terça-feira, 28 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20917: (Ex)citações (367): Contributos para uma análise crítica do poema (panfletário) "Sobre o 25 de Abril", de J. L. Mendes Gomes, o autor de "Baladas de Berlim" (2013) - Parte I: António J. Pereira Costa (cor art ref)

1. Comentários (uma meia dúzia), que agora se colam, contributos para uma análise ao "poema sobre o 25 de Abril" (*) do nosso camarada-poeta J. L. Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66), que vive entre Berlim e Mafra, e é autor do livro de poesia"Baladas de Berlim", Lisboa, Chiado Editora, 2013) 

[, foto à esquerda: António José Pereira da Costa, Cor  Art Ref (ex-Alf Art, CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-Cap Art Cmdt , CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74)]

Caro Camarada

(i) Também eu "receio bem que as gerações nascidas depois do vinte e cinco de Abril nunca cheguem a dissipar as névoas, tendenciosas que toldam, intencionalmente, esse acontecimento". 

É mau que tal suceda. Todavia gostava de recordar que em História - e é de História que falamos - os facto têm causas: muito ou menos remotas, mais ou menos próximas e causas-pretexto.
J. L. Mendes Gomes

(ii) Foi o que trouxe aquele "minúsculo movimento de capitães, de carreira, por uma causa muito particular e interesseira, a de se libertarem da sina de se verem a arriscar a vida em comissões sucessivas a caminho de África". 

Por mim, já estava farto de levar comigo ou ver embarcar contingentes de militares - meus concidadãos - que, normalmente, não sabiam ao que iam, se queriam e se os sacrifícios que iam fazer valiam a peno. E se soubessem iriam?

Por mim já sabia que perderia em dois tabuleiros: perante os meus concidadão que me acusavam de os levar para a guerra (perdida ou no marasmo) e perante os que para lá me mandavam que não tinham por mim (e por quem ia) o mínimo respeito.~

(iii) Quanto ao tal "Cavalo de Tróia"... nunca o vi e nem sei se existiu.

Eu residia em Coimbra. Daí que só me fosse possível ver as coisas pela TV, felizmente ainda sem censura (subliminar) e manipulação, como actualmente.

(iv) "Rapidamente o movimento dos capitães foi subalternizado pelo movimento marxista internacional" 

Estes factos aconteceram porque havia condições para tal. É o conflito Oeste-Leste no qual já tínhamos participado, como interpostas pessoas. Aí não pode haver dúvidas.

(v) "Vi pela TV chegar a Santa Apolónia, [...] o líder Álvaro Cunhal, vindo de Moscovo e o Mário Soares de Paris. Cada qual com interesses políticos antagónicos, como era fácil de ver... Por isso, extremaram-se as posições e movimentos contrários". 

Veio à superfície o nosso valor estratégico no conflito latente, mas sempre vivo, ao tempo.

A CIA -leia-se EUA - só se pode queixar de si própria. Em vez de se impor a tempo e forçar uma solução politicamente negociada "deixou correr o marfim". Por isso teve que empatar aqui um dos seu pesos pesados, como viemos a ver. E até já vi celebrar!...

(vi) "Aceleradamente se desencadearam saneamentos" [normalmente bem necessários...] "das cátedras e das altas patentes das estruturas militares". 

Em relação à academia de Coimbra, basta recordarmos das crises de 69 e 73.

Em relação à hierarquia militar não se poderia permitir o retrocesso. A chegada do Gen Spínola pôs em evidência a decrepitude (principalmente mental) e incompetência dessa mesma hierarquia que sempre se tinha "conformado" para sobreviver e passar o tempo. Não estava só! O povo também jogava nisso sempre que era "solicitado" a "cumprir o dever patriótico". Se calhar enganavam-nos uns aos outros... Quando assim é, perdemos todos.

(vii) "Uma onda de ocupações selvagens das empresas mais poderosas"...

Sim! O capitalismo tem regras e, na maior parte dos casos as falências era inevitáveis, como se viu depois quando as empresas caíram com o fim da guerra. Exemplo a Marinha Mercante: velha cara e sem resposta às necessidades do país. Ainda hoje assim se mantém.

(viii) Quanto à "reforma agrária selvagem"... 

Para além de mais uma demonstração de folclore revolucionário, temos que convir que os grandes latifúndios estavam falidos e ninguém procurava alternativas, seguros de que assim fora e assim continuaria a ser. Só há poucos anos surgiram alternativas.

(ix) "Os canais da TV e da Rádio foram ocupados."

