1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Outubro de 2019:
Queridos amigos,
Os itinerários da semana napolitana andam um tanto aos baldões da sorte, numa folha escreveu-se o que é imprescindível ver, ou quase, quanto ao mais a ordem dos fatores é arbitrária. É o que se passa nesta digressão. Anda-se pelo casco histórico e impacta-se com o inacreditável, é bem verdade que quem não sabe é como quem não vê, e o que se está a ver não é decifrável, será um amável tipógrafo que irá mostrando paredes, pasme-se, restos do teatro romano, talvez do tempo dos Antoninos.
E prossegue-se à ligeira, entra-se no metro, tão publicitado pelos seus arrojos, o que é bem verdade. Suspira-se por ir a um grande museu, talvez à Cartuxa, está escrito que é do Castelo de Sant'Elmo que há as mais belas vistas de Nápoles, mas toma-se a decisão de apanhar comboio para visitar Caserta, há um vídeo que corre mundo com o seu esplendor, em Nápoles tem que se ser napolitano, ao menos visita-se um palácio real com mil e duzentos quartos, circundado de belos jardins.
Amanhã haverá mais, como reza a exaltação turística, Nápoles é apaixonante, confusa, histórica, vibrante e com personalidade. E é mesmo.
Um abraço do
Mário
Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (2)
Beja Santos
O viandante guardou um suplemento do Diário de Notícias, do ano de 2017, dedicado a 48 horas em Nápoles, não é demérito aqui recordar algumas das sugestões entusiastas que alguém escreveu. Diz-se que Nápoles é apaixonante, confusa, histórica, vibrante. Há a pizza napolitana, recorda-se que o tenor Enrico Caruso e a atriz Sophia Loren aqui nasceram. E, pasme-se, há duas glórias futebolísticas inesquecíveis: o mítico guardião Dino Zoff e Diego Maradona. Para essas 48 horas, o pequeno guia propõe que se comece pela rua que corta a cidade, Spaccanapoli, que é na realidade uma sucessão de três ruas, a parte estreita, com dois quilómetros, atravessa o centro histórico. É recomendado que se visite o Palácio Real, hoje Museu Nacional Capodimonte, a Ópera de São Carlos (por curiosidade, o nosso Teatro Nacional de São Carlos tem impressionantes semelhanças), Pompeia, as catacumbas, as belezas do Metro, a Igreja de Gesùnuovo, que faz lembrar a Casa dos Bicos, onde hoje está a Fundação José Saramago, o Castelo Sant’Elmo, de onde se divisam panorâmicas únicas, cá em baixo, na baía, o Castel dell’Ovo. Claro está, tudo pode começar na Catedral. Pois foi aí que o viandante encetou viagem, já se apresentou a catedral, lá dentro é obrigatório visitar Santa Restituta, houve aqui basílica paleocristã, é de uma beleza impressionante, talvez as imagens seguintes falem por palavras que o viandante não possui, até chegarmos ao lindo mosaico Madonna e os Santos Gennaro e Restitua, uma obra executada em 1322 por Lello da Orvieto, que imenso tesouro artístico.
De novo no centro histórico, como quem não sabe é como quem não vê, neste caso o que se está a ver não dá para saber, fala-se num dístico que é entrada de um teatro romano, entra-se numa tipografia para perguntar onde é que está o teatro, só se veem edifícios à volta, é felizmente um napolitano paciente que vai apontando para paredes e arcos e referindo a utilidade que tinham enquanto estiveram incorporados, talvez há mais de dois mil anos, num centro de diversão e cultura que agora não se pode imaginar como funcionava e que dimensões tinha. Ora vejam.
Nápoles tem galerias a dar com um pau, numa deambulação para ir até ao Museu Arqueológico entrou-se na Galeria do Príncipe de Nápoles, construída em 1883, é a mais antiga galeria de Nápoles, faz parte de um tempo em que se pretendia ter uma área comercial luxuosa com ares apalaçados, com requinte e a segurança de um teto que resistisse às clemências de chuvas e nevões. Pelo que foi dado a perceber, a galeria já teve dias melhores, convém não esquecer que têm havido muitas revoluções comerciais, a massificação privilegia as catedrais que gozam do nome de centros comerciais, e depois há aquelas ruas que gozam do aparato do luxo, que podem dar pelo nome de Via Veneto ou New Bond Street. Procure-se intuir o que esta galeria terá tido de impressionante, há mais de 125 anos.
Os guias recomendam a todos que vêm a Nápoles que usem o metropolitano e o funicular. O viandante obedeceu, comprou um bilhete de 3,5€ que lhe deu direito às viagens do dia. Um dos guias recomendava vivamente que se visitasse a estação de Toledo, dando-a como uma das mais belas do mundo. Bela é, mas sejamos francos, nada que o viandante tenha visto rivaliza com o metro de Moscovo. Mas Toledo tem grandiosidade, sugere que caminhemos para o império celeste, em dada altura até se cria a ilusão de que podemos ser engolidos, sabe-se lá para chegar à constelação de Oríon.
Há outra grande surpresa na estação de Toledo, os painéis do artista sul-africano William Kentridge, muitíssimo originais, suscita fusões entre o passado e o quase presente, tira, cola e repõe, perceciona-se facilmente que há mensagem política nas suas montagens de manipulação cronológica. Os seus trabalhos para o Metro de Toledo são altamente sugestivos, podemos entendê-los como uma caminhada da humanidade à procura da justiça e da paz.
Agora, o viandante toma o metro até à estação de Garibaldi, transfere-se para uma linha ferroviária que tem um nome muito bonito, a Circumvesuviana, viaja-se até Caserta, onde há palácio real concebido pelo arquiteto Vanvitelli, preparem-se para o esplendor de apartamentos reais, da sala do trono, das escadarias, estamos em pleno século XVIII, os Bourbons não se coibiram a gastar fortunas num edifício gigantesco, maciço, impressionante por fora e por dentro, Caserta é tão obrigatório como Amalfi, Sorrento ou Capri.
Ora vejam.
(continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 25 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20901: Os nossos seres, saberes e lazeres (387): Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (1) (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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