terça-feira, 24 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22481: Notas de leitura (1374): Jorge Monteiro Alves: “No mato ninguém morre em versão John Wayne: Guiné, o Vietname português” (Lisboa, Livros Horizonte, 2021, 191 pp.) – Parte I (Luís Graça)

Ficha técnica:

Título: No mato ninguém morre em versão John Wayne: Guiné, o Vietname português
Autor: Jorge Monteiro Alves
Edição: 07-2021
Editor: Livros Horizonte, Lisboa
Idioma: Português
Tipo de Produto: Livro
Páginas: 192
Dimensões: 155 x 235 x 15 mm
Encadernação: Capa mole
ISBN: 9789899984837
Classificação Temática: Livros em Português > História > História de Portugal
Preço de capa: c. 15 euros


Nota de leitura, por Luís Graça >  Jorge Monteiro Alves: “No mato ninguém morre em versão John Wayne; Guiné, o Vietname português” (Lisboa,  Livros Horizonte, 2021, 191 pp.) – Parte I


“Portugal teve o seu Vietname na Guiné” (pág. 17), começa por escrever o autor, logo na primeira linha do primeiro parágrafo do Capítulo I (sem subtítulo, tal como os restantes, quinze ao todo).

É já um “lugar comum” a tentativa de comparar-se a guerra da Guiné com a do Vietname, mas isso poderia (e deveria) começar por ser uma “pergunta de investigação” , aceitável por exemplo num trabalho académico, uma  dissertação de mestrado ou uma tese de doutoramento.

Não sei se alguém, mais habilitado para o fazer, com formação em ciências militares (, cultivadas, por exemplo, na Academia Militar), já se abalançou à tarefa de responder a esse desafio. Não é questão para ser respondida, com seriedade, nas redes sociais.

São comparáveis as duas guerras ? Nâo me parece, dado o contexto geopolítico e os meios logísticos, humanos e militares envolvidos, a par do número de baixas, tanto militares como civis. Enfim, seriam, ambas, guerras de "baixa intensidade", comparadas com as guerras convencionais, envolvendo dois ou mais Estados ? 

Deixemos isso para os peritos militares, mas em geral a guerra da Guiné cabe na definição de Conflito de Baixa Intensidade (, em inglês, low-intensity conflict) melhor do que a guerra do Vietname. O que não quer dizer que na "nossa guerra" não tenha havido cenas de grande violência e horror como as do Vietname. Muitos de nós já aqui o testemunharam. Num caso a televisão mostrou, no outro omitiu.  Historicamente a guerra do Vietname foi a primeira a ser mostrada em direto nos ecrãs de televisão,  afetando o moral das tropas e minando o patriotismo dos americanos que ficaram na retaguarda... O que teria em Portugal em maio/junho de 1973 se a televisão estatal, a única que existia, tivesse mostrado imagens em direto de Guidaje, Guileje ou Gadamael ? Impensável. ..

Não é o caso deste livro, que de facto não pretende comparar a guerra do Vietname com a da Guiné. Não é, nem pretende ser, um trabalho académico, com as exigências próprias do género, a começar pelas referências bibliográficas e pelo "estado da arte" (ou revisão de literatura). Não é sequer um ensaio de história, ou muito menos uma obra biográfica. Mas também não é ficção, mesmo que o autor nunca posto os pés no território....Era muito novo ou estava para nascer....

Li o livro num fôlego, com agrado, estilo incisivo, frase curta,  à Hemingway, mas vejo-o apenas como um trabalho de investigação jornalística. Que, acrescente-se desde já, tem méritos e alguns erros, omissões ou falhas, a serem objeto de correção, se for caso disso, numa 2ª edição, aumentada e melhorada. 

“No mato ninguém morre em versão John Wayne” seria, em todo o caso, um bom título para uma obra de ficção sobre a guerra, em geral, e a guerra de guerrilha e contraguerrilha, em particular, se não fora o subtítulo, “Guiné, o Vietname português”.