Havia apenas um canal de TV que foi disputado, como era de prever. As Rádios também nomeadamente a da Igreja que tinha uma "missão" a cumprir e que nada tinha a ver com a religião. Como viemos a ver na fundação da "4", hoje TVI.

(x) "Anunciou-se a perseguição religiosa". 

É um facto que a Igreja se pôs a jeito, salvo raras e honrosas excepções. Basta vermos a actuação dos capelães militares e a pouca acorrência dos jovens aos seminários e as múltiplas desistências. A Igreja tapava o Sol com a peneira...

(xi) "O MRPP insolente, escavacou [...] uma série dessas faculdades"...

 Fez o seu papel! Porém, lembro que o grande "comentador" Marcelo R. de Sousa recordou que o MRPP foi uma boa "escola de políticos" que hoje andam por aí, brilhando como comentadores, deputados, fiscalistas, juízes, primeiros-ministros que vão às reuniões internacionais servir cafés e vêm o que não existe e depois se passam para o "capitalismo mais desenfreado".

(xii) "Quem estava no fim dos seus cursos superiores ficou perdido, sem saber o que fazer"...

 Aqui poderia dizer que deveria ter-se defendido do que estava a suceder, mas prefiro constatar que, quanto maior fosse o granel, nos sítios que interessava, melhor. No fundo, era necessário criar condições para o ensino privado nas áreas do "papel e lápis" que é que melhor (de)forma os políticos "que interessam".

(xiii) "Estancaram os mantimentos para Lisboa".

Não me lembro de terem estancado os mantimentos para Lisboa. "Se havia que secar as praças e mercados. Vi o da Ribeira sem nada nas bancas", tudo fazia parte do granel a criar...

(xiv) "Houve famílias com miúdos pequenos, que fugiram para a província"..

Há sempre, mas não creio que esse êxodo seja por causa das crianças. Hoje continua a haver gente a emigrar para fora da "zona de conforto" e depois é cumprimentado pelo PR devido ao seu desempenho profissional. E os serviços da política incentivaram-no!...

(xv) Foi realmente "um período muito turbulento que se implantou". 

Não tenho conhecimento de drásticas modificações político-sociais - muito necessárias e urgentes - feitas por decreto estudado e intensamente debatido. Mas deve porque ando cá há pouco tempo...

(xvi) "O Vinte e Cinco de Novembro, com Ramalho Eanes e um grupo patriota de militares conseguiu clarear e inverter a supremacia comunista."

Talvez, mas eu não creio que os soviéticos viessem a correr pela Europa fora com uma foice numa mão, um martelo na outra e uma estrelinha vermelha (de preferência) no alto da cabeça. O conflito Leste-Oeste nunca se materializaria assim. Além disso, os tempos eram outros.

(xvii) "Outro facto político de tremenda importância foi a chamada descolonização".

Confirmo. No fim, tudo girava à volta da questão colonial que o regime nunca tentou (sequer) resolver.

Depois de 13 anos de sacrifício não houve família que não visse partir para a guerra de África algum dos filhos. Lamento e confirmo. Infelizmente

Quantos por lá ficaram para sempre? Mais de 8000, fora os feridos, como o camarada sabe. Há aqueles a quem falta um bocado do corpo ou do espírito ou os que ficaram deformados também no corpo ou na alma. Creio que há uma contabilidade feita. É só ler e acrescentar 10% para compensar imperfeições de cálculo.

(xviii) "E é de ressaltar que a guerra do ultramar estava praticamente sob controle".

As guerras não se controlam. E ao fim de 13 anos ou se ganham ou se perdem.

No que à Guiné diz respeito, o camarada sabe que não era assim. Em Moçambique, sabemos agora que em Abril de 74 cerca de 27% do pessoal em rendição individual ou em unidades estava em "mata-bicho". Solução: subir o tempo de permanência para 30 meses ou aumentar o contingente incorporado forçando o "potencial humano" da nação para além do seu limite.

E em Angola, já sabemos que MPLA só tinha quadros, não tinha militantes, o FNLA não existia e a UNITA estava sob o controlo da PIDE. Então para quê continuar a aumentar o efectivo presente? É difícil de explicar, mas...

(xix) "Havia prosperidade e progresso crescentes"...

Onde? Talvez houvesse, mas não muita.

(xx) "O Governo estava a estudar". instituir uma União ou Confederação das províncias ultramarinas com a metrópole." 

