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sexta-feira, 4 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13363: 10º aniversário do nosso blogue (24): Ernersto Duarte [ex-fur mil, CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67]


1. Mensaem, de 1 do corrente,  do nosso grã-tabanquerio Ernetso Duarte  [ex-fur mil. CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67],


Data: 1 de Julho de 2014 às 23:11

Assunto: Blogue eterno

 
Luís

Boa noite

Eu tinha que assinalar o aniversário do blogue ! (*) Claro que eu sou um escritor de buscas em caixote ! Mas com todo o respeito e máxima consideração, estas duas linhas !



Meio perdido, 
mas ainda não totalmente ingrato, 
não esqueço de todo, tudo !
O blogue, para mim, foi algo de bom, 
terá sempre um lugar na minha alma confusa ou louca !
À minha maneira, 

mas mesmo assim não podia deixar de assinalar aqui,  
Blogue, que fizeste mais um ano, 
parabéns !

Pois é, Blogue, fizeste mais um ano, 
já és crescidinho,
 já percebes na plenitude quais os problemas, 
quais as maleitas, 
que apresentam os teus fieis seguidores !

De uma maneira geral, foram uns sonhadores,
onharam que o seu país um dia gostaria deles, 
das pessoas, como eles gostaram e gostam dele, 
mas não foi assim, ´
foi um sonho, 
e como a diferença de sonho a pesadelo é pequena !

Tudo desaparecerá mas tu Blogue serás eterno, já és eterno !

Não são meus, são de um soldado que morreu há muitos anos, 
talvez já os conheças, 
mas em memória dos que partiram mais cedo, 
dos que foram partindo, 
dos que irão partir, 
deixo-os à tua guarda, 
com a certeza que os guardarás na tua eternidade, ~
com a dignidade que merecem !

O dia terminou
O Sol foi-se dos lagos
Das colinas e do céu
Tudo está bem
Descansa com segurança
Deus está próximo
Desaparecendo a luz
Escurece a vista
E uma estrela embeleza o céu
Brilhando luminosa de longe
Se aproximando cai a noite
Graças e louvores para
Os nossos dias
Debaixo do Sol
Debaixo das estrelas
Debaixo do céu
Enquanto caminhamos
Isso nós sabemos
Deus está próximo


Desculpa, Blogue, 
eu queria assinalar o teu crescimento, tão importante para tantos
que com a G3 nas mãos sonharam !
Não encontrei melhor maneira !
A sinceridade é a mesma !
Até à eternidade !

Um grande abraço

Ernesto Duarte

_________

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Guiné 63/74 – P13114: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (2): Respondam à nossa sondagem, inscrevam-se já e surpreendam-nos com mais um razão a acrescentar às 10 razões fundamentais por que devemos estar todos juntos, em Monte Real, no próximo dia 14 de junho...

Cartaz comemorativo do 10º aniversário do nosso blogue. Design:
Miguel Pessoa (ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74)
1. Mensagem enviada à toda a Tabanca Grande, pelo correio interno:

Amigos/as e camaradas:

Iniciámos, ontem, de manhã, um sondagem, no nosso blogue, que irá decorrer até ao dia 14... Precisamos de fazer uma estimativa do nº de convivas para o nosso próximo encontro, o IX Encontro Nacional da Tabanca Grande, em 14 de junho próximo, em Monte real, Leiria...

É também o encontro comemorativo dos nossos 10 anos de existência como blogue e como comunidade virtual (e real) de antigos combatentes, camaradas (e amigos) da Guiné... Dez anos são o equivalente a 5 comissões de serviço na Guiné... E a guerra, dizem, não demorou muito mais,. se aceitarmos que começou, em Tite,  a 23 de janeiro de 1963...

Eu sei que os tempos não estão fáceis, se é que alguma vez estiveram, desque nos calhou na rifa nascer neste país à beira mar plantado, no final da primeira metade do séc. XX, uns ou no início da segunda metade do séc. XX, outros. Os progenitores não se escolhem nem, com eles, a Pátria e a língua com que se balbuciam as primeiras palavras, as primeiras, as primordiais, as decisivas. Nascemos em Portugal, num tempo difícil, somos portugueses, falamos português (99 e tal por cento dos nossos grã-tabanqueiros) e temos orgulho nisso...

A Tabanca Grande é o ponto de reunião de uma geração em vias de extinção... Um, dia, o último de nós vai mesmo ter que fechar a tampa do caixão... Metaforicamente falando, claro está. O que diremos então  aos nossos filhos, netos e bisnetos ? Há 10 anos que nos preocupamos com isso, e tentamos falar com eles. Com pudor, com discrição, se calhar sem grande eificácia comunicacional... Ou talvez não: há cada vez mais filhos e netos, a perguntar por pais e avós que fizeram a guerra da Guiné, nos já longínquos anos 60/70...

Fomos melhores ou piores que outros pprtugueses de outras gerações ? A dos nossos pais, avós, bisavós... Nem piores nem melhores, simplesmenrte diferentes, com a vantagem de termos, agora com a Internet (que nasceu no início dos anos 1990), um plataforma de diálogo, comunicação, informação, partilha, interação...

Dez anos da Tabanca Grande merecem ser celebrados, mesmo com sacrifício. Já não há almoços (nem encontros) grátis, avisem-nos os econometristas que mandem neste mundo e na nossa terra. Além das 30 morteiradas, temos que pagar combustível e portagens para chegar ao centro da nossa Tabanca Grande que vai ser, mais uma vez, Montre Real.

Ocorreu-me que, mais uma vez, podíamos partilhar jipes, unimogues, berliês, GMC, mercedes, matadores, daimlers, chaimites... Não faz sentido virem dois camaradas de Faro ou de Braganca, cada um no seu carro. Em tempo de guerra, limpam-se armas e poupam-se munições... Façam o favor de comunicar ao nosso Carlos Vinhal que estão na disposição de partilhar as vossas viaturas. Eu posso dar o exemplo...

Por outro lado, eu sei que a concorrência, nestes meses de maio e junho, é feroz... Não há companhia ou batalhão da Guiné que não se reuna, nesta altura do ano, para o tão esperado e apetecido convívio anual a que já não vão comparecer os doentes e os mortos... Somos cada vez menos, nos nossos encontros, por mil e um razões, a começar pela usura do tempo...

Mas ainda há resistentes, resilientes e crentes no futuro... O António Santos, por exemplo, vem este ano mais a sua cara metade e o resto do clâ... Já o ano passado marcou presença, com pompa e circunstância, em Monte Real... Só para ele reservou uma enorme mesa redonda... É um gesto nobre e generoso, que tem de ser desde já reconhecido por todos nós.... Amigos e camaradas, tragam todos os vossos filhos e netos...


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > Parte da  família do António Santos (Caneças / Odivelas): na foto só aparece a Graciela, mais a filha, o genro e as netas. Três gerações!...  Este ano (2014) ele inscreveu nove pessoas!... 

Foto (e legenda): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.

Mas vamos ao assunto que interessa: precisamos de 50 inscrições para garantir a realização do IX Encontro Nacional das Tabanca Grande. Até agora, desde 2006, nunca falhamos por falta de quorum... Já temos 31 inscrições e queremos chegar às 100.

Não deixem para o fim a vossa inscrição.... Não façam como o Zé Portuga que deixa tudo para o fim: o IRS, o euromilhões, a felicidade, o arrependimento, o perdão, o bilhete de viagem para a vida eterna....

Rspondam, por favor à nossa sondagem (em linha, no blogue, ao canto superior da coluna do lado esquerdo...). Precisamos de fazer as nossas contas (*).  E surpreendam-nos com mais uma razão a acrescentar às 10 razões por que devemos estar todos juntos em Monte real, no dia 14 de junho próximo (*)...

Obrigado pela vossa camaradagem e amizade, obrigado pelo vossa camarigagem.

O editor, Luís Graça
_______________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 30 de abril 2014 > Guiné 63/74 – P13074: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (1): 10 razões para estarmos todos juntos, em Monte Real, no dia de 14 de junho de 2014, sábado, das 10h às 20h…

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13076: 10º aniversário do nosso blogue (23): Mensagens de parabéns (Parte II): Manuel Reis, João Silva, Mário Vasconcelos

Mais mensagens e comentários, a propósito do 10º aniversário do nosso blogue (*):


(i) Manuel Reis 


[, ex-Alf Mil Cav, CCAV 8350, Guileje, Gadamael, Cumeré, Quinhamel, Cumbijã, Colibuia, 25/10/72 - 27/8/1974]


Caros amigos e camaradas:

Em primeiro lugar os meus parabéns para o grande obreiro deste blogue, o nosso amigo e camarada Luís Graça, não esquecendo os que, ao longo dos 10 anos, o foram acompanhando numa caminhada, lado a lado, por vezes complicada e difícil.