Mas a bota não bate com a perdigota, isto é, o continente com o conteúdo: o leitor pode ser induzido em engano se levar à letra o subtítulo da obra do Jorge Monteiro Alves. Na realidade, nas 191 páginas e nos 15 capítulos deste trabalho literário ou jornalístico, o autor deixa cair, logo à primeira, o topónimo “Vietname”. Não se fala mais da guerra onde o exército norte-americano parece ter perdido tanto na linha da frente como na rectaguarda (, tendo em conta o clima de grande hostilidade, impopularidade e contestação que a guerra do Vietname provocou no seio da sociedade americana e na própria Europa)…

Na realidade, não são sequer realidades comparáveis, a Guiné e o Vietname, Portugal e o EUA, o PAIGC e os vietcongs e os seus aliados… O único termo de comparação com a nossa “guerra do ultramar” que se pode encontrar no livro é da “guerra da Argélia”, muito embora a Argélia francesa fosse uma verdadeira colónia de povoamento, o que a Guiné portuguesa não era (nem nunca foi):

(…) “Ali, na luta armada contra o movimento de libertação argelino (Frente de Libertação Nacional, FLN), Paris chegou a colocar 500 mil homens, efetivos destinados a combater num área de 300 mil km2 (o restante da Argélia é deserto). E contava com todo o apoio logístico-militar da própria França, situada a apenas 700 km. Tudo em vão. Portugal, pelo contrário, empregava 150 mil homens em permanência para lutar numa área de dois milhões de km2, com o apoio logístico-militar da Metrópole, situado a cinco mil e seis mil quilómetros (casos de Angola e Moçambique. (…) O regime não só obrigou centenas de milhares de portugueses a um esforço inaudito durante 13 anos de guerra, como também esvaziou os cofres do Estado” (pág. 56). (…)

Já antes, no início do livro, se escrevia, a seguir à frase “Portugal teve o seu Vietname na Guiné”:

“Ali, ao longo de 11 anos, num território do tamanho do Alentejo, morreram mais de três mil soldados portugueses, vítimas de um adversário temível e de um clima impiedoso. Muitos mais ficaram estropiados e com feridas na alma para toda a vida. Lutaram em condições pavorosas e, apesar de tudo, muitos foram além do que exigia o dever” (pág. 17).


Guiné > Bissau > Brá > Setembro de 1965 > Grupo Comandos Diabólicos > "Foto de finais de Set 65, tirada em Brá, quando começaram os "ensaios" com as boinas vermelhas... Da esquerda para a direita: Marcelino da Mata, Azevedo, Virgínio Briote , Carlos Faria "Black") e Valente"...

Foto (e legenda): © Virgínio Briote (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Mas este pequeno preâmbulo serve apenas para introduzir a figura de um combatente excecional, o luso-guineense Marcelino da Mata, cuja história de vida, devidamente contextualizada, vamos acompanhar ao longo das 191 páginas do livro, E, no entanto, não se trata de um biografia deste combatente em que o mito e a realidade se misturam, e muito menos uma biografia autorizada. Como escreve, no prefácio, Francisco Gomes de Oliveira

(…) “Para os seus homens. Marcelino da Mata foi um líder e um herói. Para o PAIGC, um temível inimigo. Para nós, Portugueses, alguém cuja memória merece uma análise desapaixonda e contextualiza” (pág. 14).

Na realidade, é uma pena que o Marcelino da Mata, que a morte, por Covid-19, surpreendeu, aos 81 anos, nunca tenha querido escrever ou ditar (a um “copy desk”) as suas memórias, contrariamente a outro combatente guineense, comando, Amadu Bailo Jaló (Bafatá, 1940- Lisboa, 2015), autor de “Comando, guineense, português” (Lisboa: Associação dos Comandos, 2010, 229 pp.). 