Estranho governo este que necessita de 13 anos de guerra para estudar um assunto... E ainda por cima com uma União ou Confederação, depois de ter verificado que todas as soluções deste tipo tinham falhado... Nunca é tarde para aprender.

(xxi) "As potencialidades desta fusão de interesses, respeitadores dos interesses nacionais, eram enormes?"

 E ninguém via isto? O povo é mesmo estúpido!

(xxii) "Mas, a gula dos países europeus ocidentais ficou embriagada com a hipótese de entrarem gratuitamente em África, para lhe sugarem as riquezas"

As democracias europeias sempre varreram a questão do colonialismo português para baixo do capacho. E se não se implantavam lá era porque os portugueses não deixavam. Coitados destes portugueses que assim impediam o progresso que os outros tinham possibilidade de fazer e eles não eram capazes. Egoísmo ou estupidez?

E agora as tais potências europeias iam perder uma oportunidade? A política não é Casa do Padre Américo! Mesmo assim perderam-na, mas por outras razões.

(xxiii) "O poder político passou para as mãos glutonas desse países oportunistas" 

Já disse que não são contas do meu rosário, mas acrescento nunca esperei que a miséria atingisse estes níveis. De qualquer modo quem lutou (tanto tempo e com tanta violência) para atingir estes objectivos, se não tem competência, não se estabelece.

(xxiv) "As populações 'brancas' residentes e que já viviam bem, viram-se abandonadas pelas nossas forças militares"

"Já" viviam bem? Mas alguma vez viveram mal, especialmente se comparadas com as populações "pretas"? Viram-se abandonadas? Evidentemente. A situação não poderia eternizar-se e os exemplos dos outros países de África não eram eloquentes? Era só prever e precaver-se.

(xxv) "E depois foi a debandada"...

A "debandada" tinha que suceder. Porém alguém foge de alguém por alguma razão, Era bom aprofundarmos esta questão.

(xxvi) "Aquele movimento  escabroso de aviões em cortejo a despejarem retornados com seus caixotes"... 

... foi a possível solução para uma guerra civil e racista que se avizinhava e já tinha sucedido noutros países.

(xxvii) "O cais, desde a Ribeira até lá longe, ficou a rebentar com tanto caixote"...

 Eram as célebres "camisinhas" que traziam na pele...

(xxviii) "Os retornados que trabalhavam na banca e nas funções públicas entraram, e bem, para os quadros. Entupindo por dezenas de anos as carreiras de quem cá estava".

Parabéns, camarada! Esta expressão fala por si.

(xxix) "Desenvolveu-se um certo confronto e hostilidade entre ambas as partes"...

 Era de calcular, não?

(xxx) "De realçar também que o Governo nacional estava a desenvolver uma reforma administrativa profunda"...

 Como se impunha, não é verdade?

(xxxi) "A legislação fundamental, Constituição incluída, foram revistas em pontos muito importantes, implantando uma igualdade de cidadania real, entre homens e mulheres e em em muitos outros sentidos".

Parece-me que estas medidas vão no sentido certo. Digo eu...

(xxxii) "Tudo ficou paralisado e sujeito ao vendaval das facções políticas".

Mas parece que cedo começámos a andar...

(xxxiii) "Esta visão, tudo isto, foi ocultada e desvirtuada às novas gerações"

 Se foi, não deveria ter sido. A verdade não se deturpa. É feio, mau e a "mentira tem perna curta".

(xxxiv) "Creio bem que quem hoje tem para baixo de cinquenta anos já não vai ter tempo de dissipar as nuvens de desinformação que lhes meteram na cabeça..."

Infelizmente. E quanto mais lhe fornecerem factos deturpados ainda será mais difícil.

Um Ab para todos
António J. P. Costa

PS - Foram 5 comentários, mas a culpa é do blog

Aconselho o autor dos poemas a deixar o verso branco. É pobre, pois a rima e a métrica ao mesmo tempo que se transmite um ideia é mais complicada, porém mais rica. Mas cada um faz o que pode e sabe.
O conselho musical e enológico têm muito valor.

Já estou a ver o Mendes Gomes a poetar em versos brancos no bar de Mafra ou em Berlim, com um capacete m/43 e a ouvir as 4 estações de Vivaldi.

Por mim, não gosto de versos brancos. Preferia que escrevesse "prosa poética": textos de sensibilidade apurada e conteúdo profundo. Prefiro "versos tintos" ou mesmo "palhetes" com rima e métrica. Dão mais trabalho mas são outro asseio.

