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quarta-feira, 9 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22267: (Ex)citações (386): Valeu a pena andarmos todos à porrada, nós, e os ingleses, e os bóeres, e os alemães, e os cuanhamas, e os hereros, naquele Cu de Judas que era o sul de Angola e o Sudoeste Africano? (António Rosinha / Valdemar Queiroz)


Angola > c. 1900 > Deserto de Moçâmedes, sul de Angola, atual província de Namibe  > Um dos famosos carros boéres, a atravessar o rio Caculovar. Foto do álbum da família de origem boer, Schotanus, com antepassados no sul de Angola. Com a devida vénia...


Em 1884 um navio chamado 'India' deixou a Madeira com 222 colonos para cultivar a parte sul de Angola a convite do governo português (ver guia do colono de 1891, em português) , que ocupou Angola por quase 400 anos, durante os quais as tribos Bantu do norte começaram a se mover para o sul da África, deslocando os primeiros bosquímanos e hotentotes. 

Até ao século XIX, esta área em particular ainda estava largamente desabitada, exceto por alguns boéres sul-africanos que no século 19 se mudaram para a Huila, no interior de Angola, longe do domínio britânico, primeiro na antiga província holandesa do Cabo e depois no Transvaal. 

Os madeirenses aprenderam a cultivar a terra, a caçar e a construir robustos carroções de bois com os bôeres, que tinham adaptado um design não incomum da Holanda., e que controlava o comércio de transportes no sul de Angola para aborrecimento das autoridades portuguesas em Lisboa. 

O avô Domingos Rodrigues conheceu bem os Afrikaner Boers , e passou mais de 50 anos a ajudar a desbravar o sertão angolano: tocava as suas canções Boer na sanfona e falava Afrikaans. Os Boers saíram como tinham vindo, em várias ondas durante o século seguinte (nomeadamente com o êxodo de 1928 e de 1958), tendo sido encurtado a cada passo pelas autoridades portuguesas nas suas tentativas de construir uma nova vida



A Lee-Enfield, a espingarad padrão do Exército Britânico (adotada em 1895)


A Mauser 98 ou Gewehr 98 (. versão moderna), que fez a sua estreia na Segunda Guerra dos Boéres (1899-1902).

 
Comentários aos postes P22264 e P22266:

(i) António Rosinha (*)

A batalha de Naulila foi feita contra os alemães para defender aquela fronteira(sul). Os alemães que também nos massacraram em La Lys naquele tempo, forneceram armas aos Cuanhamas que eram muito difíceis e muito rebeldes e até bastante insociáveis e até 1974 não pagavam imposto.

Hoje, estes dias (jornais de duas semanas passadas), a Alemanha aceitou considerar genocídio aquilo que fizeram a sul de Naulila, ou seja, no sudoeste alemão (Namibia), genocídio contra os irmãos destes mesmos Cuanhamas que do lado de lá se chamam Hereros.

Os alemães precisavam dos rios do sul de Angola.

Os alemães perderam a I Guerra Mundial, com muitos sacrifícios da nossa parte, se a vitória tem sorrido aos alemães, Angola e Moçambique e seus habitantes tinham outro destino, principalmente os Cuanhamas, armados pelos alemães, falava-se em Mausers contra as nossas Lee-Enfields (ou coisa que o valha).

O 25 de Abril apanhou-me a fazer estradas exatamente naquela fronteira do sul.

Será que valeu a pena nós e os alemães andarmos à porrada naquele cu de judas?

É melhor perguntar aos descendentes de Agostinho Neto, de Lúcio Lara, de Eduardo dos Santos e de Savimbi, mais uns generais, eles é que se podiam pronunciar sobre o resultado final.

8 de junho de 2021 às 15:21

(ii) Valdemar Queiroz (*)

Rosinha

É uma chatice e não nos sai da cabeça, o que se passou com a colonização da América do Norte e do Brasil, a colonização espanhola agora não entra.


Aquilo é que foi, e porque em África não aconteceu a mesma coisa? Até já havia por lá mão d'obra de borla.

Parece que em África (subsariana) só a partir do séc. XVII, com a chegada dos camponeses calvinistas holandeses (boéres)(#) ( ao sulO, é que deixou de ser quase unicamente a "mina" do negócio de escravos. Os boers fixaram-se no terreno e dedicaram-se à agricultura como já tinha feito outros calvinistas na América do Norte.

Por isto, a África nunca poderia ser igual à 'era só mais uns aninhos e tínhamos outros Brasis pra nós, ou anos antes outra América para os ingleses, franceses e outros' e, agora, com a civilização cristã e ocidental não haveria todos aqueles problemas em África.

Não sabemos é se aconteceria o mesmo que aconteceu aos índios da América do Norte.

Abraço
Valdemar Queiroz

(#) boers, em neerlandês pronuncia-se bôarrss

8 de junho de 2021 às 18:04 


(iii) António Rosinha (**)


Umpungo, onde este heroi Roby morreu era ainda muito longe da fronteira e onde se deu a anteriormente mencionada batalha desatrosa de Naulila, só que os indígenas de Naulila eram Cuanhamas, e no Umpungo eram Mamuilas, da Huila.
Conheci desde 1958 estas regiões profissionalmente e conheci muitas histórias contadas por gente ainda viva de Sá da Bandeira e do Roçadas (Humbe) e Pereira D'Eça (Ondjiva).

Os alemães incitavam e armavam a população contra nós, mas não me tinha apercebido que vinham tanto para norte.

Ainda em 1958 ir de Luanda até estas regiões era muitíssimo complicado, apercebi-me porque trabalhei e percorri profissionalmente, em cartografia e estradas toda esta região.

O General Roçadas levou tareia e só mais tarde o General Pereira D'Eça é que dominou , mas só com a ajuda dos Boeres, porque estes muitos tinham-se refugiado no Sul de Angola, devido a guerras que mantinham com ingleses que nunca entendi bem, ainda viviam algumas familias naquela região no 25 de Abril, e do lado da Namíbia deram muita luta aos alemães.

Os boeres deixaram uma tradição de transporte animal, usada pelas nossas tropas no sul de Angola que constava quase exactamente com os nossos carros de bois que bastante estreitos, usavam os caminhos de pé posto dos indígenas, que com uma ligeira desmatação, ficaram a ser conhecidos por caminhos dos boeres, e desenrascava para levar armas e mantimentos em distâncias enormes.

Esta guerra no sul de Angola terminou com a derrota dos alemães nesta e noutras frentes evidentemente, mas o domínio total sobre a rebeldia dos Cuanhamas foi com uma batalha também célebre em Angola a batalha da Mongua com o General Pereira D'Eça.

Também nessa guerra foi usada alguma cavalaria e os Cuanhamas também usavam cavalos.

9 de junho de 2021 às 12:06 (***)

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Notas do editor: