segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7880: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (4): Em Mansabá, os últimos tempos de guerra

1. Mensagem de António José Pereira da Costa*, Coronel, que foi comandante da CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74, com data de 16 de Junho de 2010:

Camarada
Aqui vai mais um texto meu.
Tive dificuldade em o construir e por isso saiu uma série de personagens esboçadas.
À consideração "superior".
Um Ab


A Minha Guerra a Petróleo (4)

Em Mansabá, os Últimos Tempos de Guerra

 Vista aérea da povoação e quartel de Mansabá
Foto de Carlos Vinhal

Conheci Mansabá em finais de Novembro de 1972. O quartel vasto era agora guarnecido por uma Companhia de Artilharia – a CArt 3567 (“Os Insaciáveis") – e duas Secções de Artilharia (obuses 8,8 cm), quando já fora sede de Batalhão e depois de um COp. Levar-nos-ia longe a análise da constituição dos Comandos Operacionais (COp), em diversos locais da Guiné e não cabe aqui discutir soluções tácticas, mas antes falar de pessoas. Dos que ali foram parar e dos que ali viviam o seu dia-a-dia. Hoje, passados todos estes anos, creio que ninguém tinha uma ideia acerca do que pretendia. Todos esperavam. Os nascidos e criados naquela terra e arredores deveriam ter dificuldade em entender o que se passara e o que se passava para que tivessem de viver circunscritos a uma localidade, sem puderem deslocar-se livremente e contactar com os seus, que residiam noutros locais, cultivar a terra um pouco mais longe, comerciar, em resumo: viver.

Mal ou bem, mas labutar no dia-a-dia. E, o que era pior, sabiam que, se fossem “apanhados”, teriam de passar a viver em condições muito mais difíceis quando não em situações de dolorosa inferioridade. É que, se a vida de guerrilheiro e da população que o apoia é duríssima, a vida de um prisioneiro será sempre um calvário. Não sabe onde e como estão os que teve de deixar para trás e, na sua nova situação, ser-lhe-ão sempre atribuídas as tarefas mais humilhantes, para além da desconfiança que sentirá sempre à sua volta. E não adianta tentar “comprar” o ex-inimigo…

Naquela altura os campos já estavam extremados. Quem estava de um lado sabia que não tinha possibilidades de se inserir e sobreviver no outro.

Não contactei muito intimamente com a população. Senti mesmo uma certa distância dela em relação a mim, ou seria a todos nós? Sim, nós, os outros, os que fôramos daqui para lá para… para quê? Para combater pela Pátria, pois claro! Para proteger aquelas populações da barbárie, das garras do “comunismo internacional” e assegurar o desenvolvimento pacífico daquela terra e (quem sabe?) “assegurar a passagem a uma maior autonomia”. Enfim, íamos fazer o que se dizia e era sabido que íamos fazer…

É, no mínimo, estranho que a guerra se constitua como factor de aceleração do desenvolvimento e de autonomia. Será que, se não houvesse guerra o desenvolvimento económico e social não se daria? Ou seria retardado? É-me difícil admitir outra forma de desenvolvimento que não seja assente na paz. No fundo, estamos a dizer que quem se revoltou tinha razão e assim conseguiu que a população vivesse melhor, embora pagasse caro essa melhoria. Verdadeiramente insanável esta contradição.

A “guerra” levava, naquela altura, dez anos e, hoje, parece-me que aquela terra e aquela gente padeciam de uma espécie da gangrena que as apodrecia cada vez mais. Os guerrilheiros faziam a guerrilha. Era o seu dever patriótico de homens que queriam ser livres. Imolavam-se, se necessário fosse, em combates curtos, mas intensos, contra um número considerável de conterrâneos seus e contra os que, vindos da “Metrópole”, os perseguiam por vezes com grande violência. Saberiam eles bem porque lutavam? Direi que sabiam.

Naquele tempo, parece-me que todos tínhamos (muitas) certezas. No meio estavam uns que suportavam, que aturavam as vicissitudes daquela situação sem puderem invertê-la. É o drama habitual das grandes massas de um povo que, não sabendo ou não achando necessário participar activamente, limitam-se a tentar sobreviver, oscilando, como um ponteiro desgovernado sobre o painel do momento. Normalmente, a História não regista o seu sofrimento, nem justifica a sua acção… ou falta dela.

Ao contrário da primeira comissão, desta vez, também nunca falei com nenhum guerrilheiro, nem com alguém que com eles tivesse vivido.

É certo que algo melhorara nos últimos tempos de guerra. Agora havia uma estrada asfaltada que levava a Bissau ou a Farim, estava montada uma rede de assistência médica e medicamentosa como nunca existira e o arroz era vendido a um preço simbólico: “cinco pesos e meio”. Ainda me recordo de uma grávida, em trabalho de parto, que foi evacuada para Bissau, por via aérea pelo, hoje general Martins de Matos.

Actualmente, nada disso por lá existe e, mesmo cá, as transmontanas têm os filhos nas ambulâncias…

Vivia-se em paz no interior da tabanca. Contudo numa tensão permanente. Havia que manter o inimigo à distância. Inimigo de quem ou de quê, isso é que era mais complicado de dizer… Para isso lá estávamos, mais de centena e meia de jovens – sim éramos jovens, é bom que se diga – que, com uma certa regularidade, faziam demonstrações de força e, com elas, garantiam que “os outros” não se aproximavam.

Vivia-se numa espécie de equilíbrio tenso e susceptível de se alterar ao menor sopro do acaso. Era a tal gangrena que minava e, cada dia, agudizava mais a situação. Uns já não, outros ainda não. Mas já não ou ainda não, o quê? O que é que cada um de nós, homem ou mulher, velho ou novo, nascido ali ou vindo de outro local, queria, em última análise? Dava a impressão de que aquela situação de equilíbrio iria alterar-se a qualquer momento. De que modo?

Andávamos todos à procura de sermos felizes. Cada um à sua maneira, construindo o seu amanhã à medida dos seus anseios e, quando não os identificava claramente, pelo menos queria que “aquilo” acabasse. Não me peçam estatísticas, percentagens ou tendências. Isso são abstracções de sociólogos ou de políticos carreiristas a justificarem – uns e outros – a marcha de um fenómeno que decorria naquele momento e não era possível parar nem condicionar.

O que pensaria o “Moisés Tchombé”, o chefe do posto, daquilo tudo? Chamávamos-lhe assim pela semelhança física com o ex-dirigente congolês. Será que exercia as suas funções a pensar no dever quotidiano a cumprir ou na simples sobrevivência, esperando que, quando “aquilo” acabasse, pudesse continuar tranquilamente a ser um bom “chefe de posto”? E os dois funcionários da Casa Gouveia, já aliciados para o “Partido”? Que esperariam eles, quando tudo acabasse, se acabasse? Claro que teria de acabar, mas… de que maneira? E o comerciante libanês (outro membro do “Partido”) que vivia como os seus colegas de profissão, num dia-a-dia de compra e vende toda e qualquer coisa que fosse necessária? E os velhos da tabanca, dotados da sabedoria que a idade sempre traz, o que pensariam daquilo? Como visualizariam o fim? Pensariam que o PAIGC, estava condenado a vencer e a tomar conta de tudo e, nesse caso, qual seria o papel deles? E se fosse a “Tropa” – reparem na expressão que usei e que usávamos – a ganhar, como ficaria todo o resto?

Há um indício técnico que, confesso, negligenciei: o Pelotão de Milícia estava incompleto e, embora o método de recrutamento estivesse modificado, centralizando-se num período de recruta num centro de instrução (que chegou a funcionar em Mansabá), parecia não haver interessados em recompletá-lo…

Estranho, para quem tinha que se defender diariamente de um inimigo que não se pode dizer que fosse muito contemplativo, como se viu naquele ataque “ao arame” em que arderam 21 casas. O que pensaria a população, em geral, das possibilidade de evolução da guerra? Valeu-nos naquela altura a Companhia de (instrução) Comandos Africanos que estava em formação e que fez as vezes dos bombeiros, apagando o incêndio, com baldes e bacias. Pedi às instâncias superiores cerca de 250 contos para reabilitar as casas e repor os bens daqueles que tudo tinham perdido. Nem um tostão veio. Não compreendi, na altura, a dificuldade em se aceitar que, em cada casa, houvesse pouco mais de dez contos em bens e alimentos. O PAIGC, vindo dos lados do Morés, atacou ostensivamente a tabanca e incendiou os telhados das moranças a tiro de RPG. O Amadu fala deste ataque, no seu livro e também não o entende(1). O conjunto tabanca mais quartel era grande e tinha um perímetro bem conhecido dos guerrilheiros. Um ataque cirúrgico, como hoje se diz, e que me pareceu um “ajuste de contas”, uma espécie de “perda de estado de graça”. Depois, veio o ataque à coluna de Cutia, a emboscada à coluna da CArt e à própria coluna grande de Bissau a Farim e volta. Terá sido o virar de uma situação de “equilíbrio”.

