguardar interesses de ambas as partes?
Porque,quer se goste,ou não,da ideia,estes políticos de iluminismos saloios imbuídos mais não eram que os representantes de uma”certa maneira de estar” de uma parte previlegiada da sociedade portuguesa de então.
Alguns dos que como eu foram educados por de traz dos altos muros de jardins de recatadas vivendas da “linha” talvez se sintam “classificados” em ambos os sentidos do termo(classe social/preparação educacional) para aqui recordar como exemplo “confederativo “ uma interessante situação surgida na Guiné,piscina e bar de Oficiais de Santa Luzia,quando um bem conhecido e medalhado Oficial guinéu dos Comandos Africanos se atreveu a convidar duas senhoras (também guineenses) a o acompanhar a tal local.
O escândalo imediatamente criado entre algumas das mui dignas esposas de alguns respeitáveis Oficiais das altas repartições militares de Bissau propagou-se como um fogo na mata seca.

Mais não será que um exemplo real da tão poética Confederação entre este tipo de “Nós “ e os pretinhos africanos...medalhados ou não!
Seria que em finais dos anos sessenta,início dos anos setenta,os brancos de Angola e Moçambique (os com influências e poder econômico) algo quereriam ter a ver com os brancos de Portugal?

Quando na sua análise política se refere a “névoas tendenciosas que toldam intencionalmente acontecimentos” esqueceu-se de referir as palavras de ordem das bandeirolas empunhadas por brancos em manifestações moçambicanas,como por exemplo as da cidade da Beira.
E repare que elas realizaram-se ANTES do Abril de 74.

Um abraço .
J.B.

António J. P. Costa disse...

Bom dia Camaradas

Já estou a ver o Mendes Gomes a poetar em versos brancos no bar de Mafra ou em Berlim, com um capacete m/43 e a ouvir as 4 estações de Vivaldi.
Por mim, não gosto de versos brancos. Preferia que escrevesse "prosa poética": textos de sensibilidade apurada e conteúdo profundo.
Prefiro "versos tintos" ou mesmo "palhetes" com rima e métrica. Dão mais trabalho mas são outro asseio.

Um Ab. e um bom dia sem "névoas tendenciosas"
António J. P. Costa

Anónimo disse...

Joseph Belo
28 abril 2020 14:04

Depois de a poesia ter sido,quanto a mim,demasiado evocada em comentários a este texto político sobre o 25 de Abril, aqui segue interessante análise feita pela escritora e poetisa Wislawa Szymborska em discurso aquando da aceitacäo do seu Prémio Nobel da Literatura.

".....quando preenchem documentos ou conversam com estranhos,ou seja,quando näo podem deixar de revelar a sua profissäo,os poetas preferem usar o termo genérico "escritor" ou substituir "poeta" pelo nome de qualquer outro trabalho que fenham além de o de escrever.
Burocratas, ou passageiros de autocarro, reagem com um toque de incredualidade (e alarme!) quando descobrem que estäo a falar com um poeta.

Creio que os filósofos enfrentam reacöes semelhantes.Estäo contudo em melhor posicäo pois na maioria das vezes podem ornamentar o seu ofício com algum tipo de título universitário.
Professor Doutor em Filosofia. Isso sim! Soa muito mais respeitável!

Mas näo existem professores em poesia. Afinal de contas,isso significaria que a poesia é uma ocupacäo que requer um estudo especializado,exames regulares,ensaios teóricos com bibliografias e notas de rodapé anexadas e,por fim,diplomas concedidos com pompa!
Isto significaria,em troca,que näo basta encher páginas de poemas,mesmo os mais primorosos do mundo,para se tornar um poeta.

O factor decisivo seria um pedaco de papel com um selo oficial!

Lembremos que Joseph Brodsky,orgulho da poesia russa e laureado com o Prémio Nobel,foi um dia condenado ao exílio no seu próprio país justamente com base nesta ideia.
Chamaram-lhe "parasita" porque näo possuía o certificado oficial que lhe assegurava o direito de...ser poeta!"
-------------------------------------------------------------------------------------------

Sendo admirador sincero dos teus poemas,e depois de toda a "porrada" (quanto a mim justa,mas..) levada por um camarada/poeta no blogue quanto à sua análise política-enevoada sobre o 25 de Abril....atrêvo-me a sentir quase teres a obrigacäo de publicar este texto quando o "ferro ainda está quente".

Um abraco.
J. Belo

Tabanca Grande Luís Graça disse...

José, publico com todo o gosto...

