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terça-feira, 20 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19213: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (59): os reordenamentos no desenvolvimento sócio-económico das populações, brochura da Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológioco [ACAP], do QG / CCFAG - Parte I



Guiné > Região de Tombali > Cufar > Matofarroba > Tabanca > 1973 > Aspeto parcial do reordenamento com o fontenário à direita


Guiné > Região de Tombali > Cufar > Matofarroba > Tabanca > 1973 > Aspeto do reordenamento feito pelas NT. Matofarroba ficava/fica, a 2km/3km, a sul de Cufar.


Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Capa da brochura "Os reordenamentos no desenvolvimento sócio-económico das populações". Província da Guiné, Bissau: QG/CCFAG [Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné]. Repartição AC/AP [, Assuntos Civis e Ação Psicológioco].  s/d.

Foto: © A. Marques Lopes / António Pimentel (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

I. Na sequência do poste P19196 (*), decidimos reproduzir o documento supracitado, que nos chegou, em tempos, pela mão dos nossos camaradas António Pimentel e A. Marques Lopes, e que já foi publicado, no nosso blogue em 2007 (**) , com revisão e fixação de texto do nosso coeditor Virgínio Briote.  

Vamos pedir ao A. Marques Lopes que nos confirme: (i) o número de páginas da brochura; e (ii) se o texto foi publicado na íntegra na altura. Uma ou outra palavra está ilegível.

Vamos pedir aos nossos leitores, amigos e camaradas da Guiné, que nos disponibilizem textos, fotografias e outros documentos sobre os reordenamentos populacionais. Tanto quanto sabemos, não há trabalhos académicos publicados sobre este tópico. Muitos de nós estiveram envolvidos, direta ou indiretamente, nos reordenamentos populacionais no TO da Guiné, nomeadamente no tempo do Com-Chefe e Governador Geral António Spínola (1968-1973).

Gostávamos de poder fazer um levantamento de todos os reordenamentos populacionais realizados ma Guiné, durante toda a guerra. E idenficar os nossos camaradas que integraram as equipas técnicas dos reordenamentos (graduados e praças) (, caso. por exemplo, do Luís R. Moreira) e que no BENG 447 planearam, coordenaram, apoiaram e/ou supervisionaram a construação de reordenamentos (caso,. pro exemplo, do Fernando Valente Magro).

Reprodução do documento [Revisão e fixação de texto: VB / LG].


INTRODUÇÃO (pag. 1)


1. O problema de fundo de toda a manobra de contra-subversão é a conquista das populações. Na Guiné os argumentos sob os quais o PAIGC construiu a sua máquina subversiva e os objectivos que se propõe atingir, estão sendo anulados ou apropriados pela política prosseguida pelo Governo da Província, que se baseia no desenvolvimento sócio-económico da população em tempo útil.

A estagnação sócio-económica que se verificou no passado, facilitou a tarefa inicial do PAIGC em ordem à mobilização subversiva. Contudo não foi ainda, e não é a curto prazo, possível a
o partido de Amílcar Cabral concretizar os programas de fomento que propagandeia, por não ter ainda a adesão da esmagadora maioria da população e por não ter estruturas e quadros que os ponham em prática, em tempo.

Por outro lado, em relação ao Governo da Província, este esforço de fomento, no campo da manobra contra-subversiva, apresenta alguns aspectos favoráveis ao êxito:

  • reduzidas dimensões do território da Guiné, permitindo a rápida deslocação e que, com meios pouco vultuosos e dentro das possibilidades da Nação, se desenvolva a manobra contra-subversiva pelo fomento; 
  • o baixo nível de vida dos países limítrofes, possibilitando que uma sensível melhoria provoque um contraste notável.


Como atrás foi dito, a conquista das populações pelo desenvolvimento
sócio-económico, terá de fazer-se em tempo útil, "rapidamente e em força", provocando o desiquilíbrio das populações indecisas e mesmo das controladas pelo IN, a favor da causa portuguesa. 

As populações da Guiné apresentam-se extremamente receptivas e sensíveis às realizações que se traduzam numa melhoria visível da situação da Província. Assim, a necessidade de aproveitar todos os meios disponíveis e a colaboração a que as Forças Armadas são chamadas a prestar.


