segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P17002: Meu pai, meu velho, meu camarada (51): Feliciano Delfim dos Santos (1922-1989), ex-1º cabo, 1º Comp /1º Bat Exp do RI 11, Cabo Verde (Ilhas de Santiago, Santo Antão e Sal, 1941/43) (Augusto Silva Santos) - Parte II: "Colá San Jon", na Ribeira de Julião, ilha de São Vicente, 1943



Cabo Verde > Ilha de S. Vicente> Ribeira de Julião  > 1943 >  Tambores, colá San Jon  [Foto nº 30A]


Cabo Verde > Ilha de S. Vicente> Ribeira de Julião  > 1943 >  Tambores, colá San Jon  [Foto nº 30B]


Cabo Verde > Ilha de S. Vicente> Ribeira de Julião  > 1943 >  Tambores, colá San Jon  [Foto nº 30]


Cabo Verde > Ilha de S. Vicente> Ribeira de Julião  > 1943 >  Colá San Jon  [Foto nº 32A]


Cabo Verde > Ilha de S. Vicente> Ribeira de Julião  > 1943 >  Colá San Jon  [Foto nº 32]


Cabo Verde > Ilha de S. Vicente> Ribeira de Julião  > 1943 >  Colá San Jon  [Foto nº 31A]


Cabo Verde > Ilha de S. Vicente> Ribeira de Julião  > 1943 >  Colá San Jon  [Foto nº 31]

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Ribeira de Julião > 1943 >  Festa de São João. Fotos do álbum, do então 1º cabo Feliciano Delfim Santos, da 1ª companhia do 1º batalhão expedicionário do RI 11 (Ilha do Sal, 1941-1943)


Fotos (e legendas): © Augusto Silva Santos (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Feliciano Delfim Santos (1922-1989)
1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do pai do nosso camarada e grã-tabanqueiro  Augusto Silva dos Santos (que reside em Almada  e foi fur mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73). 

 O Augusto disponibilizou-nos 33 fotos, digitalizadas, do seu pai, Feliciano Delfim Santos, e dos seus camaradas da 1ª companhia do 1º batalhão expedicionário do RI 11, que esteve na ilha do Sal, entre junho de 1941 e dezembro de 1943 (*) [, foto à direita].

Os "expedicionários do Onze" partiram do Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa, no vapor "João Belo", a 16 de junho de 1941, com desembarque na Praia, ilha de Santiago, a 23 do mesmo mês. Estiberam prartocamente todo o tempo na então inóspita e pouca habitada ilha do sal, em missão de soberania. No final, ainda passram pelas ilhas de Santo Antõe de São Vicentem ressando a casa em dezembro de 1943. Duas dezenas de camaradas do batalhão morreram na ilha por doença e lá ficaram sepultados.

As fotos que  publicamos hoje trazem as seguintes (lacónicas) legendas:

(i) Foto 30 – Ilha de S. Vicente / 1943. Tambores, festa de S. João.

(ii) Foto 31 – Ilha de S. Vicente / 1943. Dança, festa de S. João.

(iii) Foto 32 – Ilha de S. Vicente / 1943. Dança, festa de S. João.

Podia pensar-se que eram do Mindelo, mas não. A festa de S. João celebra-se no interior da ilha, ma povoação da Ribeira de Julião. E são "postais ilustrados" comprados pelos expedicionários, como "recuerdo" de Cabo Verde...

No ábum de Cabo Verde, do meu pai, Luís Henriques (1920-2012) há uma foto extamente igual à da foto 31 do álbum do pai do Augusto, já qui publicada, e que tem a seguinte legenda:


Cabo Verde > S. Vicente > 1943 > Postal da época, "Coladeira do S. João" [ou cola San Jon] > Legenda no verso da foto (a tinta verde, já quase ilegível): "Dançando o batuque (sic) na Ribeira de Julião, no dia de São João , no interior ilha de São Vicente. Luís Henriques. 24/6/1943".

Foto: © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados [Legendas de Luís Henriques e de L.G.]

A qualidade  das imagens que o Augusto me mandou é superior.  Um delas já tinha sido publicada em tempos, mas erradamente foi legendada como sendo da festa da "Cola San Jon" da ilha de Santo Antão (**). O Augusto pediu-nos para fazer a correção, aqui fica feita.