Não comentei o "poema planfletário" do J. L. Mendes Gomes (que tem pouco de poesia e muito de panfleto...) porque não posso abusar do meu papel de editor (equidistante das partes...), sem abdicar da função de leitor (crítico). De resto, apresentei-lhe, ao Joaquim, há uns anos, o seu primeiro livro de poesia, "As Baladas de Berlim"...Ele mora, a maior parte do tempo, em Berlim, com um filho ou uma filha e netos. E vez em quando refugia-se na casa de Mafra. É um bom camarada, que muito estimo, independentemente das suas leituras "politico-ideológicas" do que se passa neste mundo... (Quanto ao outro, abstenho-me porque nunca lá fui...embora esteja co(n)vidado.)

O teu texto será publicado, oportunamente, a seguir aos comentários do nosso cor art ref António J. Pereira Costa que embirra, solenemente,com a "poesia branca", ou seja, o verso livre...Está-me sempre a dar porrada, quando não escrevo sonetos ou quadras. Na calha também estão ocmentários que merecem honras de primeira página: o Valdemar Queiroz e o Hélder Sousa, por exemplo.

O melhor do nosso blogue é isso mesmo, a liberdade que (re)conquistámos no 25 de Abril, a liberdade de pensamento e de expressão: não estou a imaginar um blogue destes, em 1969/71... Fui jornalista, de 1964 a 1966, e sei o que é(era) a censura...

Acabo de comer mais ums favinhas suadas que valem um poema, uma carrada deles... Se estivesses mais perto, co(n)vidava-te para estes petiscos do restaurante "Chez Nous"... É a época das favas no nosso, meu/teu, "Oeste"... Sou doido por favas suadas... Estas são da horta da minha mana que, por sorte, mora aqui a 200 metros..

Cuida-te. Luís

PS - Como há muitos anos te disse, a única vez que fui à Suécia, foi justamente a Karlstad no final dos anos 80...Estive lá uma semana, num encontro internacional sobre "occupational health"... E lá conheci as tais suecas "híbridas", de cabelo escuro e olhos verdes-azulados... E até dancei num baile tradicional, as mulheres de um lado e os homens do outro. Guardo belíssimas recordações de Karlstad...no tempo que ainda imperava a "lei seca"... Uma cerveja, num bar, custava os olhos cara: 50 coroas, se não erro, dava então para comprar um caixote delas em Lisboa... No jantar de gala que o municíipio nos ofereceu fiquei ao lado com um dessas mulheres, atraentes, inteligentes e empáticas...

Juvenal Amado disse...

Bem Mendes Gomes

Deves ter feito este poema/analise a ouvir as Valquírias de Vagnwer. Só assim se consegue um efeito tão apocalíptico.

Um abraço

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes disse...


...

"Não comentei o "poema planfletário" do J. L. Mendes Gomes (que tem pouco de poesia e muito de panfleto...) porque não posso abusar do meu papel de editor (equidistante das partes...), sem abdicar da função de leitor (crítico).

De resto, apresentei-lhe, ao Joaquim, há uns anos, o seu primeiro livro de poesia, "As Baladas de Berlim"...Ele mora, a maior parte do tempo, em Berlim, com um filho ou uma filha e netos. E vez em quando refugia-se na casa de Mafra. É um bom camarada, que muito estimo, independentemente das suas leituras "politico-ideológicas" do que se passa neste mundo...

(Quanto ao outro, abstenho-me porque nunca lá fui...embora esteja co(n)vidado.)"

Este comentário do editor do blogue merece receber minha resposta.

- Qualificou de " o meu texto.panfletário"

O que se passa é que não estou enfeudado a nenhum partido. Os meus juizos saem só da minha cabeça.

Não faço propaganda de nada. Escrevi com objectividade.

Vivi como o editor os acontecimentos, por dentro. Os do ultramar e os da metrópole.

Cumpri o meu dever cívico de combater, com risco da própria vida. Nunca pensei em desertar.

Os acontecimentos do ultramar e os de cá ultrapassaram muito o que o movimento do 25 de Abril almejou.

Descolonização e o País retalhado foi uma realidade. A fronteira entre o norte e o sul passava em Rio Maior. O cerco a Lisboa foi uma realidade.

De resto, tudo do melhor. Para todos os camaradas do blogue.


Jlmg







Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes disse...



Ainda a crítica do editor do blogue sobre o que escrevi sobre o Vinte e Cinco de Abril:

- O texto não é um poema. É a minha posição sobre o acontecimento.

- Classificou-o de “ panfletário”.
Aqui, o editor foi muito infeliz e, desnecessariamente, ofensivo. Panfletário nunca fui nem serei…
Jlmg