Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Estrada Xime-Bambadinca > O 1º Capitão da CCAÇ 12 (1969/71), o Capitão Brito (hoje, coronel na reforma). Em 1972 comandava a CCAÇ 12 o Capitão Bordalo, aqui referido pelo nosso camarada, novo membro da nossa tertúlia, Joaquim Alves Mexia, ex-alferes miliciano de operações especiais que passou por aqui, quando esteve na CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas), e depois no Pel Caç Nat 52 (Bambadinca, Ponte Rio Undunduma, Mato Cão) (1971/73)...
Fotos do arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).
© Humberto Reis (2006).
Caro Luis Graça:
Obrigado pelas fotografias e pelo relato do episódio (1).
Como a memória às vezes nos atraiçoa, aqui vai uma correcção ao meu primeiro mail, onde te dizia onde tinha estado na Guiné:
(i) CART 3492 (e não CART 3494, que esteve no Xime): Xitole e Ponte dos Fulas (1);
(ii) Pel Caç Nat 52 (Os Gaviões): Ponte do Rio Undunduma e Mato Cão
(iii) CCAÇ 15 (Taque Tchife): Mansoa e sua zona.
Quando estava no Pel Caç Nat 52, junto a Bambadinca, tinha uma forte ligação à CCAÇ 12, não só operacional mas de amizade com todos eles, especialmente o Capitão Bordalo e os seus Alferes, de que infelizmente neste momento não me lembro do nome de nenhum.
Para além das operações e outras actividades que iamos fazendo,sobrava-nos tempo para algumas loucuras, resultantes de algum cacimbo e do cansaço provocado pelo stress permanente, e por alguma incompetência, de quem deveria ser competente.
Entre algumas de que lembro, fomos uma vez à noite, o Capitão Bordalo, os seus Alferes e eu, armados até aos dentes, de Unimog jantar ao Xime, pela estrada de todos conhecida e que naquela altura só se fazia em coluna protegida, mercê das emboscadas que nela tinham acontecido.
Quando regressávamos, num alarde a roçar a loucura, talvez também ajudados por uns uísques, parávamos na estrada, no sítio das emboscadas, e voltados para a mata, aliviámos as bexigas (2).
Foi um momento hilariante, mas muito intenso, que nos uniu ainda mais na amizade e companheirismo.
Escusado será dizer que o caso foi conhecido e muito comentado, tendo recebido, como é lógico, olhares de reprovação de quem de direito, mas não mais que isso, porque os "gajos das tropas africanas são doidos e isto bem o prova".
Claro que não foi nada de muito importante ou heróico, mas apenas um modo de aliviar a tensão, com uma tensão ainda maior.
Assim que tiver equipamento para isso, tratarei das fotografias.
Abraço
Joaquim Mexia Alves (2)
________
Notas de L.G.
(1) O Sousa de Castro já tinha topado o engano:
"Olá, Mexia Alves!... Há aqui engano quando referes Xitole – CART 3494. O teu nome não me é estranho, pertenci à CART 3494 que esteve sedeada no Xime; no Xitole estava a CART 3492. Alfa Bravo. Sousa de Castro".
Antes da CART 3492 (1972/74), esteve no Xitole a CART 2716 (1970/72), do BART 2917, a que pertenceu o nosso camarada David Guimarães: é, de resto, o período que está melhor documentado nas nossas páginas e no nosso blogue... Anterior a esta, havia a CART 2413 (1968/70), pertencente ao BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)... A CCAÇ 12, no meu tempo (1969/71), trabalhou com as duas... Fizemos diversas colunas logísticas ao Xitole e participámos em diversas operações conjuntas, no Sector L1
(2) Obrigado, camarada... Andámos pelos mesmos sítios, fizemos as mesmas locuras, como essa de ir de Bambadinca ao Xime, beber um copo... Fi-lo de Daimler, sozinho, eu e o condutor, em finais de 1970, quando a Tecnil ainda estava a abrir a estrada, mais tarde alcatroada...
