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terça-feira, 6 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22074: Manuscrito(s) (Luís Graça) (203): Para a Joana, que hoje faz anos: "E os adultos, esses, já morreram todos. Só ficaram as crianças, sozinhas, a envelhecer” (Louise Glück | Frederico Pedreira, "Uma Vida de Aldeia", Lisboa, Relógio de Água, 2021, p. 133)


Página do Facebook da Joana Graça / Joana Carneiro... Com a devida vénia...

Joana:

1. Queria-te oferecer, como prendinha de anos, a novela gráfica “Balada para Sophie”, da genial dupla Filipe Melo e Juan Cavia (Lisboa, Tinta da China, setembro de 220, 320 pp). 

Simplesmente,  está esgotada. Mas fica prometido um exemplar da 2ª edição ou reimpressão.

Vê e ouve aqui ao menos a interpretação ao piano da Balada, pelo autor e pianista Filipe Melo (que é amigo do João e a quem dei umas "dicas", há uns anos, para o guião de uma outra BD, também portentosa, "Os Vampiros", cuja história se passa na fronteira da Guiné com o Senegal, em dezembro de 1972). 

[Sinopse: "Guiné, Dezembro de 1972.Em plena guerra colonial, um grupo de soldados portugueses é destacado para uma operação secreta no Senegal. Porém, à medida que vão sendo consumidos pela paranóia e pelo cansaço, esta missão aparentemente simples vai transformar‑se num verdadeiro pesadelo. Embrenhados na selva, estes homens terão de confrontar sucessivos demónios – os da guerra e os que trouxeram consigo."].

2. Em alternativa, trouxe-te um livro de poesia, em edição bilingue, inglês/português. Não conhecia a autora, Louise Glück, Prémio Nobel da Literatura 2020. Nova-iorquina, de ascendência judaico-húngara.

Acho que vais gostar: A Village Life (2009) / Uma Vida de Aldeia, numa belíssima e rigorosa tradução de Frederico Pedreira, também ele poeta. [Edição da regógio d'Água, Lisboa, 2021, 160 pp.]

Lê-se na badana: 

 “Teve uma infância e adolescência difíceis, mas um contacto precoce com autores gregos e latinos permitiu-lhe acolher a herança clássica e escrever uma poesia que , através de imagens universais, aborda a fragilidade essencial dos seres humanos”.

Acho que vais gostar. É o meu “feeling”. E mais: acho que podias escrever poemas quase tão bons como estes,   naqueles “notebooks”, baratuchos,  do Auchan,  que eu te costumo oferecer, e que tu approveitas da primeira à última folha, com notas, pensamentos, poemas, (in)confidências, desenhos, esboços de qualquer coisa… que um podia poderão transformar-se em livro. Tenho sempre a esperança que tenhas mais golpe de asa do que eu. Porque talento, felizmente, não te falta para o desenho e a escrita.


3. Folheando o livro, "Uma Vida de Aldeia", lendo na vertical, destaquei uma meia dúzia de versos:

(...) “Para poder nascer, o nosso corpo faz um pacto com a morte,

e, a partir desse momento, tudo o que tenta é fazer batota”
(p.77)


(...) “Que belas estão as flores – símbolos da resiliência da vida.

Os pássaros aproximam-se vorazes.”
(p. 105).


(...) “Nada prova que estou viva.

Há apenas a chuva, a chuva é infindável”
(p. 117).


(…) “E as pequenas coisas que antes nos

faziam felizes

já não conseguem chegar a nós”
(p.125)


(...) “E os adultos, esses, já morreram todos.

Só ficaram as crianças, sozinhas, a envelhecer”
(p.133)…


(...) “Corpo meu, (…)

não é da Terra que irei sentir falta,

é de ti que eu irei sentir falta”
(p.137).


Joana, é uma escrita muito feminina, austera, depurada, de alguém que sabe fazer, com as palavras, a necessária logoterapia que transforma a(s) nossa(s) fragilidade(s) em beleza poética. As palavras não servem para mais nada, se não para criar beleza e reordenar a realidade. Sem as palavras, teríamos o caos. 

Que tenhas um lindo dia 6 de abril de 2021

Teu pai e tua mãe (que, todos os anos, por este dia, às 10h30, deixa cair uma lágrima ternurenta  com a memória do teu parto, no Hospital de Santa Maria há 43 anos).

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Nota do editor:

Último post da série > 4 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22066: Manuscrito(s) (Luís Graça (202): A Páscoa: este ano resta-nos a saudade... e as fotografias e os vídeos de antanho. E a Covid-19 que nos confina e nos espreita.