Foram 10 anos de muito trabalho, esforço e dedicação a uma causa, a que os ex-combatentes da Guiné não podem deixar de estar gratos. Muitos foram os caminhantes, ex-combatentes, que fizeram o mesmo percurso, escrevendo, intervindo e fazendo deste blogue, um escape para os problemas que arrastavam consigo da Guiné.

Era justo e merecido para todos a recordação da efeméride, com um almoço-convívio. Sentimos essa necessidade.

O meu Bem Haja ao Luís e a todos os ex-combatentes envolvidos neste projecto.

Um abraço solidário e amigo a todos os ex-combatentes.

Manuel Reis.

(ii) João Silva

[ex-furriel mil at inf CCaç 12, 1973]

Luís Graça.

Vou dispensar adjectivos sobre a qualidade do blogue mas sim centrar-me no que evidencia o seu papel social e aglutinador que reflete nos seus 650 tanbanqueiros e mais de 5 milhões de visitantes, níumero no qual me incluo.

Cheguei aqui, ao blogue, através de uma busca que teve como tópico a Companhia Caçadores 12. Companhia de que fiz parte em simultâneo com o António Duarte,  grã-tanbanqueiro. A leitura que faço deste espaço é que é um ponto de encontro e também um espelho do que fomos pela nossa passagem pela Guiné-Bissau. 

Pela minha parte continuarei a divulgá-lo especialmente a ex-combatentes e a frequentá-lo com alguma regularidade. Ao Luís e restante equipa o meu obrigado pelo vosso trabalho.

João Silva

(iii) Mário Vasconcelos

[ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72, Mansoa, e Cumeré, 1973/74].

Tabancas grandes, pequenas,
Em dez anos se criaram
Florindo em fotos e textos
Como nunca se esperaram.

Foram dias, foram anos,
Com recolhas de memórias,
Guardem-se pois nossos dias
Como folhas de nossa história.

E num abraço colectivo
À sombra do nosso poilão,
Brindemos à alegria,
Transformando a solidão.

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Guiné 63/74 – P13074: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (1): 10 razões para estarmos todos juntos, em Monte Real, no dia de 14 de junho de 2014, sábado, das 10h às 20h…

Cartaz do 10º aniversário do nosso blogue...  Da autoria do "designer" mais "strelado"
do mundo, Miguel Pessoa (ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74)
10 razões para estarmos todos juntos, em Monte Real, no dia de 14 de junho de 2014, sábado, das 10h às 20h (*)…

O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca… é Grande!

Estamos vivos, embora mais velhos, seguramente mais pobres, com menos saúde, e eventualmente menos felizes e com menos esperança…(ou talvez não!)

Somos 654 camaradas e amigos (ou sejam, camarigos) da Guiné, inscritos formalmente na Tabanca Grande, dos quais infelizmente 34 já não estão entre nós (fisicamente, já que a sua memória continua a ser lembrada e honrada todos os dias);

Todos os anos entram, em média, 65 novos grã-tabanqueiros: o encontro anual, nacional, da Tabanca Grande, é para os “periquitos” darem-se a conhecer à “velhice” (e vice-versa) e, claro, mantermos a "chama acesa" e passarmos o "testemunho";

Muitos são os que nos visitam e nos leem (um milhão por ano), incluindo os mais de 1400 amigos da página do Facebook da Tabanca Grande, na sua maioria antigos combatentes, registados ou não no blogue; todos podem inscrever-se no encontro;

Somos um blogue, que não é melhor nem pior do que muitos outros, mas que é único, justamente por reunir, à volta de um mágico, simbólico, protetor, fraterno e solidário poilão, camaradas (e amigos) da Guiné, antigos combatentes, que, para além do que os pode dividir (ontem, hoje e amanhã), valorizam sobretudo o que lhes é comum, a sua experiência (única) num teatro de operações, e num terra (e suas gentes) que aprenderam a amar;

Estamos a comemorar os 10 anos de existência do nosso blogue, o equivalente a 5 comissões de serviço na Guiné (!);

Para além do convívio (que é o mais importante),  também há comes & bebes: por 30 euros, por cabeça, temos direito a entradas, almoço e lanche ajantarado, num ambiente aprazível (e com facilidades de estacionamento), o do Palace Hotel Monte Real, Termas de Monte Real; há preços especiais, para os “camarigos”, seus familiares e amigos, que  quiserem passar uma ou mais noites neste hotel de 4 estrelas;

Monte Real tem sido o nosso ponto de encontro anual: é equidistante entre o norte e o sul, o leste e o oeste;

10º E podes trazer, além de outros amigos, os teus filhos e netos… por que os filhos e os netos dos nossos camaradas nossos filhos e netos são

Luís Graça

PS - Aparece. Inscreve-te. Precisamos pelo menos de 50 inscrições. Mas queremos atingir o dobro....

Comissão Organizadora: Luís Graça, Joaquim Mexia Alves, Carlos Vinhal e Miguel Pessoa. 

Endereços de email para as inscrições: carlos.vinhal@gmail.com e joquim.alves@gmail.com
______________

Nota do editor:

(*)  O hotel (com quem mantemos uma excelente relação de há vários anos a esta parte) faz-nos os mesmos preços do ano passado:

Entradas, almoço e buffet da tarde – 30.00€/pessoa;

Mínimo: 50 pessoas

Alojamento (para quem quiser vir de véspera ou ficar no fim de semana):

Single: 50.00€
Duplo: 60.00€

[Ambas as tipologias com Pequeno-Almoço incluído]

Ementa do Palace Hotel Monte Real, confecionado para o nosso IX Encontro Nacional, dia 14 de Junho de 2014:

(i) Entradas:

Saladinha de Polvo
Salada de Bacalhau
Salada de Atum
Salada de feijão-frade com orelha grelhada
Salada de Ovas
Meia desfeita de bacalhau
Salgadinhos variados
Presunto fatiado
Meia concha de mexilhão com vinagreta
Tortilha de camarão
Pezinhos de coentrada
Choquinhos fritos à Algarvia
Joaquinzinhos de escabeche
Sonhos de bacalhau
Coxas de frango fritas à nossa moda
Cogumelos salteados c/ bacon
Guisado de dobrada

Moscatel, Porto seco, Martini
Vinho branco e tinto Fontanário de Pegões e cerveja
Água mineral, Sumo de laranja

(ii) Almoço:

Sopa da pedra
Lombo de porco recheado com alheira e figo
Batata no forno e legumes
Semi-frio de mascarpone e café com toque de lima e colis de cacau

Vinho branco e tinto ‘Fontanário de Pegões’
Água mineral, sumos de laranja e cerveja
Café e digestivo nacional

(iii) Buffet da tarde:

Carnes frias com molho tártaro
Enchidos da região grelhados
Queijos variados
Charcutaria variada
Azeitonas com laranja e orégãos
Franguinho assado
Batata Chips
Salada de tomate
Salada de alface
Salada de cenoura
Salada de Pepino
Mesa de sobremesas

Vinho branco e tinto ‘Fontanário de Pegões’
Água mineral, sumos de laranja e cerveja

sábado, 26 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13047: 10º aniversário do nosso blogue (22): Mensagens de parabéns (Parte I): Virgílio Valente (Macau, China), Albano Costa (Guifões, Matosinhos), Joaquim Luís Fernandes (Maceira, Leiria) e Felismina Costa (Agualva, Sintra)

1. Seleção de mensagens enviadas para a caixa do correio da Tabanca Grande ou comentários a postes anteriores (*):

(i) Virgílio Valente [Wai Tchi Lone, em chinês], Macau [ ex- alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74.] [, foto atual à esquerda]

Parabéns à Tabanca Grande pelo 10.º Aniversário.

Parabéns também aos seus mentores e um grande abraço pelo trabalho que vêm fazendo.

É de facto uma Tabanca Grande onde cabem todos os que vêm por bem.

Diariamente acedo ao blogue e diariamente me culpo por ainda não ter contribuído com algo.

Mas tudo virá a seu tempo.

Daqui, de Macau, do longe Oriente, vai um abraço muito especial, neste 10.º Aniversário da Tabanca Grande, para todos os que diariamente constroem e mantém vivo este ponto de encontro.

Para todos os que passaram, viveram e sentiram a Guiné-Bissau um grande abraço.

Para os camaradas da minha CCaç 4142, que estiveram em Gampará, de 1972 a 1974, que lá viveram o 25 de Abril e o primeiro 1.º de Maio, que lá tiveram os primeiros encontros, em paz, com os camaradas do PAIGC e para aqueles que sendo da Guiné se lembram ou estiveram também nesses momentos, um grande Abraço.

Força, ainda há muito para escrever nesse blogue.

Obrigado Luís Graça e restantes Camaradas.
Virgílio Valente
Macau, China.

************


(ii) Albano Costa [ ex-1.º Cabo da CCAÇ 4150, Bigene e Guidaje, 1973/74] [., foto à direita  no nosso II Encontro Nacional, Pombal, 2007]

Caros amigos

Não queria deixar passar este dia sem vos agradecer a todos o prazer que me têm dado de vos acompanhar ao longo destes anos todos.

Parece fácil mas não o é, só com pessoas empenhadas como todos os que fazem mover este blogue, desde já os meus agradecimentos, e que Deus vos dê saúde e paciência para continuarem nesta luta que tem feito muitos bem aos ex-combatentes, que os aproximou e fez com que nós todos tenhamos sacudido o pó e que ainda possamos continuar a fazer despertar as nossas mentes para mais estórias.

Um bem haja para todos,
Albano Costa

************

(iii) Joaquim Luís Fernandes, Maceira, Leiria [ex-alf mil, CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973 e Depósito de Adidos, Brá, 1974] [, foto à direita]

Caro Luis Graça, Caros Camarigos

24 de abril de 2014; De manhã visitei o blogue e deparei-me com este Post 13030. Apressado li o poema (que já tinha lido noutro post) "Hoje tenho pena de nunca ter escrito a uma madrinha de guerra". Então, senti um tremor e comovi-me até às lágrimas. Senti o impulso de logo comentar e enviar o meu abraço fraterno e os parabéns ao Luís, mas as obrigações profissionais exigiam de mim que saísse do blogue e adiasse o comentário, como tantas vezes acontece.

Foi um dia intenso, exigente. A minha sensibilidade esteve à flor da pele, pelo poema, pelo que me fez sentir, pelo dia em que estava, no muito que me recordava e me fazia reviver em fortes emoções.

Agora já é dia 25, 40 anos depois desse outro dia 25 de abril que me apanhou na Guiné. Apetecia-me escrever muito, exteriorizar os meus sentimentos, registar os meus pensamentos e reflexões sobre esta data e o que ela encerra e me diz, neste confronto de esperanças e desilusões, de interrogações e conclusões, mas não é este o lugar apropriado e também já estou cansado, pelo que vou ser breve.

Quero dizer-te Luís, que gostei muito deste teu poema, em que dizes tanto, naquilo que sentes e expressas e de que comungo. Nesta confissão, vejo a grandeza da tua alma e o teu grande talento. Mas permite-me que te diga: Não tenhas medo do Sagrado. Ele está perto de ti. Ele está em ti e nada te rouba, apenas te engrandece e te devolve em ti, a plenitude do teu Ser.

Postal de aniversário. Autor: Miguel Pessoa
Eu também nunca tive uma madrinha de guerra, mas tinha uma namorada/noiva/mulher. Tinha deixado também a rezar por mim, mãe, pai, futura sogra, irmãs, irmãos. Escrevi e recebi centenas de cartas e aerogramas. Eles foram para mim um bálsamo. Ler e escrever era o meu momento de encontro comigo próprio, livrando-me da alienação da guerra. Momento de interiorização e de equilíbrio emocional.

Por fim quero manifestar mais uma vez o meu apreço pelo Blogue. Endereçar-te os parabéns pelo seu 10º aniversário, que torno extensivos aos camaradas co-editores a a todos os camarigos de tertúlia. Peço compreensão pela minha parca participação. Quando tiver mais tempo disponível, escreverei mais. Há muitas reflexões e vivências que gostaria de partilhar e perguntas a fazer. Há enormes hiatos na minha compreensão do que foi aquela guerra, que gostaria de esclarecer. Haja tempo para isso.

E por aqui me fico por hoje.

Um forte abraço
JLFernandes

************

(iv) Da nossa amiga tertuliana Felismina Costa de Agualva, Sintra

Ao seu criador Luís Graça,
Aos Editores Carlos Vinhal e Eduardo Magalhães Ribeiro, e à tertúlia em geral.

É com muita amizade que saúdo o Décimo Aniversário da existência deste Blogue, seu criador e editores, e bem assim quantos que, com o seu testemunho, fazem com que o propósito da sua criação tenha atingido um nível tão alto e tão diverso, tal como foram as vivências aqui relatadas, suas ideias, suas convicções, suas dores, mágoas e alegrias...

Ele, é a página que relata, treze anos de vida da Juventude Portuguesa, perdida numa luta sem sentido, por terras da Guiné entre 1961/1974, e onde os participantes sobreviventes dão testemunho da sua experiência, do seu crescimento e amadurecimento, e o palco do reencontro de velhos camaradas e amigos!

Ele, o Blogue, reuniu uma grande família, que cresceu e se multiplicou nos anos de ausência, na análise do passado, do vivido e aprendido, nos valores da fraternidade que toda a vivência produz!

Aqui, eu mesma, reencontro o tempo, a ligação ao passado, a amizade coexistente num tempo em que também fui "espectadora" ausente e preocupada. Com ele, julgo, também tenho crescido um pouco na compreensão do tema uno.

Ganhei amigos que fazem parte do meu presente, que preenchem as minhas horas, que são tema das minhas referências, com quem partilho vivências, ideias, alegrias e tristezas, pois que é de tudo isso que a vida se faz!

Felicito o tempo de vida desta Página, a Grande Obra, onde se regista muito do vivido "Naquele Tempo"! 

Felicito o seu Criador na Pessoa do Dr. Luís Graça.

Felicito os seus editores, nas Pessoas de Carlos Vinhal e Eduardo Magalhães Ribeiro.

Todos os seus Colaboradores, todos os que participam com o testemunho da sua vivência e da sua amizade e suas respectivas famílias. Eu, sou-vos devedora, da vossa amizade e do orgulho que sinto por tudo o que atrás refiro.

Desejo a continuação deste Diário, desta Obra-Prima de Organização e testemunho, por muitos anos, que é o relato em primeira mão de uma grande página da História dos Povos.

Bem-hajam Amigos! Obrigada!
Felismina Mealha

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13030: 10º aniversário do nosso blogue (21): Obrigado, amigos e camaradas, pelos parabéns, que vão direitinhos a todos aqueles que alimenta(ra)m este projeto... E já agora, façam a vossa "prova de vida", façam o "teste do pezinho" (... Era o que fazíamos, lá naquela terra verde e rubra, todos os dias ao acordar, verificando se o polegar do pé direito mexia, antes de nos levantar da cama)

1. Comentário do fundador e editor do 
blogue Luís Graça, em nome dos demais editores e colaboradores permanentes:


Obrigado pelos  parabéns de aniversário, recebidos durante o dia de ontem, mas que não devem vir para mim. Eles vão direitinhos a todos nós que alimentaram (e alimentam) este projeto, desde o dia 23 de abril de 2004...

Eu limitei-me a "emprestar" o então "blogueforanada" (, que raio de nome!), o blogue " onde escrevia as minhas "blogarias" (que nada tinham a ver com a Guiné) desde outubro de 2003...

O primeiro escrito sobre a Guiné ou relacionado com a guerra, foi justamente em 23/4/2004... (vd. a seguir).

Tertúlia, hoje Tabanca Grande: um  ribeiro que deu origem a um rio, que por sua vez teve (e tem ) muitos afluentes... E que queremos seja cada vez mais "caudaloso"...

Somos 654 ? Sim, entre camaradas e amigos da Guiné. Infelizmente 5% já morreram, mas ocupam um espaço muito especial, na nossa memória, no nosso blogue, no "talhão" dos que da lei da morte já se libertaram...