2. Os reordenamentos são um meio de promoção, mesmo quando impostos pela evolução da manobra militar do IN. O desenvolvimento sócio-económico através deles, alcançar-se-á mais facilmente pela:

  • concentração populacional em menores espaços, permitindo auferir maiores benefícios colectivos;
  • maior economia de meios humanos e técnicos;
  • o controle mais eficaz e adequado das populações, subtraindo-as à acção subversiva e impedindo qualquer ajuda que, eventualmente, pudessem dar ao IN;
  • a defesa mais fácil, pela concentração, possibilitando a auto-defesa, a existência de destacamentos militares ou a integração do agregado em planos mais vastos de defesa.

PANORAMA DOS PRINCIPAIS GRUPOS ÉTNICOS (pag. 2-3)



1. Podemos considerar que existem dois grandes grupos humanos na Guiné: islamizados e animistas. No primeiro grupo incluiremos os Fulas, Mandingas, Beafadas, Saracolés, Sossos e Panjadincas e no segundo, Balantas, Manjacos, Papeis, Felupes, Baiotes, Brames, Banhua e Bijagós.


Existem, no entanto, pequenos núcleos híbridos, formados por etnias que utilizam práticas animistas e islâmicas e são, geralmente, sub-grupos em vias de se islamizarem. 
O factor religioso condiciona todo um comportamento social feito de usos, costumes e tradições ligadas às práticas religiosas. 

Assim, existem dentro de cada um dos sub-grupos elementos de afinidade e repulsão, como existem também, e mais vincadamente, entre os islamizados e os animistas. Interessará conhecer os principais elementos de cada grupo e, ainda, de algumas etnias principais, tomadas como padrão.


ISLAMIZADOS
  • forte sentimento tribal;
  • quase fanatismo religioso;
  • apreço pelo gado bovino;
  • fidelidade tradicional às autoridades;
  • respeito pela hierarquia religiosa;
  • dependência jurídica do Alcorão;
  • culto da hospitalidade;
  • espírito guerreiro;
  • desejo de cultura, assistência social e melhoria de vida.

ANIMISTAS
  • sentimento tribal menos intenso;
  • sentimento religioso normal;
  • preconceito racial (em relação aos islamizados);
  • apego à família e à terra;
  • espírito guerreiro;
  • espírito de vingança;
  • desejo de cultura, assistência social e melhoria de vida;
  • coesão familiar;
  • respeito pela vida da mulher;
  • desejo de justiça.
Entre os islamizados existem também afinidades e repulsões, elementos que os caracterizam e que são suficientemente fortes para os opor e, simultaneamente, os unir. Usando como exemplo duas etnias islamizadas, as mais representativas quantitativa e qualitativamente, vamos verificar essas motivações.

FULAS
  • ódio ao mandinga;
  • apreço e dependência do gado bovino...
  • [ilegível].

MANDINGAS

  • ódio ao Fula; 
  • apreço de gado bovino só para fins ... [ilegível].


As afinidades entre os animistas são talvez mais flagrantes, visto que as religiões são diversificadas e não existe uma unidade sob o ponto de vista religioso que, como já se disse, condiciona o seu comportamento social. No entanto, existe similitude de práticas religiosas, o respeito pelos espíritos dos mortos e pelos símbolos que os representam (os Irãs), o respeito e aceitação espontânea e indiscutível das interpretações dos guardas de Irã que constituem uma espécie de sacerdotes do animismo.

Das etnias tomadas como exemplo, os Balantas e os Manjacos constituem as principais dentro do grupo animista. Os Balantas têm uma população de 150.000 habitantes e a totalidade do grupo constitui dois terços da população guineense. Os Felupes, sendo uma minoria étnica é, sem dúvida, extraordináriamente característica por ser uma das mais primitivas e, ainda, a mais antiga que se conhece como originária do território guineense.

BALANTAS
  • culto do roubo como prática social;
  • resistência à cultura europeia;
  • desrespeito pelas hierarquias verticais;
  • interesse material pela família;
  • resistência ao cristianismo e islamismo.
MANJACOS
  • aversão ao roubo;
  • desejo de toda a cultura;
  • respeito pelas hierarquias verticais;
  • interesse relativo pela família;
  • resistência ao cristianismo e islamismo.
FELUPES
  • não aceitação do roubo;
  • resistência à cultura europeia;
  • respeito pelas hierarquias verticais;
  • interesse pela família (influência da mulher);
  • permeabilidade ao cristianismo.
Existindo dentro de cada um dos grupos humanos- Islamizados e Animistas- motivações tão flagrantes, é lógico que entre ambos essas motivações aumentem, já que são duas sociedades distintas em presença, cada uma das quais mantendo em relação à outra uma certa animosidade. A compreensão dessas motivações, facilitará esta visão geral do mosaico étnico- religioso e humano- da Guiné Portuguesa.

