Porto > Exposição Colonial Portuguesa > 1934 > O Palácio de Cristal renomeado Palácio das Colónias.
(Cortesia da Hemeroteca Digital de Lisboa / Câmara Municipal de Lisboa)
Título da reportagem de Hugo Rocha, sobre a Exposição Colonial do Porto, publicada possivelmente no "Ultramar . Órgão Oficial d I Exposição Colonail", e depois reproduzida no Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro, n.º 9, Abril a Julho de 1934. Número Especial comemorativo da Primeira Exposição Colonial realizada no Porto, 1934, pp. 153-155
Teve grande destaque a "representação" da Guiné: a figura de régulo Mamadu Sissé, "um dos heróis das campanhas de pacificação", colaborador próximo do capitão Teixeira Pinto (o "capitão-diabo") (de que o pintor Eduardo Malta fez um soberbo retrato, a ele e ao seu filho, Abdullah); e a figura da Rosinha, balanta, imortalizada pelo fotógrafo Domingos Alvão.
Temos no nosso blogue dez referências a este evento que, de resto, seguiu o paradigma de outras exposições congéneres, realizadas por outras potências coloniais da época, em cidades como Marselha (1922), Antuérpia (1930) e Paris (1931).
(...) "No recinto da exposição reproduziram-se aldeias indígenas das várias colónias, construiu-se um parque zoológico com animais exóticos, edificaram-se réplicas de monumentos ultramarinos, divulgou-se a gastronomia, enquanto centenas de expositores da metrópole e das colónias atestavam o dinamismo empresarial do Império." (...) (Fonte: Hemeroteca Municipal de Lisboa > Exposição Colonial Portuguesa).
Fez parte do corpo redatorial do quinzenário "Ultrarmar - Ógão Oficial da I Exposição Colonial", de que se publicaram 18 números,entre 1 de fevereiro e 15 de outubro de 1934, números1 , O direteor da publiação era o Henrique Galvão.
2. Sobre a peça, que selecionámos hoje, assinada por Hugo Rocha (**)... O título e subtítulo, extensíssimos, dizem tudo: "Antes de abrir a Exposição...Da Guiné a Timor, sem sair do Palácio de Cristal: sessenta e três pretos e pretas da mais próxima e nove pardos da mais afastada das colónias de Portugal já dão ao recinto do grande certame o tom colorido e exótico da vida tropical"
Hugo Rocha (1907-1993) foi um jornalista e escritor do Porto: entrou aos 18 anos para a redação de "O Comércio do Porto" (fundado em 1854, extinto em 2005), e do o qual será diretor durante muitos anos. Já antes, em 1933, escrevera uams crónicas sobre o ultramar português.
Teve, talvez por isso, o privilégio de ser um dos primeiros a visitar a exposição, na fase ainda do seu "making of", antes da sua abertura oficial. O texto que escreveu, há 90 anos merece ser lido ou relido com atenção e precaução. Tem observações e expressões que hoje nos chocam. Tem de ser contextualizado. Estamos nos anos 20/30, a época da consagração do racismo nas suas diversas vertentes (biológico, cultural, etc.) e da subida ao poder dos nazifascismos e demais ditaduras. (Em boa verdade também não sabemos como daqui a 90 anos os nossos vindouros irão ler o que aqui escrevemos, e olhar para as nossas fotos...)
Repescámos, da reportagem do Hugo Rocha, alguns destes "estereótipos sociais" de que é feito o racismo, de ontem e de hoje, e o desconhecimento do outro, da sua cultura, da sua história, da sua terra. (Estranhamente o jornalista não chegou a pôr os olhos na Rosinha, balanta, "o animal mais belo daquele zoo humano"... e que se virá a tornar a coqueluche da exposição. )
- Ontem, a meio da tarde, para matar saudades, fui ao Palácio para ver os pretos (...)
- A aldeia da Guiné, que é a mais típica do certame , porque é lacustre, como grande parte das aldeias da Guiné (...)
- Vinte negros - dezoito homens e duas mulheres . da raça fula (..:)
- Arde uma fogueira no centro da sanzala (..:)
- Não sabe o que é ciúme, sior (...)
- Algarávia gentílica em todas as bocas (...)
- O cheiro é perfeitmente colonial (...)
- A preguiça equatorial domina todos os repentes (...)
- Henrique Galvão (...) não quer que os indígenas da Guiné estejam ociosos (...)
- (...) aqueles corpos nus e besuntados (...)
- Olha, aquilo é o cheiro da carne preta
- E o leão, enquanto as negras não lhe desaparecem da vista, parece devorá-las com os olhos (...)
- Pretos da Guiné. Pardos de Timor. Portugueses de outras cores e doutras raças (...) (Citações de Hugo Rocha)
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 17 d janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25080: Historiografia da presença portuguesa em África (404): Um documento assombroso: "Viagem à Guiné Portugueza", por Costa Oliveira (2) (Mário Beja Santos)
(**) Hugo Rocha, de seu nome completo Hugo Amílcar de Freitas Rocha (Porto, 11 de novembro de 1906 - Porto, 24 de fevereiro de 1993) foi jornalista e escritor (e também espirita).
(...) Fez os estudos na sua cidade-natal. Empregou-se numa firma comercial, ao mesmo tempo que exercia o professorado no ensino livre. A sua vocação, porém, havia de orientá-lo para o jornalismo e assim, aos 18 anos de idade, principia a colaborar na edição de "O Comércio do Porto" (1924).
Em 1929 ingressou definitivamente para o quadro redactorial daquele diário portuense, e anos depois foi escolhido para chefe de redacção, lugar que ocupava em 1952.
Em paralelo ao trabalho absorvente no jornal, desenvolve projetos próprios, como o demonstram as diversas obras literárias que deixou, tendo ganho vários prémios literários e jornalísticos.
De 1949 a 1951 foi o diretor do "Actualidade", jornal semanal cultural e associativo, de propriedade da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto. (...)
Apaixonado pela Música, dirigiu durante anos o mensário de canto coral "Orfeu" e foi crítico musical de "O Comércio do Porto". (...) (Fonte: Wikipedia)
Ao longo das décadas seguintes publicou numerosas obras, incluindo relatos de viagens de carácter impressionista aos Açores, à ilha da Madeira, à Índia Portuguesa e à Galiza. Também publicou alguns romances e várias obres sobre temas do esoterismo (...) e do espiritismo.
A sua obra de viagens mais notável é um relato de um périplo pela Galiza, intituladas Itinerário na Galiza, obra complementada em 1961 e 1963 com os dois volumes intitulados Encontros da Galiza. A obra mereceu excelente colhimento à época. (...) (Fonte: Wikipedia)