Sem contar as muitas centenas, se não milhares, que já por aqui passaram, sem, por uma razão ou outra, terem querido ou podido formalizar a sua adesão à Tabanca Grande: 2 fotos + 1 história ou simples apresentação e aceitação das nossas regras de convívio, que são basicamente as da camaradagem, da verdade, da partilha, da tolerância e do respeito mútuo...

654 não são muitos em 10 anos, são 65 por ano, em média... Mas pelo TO da Guiné, desde 1961 até 1974 passaram mil unidades e subunidades... Ora, nem todas elas estão ainda devidamente representadas no nosso blogue...

10 anos a blogar sigbnifica mais de 13 mil postes, ou seja, em média 1300 por ano, 4 por dia... Mais de 50 mil comentários, cinco mil por ano, cerca de 14 por dia...

8 convívios anuais, sendo o próximo, o 9º  já com data marcada: será realizado em Monte Real,  como de costume,  no Monte Real Palace Hotel, no dia 14 de junho próximo, sábado... (Aperitivos, almoço e lanche ajantarado: 30 morteiradas; facilidades de alojamento no hotel, para quem quiser vir de véspera ou ficar no fim de semana).

1 Tabanca Grande com "delegações" em vários sítios, dentro e até fora do país, uma pelo menos, a da Lapónia, mesmo que seja uma tabanca de um tabanqueiro só...

Amigos e camaradas, associem-se à nossa festa, e sobretudo aproveitem para fazer a "prova de vida", sob a forma do "teste do pezinho"... Escrevam-nos,. por estes dias,  a dizer que estão vivos e, mais ou menos, de boa saúde...

"Teste do pezinho"? Era o que fazíamos na Guiné, todos os dias ao acordar: verificar se o polegar do pé direito mexia, antes de levantar da cama...

Um bom dia  para todos/as.

Luís Graça





Primeiro poste do blogue Luís Graça  Camaradas da Guiné: 23 de abril de 2004 > Guiné 69/71 - I: Saudosa(s) madrinha(s) de guerra... Acabou por ser transformado em poema que inclui numa antologia poética, a publicar, espero, ainda este ano... (LG)



2. Hoje tenho pena de nunca ter escrito um aerograma a uma madrinha de guerra

por Luís Graça

Com o atraso de décadas, 

quiçá de séculos,
presto hoje o meu preito
às mulheres do meu país
 que se vestiam de luto
enquanto os maridos ou noivos 
ou namorados ou irmãos
ou simplesmente amigos
andavam na guerra do ultramar.
(Ou guerra colonial, como se queira).
Já foi há tanto tempo 
que eu perdi as contas aos contos,
às estórias, 

às vidas, 
às lendas, 
às narrativas.

Venço, por fim, a minha relutância, 

o meu preconceito, 
o meu medo do irracional
e porventura o meu medo visceral do sagrado,
e presto a minha homenagem
às mulheres 

que rastejavam no chão de Fátima,
implorando à Virgem o regresso dos seus filhos,
sãos e salvos.
Só as mulheres, em bando, são capazes
de implorar a piedade dos deuses
e ao mesmo aplacar a sua ira,
para logo a seguir imprecar contra eles,
se for caso disso.

Decididamente, 
sem pejo nem pudor,
presto a minha homenagem
às mulheres que continuavam,
silenciosas e inquietas, 

ao lado dos homens
nos campos, nas fábricas e nos escritórios.
Por que havia um silêncio 

que não era cumplicidade,
que não era traição,
que era inquietação,
que não era claudicação,
que era a raiva a crescer dentro do peito,
que era porventura já
a emergência, a explosão da revolta e da liberdade.

Descubro a cabeça, 
tiro o chapéu, 
ajoelho-me,
perante estas mulheres do meu país
que ficavam em casa, 
rezando o terço à noite,
como a minha mãe e as minhas manas 
e até o meu pai,
a quem, de resto, nunca agradeci este gesto de amor.
Nem em público nem em privado.
Nunca saberia, porventura, merecê-lo
nem muito menos agradecê-lo.

Mas também endosso
as minhas palavras de admiração
às que aguardavam com angústia,
pelo aerograma, 
na hora matinal (e às vezes mortal)
do correio, vindo do SPM número tal.
Sem esquecer as que, muito poucas,
subscreviam abaixo-assinados
contra a guerra
(era proibido dizer colonial).
Às que, muito poucas, escreviam, 
liam,
tiravam a stencil 
e distribuíam
comunicados e folhetos clandestinos.

Às que, também raras, 
sintonizavam altas horas da madrugada
as vozes da rádio 
que vinham de longe
e que falavam de resistência
em tempo de solidão e de servidão.

Homenageio, sim, àquelas 
que, muitas, tiravam carinhosamente
do fumeiro (e da barriga) 

as chouriças e os salpicões
e os nacos de presunto, 
e até as morcelas e as alheiras
que iriam levar até junto dos seus filhos,
homens-toupeiras, 
no outro lado do mundo,
no calor dos trópicos
e na humidade dos abrigos,
um pouco do amor de mãe, 
das saudades da terra,
dos cheiros da casa e dos animais,
dos sabores da comida, 
e da alegria da festa.

Mas também, e porque não,
às, muitas, e em geral adolescentes, virgens,
e às jovens solteiras, namoradeiras,
que se correspondiam com os soldados
mobilizados para o ultramar,
na qualidade de madrinhas de guerra.

Não tive, nunca quis ter, 

madrinha de guerra,
por preconceito, 
por orgulho e preconceito,
por achar que era uma instituição ou criação
do Estado Novo,
dos senhores da guerra,
e das senhoras que os geravam…

Hoje tenho pena de nunca ter escrito um aerograma
a uma madrinha de guerra.

Lisboa, 23/4/2004

Revisto, 23/4/2014
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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13028: 10º aniversário do nosso blogue (20): Um corredor de paz, a estrada (alfaltada) Bambadinca-Bafatá, onde o PAIGC nunca conseguiu penetrar... pelo menos no período de 1969/71 (fotos de Benjamim Durães, a quem mandamos um alfabravo fraterno e solidário num momento difícil para ele, como pai e avô)

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13028: 10º aniversário do nosso blogue (20): Um corredor de paz, a estrada (alfaltada) Bambadinca-Bafatá, onde o PAIGC nunca conseguiu penetrar... pelo menos no período de 1969/71 (fotos de Benjamim Durães, a quem mandamos um alfabravo fraterno e solidário num momento dificílimo, para ele, como pai e avô)



Foto nº 1

Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4

Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Estrada Bambadinca-Bafatá > c. 1970 > Um enorme rebanho de gado vacuum, pertencente a um "homem grande" fula,   passeia-se livremente na "autoestrada" do leste...


Fotos: © Benjamim Durães (2011). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]

1.  Não havia nenhum sítio na Guiné onde as nossas tropas  não pudessem ir, por mar, terra ou ar, com maiores ou menores efetivos, incluindo as regiões consideradas sob controlo do PAIGC, como era o caso, no setor L1, da margem direita do Rio Corubal, abrangendo os subsetores do Xime, Mansambo e Xitole...

Em contrapartida, o PAIGC, pelo menos no meu tempo (junho de 1969 a março de 1971) nunca ousou atacar, flagelar, emboscar ou pôr minas e armadilhas neste autêntico oásis de paz que era a "autoestrada" do leste, a primeira estrada asfaltada do território, construída pela TECNIL (se não erro), ligando dois centros nevrálgicos da zona leste, em pleno coração fula, Bambadinca, a sudoeste e Bafatá a nordeste.

Estou a falar do tempo em que passaram por Bambadinca o BCAÇ 2852 (1968/70) e BART 2917 (1970/72), sendo a CCAÇ 12 uma subunidade de intervenção, com soldados, fulas, do recrutamento local (Badora e Cossé) e quadros e especialistas de origem metropolitana.

Recorde-se que o fotógrafo, Benjamim Durães, foi  fur mil op esp,  Pel Rec Info, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72). Vive em Palmela, é um dos habituais organizadores dos convívios da CCS/BART 2917, e está neste momento a viver um grande drama, a doença de uma das queridas netas, de 10/11 anos,  a mais velha, a Bruna, que tem um prognóstico reservadíssimo, estando por isso a precisar, ele e toda a sua família, de uma palavra amiga, solidária, de toda a Tabanca Grande. 


VII Encontro Nacional da Tabanca Grande  > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012 > O avô Benjamin Durães trouxe, desde Palmela, os seus cinco netos: Bruna, Fábio, Marta, Rafael e Tiago (na foto não estão por esta ordem; a Bruna é a mais velha, hoje com 10/11 anos)... Todos devidamente equipados e ostentando na lapela o crachá do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) a que orgulhosamente pertenceu o nosso camarada, fur mil op esp e DFA - Deficiente das Forças Armadas.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P13026: 10º aniversário do nosso blogue (19): "Manga di ronco", minha gente! (Silvério Dias, grã-tabanqueiro nº 651... e "poeta todos os dias")

1. Mensagem de hoje do Silvério Dias [, ex-1º srg art ref, locutor do PFA, Bissau QG/CTIG, com 9 anos de Guiné..., de 1967 a 1976], e que é uma das última das "aquisições" da nossa Tabanca Grande, onde se sentou, à sombra do respetivo poilão, frondoso, protetor, fraterno e mágico, no lugar nº 651 (*):


Para afixar, no "Jornal de Parede" que se apresenta no grande poilão...


"Manga di ronco",  minha gente!
A "Tabanca" está de parabéns.
Dez anos, à data presente,
Juntou milhares como reféns!

Presos, sim, às recordações
Daquela Guiné distante,
Na lonjura e nas emoções
Da nossa idade pujante.

Os bons e maus momentos
Que perduram em memórias...
Hoje, esqueçamos os lamentos,
Lembrando as tais "estórias"...

E tantas temos para recordar...
Da bolanha, da picada, do abrigo,

A nossa vida a salvaguardar,
Pois havia o tal inimigo!...

Cantemos pois ao passado:
Parabéns, "Grande Tabanca"!
O presente anda hipotecado
E, ao futuro, já se desanca!

Muitos abraços 
e um nunca acabar de "partir mantanha"
Silvério Dias, grã tabanqueiro nº 651.
_________

Nota do editor:

Guiné 63/74 - P13025: 10º aniversário do nosso blogue (18): Sou um privilegiado. Faço parte dos 650 (Rui Silva)



10.º Aniversário do Blogue “Luís Graça & Camaradas da Guiné”

- Claro que não podia deixar passar o 10 .º Aniversário do Blogue sem vir à “parada” dizer o que me vai na alma -

Em primeiro lugar, parabéns ao Blogue, nas pessoas:

- Do seu distinto fundador, camaradão Luís Graça, a que é oportuno se louvar o seu grande nível quer cultural quer intelectual, que valorizam extraordinariamente o Blogue e que, em boa e feliz hora, o montou e desenvolveu.

Bem hajas Luís, e o meu continuado obrigado (!)

- Parabéns ao abnegado, prestimoso e estimado co-editor, meu grande amigo Carlos Vinhal.

- Parabéns ao co-editor e grande colaborador também, meu grande amigo Magalhães Ribeiro.

- Parabéns ao Hélder Sousa e à colaboração, também pelos seus desenhos, ao Miguel Pessoa.

- Parabéns a outros colaboradores que, não estando em cena atualmente, muito contribuíram também ao desenvolvimento de tão notável como importante rubrica na internete, afinal o mais atual e sofisticado meio de comunicação na sociedade de hoje.

- Parabéns a todos que colaboram com as suas escritas, as suas histórias, a sua poesia, os seus comentários e até os seus pensamentos.

Afinal, parabéns 649 camaradas!!

P. S. - peço desculpa ao Miguel por utilizar o excelente trabalho gráfico que ele fez.

Rui Silva
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Notas do editor

Rui Silva foi Fur Mil na CCAÇ 816 (BissorãOlossatoMansoa, 1965/67)

Último poste da série de 23 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P13024: 10º aniversário do nosso blogue (17): A Tabanca do Centro associa-se a este dia grande para a Tabanca Grande e para a sua tertúlia

Guiné 63/74 - P13024: 10º aniversário do nosso blogue (17): A Tabanca do Centro associa-se a este dia grande para a Tabanca Grande e para a sua tertúlia


PASSA HOJE O 10º ANIVERSÁRIO DA TABANCA GRANDE



 
O belíssimo postal alusivo ao 10.º aniversário da Tabanca Grande, de autoria do nosso camarada Miguel Pessoal


Quando os nossos “mais velhos” fazem anos, sentimos uma grande alegria e fazemos uma grande festa.

É sempre um momento especial viver os aniversários daqueles que nos deram origem, e isso envolve não só a gratidão, mas também a amizade que forçosamente tem que existir entre aqueles que vivem em família.

E os combatentes, da Guiné ou de outras guerras de África, são uma família, porque viveram e vivem as mesmas situações, porque se preocupam uns com os outros, porque afinal procuram para todos a alegria da vida, tantas vezes magoada por factos passados e presentes.

Tal como na vida em família, os “mais velhos” dão origem, acompanham o crescimento, e quando os “descendentes” se “independentam”, alegram-se com o seu sucesso, e por isso mesmo estes se sentem sempre ligados, agradecidos e concorrem sempre para o bem-estar desses “mais velhos”.

Por tudo isto e por todas as razões, parabéns à Tabanca Grande na pessoa do Luís Graça, seu fundador, do Carlos Vinhal, Eduardo Magalhães Ribeiro, Virgínio Briote, seus fundamentais colaboradores, e de todos os combatentes que dela fazem um pouco a sua casa e para ela concorrem, construindo com as suas histórias e opiniões, a enorme família de combatentes que a Tabanca Grande é, e que, sem dúvida, ajudará, e muito, a que um dia, (afastadas as paixões politicas e outras), se faça a verdadeira história do que foi a guerra que Portugal travou em África.

Um abraço, daqueles dos combatentes quando se reencontram, ou seja, intenso, forte, apertado e alegre à Tabanca Grande pelo seu aniversário.

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Nota do editor

Último poste da série de Guiné 63/74 - P13020: 10º aniversário do nosso blogue (16): Falar ou não falar da guerra, aos filhos... O 25 de abril, o 11 de março, a catarse do blogue, o meu primeiro livro, os primeiros convívios ao fim de 48 anos... (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil, CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66)

terça-feira, 22 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13020: 10º aniversário do nosso blogue (16): Falar ou não falar da guerra, aos filhos... O 25 de abril, o 11 de março, a catarse do blogue, o meu primeiro livro, os primeiros convívios ao fim de 48 anos... (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil, CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba, [ ex-Fur Mil, CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66; autor de "Guerra da Guiné: A batalha de Cufar Nalu" (Terras de Faria Lda: Faria, Barcelos, 2012, 341 pp.)]:


Data: 21 de Abril de 2014 às 01:09

Assunto: Falar ou não falar da guerra, aos filhos



Olá, meu caro Carlos Vinhal. Ao mote do 10º aniversário do blogue, tento corresponder com esta achega, cuja primeira emissão parece ter saído defeituosa.


Mil anos de vida para a Tabanca Grande!

Um grande abraço, extensivo a toda a malta.
MLLomba


2. Falar ou falar, da guerra, aos filhos...
Aos 24 anos acabaram-se-me dois empregos - o da vida militar e o da vida civil (as obras da Ponte da Arrábida estavam concluídas). Fiz-me à vida, carregadinho de maleitas, em esforço de mandar as muitas e variadas memórias da guerra da Guiné para o fundo do baú da memória e desenvolvi o tabu de não falar dela, como de coisa íntima se tratasse.

Ainda não eram 8H00 e encontrei-me com o "25 de Abril", junto do QG do Porto; as maravilhas feitas pelos ex-camaradas seus protagonistas encheram-me de orgulho, pela nobreza da sua missão e a categoria revelada pelo seu trabalho militar.

Veio o "11 de Março" e as suas derivas contra-revolucionárias compulsaram-me para outra guerra, desta feita sem orgânicas nem armas, quando Vasco Gonçalves, Rosário Dias, Álvaro Cunhal, Otelo e outros enviesaram pelos caminhos da utopia, pela desestabilização da sociedade portuguesa e a vilipendiar o nosso pluricentenário país. Se as nacionalizações nada me diziam, "as intervenções estatais" vieram bulir-me com a cidadania. Os sindicalistas arvoraram-se em agitadores, furiosamente votados a escaqueirar a harmonia sócio-laboral, para resultar na nomeação de comissões administrativas, enformadas por licenciados indicados pelo ministério do Trabalho, ancorados no PCP ou no MDP/CDE e por oficiais milicianos subalternos, arvorados em MFA, em geral barbudos e cabeludos -, reconhecidamente oportunistas, medíocres e calaceiros, salvo honrosas excepções. Os "trabalhadores" passaram a muitos, mas os que trabalhavam eram cada vez menos.