Neste caso, o Amadu teve mais sorte que o Marcelino, graças a inestimável ajuda de um camarada de armas, igualmente 'comando', o Virgínio Briote, cuja sensibilidade, solicitude, solidariedade e competências nunca são demais evocar e exaltar aqui... Para mais, o Briote chegou a ser comandante operacional do Marcelino da Mata (**), facto que é omitido no livro do Jorge Monteiro Alves.

Em mail que nos enviou no passado dia 10 de julho, o Jorge Monteiro Alves transmitiu-me, entretanto,  algo que é importante para se peceber o "making of" desta obra e os seus limites, e de que aqui reproduzo uma parte (, com a devida vénia):

(...) "Tentei estabelecer ene contactos (telefónicos, pessoais, etc.) com o TC Marcelino, inclusive através do núcleo da Bataria da Lage (Comandos, cujo restaurante frequento, e ele também frequentava). Tudo em vão. Ele sempre se esquivou. " (...)

O ten cor Marcelino da Mata provavelmente tinha em mente outros projetos e quereria, porventura, obter algumas legítimas compensações financeiras, provenientes dos direitos de autor de um livro de memórias, sucetível de se tornar um "best-seller". Terá sido isso que deu a entender ao Jorge Monteiro Alves, mas também a mim, há uns anos atrás. 

De facto, as poucas vezes que estive com o Marcelino da Mata não foi no CTIG, mas em convívios da Tabanca da  Linha. Mas raramente falámos, Houve, porém,  um vez em que ficámos frente a frente, à mesa. E conversámos ainda um bocado. Mas fiquei com a ideia de que ele era melhor operacional do que conversador. Na altura insisti com ele para escrever e publicar as suas memórias em vida, sob pena de ele as levar para  cova e nunca mais se chegar a saber exatamente onde começava a lenda e acabava a história. 

Disse-me que tinha um jornalista encarregue dessa tarefa (sic). Não me disse quem. E muito menos me falou em editoras eventualmente interessadas. O seu mundo não era esse. Depois da sua morte, até pensei que fosse o Jorge Monteiro Alves o tal jornalista que estava a tratar da edição das suas memórias, mas vejo agora que estava errado. Enfim, pareceu-me, o Marcelino da Mata, um homem com mais admiradores do que amigos do peito. 

Mas voltando ao email do Jorge Monteiro Alves, do passado dia 10 de julho. Que fique clara a intenção do autor: 

"Tal como já tive oportunidade de referir ao Luís Graça, este livro não pretende ser uma bio do Marcelino, mas sobre a guerra da Guiné tendo o Marcelino como fio condutor." (...)

Antes de avançarmos, entretanto, na análise nais detalhado do livro, falemos um pouco do autor e deste seu projeto: Jorge Monteiro Alves, natural do Porto, vive em Paço de Arcos, Oeiras, é jornalista com 30 anos de carreira e com provas dadas em teatros de operações, nomeadamente nos Balcãs (Krajina, Bósnia, Kosovo).

Foi editor de “política internacional” no JN – Jornal de Notícias, mas do que gosta mesmo, confessa, é a “reportagem de guerra”. Foi o primeiro português a entrar na cidade cercada de Sarajevo no período mais quente dos combates, em 1992, diz a sua nota biográfica, 

Com este é o seu quinto livro publicado, depois de "Nunca passes além do Drina" (Papiro Editora, 2006, 238 pp. ), "Carmencita" (Chiado Books, 2014, 88 pp. ), “A generala" (Chiado Books, 2014, 160 pp. ) e "O meu Deus é melhor que o teu" (Chiado Books, 2021, 184 pp.).

 Ao terminar esta primeira nota de leitura, refira-se que, ainda antes da morte do ten-cor Marcelino da Mata, circulava nas redes sociais um projeto de livro, ilustrado, e em formato pdf, com o título "O Último herói do Império", e era justamente da autoria do Jorge Monteiro Alves. Tinha 172 págimas, menos vinte que o livro que ele acaba de publicar, sob a chancela editoral dos Livros Horizonte. Falámos sobre ao telefone sobre o que o impedia de avançar com a edição do livro, um projecto já com meia dúzia de anos. A verdade é que o Jorge retomou o fôlego, e venceu alguns receios e algumas reservas conjunturais, decorrentes da dramatização da perda ainda recente do Marcelino da Mata.

