Queridos amigos,
Sines tem importantes atrações, incluo-o obrigatoriamente no roteiro estival deste canto do sudoeste alentejano, São Torpes é o polo da atração, areais e falésias magníficas num perfeito contraste com o interior rural. Depois da magnífica jóia que é a Igreja de Nossa Senhora das Salas encaminhei-me para ir cumprimentar Emmerico Nunes, não bati propriamente com o nariz na porta, trouxe publicações que me ajudam a sintetizar a obra desse senhor que encantou alemães, suíços e espanhóis, não foi só um desenhador de humor emérito, deixou bela pintura, gravuras, desenhos que atestam o seu traço inconfundível. E depois o Centro de Artes de Sines, sempre excitante, subo e desço todos os andares como se fosse a primeira vez e guardei imagens de algumas obras de uma exposição ali patente do acervo do colecionador António Cachola. E vamos continuar.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (13)
Mário Beja Santos
Três grandes desenhadores de humor triunfaram na cena internacional e deixaram obra esplendorosa que bem merecia ter um local próprio para ponto de encontro desse diálogo de génios: Leal da Câmara, Emmerico Nunes e Vasco de Castro. Emmerico ficou ligado a Sines onde tem um centro cultural desde 1986. Ele trabalhou em Munique e Zurique, era filho de pai português e de mãe alemã, nascido em Lisboa em 1888. Partiu para Paris em 1906 e em 1911 instala-se em Munique onde inicia uma carreira de desenhador humorístico na influente revista Meggendorfer Blätter. Com o anúncio da I Guerra Mundial, regressou a Portugal, seguiu depois para Zurique, e depois regressa à pátria, passando a colaborar ativamente com o universo satírico espanhol. Os alemães apelam ao seu regresso, mas, entretanto, ele ia-se afastando do traço alemão, ajeitara-se ao cânone nacional. Colaborará em diferentes obras do Estado Novo. Injustamente esquecido, foi um desenhador de humor ímpar. Vim procurá-lo ao Centro Cultural, estava preterido por exposições de alunos de uma escola de Sines, limitei-me a trazer publicações alusivas ao seu génio. Para que conste
Emmerico Hartwich Nunes
O Centro de Artes de Sines é um arrojado empreendimento dos arquitetos Francisco e Manuel Aires Mateus, foi finalista do Prémio Europeu de Arquitetura Mies van der Rohe, alberga um centro de exposições, um auditório, a biblioteca municipal e o arquivo histórico municipal. É sempre com a maior satisfação que aqui venho visitar esta arquitetura-fortaleza, é um dos mais belos edifícios de Sines. Dada a lógica da construção, não é fácil captar em toda a extensão as suas linhas, aqui ficam alguns pormenores, ainda por cima decorriam obras nos arruamentos próximos, tive que procurar junto de uma betoneira um ângulo um tanto elucidativo do que o arrojo arquitetónico oferece.Decorria uma exposição de obras da coleção António Cachola, há peças que me deslumbram, mas um bom quinhão delas deixa-me completamente indiferente. Gosto da forma obsessiva com que Jorge Molder se fotografa e deforma o cânone da composição, rendo-me aos diálogos que Sofia Leal implanta num espaço, jogando na construção estética de dois corpos dissonantes, deles avultando uma inesperada harmonia, não escondo a atração pelo tríptico fotográfico e a sua alusão a intemporalidade, mas é a organização do espaço cenográfico a que chamamos museografia o que mais me impressiona, e aqui o registo, antes de partir para uma outra visita e seguir para São Torpes, está na hora do banho de mar da neta.
(continua)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 21 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22473: Os nossos seres, saberes e lazeres (465): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (5) (Mário Beja Santos)
Sem comentários:
Enviar um comentário