sábado, 13 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10523: Memória dos lugares (192): Cufar (Mário Fitas, 1965/67; Eduardo Campos, 1972)

1. Mensagem do Mário Fitas [, ex-fur mil op esp Mário Fitas pertenceu à CCAÇ 763, Cufar, 1965/67,]  comentando,  a pedido dos nossos editores, as fotos do álbum do Armindo Batata sobre Cufar  (*):

Caro Luís,

É claro que as fotos do Armindo Batata sobre Cufar me fazem reviver aqueles tempos de 1965/66. Há quanto tempo!

Vamos então ao que consigo identificar e lembrar da reconstrução da quinta de Cufar Novo, à altura propriedade do sr. Camacho e que foi transformada numa das melhores bases de antiguerrilha no sul da Guiné.

Foto 62 [, à esquerda]:

À esquerda identifica-se a pista de Cufar em terra batida, inaugurada em 1957 pelo então presidente da Republica Craveiro Lopes na sua visita à Guiné.

Esta pista tinha na altura mil e novecentos metros de comprimento.

No começo da pista ficava a entrada principal do aquartelamento.

Ao fundo vê-se a mata de Cufar Novo, de onde foram extraídas as palmeiras para construção dos abrigos do novo aquartelamento.

Do lado direito, vislumbra-se a mata de Cufar Nalu onde existia uma importante base do PAIGC e que foi tomada em 15 de Maio de 1965 na operação "Razia".

É bastante visível no sentido descendente a estrada para o cais do rio Manterunga.



Foto 56 

É a parada com o pau de bandeira, que não consigo identificar, se é o cibe que nós lá colocamos.

Ao lado direito a Capela construída pelos "Lassas" e que posteriormente por outra companhia foi transformada em armazém.


Foto 64

Parada, vendo-se ao fundo a antiga fábrica de descasque de arroz do sr. Camacho, e que em seu redor em abrigos cavados no chão era o aquartelamento que existia.

De março a maio de 1965 foi um trabalho de loucos, para não sermos apanhados pelas chuvas nos buracos.

Foto 65 [, à esquerda]:

Esta foto foi tirada do varandim da habitação da antiga quinta e transformada em habitação e funcionamento do comando.

Foto 66 [, a seguir em baixo]:


Julgo tratar-se da fachada norte do comando onde existia a tabanca dos milícias do João Bacar Jaló.

Foto 60 [, a seguir em baixo]:

Varandim do comando, vendo-se ao fundo a casa do gerador. Na altura da CCaç 763, de permeio, existia o canil.

Um grande abraço para toda a Tabanca Grande e em especial para todos os "cufarenses".

Mário Fitas



 Foto nº 60


Foto nº 66


2. Comentário do Eduardo Campos [, ex-1º Cabo Trms da CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74]:

Caro Luis.

Para responder ao teu pedido, terei de fazer um exercício de memória de 40 anos, e também pelo facto de ter estado em Cufar apenas 4 meses em diligência, ao serviço do COP 4 e adido à CCAC 4740, não será fácil:

Mas vamos às fotos:

Foto 62, é Cufar, mas quando lá cheguei em 72 o "aglomerado residencial" era muito maior.

Do lado esquerdo da foto, parecer ser a pista em terra (quando lá cheguei já era em alcatrão) e saída para Catió e Matofarroba. Lado direito, o que parece ser uma estrada seria a picada que ia para o porto no rio Combija.

As Fotos 56, 64 e 65 recordo, aqui sem dúvidas, que são de Cufar. As restantes fotos não me recordo.


Quanto a boas recordações de Cufar, direi que sim foram mesmo muitos boas: Manga de ataques com foguetões (tem outro nome mas era assim que era conhecido entre nós),dois ataques de armas ligeiras ao arame, dormir numa tenda de campanha em que o colchão foi feitas de folhas de árvores e ainda alguma fominha á mistura.

Quarenta  anos depois, e podendo até ser irónico, tudo isso para mim hoje, são mesmo boas recordações.As restante fotos não consigo identificar, por isso não ajudei em quase nada, mas por breves momentos voltei a Cufar, o que por si foi bom.Um abraço, Eduardo Campos.

PS - O que a foto 57 [, foto à direita,] nos mostra tenho a certeza que já não existia, pois pela sua originalidade eu jamais poderia  esquecer o engenho e obra de arte que a mesma transmite. (**)


Fotos: © Armindo Batata (2007). / AD - Acção para o Desenvolvimento Todos os direitos reservados [Fotos editadas por L.G.]


__________________

Notas do editor:

(*) 11 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10515: Álbum fotográfico de Armindo Batata, ex- comandante do Pel Caç Nat 51 (Guileje e Cufar, 1969/70) (8): Cufar, 1970 (Parte II

(**) Último poste da série > 31 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10310: Memória dos lugares (191): O quartel de Guileje, visto dos céus, ao tempo da CCAÇ 2617, "Magriços de Guileje" (Março de 1970 / fevereiro de 1971) (José Crisóstomo Lucas)

3 comentários:

Armindo Batata disse...

Caros Mário Fitas e Eduardo Campos

Disseram tudo o que era importante. Deixem-me só acrescentar dois pormenores:

Foto nº 60
Do lado de cá do extintor é a porta da secretaria e do lado de lá, a do meu quarto.

Foto nº 57
Era um posto de vigia, raramente ocupado, junto ao canhão s/r e do lado de Cufar Nalu.

Abraço

antonio graça de abreu disse...

Coloco outra vez o meu comentário, agora no poste do grande (em tamanho, coração, tudo...) Mário Fitas

antonio graça de abreu disse...

Não é uma terra portuguesa, é Cufar, com certeza.
Mas Portugal andou por lá.
Cufar é, na Guiné o único lugar onde eu gostava de regressar. Sofri em Cufar tanta, tanta dor, coisas que
não tenho vergonha de contar seja a quem for. Adiante, camarada, ávante. Sou tão português que ainda gosto de sofrer, como se está a ver.

Na foto 63, a tabança mais à esquerda foi a minha casinha durante uns quatro meses.Os bidons cheios de terra eram uma segurança nas flagelações, mas havia muitas valas.

O poleiro alto na foto já não existia e, 73/74. Mas a capela lá estava e foi usada, infelizmente com demasiada frequência para guardar corpos de militares falecidos em combate, antes de vir o cangalheiro para depois seguirem de DO ou Noratlas para Bissau.

Abraço,

António Graça de Abreu

Unknown disse...

Feliz por estar aqui a conhecer a historia duma tabanca/aldeia onde cresci (por meu pai for lá trabalhar 5 anos pós a guerra colonial) anos e anos depois a vossa vida lá.
Vendo os vestígios da guerra colonial mas sem poder interpretar ou melhor conhecer bem a história, claro, ninguém podia nos contar. Conheço bem a pequena tabanca/aldeia Cufar, vi os vestígios(sucatas de carros queimados logo depois do quartel e atrás a casa de gerador tínha(mos) sucatas de carros queimados...de balas de armas pequenas e grande por todo e quanto é lado em Cufar, os restos do barco queimado ainda até a data está lá a ponta do barco no pequeno porto...o quartel ainda lá está...) e vou lá de quando em vez visitar e prometo ainda dentro de dias poder ir visitar de novo, e se possível, vos trazer fotos daquela pequena aldeia/tabanca Cufar que conheciam.
Meus muito obrigado à todos vocês.
"Cufarense"
Henrique Reis