Um Ab. e um bom dia sem "névoas tendenciosas".

António J. Pereira da Costa (**)
_______

Notas do editor:

17 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Joaquim, esqueceste-te do fundo musical para se ouvir com a leitura do teu "panfleto poético"... Que música é que escolherias ?... Um abraço, LG

António J. P. Costa disse...

Olá Luís Graça

Parece-me que o post perdeu com a falta dos comentários de alguns membros da tabanca que tambe´se prenunciaram sobre o Mendes Gomes.
Assim parece-me que faltam comentários, provavelmente importantes.

Um Ab.
António J. P. Costa

Juvenal Amado disse...

E não é que vim dar os parabéns à Giselda e nunca me perdoaria por não ter dado com este poste, mais as considerações do nosso António J. Pereira da Costa quanto ao que o Mendes Gomes escreve sobre os "perigos" daquele tempo, mais as razões que não mais de "meia dúzia de capitães" resolveram fazer para acabar com a situação em que o perigo eram os milicianos. Pelos os vistos a situação era do agrado de toda a população portuguesa.
Reza a história que o Salgueiro Maia antes de arrancar para Lisboa com instruendos praticamente desarmados, carros de combate decrépito juntou pessoal na parada e disse.

"Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados socialistas, os estados capitalistas e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos!
Não bastarão estas palavras para para o entendimento da lisura e boa fé que norteou os acontecimentos e os homens que neles participaram?

Muito obrigado António J. Pereira da Costa por ter desmontado mais esta falsa e tendencioso revanche que pretende lançar lama sobre os acontecimentos

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Senhor coronel, os outros comentários (José Belo, Valdemar Queiroz. Helder Sousa...) seguirão... dentro de momentos. Para já houve 15 comentários, metade dos quais são da de Vossa Senhoria... que, pelo que percebi, estava em Coimbra no dia 25 de Anril de 1974.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O J. L. Mendes Gomes mantêm a mesma narrativa sobre o 25 de Abril desde sempre... Veja-se o poste seguinte,que nunca recebeu um simples comentário, de apoio ou de crítica...


5 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1646: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (11): Não foi a mesma Pátria que nos acolheu



(...)

4

Com os ventos da discórdia,
em desvario e revolução
Não foi a mesma a pátria que os acolheu!
A que os mandou à guerra,
Cobarde e lesta, se despediu…
De tudo, aquela, hipócrita, se esqueceu.
Ou, bem pior, tudo… denegriu:
O sangue, o suor e as lágrimas,
Que Portugal, inteiro, verteu.
Ficou tudo letra morta…

5

Desfeitos os sonhos, a noite de bréu
Dos novos mundos, incertos,
Pós-revolução,
Toldou-lhes as vontades traídas
E, em pé de igualdade, abertos
Foram os caminhos da fortuna,
Da escola e do sucesso…
Como se nada fosse e nada houvesse,
Ou
Do zero, tudo começasse…

Oh!…Vil e imperdoável traição,
A desta pátria, secular…
Que tão ingrata se tornou
Para os guerreiros nobres do ultramar!?(...)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Os suoracitados versos fazem oarte do "Hino aos Combatentes do Ultramar"... Escreveu, na sia derradeira "Crónia de um Palmeirim de Catió":


(...) O regresso a Bissau foi muito mais saudado por toda a gente que, dois meses, após, iria ser a viagem no faustoso Uíge, transatlântico… para Lisboa, depois de todas as desparasitações, intestinas, da praxe.

Aqui, foi mais a sensação do acordar de um terrível e estéril pesadelo…

Mal sabíamos nós que outro iria começar. A Pátria, atenta e carinhosa que nos mandou p’ra guerra, não foi a mesma que nos acolheu…ingrata, como, com justeza, clama o certeiro e bem merecido

HINO AOS COMBATENTES DO ULTRAMAR (...)

António J. P. Costa disse...

Bom dia Camarada editor.

Só tinha lido os poemas escritos no bar de Mafra e em Berlim ao som de música clássica.
Não apreciava, mas achava boa ideia.

Todavia, se tivesse lido este poste anterior não teria vindo à liça.
O pior cego é sempre o que não quer e, neste caso, o que não tem coragem para ver.
Creio, e eu sei bem do que falo, que entender que afinal não era assim é acto de coragem, rectidão e humildade. Teimar é... chover no molhado ou outras coisas piores e inúteis, para fazermos aquela coisa idiota que é "não perder a face", leia-se desonestidade intelectual.
Saudações bastante revolucionárias ao auditório do blog.