O primeiro lote dessas"intervenções" respeitava à Facar, Real Companhia Velha, Têxtil Manuel Gonçalves, Salvador Caetano e Soares da Costa - a sede do meu posto de trabalho. A tampa do conhecimento das técnicas da subversão, adquirido na guerra da Guiné saltou e então regressaram as noites sem dormir, as vigílias, a observação perseverante, análise e manobras consentâneas, mas sem laivos de violência. A Facar, Têxtil Manuel Gonçalves e a Real Companhia Velha foram intervencionadas; mas os mais de 3 000 trabalhadores da da Soares da Costa organizaram-se, fizeram abortar a intervenção, foram dar uma ajuda à Salvador Caetano e ainda uma ajudazita ao restabelecimento da normalidade na Têxtil Manuel Gonçalves. Exemplo da intervenção social e da resistência cívica ao desvario, dos trabalhadores que trabalhavam.

Soldado uma vez, soldado para sempre; mas fora actor em duas guerras e conservava o silêncio como o melhor meio para as esquecer.

Iniciava-me no manejo das novas tecnologias e surgiu-me o blogue, por acaso. A curiosidade mata o gato e a sucessão e grandeza dos seus testemunhos, sem complexos nem preconceitos, não fez saltar a rolha - destampou-me as memórias e motivou-me até chegar a autor de um livro acerca da guerra da Guiné e minhas vivências.

Por essa circunstância, os filhos começaram a puxar conversa, num misto curiosidade e de incredulidade, pela recusa de imaginar o pai metido na selva tropical, a sofrer e a montar ataques e emboscadas, com mortos e feridos, numa realidade de tiros, granadas, bombas e minas, envolvido nas acções da aviação e navios de guerra. "O cota está agora numa de imaginação" - pensariam (julgo eu).

Passados 48 anos do regresso da Guiné, decidi-me pela primeira vez a participar no encontro de confraternização do BCav 705 (a seguir fui pela primeira vez ao encontro da Tabanca Grande, em Monte Real), levei o meu filho mais novo, pela primeira vez me reencontrei com o meu comandante, o então Capitão de Cavalaria Fernando Lacerda, e complementei as apresentações, a dizer:
- Olha, pá, nas muitas situações de combate, nunca vi o meu comandante a atirar-se para o chão...
- Seria indigno da minha pessoa sujar a farda - respondeu o meu ex-capitão, a exibir orgulho nobre.

No regresso, o meu filho disse-me que até ali pensava que essa coisa de homens destemidos, a enfrentar tiros e explosões, era próprio dos filmes, dos Rambos. Protestou a sua admiração pela pessoa do meu antigo capitão e adotára-nos como os seus heróis.

E passou a interessar-se pelo tema da Guerra do Ultramar.

E já agora e a propósito: o 25 de Abril, sempre! O anti-25 de Abril, como o 11 de Março ao 25 de Novembro, jamais!

Manuel Luís Lomba
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segunda-feira, 21 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13015: 10º aniversário do nosso blogue (15): Manuscrito(s) (Luís Graça): O país que via passar os comboios (Ilustração de Joana Graça)

O país que via passar os comboios

por Luís Graça


14:13h. Coimbra B.
Estação da CP.
Deprimente.
Como todas as estações B do mundo.
Como todas as estações da CP.
B, de 2ª classe.
B, segunda letra do alfabeto.
Como todas as estações da CP 

urbanas, suburbanas e rurais.
Deprimentes.
Todas as estações de caminho de ferro do mundo 

são deprimentes.
Abro talvez uma exceção para os apeadeiros.
São bonitos, os apeadeiros.
Ou eram bonitos os apeadeiros da CP,
quando havia o cavador, 

o burro, 
o boi, 
a charrua,
o camponês, 

o zé povinho, camponês e burro,
besta de carga, carrejão.
A horta, a saída direta para os campos.
As hortas.
Ah!, e os azulejos azuis e amarelos Viúva Lamego
nas quatro estações do ano!
O termo apeadeiro enternece-me,
faz-me lembrar os tempos em que se ia às hortas.
Eu já não sou desse tempo.
Mas os alfacinhas iam às hortas dos saloios:
Benfica, Porcalhota, Pontinha, Sintra, Caneças, Colares ...
Faziam piqueniques,
cantavam o fado da desgraçadinha

e no fundo eram felizes.
Gosto do termo apeadeiro.
E da ideia de ir passear às hortas.
Em família, aos domingos, de comboio.
Ronceiro, o comboio.
Ronceira, a vida da gente.
Li isso algures numa história qualquer sobre os comboios
que unificaram o país de norte a sul.
Há uma dívida de gratidão 

que é devida aos comboios.
E aos homens dos comboios.
E aos engenheiros das estradas e pontes.
E aos operários que as construíram.
Ao zé povinho da cidade e dos campos.
Ao engenho e à obra.
Ao Fontes.
Ao Pereira.
Ao Melo.
Ao fontismo.
Ao positivismo.
Ao génio organizativo.
Mesmo que a minha professora
de Sociologia Histórica das Classes Laboriosas,
discípula do E.P. Thompson,
só gostasse dos corticeiros.
Que eram anarcossindicalistas.
Sempre suspeitei que ela não gostasse dos cavadores.
Nem de comboios.
Nem de hortas.
Nem do Fontes.
Nem dos ferroviários,
Nem dos camponeses e dos burros e dos bois.
Naquele tempo parava-se em todas estações e apeadeiros.
E havia tempo, 

não havia pressa.
Não havia stresse naquele tempo.
Colhiam-se papoilas vermelhas no meio do trigo.
Não havia tempo para se ter stresse.
Morria-se cedo.
Ou nascia-se tarde,
sem tempo de ver crescer filhos e netos.
O stresse é uma construção social do meu tempo.
E não havia bombas nos comboios.
Ao alcance de um qualquer toque de telemóvel,
da Nokia, da Samsung ou da Siemens, tanto faz,
que as novas tecnologias quando nascem 

(não) são para todos!
Ou talvez houvesse stresse
mas chamavam-lhe outra coisa.
Afinal, essa coisa é tão velha como a vida.
E morria-se cedo naquele tempo.
A esperança média de vida é um artefacto estatístico.
E há sessenta e tal anos, na França ocupada,
os ferroviários também punham bombas.
Nas linhas de caminhos de ferro.
Matavam os seus postos de trabalho
em nome da liberdade.
Punham bombas para fazer descarrilar os comboios.
Sabotagem. 

Resistência ao ocupante nazi.
Hoje seriam caçados como terroristas internacionais.
Não sou ferroviário 

nem resistente 
nem terrorista.
Nem sequer anarcossindicalista.
Estou numa estação deprimente.
Coimbra B.
Coimbra merecia, pelo menos, uma estação A.
Este país, bom aluno da Europa, 

devia merecer uma letra A.
Nem que fosse Coimbra A.
Ouço uma voz gritante.
Alfarelos. 

Com paragem não sei onde.
Nunca soube, ao certo, onde fica Alfarelos.
É algures no meu país profundo.
Assim como Freixo de Espada à Cinta 
que ninguém conhece.
Não, vim de boleia.
Muito obrigado.
De Viseu.
Aguardo o Alfa Pendular para Lisboa.
Aliás, Lisboa SA.
Deve chegar às 15:16h.