Uma morança de Mansabá atingida por fogo IN em 12 de Novembro de 1970
Foto de Carlos Vinhal

Tive contacto com o chefe da tabanca, logo no dia da minha chegada e, depois, só me pedia apoio para satisfazer qualquer necessidade da sua gente. Vi que os habitantes da tabanca viajavam pouco. Poderiam ir a Mansoa nas colunas da CArt. e daí a Bissau ou a Farim, na “coluna grande”, mas inexplicavelmente… não iam. Que se passaria para que tal sucedesse?

Dentre os habitantes da tabanca havia uns que não consegui entender. Não eram africanos. O senhor Zé, a mulher, D. Olinda, e uma filhota de três para quatro anos que tinham. Ele tinha explorado a Serração, alguns quilómetros a Sul, à beira da estrada, e hoje ainda abatia uma ou outra árvore que arrastava numa espécie de chassis que normalmente “até andava” fazendo uma fumarada de gasóleo não queimado. Ela cuidava da horta de casa e fazia funcionar um “restaurante barra café”. A filha enervava-se muito com os tiros da artilharia e com os ataques e o filho, com onze anos, acabara por obrigar os pais virem deixá-lo a casa de familiares, em Leiria.

Mansabá > 13ABR71 > Festa de Batisado da filha do senhor José Leal e dona Olinda > Nesta foto, da direita para a esquerda: Cap Mil Jorge Picado, senhor José Leal, Chefe de Posto (“Moisés Tchombé”) referido no texto, a esposa e uma das professoras ou filha do casal.
Foto de Jorge Picado, com a devida vénia.


Mansabá > OUT71 > A D. Olinda, esposa do senhor José Leal, e a filha de ambos no dia da festa do 1.º aniversário da menina
Foto de Carlos Vinhal

A dado momento, colocaram ali duas professoras “de primeiras letras”: a Sérgia, cabo-verdiana, gorda e que não parecia muito interessada na sua actividade e a Maria do Socorro, balanta, já havia concorrido ao título de miss Guiné, mas o júri teve de a eliminar por falta de qualidades estéticas… Tinha uma outra atitude e parecia querer dinamizar o funcionamento da escola. Suspeitei dela por evitar sistematicamente as colunas da CArt e procurar sempre seguir na “coluna grande”. Um dia impedi-lhe o embarque numa delas e, então, não tive dúvidas. Aos saltos em cima do unimog desatou a gritar “que estava farta dos cães colonialistas portugueses”. Então detectei “as malhas que o Império tecia”. O comandante do Batalhão ameaçou-me e obrigou-me a soltá-la. A rapariga estava fortemente “apoiada nas NT” e eu estava a pouco tempo de me vir embora. Após a independência, talvez em consequência dos “apoios” foi funcionária do Exército, no Estado-maior do Exército e na Repartição de Oficiais. Sei que continuou muito preocupada com o que não tinha – a beleza – ao ponto de comprar a uma daquelas vendedoras que frequentavam as unidades militares e as empresas, o bronzeador mais caro. Ao que me disseram assassinaram-na numa das viagens que fez à Guiné. O móbil do crime terá sido o simples roubo.

Que pensariam estas duas mulheres que viviam numa casa anexa à escola. Esta, que tinha sido um posto de comando e um centro de transmissões, era um edifício, de paredes sólidas, construído no “ano dos centenários” – 1946. Há fotos deste tipo de edifícios. Este era contemporâneo do Posto Administrativo, onde o “Moisés” vivia e cumpria as suas obrigações burocráticas, que eu, devo confessar, nunca entendi bem. Por despacho do General Spínola, o director da escola era eu e o segundo comandante do Batalhão era o inspector da circunscrição escolar na sua área. Por mim, nunca intervim no “processo de alfabetização em curso” a não ser para transmitir as instruções que me davam, prontamente contestadas pela Socorro. A escola foi inspeccionada uma vez, durante as férias e na ausência das professoras. Os resultados foram hilariantes e até deram direito a uma música com letra do alferes Rui Serras e música do Yellow Submarine. Prometo que conto um dia destes…

O que pensariam estas mulheres jovens, na altura, do que se passava à sua volta e o que terá sido feito da Sérgia?

E a “malta”? O que pensariam e como aceitariam aquilo tudo, os alferes – nunca tive mais de três devido à escassez de pessoal – os sargentos – entre os quais também existiam faltas, pelo mesmo motivo – e as praças?