António J. P. Costa

PS: Confinem-se bem. Abafem-se, abifem-se e avinhem-se!

Manuel Luís Lomba disse...

Eu e o Mendes Gomes fomos contemporâneos na Guiné. Cruzámos-nos e partilhamos as sacrificadas operações de intervenção no sul, designadamente em Cufar.
No nossa tempo, a guerra era no sul, onde pontificavam o Nino Vieira, o Manuel Saturnino, o Rui Djassi e outros, ex-camaradas nossos e tirocinados na China, enquanto nós éramos tirocinado em Mafra, Tavira, etc. E logo notamos os desequilíbrios: eles desempenhavam-se "como generais", mas no campo de batalha, enquanto do nosso lado e tirando os capitães, os chefes e os estados-maiores da nossa guerra, salvo honrosas excepções, "não pisavam o mato". O nosso hino de resistência não era a "Grândola, vila morena", mas a revolta "vai pró mato, malandro!"
O IN fazia-nos uma guerra maoísta, inteligente, não se metia com a cidade - era feita no campo, no mato.
O Covi-19 é vírus, mauzinho, mas não ignorante, como estratega. Se atacasse o campo, a cidade render-se-ia, pela fome.
Nesse o nosso tempo, as "provas de corpo" eram preponderantes, mas já éramos alvos, além das minas terrestres, das RPG, do morteiro de 82, do canhão sem recuo, das super-metralhadoras, das anti-aéreas, etc. O tempo do A. Pereira da Costa foi pior; os misseis ou "órgãos de Estaline", os morteiros, as peças de 120 e os fatídico mísseis terra-ar Strella gozavam de livre circulação, por quase toda a Guiné.
O nosso planeamento de "guerra controlada" conduziu a uma guerra perdida. E a culpa foi nossa.
A primeira fortaleza do PAIGC não era o armamento; era a vontade e o saber de experiência feito dos seus combatentes.
No nosso lado, os que vinham embora traziam o saber da experiência feito; os que chegavam recomeçavam de novo. Eles foram sempre os mesmos, embora corrigidos e aumentados.
A segunda força do PAIGC não estava "áreas libertadas" (terá tido pouco de 10% da adesão das populações), mas nos 700 km. de extensão de fronteiras amigas.
E na sua aposta nelas.
Com as suas derrotas em Guidaje, Guileje-Gadamael, Copá, Canquelifá, Buruntuma, etc, conquistou a vitória final em Lisboa e Bissau.
O que se seguiu, foi obra do armamento russo, do dinheiro sueco e da importação do marxismo, pouco de Marx e Engels e muito de Mao, Lenine e Estalin.
Abr.
Manuel Luís Lomba

Anónimo disse...

Tendo feito parte de uma Companhia de Atiradores que passou toda a sua comissäo no mato,já tinha esquecido (o que francamente me parece impossível como) o nosso grito de alma:

"Vai p'ro mato,malandro!"

Foi pena.
Por vezes tem feito falta em alguns dos nossos comentários.

Fico grato a Manuel Luís Lomba por o recordar.
Um abraco do J.Belo

Cherno Baldé disse...

Caro amigo Manuel Luis Lomba,

Do comentario de um bravo de Cufar e Buruntuma retenho: "Com as suas derrotas em Guidaje, Guileje-Gadamael, Copá, Canquelifá, Buruntuma, etc, conquistou a vitória final em Lisboa e Bissau".

Continuas a encontrar alguma logica no teu enunciado em que as retumbantes "derrotas" no terreno, depois tenham resultado numa vitoria final em Lisboa e Bissau ?

De um admirador do teu alto grau de patriotismo.

Cherno Baldé

Manuel Luís Lomba disse...

Saudação especial para o Cherno Baldé.
Servi na Guiné durante dois anos dos 22 aos 24 anos,sem nunca ser um bravo. Já era conhecedor das realidades da vida e desenrascava-me. E dizia e fazia o que melhor entendia - até fui punido pela minha hierarquia militar...
No meu entendimento e salvo erro ou melhor opinião, o PAIGC não ganhou nenhuma das batalhas da sua "manobra Amílcar Cabral". Em Guileje (ignorou o seu abandono pelos tugas durante 2 dias), em Gadamael e em Guidaje foi obrigado a retirar, para não perder o seu armamento pesado, em Copá e Canquelifá a avaliação factual será de derrota e quanto a Buruntuma, o comandante Bobo Queta tentou a sua operação já depois do cessar-fogo (a Força Aérea de Bissalanca havia desmontado em Koundara, a sua manobra anterior.
A sua vitória em Bissau e em Lisboa foi consequência da sua superioridade estratégica.
Se fosse natural da Guiné, seria um patriota bissau-guineense.
Abr.
Manuel Luís Lomba

Valdemar Silva disse...