Desculpa a referência à tua empresa, que eu sei que tu amas muito e que tem sido a tua vida... Vou muito a Leiria, onde tenho amigos que talvez conheças (como o Dr. Carlos Mariano, ortopedista, por exemplo)... Um belo dia destes faço-te uma visita, para te conhecer em carne e osso. Quem me disse quem tu eras, na vida civil, foi um camarada nosso, que te conhece, a ti e à tua obra... Como vês, o mundo é bem pequeno...
Bom, fico a aguardar mais estórias, além das tuas fotos... Não temos pressa. Fica bem, com saúde. Bons negócios. Luís Graça.
____________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 11 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P952: Evocando o libanês Jamil Nasser, do Xitole (Joaquim Mexia Alves, 1971/73)
(2) Provavelmente na Ponta Coli, entre o Xime e Amedalai: vd. posts de:
26 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXVII: Coragem, sangue-frio e desprezo pelo perigo em Ponta Coli (Sousa de Castro, CART 3494)
(...) "Perguntei há dias ao Sousa de Castro se tinha cópia da história da companhia dele, na sequência da publicação do episódio da emboscada sofrida pelos seus camaradas na Ponta Coli, na estrada (já então alcatroada) Xime-Bambadinca, às 6 da manhã do dia 22 de Abril de 1972, e de resultaram pesadas baixas para as NT: 1 morto (furriel), 7 feridos graves e 12 feridos ligeiros". (...)
24 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXII: A morte, às 6 da manhã, em Ponta Coli (Sousa de Castro, CART 3494)
20 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXVIII: Notícias da CART 3493 (Mansambo, 1972) e da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1973/74) (António Duarte)
(...)" Quanto ao ano de 1973 na CCAÇ 12 a acção foi mais animada. Instalados em Bambadinca, naquilo que se classificava de hotel, fazia-se operações sobretudo na zona do Xime. Assim em 3 de Fevereiro tive a primeira emboscada na Ponta Varela em que participaram três grupos de combate da CCAÇ 12 em conjunto com 2 pelotões da Cart 3494 (à época aquartelada no Xime). As NT não registaram feridos mas segundo se apurou em informações recolhidas no Enxalé, o PAIGC teria tido baixas.
"A 25 do mesmo mês houve uma outra emboscada numa operação na zona de Ponta Varela/Poidom e Ponta do Inglês/Ponta João da Silva, também com forças semelhantes à anterior, em que registámos 7 feridos, felizmente ligeiros. Foi praticamente toda a minha secção (Bazuca do 3º grupo de combate), que foi tocada. Por infelicidade um RPG 7 rebentou ainda no ar (com era normal), apanhando o pessoal abrigado. Não participei nesta acção, pois estava em Bissau para vir gozar as minhas segundas férias na Metrópole.
"Até final do do ano houve mais 3 emboscadas, tendo sido a mais grave na Ponta Coli (segurança à estrada Xime-Bambadinca) e n ataques ao quartel, felizmente com má pontaria, na maioria das vezes.
(...) "O comandante da CCAÇ 12 no início de 1972 era o Cap Bordalo, homem de grande carisma, seriedade e bravura. Era um líder. Penso que será [natural de] ou viverá na região de Lamego" (...).
12 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXLIV: A galeria dos meus heróis (3): A Helena de Bafatá
(...) "Pairava ainda na estrada Xime-Bambadinca o fantasma do furriel vagomestre do Xime que em Ponta Coli, antes de Amedalai, tinha por hábito desafiar impunemente o turra, insultando-o de cabrão e filha da puta para cima, turra esse que nós iríamos aprender a respeitar com a reverência temerosoa que é devida a todos os inimigos poderosos, armados ou não de RPG – até que um dia morreu com um tiro na nuca e a bela Helena de Bafatá nos braços (...).