Corro o risco de ser injusto, mas a avaliação que faço hoje é fruto de análise de pequenas situações que foram sucedendo então e que me sugerem que se tratava de uma unidade de “homens independentes”. Havia, penso, um núcleo de mentores que lideravam naturalmente. O primeiro-sargento Cipriano Canelas, amigo de outras situações, homem sensato, competente e dedicado, tinha uma característica que pode ser considerada uma forma de resistência: procurava vestir sempre bem, fardado ou à paisana. Aglutinava à sua volta o alferes Silva, ex-seminarista e, por consequência treinado para liderar, como todos os padres; o Bateira, furriel atirador com a valentia própria de quem conheceu os “ambientes do Brasil” e que manejava a MG 42; o Rui Serras, estudante falhado de medicina, angolano de Portalegre ou portalegrense de Angola, persuasivo e alegre que, como vi mais tarde, sabia bem congregar vontades; o Mota e Silva furriel atirador eficaz e reservado.

Depois havia outros, como os malogrados Vale das Transmissões, Sá Lopes, Ranger, sempre pronto a fazer jus à sua qualificação e o Costa, gigante atirador e marido da Júlia. Ainda me lembro do Ramos, magro e louro, meu companheiro naquela coisa das minas… e o Antero Paiva. E o Carvalho, o furriel “Enfermeiro”, que fazia os possíveis por assistir a população e a “malta”, com cuidado e a qualidade possível. Havia também o Alves da Artilharia, sempre sisudo, mas pronto na “hora do aperto” e eficaz no desempenho das tarefas que lhe tocavam.

Entre os soldados, relembro o “Boxista” que tinha andado a aprender a “Nobre Arte” mas com resultados modestos, o Pilo (é nome e não alcunha) pescador do bacalhau e que preferia estar ali com os pés no chão a andar aos tombos num dóri; o Valdez das Transmissões que tocava, na flauta de bisel “El Condor Pasa” acompanhado à viola pela Sousa Pinto da mesma secção.

Todos cumpriam e bem, mas sem entusiasmo excessivo. As coisas, faziam-nas porque era necessário fazê-las, desde a guerra às tarefas de guarnição. Dir-se-ia que resistiam à provação que lhes era imposta.

Não creio que “sofressem de patriotismo exacerbado”. A Pátria, para eles, não era ali… Não notei que odiassem o inimigo, mas distanciavam-se dele. Defendiam-se e faziam a guerra porque a isso os obrigavam e não detectei que nutrissem ódio pelo inimigo, mas também não me pareceu que tivessem qualquer simpatia ou compreensão pela parte contrária. Esta atitude de reserva vinha desde a primeira baixa sofrida pela Companhia, quando tinham pouco tempo de Guiné e eu ainda não estava com eles. Fora um ferido com mina lá para os lados de Manhau. Penso que se sentiram injustiçados e daí nasceu em espécie de revolta surda de quem não teme, mas que também não acredita e, sem outra saída, mantêm uma atitude de fria independência e de liberdade escondida.

Sem grandes alardes de valentia tive prazer em os comandar, mais como cidadãos do que como soldados.

(1) - Djaló, Amadu Bailo, "Guineense, Comando Português", (pág. 246 e 247), Ed. Associação de Comandos, Col. Mama
Sume, Lisboa, Março de 2010.
____________

Notas de CV:

Vd. poste de 27 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7874: Em busca de... (157): Camaradas da CART 3567 (António J. Pereira da Costa)

Vd. último poste da série de 18 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6614: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (3): Gente de Cacoca e outros

10 comentários:

Anónimo disse...

Caro Coronel
Mais um texto brilhante que é quase um tratado de sociologia.Reli os textos anteriores e naquele que se refere a Cacine e arredores, tenho que confessar um "crime de guerra"...estou pronto a ser julgado pelos camarigos.Esse tal de "Toneca" ainda estava em Cacine em 74.Um dia,nas minhas idas de Gadamael a Cacine para comer cocos e repouso do "guerreiro", tentava dormir, esse tal "toneca" residia numa palhota apalaçada junto à messe e tinha um gira-discos que resolveu por a funcionar com um disco de mornas que já estava todo riscado devido ao uso.Imaginam o som que aquela treta produzia. Após dois pedidos meus, com bons modos e alguma urbanidade,dizendo-lhe que queria descansar e que aquilo me incomodava muito, resolveu continuar, levantei-me peguei na G3 e espatifei-lhe o dito a tiro.Fui muito elogiado pelos camaradas de Cacine, que sem eu saber, também já tinham pensado em fazer o mesmo.Nunca mais houve música roufenha em Cacine.
Este "crime" não sei se já prescreveu.
Ex-artilheiro em Gadamael
C. Martins

Anónimo disse...