Passados 46 anos, volta a ideia 'era só mais um ou dois aninhos e a guerra estava resolvida'. Parece o aproveitamento da ideia do populismo à la mode, ou seja aquilo que o povo gosta de ouvir.
Também, e dentro dessa onda, tem aparecido outra ideia 'aquilo do 25A' (nada de Abril) estava tudo combinado, o pior foi a malta do pc ter aparecido.
E, então, resolvida a guerra, resolvido estava a necessidade de envio de tropa para o ultramar, e não tendo aparecido o pc estava resolvido o problema da falta de liberdade.
Os do 'safem-nos aí' sempre vão tentando, o que vale é que ainda por cá vamos vivendo e podemos dizer 'olhe que não seria bem assim', ou para quem queira o 'olhe que não'.

Lavar as sempre as mãos por causa do novo coronavírus
Valdemar Queiroz

António J. P. Costa disse...

Eh Pessoal
Pois é!
Aquilo é que ia ser uma vitória!
Mais um bocadinho e se não nos "punhamos a pau", inda ganháramos aquela m****!
É a estupidez lusa no seu melhor. Estes é que são os tais "tugas".
E, claro que "estava tudo combinado". De quem com quem é que era necessário saber.
O pior foi a malta do pc ter aparecido. Chatice! Agora que isto ia correr tão bem.
"E, então, resolvida a guerra, resolvido estava a necessidade de envio de tropa para o ultramar" Pois não se vê mesmo que ia ser assim? Só falta dizerem como é que se resolveria... e não tendo aparecido o pc estava resolvido o problema da falta de liberdade.
Foi, de facto uma chatice terem aparecido os gajos do PC. Mas donde é que eles vieram?

É uma argumentação coxa e que revela desonestidade intelectual ou tentativa de "não perder a face", uma estupidez sem tamanho.
Enfim, aturêmezios!
Os burros também são criaturas de Deus e, por isso é que a gente gosta deles.
E eles "andem aí", muito activos (os burros de duas patas)

Um bom FdS alargado e confinado.
Lavar as sempre as mãos por causa do novo coronavírus e, se for possível, os pés também
António J. P. Costa

Cherno Baldé disse...

Valdemar,

Deves ter ouvido, nas tuas andanças pelo Nordeste da Guiné a tal anedota do homem que tinha morto uma onça. E assim:

Um homem que viajava entre duas aldeias bem distantes (na altura as viagens eram feitas a pé, pois nem bicicletas havia), viu-se de repente diante de uma onça que o queria devorar, entao o homem que era um camponés com muita força concentrada nas maos, resolveu vender cara a sua vida e, durante a luta que se seguiu, conseguiu enforcar o animal de tal forma que este esfriou nas suas maos. No dia seguinte, quando os homens da sua aldeia chegaram, ainda o valente homem tinha, bem apertado, entre as suas maos, a onça morta ha muito tempo.

Todavia, tinha sido uma vitoria bem amarga, porque quando finalmente conseguiram que o homem largasse o animal, constataram que ambos os beligerantes cheiravam a merda.

Abraços,

Cherno Baldé

António J. P. Costa disse...

Oh Cherno

Esta não entendi
Se calhar é porque tomo banho com frequência...
Ou então porque não ando à caca das oncas...

Ora esclarece.
António J. P: Costa

Anónimo disse...

Caro Antonio J. P. Costa,

Quis retratar as tais "vitorias" referidas pelo Manuel Luis Lomba por uma anedota que se contava nas nossas aldeias de um aldeao que tinha morto uma onça com as maos, mas que também teria sido encontrado com as calças cheias de merda. E uma anedota sobre vencedor, vencido.

Como é do conhecimento geral, as batalhas dos 3Gs foram devastadoras para os seus protagonistas de lado a lado, pelos seus danos fisicos, materiais, morais e sobretudo pelas suas consequencias imediatas.

Abraços

Cherno AB

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes disse...

Meu caro

Cada um come do que gosta e pode.
A poesia transcende a forma com que se apresenta. Em versos rimados ou não. O que vale está nela.
Fica com a tua. Eu permaneço igual a mim mesmo.
Jlmg