… Amorosa Helena, pequena fula dengosa, ‘salva das garras do Islão’ (sic) por zelosos missionários católicos – mas não da faca da fanateca, que te extirpou, na festa do fanado, o clitóris – para se tornar o colchão de todas as camas, a Vénus negra de batalhões inteiros, a iniciadora sexual de mancebos que as sortes vieram arrancar às saias da mamã, a alegre e traquinas companheira de muitas farras de caserna, correndo nua e lasciva do regaço de tropas bêbedos que nem cachos, para o abrigo mais próximo quando às tantas da madrugada soava o canhão sem recuo!... (...)
Obrigado pelas fotografias e pelo relato do episódio (1).
Como a memória às vezes nos atraiçoa, aqui vai uma correcção ao meu primeiro mail, onde te dizia onde tinha estado na Guiné:
(i) CART 3492 (e não CART 3494, que esteve no Xime): Xitole e Ponte dos Fulas (1);
(ii) Pel Caç Nat 52 (Os Gaviões): Ponte do Rio Undunduma e Mato Cão
(iii) CCAÇ 15 (Taque Tchife): Mansoa e sua zona.
Quando estava no Pel Caç Nat 52, junto a Bambadinca, tinha uma forte ligação à CCAÇ 12, não só operacional mas de amizade com todos eles, especialmente o Capitão Bordalo e os seus Alferes, de que infelizmente neste momento não me lembro do nome de nenhum.
Para além das operações e outras actividades que iamos fazendo,sobrava-nos tempo para algumas loucuras, resultantes de algum cacimbo e do cansaço provocado pelo stress permanente, e por alguma incompetência, de quem deveria ser competente.
Entre algumas de que lembro, fomos uma vez à noite, o Capitão Bordalo, os seus Alferes e eu, armados até aos dentes, de Unimog jantar ao Xime, pela estrada de todos conhecida e que naquela altura só se fazia em coluna protegida, mercê das emboscadas que nela tinham acontecido.
Quando regressávamos, num alarde a roçar a loucura, talvez também ajudados por uns uísques, parávamos na estrada, no sítio das emboscadas, e voltados para a mata, aliviámos as bexigas (2).
Foi um momento hilariante, mas muito intenso, que nos uniu ainda mais na amizade e companheirismo.
Escusado será dizer que o caso foi conhecido e muito comentado, tendo recebido, como é lógico, olhares de reprovação de quem de direito, mas não mais que isso, porque os "gajos das tropas africanas são doidos e isto bem o prova".
Claro que não foi nada de muito importante ou heróico, mas apenas um modo de aliviar a tensão, com uma tensão ainda maior.
Assim que tiver equipamento para isso, tratarei das fotografias.
Abraço
Joaquim Mexia Alves (2)
________
Notas de L.G.
(1) O Sousa de Castro já tinha topado o engano:
"Olá, Mexia Alves!... Há aqui engano quando referes Xitole – CART 3494. O teu nome não me é estranho, pertenci à CART 3494 que esteve sedeada no Xime; no Xitole estava a CART 3492. Alfa Bravo. Sousa de Castro".
Antes da CART 3492 (1972/74), esteve no Xitole a CART 2716 (1970/72), do BART 2917, a que pertenceu o nosso camarada David Guimarães: é, de resto, o período que está melhor documentado nas nossas páginas e no nosso blogue... Anterior a esta, havia a CART 2413 (1968/70), pertencente ao BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)... A CCAÇ 12, no meu tempo (1969/71), trabalhou com as duas... Fizemos diversas colunas logísticas ao Xitole e participámos em diversas operações conjuntas, no Sector L1
(2) Obrigado, camarada... Andámos pelos mesmos sítios, fizemos as mesmas locuras, como essa de ir de Bambadinca ao Xime, beber um copo... Fi-lo de Daimler, sozinho, eu e o condutor, em finais de 1970, quando a Tecnil ainda estava a abrir a estrada, mais tarde alcatroada...
Desculpa a referência à tua empresa, que eu sei que tu amas muito e que tem sido a tua vida... Vou muito a Leiria, onde tenho amigos que talvez conheças (como o Dr. Carlos Mariano, ortopedista, por exemplo)... Um belo dia destes faço-te uma visita, para te conhecer em carne e osso. Quem me disse quem tu eras, na vida civil, foi um camarada nosso, que te conhece, a ti e à tua obra... Como vês, o mundo é bem pequeno...