── Lisboa, Santa Apolónia ?
── Não, Lisboa, Sociedade Anónima! 
──
corrijo o portuga por detrás do guiché.
── Não, não quero Santa Apolónia.
Quero a Estação de Lisboa Oriente.
E depois... o que diria o Zé (Cardoso Pires)!
── Lisboa, SA!
Pergunta o portuga, caixa de óculos,
por detrás do bunker envidraçado,
que fala em nome da CP de todos nós.
── Conforto ou turística ? ──
olhando para mim, 
como se quisesse me tirar as medidas.
Ou adivinhar a minha secreta conta bancária.
── 2ª classe, se faz favor!
── Turística.... 2ª classe, por defeito.
Para quem não ostenta sinais exteriores de riqueza.
Classe B.
E eu a pensar ingenuamente que já não havia 2ª classe.
Comboios de 2ª classe.
Gente de 2ª classe.
País de 2ª classe no desconcerto das nações.
(Ah!, meu velho José Rodrigues Miguéis,
e a tua, nossa, gente de 3ª classe
nos porões nauseabundos dos cargueiros
que rumavam às Américas da Liberdade!).
Devo ter percebido mal.
Os comboios e a CP também se democratizaram.
Agora só há conforto e turística,
no Alfa Pendular de todas as emoções e condições.
O Portugal SA já não é mais classista.
Para ter classe basta ter dinheiro no multibanco,
minha querida professora.
Mas, mais seguro, é no cofre forte da Suiça 
ou num off shore qualquer.
É o que se chama mobilidade social total.
Fugir à condição de besta de carga.
── Vê-se mesmo que o senhor 
é um utente acidental da CP,
já não há 2ª classe.
── Sou um mau utilizador do comboio, 
peço desculpa ──
Comprei um bilhete de 2ª classe.
17 euros, IVA incluído à taxa de 5%.

Apeteceu-me dizer-lhe:
── O senhor, desculpe, 
mas eu sou fã dos comboios.
Tenho uma dívida histórica 
para com os comboios,
que unificaram o meu país.
Pode não ser seu, mas é meu.
Tenho orgulho nele, o meu país.
E tinha que lhe dizer isto.
Vou para Lisboa, SA, 

capital do reino que já foi império,
desço na Gare do Oriente...

Tenho tempo.
Ou penso que tenho tempo.
Nada como esperar um comboio
numa estação de tipo B, Coimbra B
para saber o que é isso de ter tempo.
É bom ter tempo.
Uma hora de avanço.
Nada de stresse.
Não penses na morte.
Que o stresse mata, 
como uma bala de Kalash.
Peço uma sandes manhosa no bar da esquina.
Bebo uma topázio que é uma cerveja local.
Compro o Zé Cardoso Pires no quiosque.
A república dos corvos.
Um livro de contos.
Jornal Público.
Colecção Mil Folhas, ao preço de hipermercado.
Redescubro o meu velho Dinossauro Excelentíssimo,
que li na revista Almanaque, se bem me lembro.
Deambulo no cais de embarque
como o prisioneiro no pátio da prisão.
E leio a única coisa interessante
que está afixada numa das paredes da estação de Coimbra B.
Alguém ali mandou afixar,
creio que em bronze (sou mau em metais),
o seguinte:
"Neste cais da estação de Coimbra, embarcou,
no dia 15 de Maio de 1982, Sua Santidade,
o Papa João Paulo II".

O artista não quis desqualificar a estação nem a cidade.
Coimbra B ?,
O que diria a corte papal! 
Os grandes deste mundo!
E os turistas que visitam a cidade dos doutores!
E os vindouros!

Que mais vale um ano de tarimba
do que dez de Cloimbra ?!
Nem pensar.
Por isso lá fica a tabuleta. 
Para a história.
Para o viajante distraído, apressado ou deprimido como eu.
Ou se calhar para ninguém.
Só para a História.
Afinal, quem lê neste país placas de bronze
afixadas em estações B da CP ?
Aliás, quem lê neste país, 
perguntaria a minha querida professora ?
Histórias aos quadradinhos
mas não a História com H grande.
Um dia um arqueólogo, um historiador ou um antiquário
desaparafusa a placa 

e leva-a para casa,
para o museu 

ou para a loja de antiguidades.
Não, nada acontece em Coimbra B.
Mas por aqui passou um peregrino.
João Paulo II. 
Um dia, em 1982.
Por aqui passou Jesus Cristo,
na pessoa do seu representante na terra.
Sou mau em metais e em teologia,
mas esta é a minha leitura.
Que me desculpem os escribas mais doutos do que eu.
Que me desculpem os lentes de Coimbra.
Chega o Alfa, just in time, à tabela,
como na linha de montagem automóvel pós-taylorista 

da Auto Europa.
Entro no Alfa e sinto-me quase europeu
na ponta mais acidental da Europa ocidental.
Com o lusitano Mondego aqui ao lado.
Admiro a eficiência das sociedades pós-tayloristas e cosmopolitas.
A nossa nunca chegou a conhecer o sr. Taylor
nem os seus principles of scientific management.
Nem a ética protestante nem o alemã Max Weber.
Provinciana e ronceira, a tua terra,
lá diriam o Eça e a minha professora,
que é queirosiana e estrangeirada.
Acelera o Alfa

E bate o meu coração.
Tenho um secreta vertigem suicidária pela alta velocidade.
Dou por bem empregues os meus 17 euros,
IVA incluído à taxa de 5%.
Isto faz bem à minha autoestima.
Sobretudo depois da sandocha manhosa e da topázio morna
que engoli, de pé, 

ao balcão do bar manhoso
da estação deprimente de Coimbra B.
── Quanto vai dar ?
── Chega aos 200 ou mais! ──
diz-me um puto de brinco na orelha...
Não apostei. 
Nem gosto de apostas mútuas.
Deixei de ser solidário, 
que me desculpe a Santa Casa da Misericórdia.
── Umas cartas para passar o tempo ?
── Não, obrigado, não jogo, não aposto, não fumo.
Tenho livros para ler. 
──
Abranda o Alfa,
lá para os lados da Albergaria dos Doze.
Regresso à idade média da minha memória coletiva.
O caminho de Santiago. 
As albergarias.
Já em terra dos mouros.
La folie meutrière de la réligion.
A tua, a minha.
Deus é grande e tem muitos profetas.
São bons hortelãos, os mouros e os moçárabes.
── Chega à tabela. 
Dezassete e seis na Estação do Oriente ──
diz-me o pica, orgulhoso.
── Até que enfim que os comboios partem 
e chegam à tabela,
na nossa terra.
Fico sempre com inveja 
quando vou a Amesterdão e a Leiden.
Quando ia à Holanda, que agora já não vou.
Quero dizer, ao estrangeiro de fora.
── Já não te calha na rifa, ó Ramalho!,
agora são vinte e cinco cães a um osso, 
ó Ortigão!
── Vai desejar tomar alguma coisa ? ──
pergunta no futuro próximo o homem-do-chá-café-laranjada...
── Um Prozac, por favor.
── Lamento, mas já não temos. Esgotou-se.
── Sim ?
── Esgotou-se na última viagem que fizemos ao inferno.
11 de Março último. Estação de Atocha.

── Atocha ?
── Sim, Atocha, Madrid...Não lê os jornais ?
── Não, acabo de chegar doutro planeta.
── En Madrid existen dos estaciones principales de tren:
Chamartín y Atocha.
Ambas son estaciones de trenes 
de largo recorrido y de cercanías...
── Muchas gracias!, não sabia.
Não vou a Madrid há anos. 
Estou de costas viradas para a Europa.
── Atocha está situada en la zona sur de la ciudad,
muy cercana al centro.
Desde ella salen todos los trenes de largo recorrido
que van a levante y al sur de España.
También algunos trenes de los que pasan por la estación
se dirigen luego a Chamartín
y luego a destinos en la mitad norte de la península.
Dentro de la estación hay otra estación,
llamada Puerta de Atocha
desde donde sale el tren de alta velocidad (AVE)
que va a Andalucía.
..
── Muchas gracias! Vejo que é um homem lido e viajado.
── Só faço a península ibérica.
── Ah!, a jangada de pedra...
── Perdão ?!... 

Sabe, nasci no Entroncamento,
Filho e neto de ferroviários.
Os comboios estão-me na massa do sangue...
Mas a Espanha para mim é pura emoção.
Uma tragédia horrível, aquela..
.
── E não tem medo do futuro dos comboios ?
── Não... Sabe, com os aviões passou-se o mesmo.
Enfim, um homem tem que ganhar a vida. 
De qualquer jeito.
── Deixe, a vida continua... 
As bombas explodem...
As guerras passam.
Olhe, já agora dê-me um compal de maçã.