Na lista dos agradecimentos, há uma palavra para o nosso blogue. Mas a gratidão maior vai para "todos os ex-combatentess da então Guiné Portuguesa que entrevistei e que lutaram ao lado do Marcelino da Mata." E esclarece: "Os relatos em primeira pessoa registados neste livro resultam de múltiplos depoimentos feitos nas décadas de 70 e 80 do século XX a orgãos de Comunicação Social Portuguesa" (pág, 9)", e que o autor nunca ou raramente cita, como deveria. Mas isso é já assunto para a segunda parte desta nota de leitura. (***)

(Continua)
___________

11 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Jorge, esqueci-me de dizer (, mas vou fazê-lo na Parte II), acho o título muito original, irónico, mas cinéfilo e literário demais... O leitor de mais de 40 anos, não precisa de notas de rodapé... É capaz de "reconhecer" John Wayne (1907-1979) e ainda é provável que tenha visto o grande actor no "Rio Bravo", um dos meus filmes de culto...

O leitor com menos de 40 anos, que nem fez o serviço militar obrigatório, não só não são sabe quem foi John Wayne (, já não é da geração dos "filmes de cobois"), como não descodificar termos como LGF, Strela, MG42... Muito menos sabe o que é o "mato".

Um alfbravo (mesmo para quem nunca esteve na Guiné)

PS - Mesmo assim, gosto muito mais do título do que o anterior, "O último herói do Império"...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Jorge, fico com curiosidade de, em próxima oportunidade, de ler o seu livro "Nunca Passes Além do Drina", um título também original e sugestivo... Gosto de um bom título...

E confesso que gostei da sinopse:


SINOPSE

Como numa vertigem, Bósnia, Kosovo, Albânia, Croácia, Sérvia, Timor, e outros, tantos outros, locais onde se esquadra uma nova geografia mundial e se rascunha a história que há-de ser contemporânea, percorridos num assalto de rapina por um mercenário que vende botas para militares.

Numa linguagem árida, quase telegráfica, Jorge Monteiro Alves leva-nos a todos estes cenários hostis, e em lugar de floreados ou acrobacias de linguagem, revela-nos a realidade nua e crua da narrativa, num jeito jornalistico tão tácito, que quase ouvimos as balas silvar sobre as nossas cabeças, ou as lagartas dos tanques trotando poeiras nas estrelinhas das palavras.

https://www.wook.pt/livro/nunca-passes-alem-do-drina-jorge-monteiro-alves/177810

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Eu sei que as citações, as referências bibliográficas, as notas de rodapé, as listas de siglas e acrónimos, etc. cortam o ritmo de leitura, retiram fôlego à narrativa... Nada mais "chato" de se ler que um trabalho académico... Fui obrigado, pela minha profissão, a ler millhares, entre artigos científicos, dissertações, teses, relatórios, etc.

Mas é sempre bom, em livros como este, do Jorge Monteiro Alves, que se dê uma explicação ao leitor, sobre as opções do autor: nada de citações, nada de referências, nada de siglas ou acrónimos, nada de notas de rodapé...O que é habitual nos trabalhos de investigação jornalística, que têm um estilo literário próprio.

Fernando Ribeiro disse...

No mato ninguém morre em versão John Wayne, porque o John Wayne nunca morria nos filmes. Ele era sempre o "herói" da fita e um "herói" nunca morre.

