quarta-feira, 2 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7886: Contraponto (Alberto Branquinho) (24): Fronteira portuguesa? Ainda?

1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 22 de Fevereiro de 2011:

Caro Amigo Carlos Vinhal
Junto vai um pequeno texto para o CONTRAPONTO (24) que foi a reacção imediata à leitura de um conto do José Eduardo Agualusa.

Abraço
Alberto Branquinho


CONTRAPONTO (24)

FRONTEIRA PORTUGUESA? AINDA?

No livro de contos “Fronteiras Perdidas” (Publicações Dom Quixote) de José Eduardo Agualusa, cuja 1ª. edição é de 1999, está incluído um conto denominado “Lugar de Morança” (pág. 57).

Como natural de África, que fala e repete África (não só Angola), aqui a história começa em Ziguinchor – Senegal.

Há referências a uma “velha casa, com uma larga varanda a toda a volta”, “um rádio ligado e uma voz que canta”, ao “grito do muezim chamando o povo às orações”, ao “rio Casamansa”, à “poeira vermelha flutuando sobre a estrada”, tal como nos nossos tempos de Guiné…

E, inesperadamente, termina do seguinte modo:
«Sigo em direcção à fronteira, a São Domingos, na Guiné-Bissau. E é então que vejo uma placa na berma da estrada, meio oculta pelo capim exuberante, corroída pelo tempo, a humidade feroz, um desgosto antigo:

- Portugal 30 - Km. ».

(Passei por aqui, a caminho de Dakar, em 1999, saindo da Guiné por São Domingos, depois de termos passado a noite nos arredores de Susana. Não vi essa placa, que estará – estará ainda? – colocada de modo a ser vista por quem viaje de norte para sul e não em sentido contrário.)

Alberto Branquinho
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 23 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7851: Contraponto (Alberto Branquinho) (23): Os milicianos na guerra

5 comentários:

Anónimo disse...

Caros camarigos

A dúvida do ABranquinho é sobre a 'fronteira portuguesa' relatada no livro, portanto existente algures em território senegalês, ou vai mais longe interrogando-se sobre as 'fronteiras portuguesas' em geral?

É que, quanto a estas últimas, são mais virtuais que reais, enquanto que a confirmar-se a possibilidade de ainda haver uma indicação de 'Portugal a 30 km' no Senegal não será assim tanto de estranhar, dada a morosidade dos processos em territórios africanos....

Abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

Caro Hélder S.

Só uma pequena discordância: pelo que me dizem, as "fronteiras portuguesas" em geral não são propriamente virtuais. Estão bem marcadas pelos postos de abastecimento de combustível!!!

Um abraço,
Carlos Cordeiro

Anónimo disse...

Para o Helder Sousa e para o Carlos Cordeiro

Lembro-me que, em São Domingos/Guiné, em 1999, à saída para o Senegal, bem ao pé do edifício dos antigos CTT (esta sigla estava, ainda, na parede escurecida), havia, não propriamente um "posto de abastecimento de combustível" como nós os conhecemos, mas alguém que vendia gasolina retirada de bidões e despejada nos depósitos das viaturas com pequenos recipientes de plásticos com x litros.

Mas como..."a minha pátria é a língua portuguesa"...que, por isto e por aquilo, vem vendo as suas fronteiras a ficarem cada vez mais "indefinidas" por razões de ordem política (e de vários modos) e não só...
Alberto Branquinho

Cherno disse...

Caro A. Branquinho,

Ainda hoje, para muitos habitantes daquela zona da fronteira com o Senegal (Casamança) dos quais uma grande parte são da etnia Fula, o territorio da Guiné-Bissau é simplesmente designada por "Portugei" e a nossa moeda mesmo depois da introdução do Peso Guineense, antes do CFA, continuava a ser "Nota" ou seja a denominação do escudo português em contraposição do "Billet Français". os hábitos e as marcas demoram a perder-se.

Mas, no subconsciente desses cidadãos do Senegal, este conceito "Portugei" está também associado a um temperamento e carácter muito agressivo dos Guineenses e quiça dos Portugueses de outrora.

Relativamente ao teu Post anterior, que só agora visualizei, permita-me discordar da opinião exposta naquele livro que citou, em como os combatentes do IN (PAIGC) seriam mais numerosos e melhor equipados comparativamente a tropa Portuguesa.

É claro que eu não posso discutir técnicamente sobre as capacidades de matar e de inutilizar de um e outro lado ou armamento, mas posso discordar pelo que os meus olhos viram.
Em termos quantitativos não há comparação possivel.

Em finais de 1974, passou por Fajonquito, noite e dia, uma coluna de camiões (Berliets e GMCs)carregados de armamento e rebocando enormes canhões que durou mais de um mês.

Quando o PAIGC entrou, perguntaram-lhes sobre o seu equipamento militar e a resposta foi: Encontra-se em Boé mas há-de vir. Estamos em 2011 e ainda não chegou, pelo menos nas quantidades que a propaganda fazia crer e as pessoas imaginavam na altura.

Cherno Baldé (Bissau)

Cherno Baldé disse...

Quanto a placa na estrada, tenho dúvidas que fossem indicadas 30 Km. O mais provável seriam 3 Km, pois a distância entre Ziguinchor e S. Domingos não deverá ser superior a 20 Km.

Cherno Baldé