Fico sempre deprimido quando tomo o comboio.
Ou quando parto.
Ou penso em bombas nas casas de banho
das carruagens dos comboios.
Ou quando bebo compal de maçã.
Não sei por que pedi o raio do compal.
Reflexo condicionado. 
Empatia. 
Compaixão.
Que é coisa rara, tomar o comboio.
E pensar em bombas.
E ter empatia.
E beber compal.
Houve um tempo em que pensava em minas.
Anticarro. 
Antipessoais.
Minas. 
Bailarinas. 
O ballet da morte.
Nasci numa terra onde não passavam comboios.
É um estranho sentimento, esse,
que me acompanha desde pequeno.
Mas o compal de maçã até é bom.
É português, é nosso.
E dizem que vale mais do que uma chávena de café.
Para te tirar o sono.
Antes de partires às 3 da manhã,
para a Ponta do Inglês.
── Ponta do Inglês ?!... 

Já sei, saíste cedo da casa de teus pais,
Ainda menino e moço!
── É a voz do sangue,
o meu lado de marinheiro que nunca fui.
Em boa verdade, detesto os entroncamentos.
Rodo ou ferroviários.
As picadas. 
Os trilhos.
Detesto o Entroncamento.
Da primeira vez que lá passei.
Meia de dúzia de casas mal caiadas,
uma feixe de linhas,
cheiro a óleo, a mijo e a sucata.
Mas tenho a nostalgia dos cais de embarque.
A nostalgia do mar e da maresia.
Uma palavra que mexe comigo.
Cais. 
Cais de embarque.
Cais de partida.
Niassa. 
Rocha Conde de Óbidos.
Num comboio que veio da noite, silencioso e triste.
Do Campo Militar de Santa Margarida.
Destino: Lisboa.
Com carga para outro destino: Bissau.
Mercadoria=carne para canhão,
alguém escreveu, a spray,
um grafito na última carruagem.
na primavera de 1969.
Numa outra primavera que não chegou a haver.
── Política, meu estúpido!,
a primavera política do Marcelo Caetano.

── Sim, eras jovem.
E não vias a luz ao fundo do túnel.
Nem muito menos as luzes da cidade-luz.
Paris. 
Perdeste o último comboio para Paris.
Com o teu amigo que queria ser pintor,
Fernando Nobis.
Com paragem, talvez em Atocha,
para visitar o Greco, o Velasquez, o Goya,
os grandes de Espanha que estão no Prado...
── Paris, es doido, ou quê ?! 
Com a pide à perna,
mais os carabineiros da guardia civil!



Fazia sol e frio em Viseu.
O país profundo. 
O país que mexe, dizem-te.
Gosto sempre de ler os jornais da terra
quando estou no hotel.
Duas estrelas, o hotel. 
Novo, a cheirar a tinta.
Bom serviço. 
Comida caseira. 
Faces rosadas.
E duas mamocas que cabem na palma da mão.
Mas faz frio à noite.
── Voyeurismo! ── pensa ela,
a rapariguinha do bar. 
Oito páginas,
Entre notícias locais 
e os pequenos anúncios desclassificados.
Duas páginas de anúncios pessoais.
"A brasileira do bumbum"...
"A universitária que faz oral"...
"A mulatchinha dengosa"...

Linguagem de código.
A semiótica da solidão. 
Do sexo triste e solitário.
── Meu bem, ligue para o meu telemóvel,
que a crise bate a todas as portas,
sem distinção de género, 

etnia, 
cor, 
condição 
ou religião.
── A crise também chegou ao teu país profundo, baby.
── Ah!, mas Viseu, como cresceu, meu Deus!
── Não sei se cresceu bem... 
Não sou de cá.
O Politécnico. 
O túnel de Viriato.
Os colóquios. 
Os debates.
As ideias. 
Os intelectuais e artistas que vêm de fora.
O génio do Grão Vasco.
O comércio. 
O fórum, que há-de vir.
A Grande Área Metropolitana de Viseu.
Quase 400 mil.
O orgulho de se ser do Kavaquistão.
O que é feito do RI 14 ?
Não sei, a guerra acabou.
Foi bom para cidade,
A tropa, a guerra, o regimento.
── Ruas, estás de granito! ── 
diz o grafito.
(Ruas é o chefe da tribo, presumo.
Nada como um bom grafito na terra do Grão Vasco).
── Apreciem o lado empreendedor dos beirões.
── Só falta a Universidade,
que mais de 10 mil estudantes do politécnico já cá temos.
── Tiraram-nos a Faculdade de Medicina,
os sacanas da Covilhã.
──
(Outro lóbi beirão, o da Covilhã).
Registo o orgulho dos miúdos e miúdas
da Associação de Estudantes
da Escola Superior de Enfermagem de Viseu
que realizam anualmente as suas jornadas.
O país mexe. 
Viseu mexe.
O país profundo mexe. 
O Kavaquistão.
Os jovens deste país mexem.
Mesmo com capa e batina,
vestidos de preto,

como o corvo do Zé (Cardoso Pires).

16:30h. 
Passei o corpo pelas brasas.
Perdi um pedaço de mundo.
Revisitei outros infernos.
── O Alfa vai a 140, ó puto.
──
Temperatura: 19º interior. 20º exterior,
leio no tableau de bord.
── Mas agora abranda. 129, 101, 74, 52...
Está parado.
── Porquê ?
Uma placa com um S, outra com um M.
Não percebo nada da sinalética dos comboios.
Obras. 
Modernização da linha.
Tenho um pensamento piedoso e nobre
para com os trabalhadores anónimos
que constroem as novas linhas 
dos caminhos de ferro do futuro.
Ucranianos ? 
Africanos ?
Guineenses ? 
Ex-camaradas teus ?
Imigras ? 
Clandestinos ?
── Não lhes vejo nem a cara nem o passaporte.
── Podiam estar a trabalhar na estufas de Almeria,
O inferno na terra. 
Mas aí são magrebinos.
── O novo proletariado do Século XXI...
── Desço na Oriente.
Mandem alguém da empresa buscar-me.
── Dá o Benfica na esporte tê vê.
── 
E de novo o Alfa em marcha...
A paisagem muda.
A paisagem industrial da bacia do Tejo.
A ocupação selvagem da lezíria.
Mataram os campinos e o gado bravo.
E os flamingos. 
E as ostras,
Les petites portugaises,
acompanhadas com Champagne.
Em Paris.
Comment ils sont toujours gais, les portugais!
O branqueamento de dinheiro
que vai por essa nova Lisboa 
do Próximo Oriente.
A luxuriante estação do Oriente,
desenhada pelo Calatrava.
A ostentação dos ricos.
Just in time
17:06h. 
Cheguei.
Balanço do cliente:
── Pensei que já fosse o TGV. 
O TGV é que é.
── Não é o TGV, 
mas por mim não desgostei.
De viajar no Alfa Pendular. 
Turística, claro.
Que é como quem diz, 2ª classe.
De Coimbra B a Lisboa SA.
17 euros, IVA incluído à taxa de 5%.
Mais 10% de desconto nos Hotéis Tal &Tal.
Tive tempo para (des)arrumar algumas ideias.
── Ah!,o  país que via passar os comboios!...
E o puto tinha razão:
── Na ponta final, o Alfa Pendular dá mesmo os 210.

Um dia ainda vou ter orgulho na CP.
E na terra onde nasci, ao pé do mar.
E onde nunca vi sequer passar os comboios.
Os comboios não passam na minha terra.
onde só há moinhos de vento
com búzios do mar
que falam de mouras encantadas.
Nem os comboios chegam a Viseu.
Um abraço aos Viriatos.
Até para o ano.
Voltarei, se me convidarem,
de Expresso, por esses ipês acima.

Com regresso de comboio,
se não sabotarem o comboio 
que pára em Coimbra B.
E prometo ao barman 
que não me esquecerei de Atocha.
Sobretudo não esquecerei Atocha,
quando voltar a Coimbra B,
outra vez.
Não esquecerei as bombas de Atocha,
nem as minas e armadilhas 
da Ponta do Inglês.

Coimbra-Lisboa, Alfa Pendular, 25/3/2004. 
Revisto, Alfragide, 21 de abril de 2014

© Luís Graça  (2004). Todos os direitos reservados



Joana Graça (2014) - S/ título. Técnica mista 100 cm X 80 cm

Cortesia de © Joana Graça (2014). Todos os direitos reservados


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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13014: 10º aniversário do nosso blogue (14): Manhã de Páscoa, ao som da Sonata Moonligth, de Beethoven (J. L. Mendes Gomes)