ISLAMIZADOS
  • monoteístas;
  • forte sentimento religioso;
  • dependência jurídica do Alcorão.
ANIMISTAS
  • diferentes concepções da divindade;
  • relativo sentimento religioso;
  • independência jurídica de fórmulas religiosas.
(Continua)

______________


Notas do editor:


quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10442: Álbum fotográfico de Armindo Batata, ex- comandante do Pel Caç Nat 51 (Guileje e Cufar, 1969/70) (2): Funeral fula em Guileje (ou melhor, funeral muçulmano, segundo o nosso amigo Cherno Baldé)


Guiné > Região de Tombali > Guileje > Pel Caç Nat 51 (1969/70) >  Sequência fotográfica de um "funeral fula em Guileje" (é a única legenda que possuímos) >  Foto nº 5 > s/legenda:  o cortejo funerário encaminha-se para a mata; á esquerda, é visível um troço de arame farpado do aquartelamento e tabanca; o fotógrafo acompanhou a cerimónia desde a saída da tabanca até ao local, na mata, onde se realizou o enterro; não parece haver qualquer escolta militar.


 Guiné > Região de Tombali > Guileje > Pel Caç Nat 51 (1969/70) > Funeral fula > Álbum do alf mil Armindo Batata > Foto nº 6 > s/ legenda: percebe-se pela foto que o morto, presumivelmente civil, do sexo masculino,, é transportado numa maca (possivelmente cedida pela NT), e vem coberto com um lençol ou um pano branco.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > Pel Caç Nat 51 (1969/70) > Funeral fula > Álbum do alf mil Armindo Batata > Foto nº 7 > s/ legenda: os familiares e amigos, só homens, quer civis quer militares, descalços, fazem um círculo à volta da sepultura, e possivelmente rezam em voz alta  uma primeira oração.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > Pel Caç Nat 51 (1969/70) > Funeral fula > Álbum do alf mil Armindo Batata > Foto nº 8 > s/ legenda: a inumação do cadáver, envolto em panos... e que parece ser depois encimado por uma esteira.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > Pel Caç Nat 51 (1969/70) > Funeral fula > Álbum do alf mil Armindo Batata > Foto nº 9 > s/ legenda: os participantes assistem,  sentados, à descida do corpo à terra.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > Pel Caç Nat 51 (1969/70) > Funeral fula > Álbum do alf mil Armindo Batata > Foto nº 10 > s/ legenda: a descida do corpo à terra.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > Pel Caç Nat 51 (1969/70) > Funeral fula > Álbum do alf mil Armindo Batata > Foto nº 11 > s/ legenda: possivelmente a oração de despedida à volta da sepultura, vísível pelo montículo de terra. 

[Peço ao nosso amigo e irmãozinho Cherno Baldé, fula e muçulmano, para corrigir e/ou completar estas legendas que a visualização das fotos me foi sugerindo...No TO da Guiné, no tempo em que lá estuve (1969/71)  só fui, que me lembre, a um funeral numa aldeia fula, o de um dos nosso soldados, morto em 7 de setembro  de 1969. LG]

Fotos: © Armindo Batata / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Todos os direitos reservados.


1. Explicação sobre o funeral de rito muçulmano na Guiné-Bissau, dada aqui em comentário a este poste pelo nosso amigo Cherno Baldé:


Caro Luís Graca,

As legendas estão corretíssimas, mas no intitulado, eu prefereria que fosse "funeral muçulmano" porque é disto que se trata, pois o ritual é o mesmo entre os muçulmanos de todas as origens e as pequenas diferenças que se podem notar resultam de condições concretas dos meios de cada comunidade.

O Armindo Batata dá-nos nestas imagens a impressão de um observador atento ao que se passa ao redor, no obstante, escapou-lhe a parte da oração fúnebre (conjunta) que é feita na morança, antes de partir para a sua última morada onde participam todos, homens e mulheres.

Torna-se quase impossível identificar o(a) morto(a) a partir das imagens (se é civil ou militar, homem ou mulher), mas a padiola [, maca,] é militar e deve pertencer aos serviços sanitários do quartel que, neste caso substitui a função tradicional da esteira fabricada com fibras de colmo que deveria servir para enrolar e transportar o defunto ao local do enterro.