Estas fotos, dos nossos pais, que foram expedicionários em Cabo Verde na II Guerra Mundial, infelizmente  já são muito raras e merecem ser salvas do "caixote do lixo", publicadas, divulgadas e estudadas. Por todas as razões, pelo seu interesse documental,  e sobretudo pelos laços históricos, culturais, linguísticos e afetivos que nos unem, portugueses e cabo-verdianos.

Tudo indica que as fotos (, na realidade, "postais ilustrados"), que aqui publicados, sejam da célebre casa "Foto Melo":

(...) "Foi a única casa fotográfica no Mindelo desde a sua fundação no séc. XIX e durante grande parte do século XX e retratou sistematicamente as chegadas de governadores, a elite intelectual local, almoços e jantares de gente ilustre, grupos de ingleses, eventos oficiais, sociais e religiosos, bailes carnavalescos, costumes populares, os navios no Porto Grande, vistas de cidades e paisagens de todas as ilhas de Cabo Verde. " (,,,)



2. Segundo Manuel Brito-Semedo, autor do blogue "Esquinha do Tempo"  (... "magazine cultural a divulgar Cabo Verde desde 2010"), a festa de S. João Baptista, ou do "colá San Jon" celebra-se em 24 de junho, em Cabo Verde [mas também na diáspora cabo-verdianaa como no bairro da Cova da Moura, na Amadora] no dia 24 de junho: (...) "integrada nas Festas Juninas,  é uma das principais festas populares nas ilhas de Barlavento – Santo Antão, S. Vicente, S. Nicolau e Boa Vista – e na Brava. Nas ilhas de Barlavento, a festa tem as mesmas características. Na Brava, a festa já possui características distintas e originais" (...).

Brito-Semedo, que é autor do estudo "A Construção da Identidade Nacional – Análise da Imprensa Entre 1877 e 1975" ( Praia, 2006),  resume aqui o que e esta festa na ilha de S. Vicente, onde no tempo da II Guerra Mundial estiver5am os pais de alguns de nós:

(...) "Em S. Vicente a festa decorre na Ribeira de Julião, localidade que dista poucos quilómetros da cidade do Mindelo. Mesquitela Lima (1992) descreve-a como uma espécie de romaria onde há de tudo: missa, comeres, beberes e dança, acompanhada de tambores e de apitos. A dança é a umbigada (movimento ritmado em que os pares chocam os umbigos), denominada colá San Jon, sobretudo praticada entre mulheres mas também entre homem e mulher. Os tambores, cuja forma são de origem portuguesa, são tocados com baguetes, produzindo um ritmo sincopado nitidamente africano. Tambores e apitos dirigem as dançarinas, que aceleram as umbigadas consoante o toque."

Mas há elementos de natureza socioantropológica que importa conhecer e divulgar. Seguimos a descrição do antropólogo Mesquitela Lima, citado  por Brito-Semedo:

(..) "Um navio à vela é outro elemento castiço da festa. Construído numa escala reduzida, com uma grande abertura no centro, permite a um homem entrar nele e segurar o navio com as duas mãos por intermédio de correias estrategicamente colocadas para que fique à altura da cintura. Este homem, chamado capitão e usando um boné, por vezes a farda completa, de oficial da marinha, maneja o navio em consonância com os apitos e tambores, praticando bolina, bordejando, vento em popa, tal como se estivesse no mar.

"É igualmente sacramental toda a gente usar colares de pipocas ("milho aliado") que se vende no local, sinal de que esteve presente na festa, ou seja, que era romeiro"  (Mesquitela Lima, op. cit.). (...)

E ao voltando ao amável autor do blogue "Esquina do Tempo", ficamos a saber que "a anteceder o dia de S. João Baptista, coincidindo com a festa pagã do solstício de Junho, há o tradicional saltar da fogueira (as “lumenaras”), eventualmente recordando o imemorial culto do fogo, e os fogos de artifício, prática também em Portugal associada à celebração do dia do Santo, na noite de véspera". (In; blogue "Esquina do Tempo" > 24 de junho de 2015 > Colá san Jon – Festa tradicional ).

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