Quanto à fotografia em que se veem cinco militares, pode ler-se na legenda, a dada altura: «Foto de finais de Set 65, tirada em Brá, quando começaram os "ensaios" com as boinas vermelhas...» Aqui permito-me discordar. Boinas vermelhas nos Comandos, já em 1965?! Eu julgava que elas só tivessem sido usadas depois do 25 de Abril... As boinas parecem vermelhas porque a imagem está toda ela avermelhada! Os pigmentos azuis e verdes da fotografia original desapareceram com o passar dos anos, e quase só ficaram os pigmentos vermelhos. As boinas deles deviam ser castanhas, como as de toda a gente, e os uniformes deviam ser de caqui, e não amarelos fosforescentes como parecem ser. As cores da imagem não correspondem às cores originais, nem pouco mais ou menos. Estão completamente alteradas. O tempo não perdoa.

Carlos Vinhal disse...

Quero subscrever as palavras escritas pelo camarada de armas Fernando Ribeiro. As boinas vermelhas dos Comandos começaram a ser utilizadas só em 1974 e as verdes dos Operações Especiais em 1982. O resto é fantasia.
Dá-me a ideia que as boinas da foto foram coloridas à posteriori.

Boina militar em Portugal
A primeira unidade militar a usar boina em Portugal foram as tropas paraquedistas da Força Aérea em 1955.
O Exército só adotou a boina (para as suas unidades de Caçadores Especiais) em 1960. São ou foram usadas as seguintes boinas:
•Boina verde escuro (verde caçador-paraquedista) - Tropas Paraquedistas
•Boina azul - Polícia Aérea;
•Boina castanha - inicialmente apenas Caçadores Especiais, depois boina genérica do Exército Português;
•Boina negra - tropas da Arma de Cavalaria (com excepção dos militares qualificados como Paraquedistas ou Comandos), incluindo a Polícia do Exército;
•Boina vermelho vivo - Comandos a partir de 1974;
•Boina verde-claro (verde musgo) - Operações Especiais a partir de 1982;
•Boina azul ferrete - Fuzileiros Navais
•Boina negra com uma faixa verde - Regimento de Infantaria da Guarda Nacional Republicana
•Boina verde escuro - Comandos Territoriais de Infantaria da Guarda Nacional Republicana
•Boina bege - Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro da Guarda Nacional Republicana
•Boina camuflada (fora de uso) - 3ª Companhia de Comandos (Guiné) e Força de Flechas da PIDE/DGS,
•Boina amarela (fora de uso) - Grupos Especiais de Moçambique
•Boina vermelho grená (fora de uso) - Grupos Especiais Paraquedistas de Moçambique
•Boina branca (fora de uso) - Formações Aéreas Voluntárias

Carlos Vinhal

Gil disse...

Caros Camaradas

Esta foto de Setembro de 1965 foi tirada em Brá. A farda era caqui amarela clara e a boina que usámos, exclusivamente para a foto, era de cor vermelha. Julgo que algum Camarada terá encomendado essas boinas em Lisboa. Tenho a foto original, em papel.
Estávamos no início da formação dos Cmds da Guiné, na que, mais tarde, veio a ser chamada a "fase de grupos". Estes gozavam de grande independência, quase sempre actuaram isolados, com apoio e recolha de GrsComb das zonas de actuação. Só muito raramente, talvez duas ou três vezes os Grs actuaram em conjunto. Esta filosofia veio a alterar-se com a chegada das CCmds formadas em Lamego.
A boina vermelha, que ouvi dizer cá que não é vermelha mas magenta, só foi autorizada muito mais tarde.
Em 1964/65 estava-se na fase da formação de identidade, que incluia a cor da boina, mas não só.
Um abraço e obrigado pelo vosso interesse.

V Briote
ex-alf mil da CCav 489/ BCav 490 (Jan/Mai) e CCmds do CTIG (Jun/Set1966)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Fernando: Intuitiva e apropriada a tua observação. De facto, nas lendas e narrativas do Faroeste da nossa infância e adolescência, os heróis eram todos brancos e nunca podiam morrer. Hollywood alimentou (e matou) o nosso imaginário. O mundo está dividido entre fortes e fracos, heróis e vilões, índios e cobois... E o melhor índio só podia dia ser... o morto.