A praxe muçulmana manda que o cemitério esteja situado fora da aldeia e a proteção da sepultura suficientemente sólida para evitar que as hienas e jagudis façam das suas.

O funeral muçulmano caracteriza-se pela sua simplicidade, rapidez e equidade, cada uma delas com o seu lote de vantagens e inconveniências, dependendo do ponto de vista de quem observa ou analisa. Todavia, uma coisa é certa, são cada vez mais as comunidades africanas que aderem, nomeadamente na Guiné-Bissau, provavelmente para diminuir o fardo dos custos (sociais e econoómicos) ligados aàs tumultuosas e repetitivas cerimónias de culto aos mortos em tempos de crise generalizada.

Aceitem esta contribuição de um leigo e muçulmano pela cultura.

Um grande abraço para ti e aos restantes editores,
Cherno Baldé

PS - Queria acrescentar que as três características ou princípios acima enunciados impedem que o morto seja enterrado dentro de uma urna, salvo casos excepcionais, o mais provável é ser retirado do caixão e enterrado na maior simplicidade possível.

Voltando a atualidade, é isto que explica o facto de os chamados fundamentalistas destruirem os mausoléus no norte de Mali (Tombouctu). São contradições de difícil solução dentro da própria religião que, ainda, não têm uma solução pacífica.

O cemitério do alto de S. João, [em Lisboa,]  está melhor urbanizado e apetrechado que muitas cidades
do terceiro mundo. Cherno


2. Recorde-se aqui, mais uma vez,  a lista das 11 unidades que passaram por Guileje, entre fevereiro de 1964 e maio de 1973 (Fonte: Carlos Schwarz/Nuno Rubim, 2006)

  1. CCAÇ 495 (Fev 1964 / jan 1965);
  2. CCAÇ 726 (Out 1964 / .jul 1966) (contactos: Teco e cor art ref Nuno Rubim);
  3. CAÇ 1424 (Jan 1966/Dez 1966);
  4. CCAÇ 1477 (Dez 1966 / jul 1967) (contacto: Cap Rino);
  5. CART 1613 (Jun 1967 / mai 1968) (contacto: Cap José Neto, já falecido, em 2007);
  6. CCAÇ 2316 (Mai 1968 / jun 1969) (contacto: Cap Vasconcelos);
  7. CART 2410 (Jun 1969 / mar 1970) > Os Dráculas (contacto: Armindo Batata, ex-comandante do Pel Caç Nat 51, jan 1969  / jan 1970);
  8. CCAÇ 2617 ( Mar 1970/Fev 1971) > Os Magriços (contacto: Abílio);
  9. CCAÇ 3325 (Jan 1971/Dez 1971) (contacto: cor inf ref Jorge Parracho);
  10. CCAÇ 3477 (Nov 1971 / Dez 1972) > Os Gringos de Guileje (açorianos) (contacto: Amaro Munhoz Samúdio):
  11. CCAV 8350 (Dez 1972/Mai 1973) > Os Piratas de Guileje (contacto: José Casimiro Carvalho).
Observ. - Receio que o nosso camarada e amigo Nuno Rubim, talvez o maior estudioso do dossiê Guileje/Gadamael, se tenha enganado na designação da 1ª companhia que terá passado por Guileje, com início em fevereiro de 1964... Ele refere a CCAÇ 495, quando provavelmente se queria referir á CART 495 ...

Não tenho a certeza da existência da CCAÇ 495... A CART 495, mobilizada pelo RAL 1, partiu para o TO da Guiné em 17/7/1963 e regressou a 24/8/1965. Teve como comandante o cap art Ângelo Rafael Leiria Pires. Esteve em Aldeia Formosa e Nhraca, possivelmente com um pelotão destacado em Guileje. Da mesma época, era a CART 494, comandada pelo cap art Alexandre da Costa Coutinho e Lima, tendo estado em Ganjola, Gadamael e Bissau. Talvez o Coutinho e Lima nos possa tirar esta dúvida. Quanto ao Nuno Rubim, não tenho tido notícias dele há muitos, muitos meses!
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10435 Álbum fotográfico de Armindo Batata, ex- comandante do Pel Caç Nat 51 (Guileje e Cufar, 1969/70) (1): População de Guileje