Bom, fico a aguardar mais estórias, além das tuas fotos... Não temos pressa. Fica bem, com saúde. Bons negócios. Luís Graça.
____________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 11 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P952: Evocando o libanês Jamil Nasser, do Xitole (Joaquim Mexia Alves, 1971/73)
(2) Provavelmente na Ponta Coli, entre o Xime e Amedalai: vd. posts de:
26 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXVII: Coragem, sangue-frio e desprezo pelo perigo em Ponta Coli (Sousa de Castro, CART 3494)
(...) "Perguntei há dias ao Sousa de Castro se tinha cópia da história da companhia dele, na sequência da publicação do episódio da emboscada sofrida pelos seus camaradas na Ponta Coli, na estrada (já então alcatroada) Xime-Bambadinca, às 6 da manhã do dia 22 de Abril de 1972, e de resultaram pesadas baixas para as NT: 1 morto (furriel), 7 feridos graves e 12 feridos ligeiros". (...)
24 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXII: A morte, às 6 da manhã, em Ponta Coli (Sousa de Castro, CART 3494)
20 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXVIII: Notícias da CART 3493 (Mansambo, 1972) e da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1973/74) (António Duarte)
(...)" Quanto ao ano de 1973 na CCAÇ 12 a acção foi mais animada. Instalados em Bambadinca, naquilo que se classificava de hotel, fazia-se operações sobretudo na zona do Xime. Assim em 3 de Fevereiro tive a primeira emboscada na Ponta Varela em que participaram três grupos de combate da CCAÇ 12 em conjunto com 2 pelotões da Cart 3494 (à época aquartelada no Xime). As NT não registaram feridos mas segundo se apurou em informações recolhidas no Enxalé, o PAIGC teria tido baixas.
"A 25 do mesmo mês houve uma outra emboscada numa operação na zona de Ponta Varela/Poidom e Ponta do Inglês/Ponta João da Silva, também com forças semelhantes à anterior, em que registámos 7 feridos, felizmente ligeiros. Foi praticamente toda a minha secção (Bazuca do 3º grupo de combate), que foi tocada. Por infelicidade um RPG 7 rebentou ainda no ar (com era normal), apanhando o pessoal abrigado. Não participei nesta acção, pois estava em Bissau para vir gozar as minhas segundas férias na Metrópole.
"Até final do do ano houve mais 3 emboscadas, tendo sido a mais grave na Ponta Coli (segurança à estrada Xime-Bambadinca) e n ataques ao quartel, felizmente com má pontaria, na maioria das vezes.
(...) "O comandante da CCAÇ 12 no início de 1972 era o Cap Bordalo, homem de grande carisma, seriedade e bravura. Era um líder. Penso que será [natural de] ou viverá na região de Lamego" (...).
12 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXLIV: A galeria dos meus heróis (3): A Helena de Bafatá
(...) "Pairava ainda na estrada Xime-Bambadinca o fantasma do furriel vagomestre do Xime que em Ponta Coli, antes de Amedalai, tinha por hábito desafiar impunemente o turra, insultando-o de cabrão e filha da puta para cima, turra esse que nós iríamos aprender a respeitar com a reverência temerosoa que é devida a todos os inimigos poderosos, armados ou não de RPG – até que um dia morreu com um tiro na nuca e a bela Helena de Bafatá nos braços (...).
… Amorosa Helena, pequena fula dengosa, ‘salva das garras do Islão’ (sic) por zelosos missionários católicos – mas não da faca da fanateca, que te extirpou, na festa do fanado, o clitóris – para se tornar o colchão de todas as camas, a Vénus negra de batalhões inteiros, a iniciadora sexual de mancebos que as sortes vieram arrancar às saias da mamã, a alegre e traquinas companheira de muitas farras de caserna, correndo nua e lasciva do regaço de tropas bêbedos que nem cachos, para o abrigo mais próximo quando às tantas da madrugada soava o canhão sem recuo!... (...)