Ainda cheguei, já no tempo do Spínola, a ouvir essa, em Contuboel e em Bambadinca, da parte dos meus soldados fulas: "O balanta a menos era um turra a menos"... Como se sabe, o racismo nem tem cor nem bandeira, nomeadamente nas "guerras civis" (como também o eram as "guerras coloniais" em que, por "azar do destino", também nos calhou, sem termos feito mal a ninguém...).

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Afinal, boinas há (ou havia) muitos... Como havia chapéus e barretes, de todos os feitios, grandes e pequenos...

Eu aceito plenamente a explicação do Gil (, leia-se: Vb, ou Virgínio Briote). Ele é a honestidade intelectual em pessoa e, como nosso autor e nosso coeditor jubilado, o blogue deve-lhe muito).

Não tenhpo dúvidas, pois, que as boinas da foto fossem vermelhas, mesmo que a foto tenha sido "retocada" para efeitos de melhoria da sua resolução... Nessa altura, já na decadência do Estado Novo já se podia dizer "vermelho". Mss no auge do regime de Salazar, nos anos 30/40, a palavra era proibida. Oficialmente, o "vermelho" não fazia parte do espectro das cores... Até a tinta, nas repartições públicas, era azul e "carmezim"...

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Reporto-me à informação sobre "boina" de tecido camuflado:
Foi usada não apenas pela 3ªCCmds, como igualmente pela sucedânea 5ªCCmds.

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Sobre o "livro"...
Concordo, 'grosso modo', com a recensão crítica que Luís Graça emitiu.
Quanto à ilustração da capa do citado livro:
1.- Aquele registo fotográfico remonta ao dia 10Jun1973, após cerimónia do Dia de Portugal celebrado em Bissau;
2.- O original daquele registo fotográfico, tanto quanto é de meu conhecimento, terá pertencido ao veterano Joaquim Artur Spínola Martins (furriel miliciano comando da 35ªCCmds), o qual em tempo foi partilhado algures através da internet;
3.- No original fotográfico, consta, ao lado direito do alf cmd Marcelino da Mata, o furriel cmd Joaquim Spínola;
4.- A colorização da boina - em tom vermelho escuro -, é um logro, porquanto Marcelino da Mata nunca na Guiné alguma vez usou uma "boina vermelha", principalmente numa cerimónia militar!
A foto de capa foi objecto de grosseira manipulação, fosse pela editora ou pelo autor, pelo que aqui exorto o jornalista a vir a este blogue prestar os devidos esclarecimentos, incluindo comprovada declaração de ter sido obtida autorização, do retratado (ou post-mortem de seus familiares), para a manipulação referida e como tal servir de gongórica capa a uma "narrativa", a qual, de forma também abusiva, além de insistir no tal "vietname português", pretende comparar Marcelino da Mata e a gesta de militares portugueses na Guiné (1961-1974), a... John Wayne e fitas do far-west!

Fernando Ribeiro disse...

A fotografia do Virgínio Briote era a cores no original; não tenhos dúvida nenhumas quanto a isso. A passagem do tempo fez as cores alterarem-se profundamente e, quando a fotografia foi "sacaneada", ela já se apresentava com este aspeto completamente avermelhado. Não acredito que alguém tenha retocado ou pintado o que quer que fosse. Por que haveria de fazê-lo? Tentei recuperar as cores originais da fotografia com o auxílio de dois programas gratuitos que tenho aqui no computador (IrfanView e Xn_View, que aliás são muito semelhantes entre si), mas o resultado não é nada famoso: as caras dos militares europeus ficaram excessivamente amarelas. Logo, também os uniformes terão ficado demasiado amarelos. No entanto, para tentar corrigir o amarelo, tenho que mexer nas outras cores, que por sua vez passam a ficar desequilibradas e a emenda é pior do que o soneto. O fraco resultado a que consegui chegar pode ser visto aqui.