O Castanheiro de Vales, em Vila Pouca de Aguiar, que ganhou o concurso nacional Árvore Portuguesa do ano de 2020.
Com a devida vénia a WILDER
1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 22 de Março de 2021 com um texto alusivo ao Dia Mundial da Árvore.
Da terra do Barriguinho
Situada numa encosta suave, com cerca de um hectare, guardo boas recordações da infância e da adolescência.
Quando não estava de "adil" (em descanso) o meu pai semeava lá tremoços, para azotar o solo, que no ano seguinte ia produzir bom trigo. Na primavera além do trigo surgir verde e pujante produzia bastante erva, pelo que em alguns anos era necessário mondar a seara, trabalho de jovens mulheres e raparigas. Quando não estava semeada, como na primavera, dava boa erva, o meu pai mandava-me para lá, manhã cedo, com as vacas e os vitelos. Manhãs desagradáveis, sacudidas por um vento frio e persistente, de que eu me procurava abrigar.
Havia lá um castanheiro, com um tronco largo e muito oco desde a base, que me albergava dos ventos frios das manhãs de Março. Numa manhã, mais fria, em que fui para lá com as vacas, fiz uma fogueira perto desse abrigo e o vento incerto e rodopiante, empurrou as chamas para o castanheiro e ele foi ardendo por dentro, com o barulho de um fogareiro enorme, de quando em quando desprendendo ramos em chamas.
Eu próximo a admirar esse espectáculo que me compungia, me amedrontava e fascinava. Gostava desse castanheiro, já velho e tão alto, o maior, que já dava poucas castanhas. Árvore amiga como tantas de que gostei na minha infância e adolescência, sem me atrever a admitir conscientemente esse amor. Vivíamos próximos, e ajudávamos-nos a suportar as vidas uns e outros. Oliveiras, sobreiros, olmos, freixos, pinheiros, carvalhos, figueiras, zimbros, tanta beleza, tanta sombra, e tantos produtos diferentes ofereciam aos homens e aos animais.
Havia as oliveiras centenárias da Barca, o sobreiro grande da Lagariça, cuja cortiça tinha que ser tirada por sete homens, o olmo grande do Pereiro, no cimo do qual a cegonha tinha o ninho e os ciganos acampavam à sua sombra no Verão.
Na Guiné, terra de florestas tropicais, onde tive que viver dois anos, por causa de uma guerra que não quis, árvores lindas, grandes, frondosas, admiráveis. Nunca esquecerei a Mata do Morés e aquela árvore tão alta e larga, a dois quilómetros de Buba, no final do rio Grande Buba .
Hoje no Dia da Árvore, esta é a minha possível homenagem a esses grandes seres, que, não me ouvem mas nascem, crescem, vivem e morrem e me têm ajudado tanto a viver.
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Nota do editor
Último poste da série de 1 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21599: Efemérides (345): Foi em 1 de Dezembro de 1640, há 380 anos, executada a "Operação da Restauração da Independência" (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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