Guiné > Região do Oio > Mansoa > CCS do BCAÇ 2885 (1969/71) > Patrulhamemto das NT no cruzamento de Cussanja
Foto: © César Dias (2007). Direitos reservados.
Texto do César Vieira Dias (ex-Fur Mil Sapador Inf, CCS do BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71)(1):
Camarada Luís Graça:
Num dos momentos nostálgicos que nos assaltam periodicamente, lembrei-me de prestar homenagem a uns miúdos que, penso, nem 20anos teriam e foram os protagonistas deste episódio.
Se achares que é de partilhar com a nossa gente, fogo na peça , estás á vontade.
Envio-te essa foto que nada tem a ver com o episódio mas é do cruzamento do Cussanja.
Um grupo de Balantas de boinas amarelas
por César Dias
Era um improvisado destacamento, no cruzamento de Cussanja. Estava situado no entroncamento da estrada Mansoa-Cussaná- Cussanja com a estrada Jugudul-Porto Gole, a poucos kilómetros de Mansoa.
Dado a sua localização, era um ponto priveligiado pelo IN do Changalana para tentar flagelar Mansoa, o que obrigava as NT a um grande desgaste em patrulhamentos e emboscadas sucessivas nessa zona.
Foi necessário improvisar um destacamento neste ponto, e a sua defesa foi entregue a um reduzido grupo de Balantas, a pedido destes.
Foi-lhes atribuída uma viatura Unimog, algumas G3 , Mausers e 1 ou 2 morteiros. Rapidamente escavaram abrigos que cobriram com troncos de palmeira e simultaneamente construiram 3 tabancas, nascendo assim o destacamento do cruzamento de Cussanja.
No primeiro dia que aparecem em Mansoa para se abastecerem, surpreendem toda a gente com as suas boinas amarelas, côr que escolheram para serem diferentes, manga de ronco.
Mas esta situação durou pouco tempo, pois em 23 de Setembro de 1969 um numeroso grupo IN atacou o destacamento durante 5 minutos, destruindo-o e incendiando-o, e causando 2 mortos queimados e 5 feridos.
Com a reacção da Artilharia de Mansoa, o IN bateu em retirada e quando chegou socorro de Mansoa já não teve contacto. O que restou dos mortos carbonizados chegou a Mansoa nas capas de chuva.
E assim terminou o grupo dos boinas amarelas que foi sacrificado por uma causa em que acreditaram. Terminou também o destacamento, voltando a zona a ser patrulhada e emboscada periodicamente.
Lembrei-me de relatar este episódio, com as imprecisões da distância no tempo, mas com a intenção de relembrar os heróis desconhecidos que, a não sermos nós, ficariam eternamente esquecidos.
Um abraço
César Dias
Ex Furriel Miliciano
CCS - BCAÇ 2885
_________
Nota de L. G.:
(1) Vd. posts anteriores do César Dias:
30 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1472: Sobrevivente do BCAÇ 2885 (Mansoa e Mansabá) (César Dias)
1 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1557: No regresso éramos menos 32 (César Dias, CCS do BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71)
3 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1643: A morte do 1º cabo José da Cruz Mamede, do Pel Cacç Nat 58 (3): 10 mortos em emboscada com luta corpo a corpo (César Dias)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
segunda-feira, 4 de junho de 2007
Guiné 63/74 - P1813: Os heróis desconhecidos de Cussanja, os balantas das boinas amarelas (César Dias)
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