PS
Também lá estava um 1º sargento que passava filmes pornográficos para o maralhal--(clandestinamente claro) e cobrava-se bem.Foi onde vi pela 1ª vez. Quem diria, logo na Guiné e em Cacine.
C. Martins

Anónimo disse...

Caro camarigo Pereira da Costa!

Presumo que esta C.ARTª.3567(confesso que já não me ocorria o Nº), seja a que nos subbstituiu a nós CCaç. 2753(Açoreana)em Mansabá, aí para Maio/Junho de 1972. Mas tenho idéia, de que o seu Cmdt.,pelo menos o inicial, não era o Pereira da Costa, pelo menos tenho na memória, a ideia de que era um jovem Cap. Milª.de baixa estatura, mas já não me recorda do seu nome. Ou estarei enganado?. Já agora gostava de confirmação!.
E também já agora, gostava de confirmar esta triste ocorrência.
Em Março/Abril(?) de 1973, houve uma emboscada em Mamboncó, na estrada Cutia-Mansabá, penso que não longe da antiga serração desactivada,(a tal que o Sr. José terá explorado, no meu tempo já não)em que morreu um Fur.Milº. de nome António José Valente Piçarra, meu amigo e conterrâneo, e até creio que houve mais baixas para as N/T, e até viaturas destruidas.E quem era o Alf. comandante do Pel. Africano que estava em Cutia, ao qual o meu amigo Fur.morto em combate pertencia?-Seria o Alf.Milº. Ramirez,alentejano de Aljustrel, que foi da minha CCaç.2753, e que não veio connosco em Junho de 72, porque lhe faltava 1 ano de comissão, pois já tinha ido substituir 1 Alf. nosso evacuado para a então Metrópole?
Gostaria que o camarigo Cor.Pereira da Costa, caso possa e saiba, me esclarecesse sobre este assunto.
Quanto ao mais, Mansabá, Bironque Madina Fula, K3(onde estivemos cerca de 1 ano,no tempo do COP6)e Cutia e Mansoa das colunas, ai isso tudo, me é digamos, familiar.
E concerteza ao Vítor Junqueira(da minha 2753) e ao Carlos Vinhal da CArtª. 2732 que nos antecederam em Mansabá.
Um abraço camarigo

F. Godinho
(C.Caç. 2753)

Antº Rosinha disse...

Provavelmente que este post está a ser escrito há mais de 30 anos e penso que Pereira da Costa terá dúvidas se já o terminou.

E sabermos nós que tanta gente que viu esta guerra de Paris e Suiça e falam de cátedra sobre o assunto.

Carlos Vinhal disse...

Comentário do autor Poste, António José Pereira da Costa

Caro Camarada,
Ao que sei, o tal "Toneca" residia na tabanca, na sua loja-casa, alguns metros à esquerda de quem tinha saído da Porta de Armas.
Pela idade que tinha e pela sua atitude para com a vida (sofrimento incluído) não estou a ver com gostos musicais ao nível
gira-discos com discos de mornas, coladeras ou similares. Era, naquela altura rapaz para cerca de 50 anos, se não mais...
Havia um cabo-verdiano que era chefe de posto e que, embora já tivesse idade para ter juízo, às vezes ouvia rádio, com certa intensidade, no seu quarto situado na messe de oficiais. É provável que, tivesse tido inspiração para dar cabo da boina ao pessoal cujo único crime era querer dormir.
O Gen. Spínola disse que ele "acumulava" pois era gago e estúpido e isto foi resultado de um único contacto...
Destruir o gira-discos a tiro poderá ser considerado uma medida profilática, como dá vontade de fazer hoje aos gajos(as) que berram furiosamente ao telemóvel, nos transportes públicos.
Considero que os elogios dos camaradas de Cacine, são uma atenuante.
Como nunca mais houve música roufenha em Cacine, e passados estes anos creio que este "crime" prescreveu, como sucede a tantos outros bem mais graves.
O réu vai absolvido e considera o tribunal que foi feita (muita e boa) justiça.

Um Alfa Bravo e uma eficácia para o resto (das munições) fogo à minha voz.

António Costa

Anónimo disse...

Camarigo Pereira da Costa
Li com muito interesse, aliás como todos os outros, este texto, até porque se refere a uma das regiões por onde "excursionei".

Logo de entrada dou de caras com a minha pessoa, na mesa da "presidência" do "banquete" oferecido pelo Sr. José, no dia do baptizado da sua "filhota" e, para espanto meu, dizem agora que estava acompanhado por "Moisés Tchombé"!!!
Olho com "olhos de ver" fixamente para a foto e para aquela cara, que naquele tempo olhava com indiferença, e não é que encontro de facto semelhanças com tal congolês?
Será sugestão minha?
Mas caro amigo Vinhal, tu que te lembras mais destas coisas do que eu, diz-me lá? No nosso tempo o "Chefe" já tinha tal alcunha?
Tu sabes que se contavam outras coisas dele, mas era por ser "Tchombé"?
A "dama" da ponta esquerda, era filha dele, professora, ou seria funcionária do correio?
Aquele camarada madeirense que foi meu parceiro à mesa do almoço em Arruda dos Vinhos, é que deve saber. Ele tinha uma memória fabulosa...

Fazendo agora outras considerações, julgo que, todas essas atitudes da população quanto às "recusas" das boleias, eles que, mal viam umas viaturas preparadas para uma coluna, logo acorriam a pedir "passagem"...alguma coisa sabiam para não embarcarem em "passeatas". Maus sinais esses...

É muito provável que "nesses novos tempos", depois de "um certo recuo", táctico ou por insufeciencia de meios, estivessem a começar uma "nova fase" de luta na região. Teria chegado sangue novo às fileiras e reabastecimentos em material e de melhor qualidade, com toda a certeza. Daí o recrudescimento da actividade e a maior agressividade na estrada e nos aquartelamentos, pelo menos MANSABÁ e CUTIA.

A fatídica zona de MAMBONCÓ até à velha "serração", por onde passava um dos corredores de ligação do MORÉS com o SARA/CANJAMBARI, sempre foi difícil.

E finalmente o que foi feito do Sr José e família? Alguém sabe?

Abraços
Jorge Picado

Manuel Joaquim disse...

Caro camarada Pereira da Costa

Li e reli e quero dizer que este teu texto (muito bom e muito "gostoso" de ler) é um documento importante para a compreensão da situação na Guiné, tanto militar como social (e social-militar), nos últimos tempos de luta.

Acho que vai mesmo à essência da situação.
Está aqui aquilo que um relatório militar, operacional, dificilmente contém: a expressão vivencial dos meios civil e militar de Mansabá, vista (e sentida) sociologicamente, que penso poder ser alargada a toda a Guiné de então, sem grandes desvios.

No meu tempo, seis anos antes, dávamos e recebíamos umas "marteladas", mais ou menos frequentes,mais ou menos graves, conforme o local da guerra. Neste teu tempo vivia-se no fio da navalha. E os resultados deste viver não tardaram a aparecer.

Um abraço

Carlos Vinhal disse...

Caros Jorge, Pereira da Costa e Godinho.
Na verdade tenho ideia de que a professora era uma gordita, cujas pernas não condiziam com o corpo. Não me lembro da alcunha que dariam ao Chefe de Posto, pessoa que eu achava muito distante e muito vaidosa. Da funcionária dos Correios não me lembro.
O Jorge deve estar a referir-se ao Enfermeiro Pedro que tinha muito contacto com a população, mercê da sua função, pois a tropa dava muito apoio sanitário aos civis.
De uma coisa me lembro, nas colunas mais problemáticas (espírito santo de orelha?) não apareciam civis a pedir boleia.
Que saudades eu tenho daquele franguinho assado, das iscas de fígado, do bom bife com batatas fritas e picles (ainda lhe sinto o cheiro), servidos no restaurante do senhor José, tendo como gerente a sua esposa dona Olinda e como ajudante o Agostinho, aquele preto enorme que tinha tanto de tamanho como de educação e competência.
E aquela camioneta que carregava os toros? Era apenas cabina e chassis que ninguém sabia como ainda funcionava.
Um abraço
Carlos

Cesar Dias disse...

Gente de Mansabá

Também comi um ou outro frango no restaurante do Sr José, mas petisco mesmo, foi no quartel na companhia de Páras, um bicharoco abatido pelo Heli e que foi recuperado por pessoal dos Páras e confeccionado na cozinha deles.
Um abraço a todos que lá estiveram

César Dias

Anónimo disse...

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