Guiné > Região de Tombali > Guileje > 1967 > CART 1613 (1967/68) > Ao centro, o Francesinho, alcunha do sold at António de Sousa Oliveira, transbordando de energia e de alegria.
Guiné > Região de Tombali > Guileje > 1967 > CART 1613 (1967/68) > Foto da placa de homenagem ao Soldado António Lopes (de alcunha, o Sargento, "devido aos seus modos bruscos" ) e ao Soldado António de Sousa Oliveira (de alcunha, o Francesinho, por ser franzino e emigrante em França). Os dois morreram em combate em 28/12/1967, juntamente com o alf mil Nuno da Costa Tavares Machado. Eram ambos, aqueles dois soldados, naturais de Celorico de Basto, embora de freguesias diferentes: o Lopes era de Bouça, Fervença; o Oliveira, era de Lamelas, Ribas.
Guiné > Região de Tombali > Guileje > 1967 > CART 1613 (1967/68) > Foto da placa de homenagem ao Soldado António Lopes (de alcunha, o Sargento, "devido aos seus modos bruscos" ) e ao Soldado António de Sousa Oliveira (de alcunha, o Francesinho, por ser franzino e emigrante em França). Os dois morreram em combate em 28/12/1967, juntamente com o alf mil Nuno da Costa Tavares Machado. Eram ambos, aqueles dois soldados, naturais de Celorico de Basto, embora de freguesias diferentes: o Lopes era de Bouça, Fervença; o Oliveira, era de Lamelas, Ribas.
Fotos: © José Neto (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
1. Continuação da republicação das memórias do 2º Sargento José Afonso da Silva Neto (, falecido em 2007, com o posto de capitão reformado), relativas à sua comissão na Guiné, quando exerceu funções de 1º sargento da Companhia de Artilharia nº 1613 (Guileje, 1967/68), sob comando do cap Eurico Corvacho (também já falecido, em 2011).
1. Continuação da republicação das memórias do 2º Sargento José Afonso da Silva Neto (, falecido em 2007, com o posto de capitão reformado), relativas à sua comissão na Guiné, quando exerceu funções de 1º sargento da Companhia de Artilharia nº 1613 (Guileje, 1967/68), sob comando do cap Eurico Corvacho (também já falecido, em 2011).
[José Neto: Foto, à esquerda, de 2006]
VII parte das memórias do primeiro-sargento da Companhia de Artilharia nº 1613 (Guileje, 1967/68), o então 2º Sargento José Afonso da Silva Neto (e hoje, capitão reformado) > O Francesinho
O Zé Neto, que foi, enquanto vivo, o patriarca da nossa tertúlia, quis partillhar connosco uma parte "muito significativa" das memórias da sua vida militar. Enviou-nos "trinta e três páginas retiradas (e ampliadas) das 265" que foi escrevendo, "ao correr da pena" para responder a milhentas perguntas do seu neto Afonso, um jovem de 17 anos, "que pensava que o avô materno andou em África só a matar pretos enquanto que o paterno, médico branco de Angola, matava leões sentado numa esplanada de Nova Lisboa (Huambo)"... "Coisas de família", comentava o Zé com o seu proverbial sentido de humor... Infeliezmente, ele já não está cá, entre nós, há 6 anos... Ficam as suas memórias, passadas a computador, e já publicadas, na I Série do nosso blogue.
Com pouco mais de metro e meio de altura, franzino, quase imberbe, era um poço de força, energia e boa disposição que a todos espantava.
Geralmente, quando o pessoal regressava das duras caminhadas pelas matas e bolanhas vinha estafado e atirava-se para cima do catre para descansar. Essa não era a prática do Francesinho. Tomava um duche, ficava como novo e, com a sua concertina algo desafinada, espalhava alegria por toda a tabanca e arredores.
Era emigrante em França, para onde foi com os pais ainda criança e pela nossa Lei não estava sujeito ao serviço militar, mas quando atingiu a idade própria veio apresentar-se e foi incorporado.
Constava nos seus documentos que era analfabeto e agricultor e, no entanto, falava correctamente francês e era operário especializado da indústria metalomecânica.
O mais surpreendente, se é que o Francesinho não fosse ele uma permanente surpresa, era a correcção com que falava português com a pronúncia e os ditos da sua região, as terras do Basto.
A sua única preocupação era a de que, quando acabasse a tropa, as nossas autoridades lhe passassem um papel para apresentar no birú da fábrica onde trabalhava, justificando que esteve ao serviço da sua Pátria.
Desgraçadamente não foi preciso o papel, mas julgo que o tal birú [ bureau, escritório] da fábrica decerto deu por falta do portuguesinho, alegre e diligente, nascido na freguesia de Ribas, concelho de Celorico de Basto e falecido heroicamente em combate na Guiné Portuguesa.(**)
As últimas mãos que afagaram aquele rosto de menino, antes de se soldar a urna de chumbo que o trouxe de volta, foram as do Capitão Corvacho e a minha. Não é vergonha dizer que não contivemos as lágrimas que nos correram pela cara abaixo.
Se houvesse que configurar num homem só, a raça, o patriotismo e o espírito de sacrifício do valoroso soldado português, eu escolhia o Francesinho, sem hesitação.
_____________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 8 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12126: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (19): Memórias de Guileje ao tempo da CART 1613 (1967/68), por José Neto (1929-2007) - Parte VI: A morte do comandante dos Lordes, o gr comb especial do alf mil Tavares Machado, em 28/12/1967
(*ª) António de Sousa Oliveira, sold at, nº mec. 06399965, natural de Lamelas, Ribas, Celorico de Basto, morreu em 28/12/1967, em combate. Está sepultado em Vale de Bouro.
VII parte das memórias do primeiro-sargento da Companhia de Artilharia nº 1613 (Guileje, 1967/68), o então 2º Sargento José Afonso da Silva Neto (e hoje, capitão reformado) > O Francesinho
O Zé Neto, que foi, enquanto vivo, o patriarca da nossa tertúlia, quis partillhar connosco uma parte "muito significativa" das memórias da sua vida militar. Enviou-nos "trinta e três páginas retiradas (e ampliadas) das 265" que foi escrevendo, "ao correr da pena" para responder a milhentas perguntas do seu neto Afonso, um jovem de 17 anos, "que pensava que o avô materno andou em África só a matar pretos enquanto que o paterno, médico branco de Angola, matava leões sentado numa esplanada de Nova Lisboa (Huambo)"... "Coisas de família", comentava o Zé com o seu proverbial sentido de humor... Infeliezmente, ele já não está cá, entre nós, há 6 anos... Ficam as suas memórias, passadas a computador, e já publicadas, na I Série do nosso blogue.
Com pouco mais de metro e meio de altura, franzino, quase imberbe, era um poço de força, energia e boa disposição que a todos espantava.
Geralmente, quando o pessoal regressava das duras caminhadas pelas matas e bolanhas vinha estafado e atirava-se para cima do catre para descansar. Essa não era a prática do Francesinho. Tomava um duche, ficava como novo e, com a sua concertina algo desafinada, espalhava alegria por toda a tabanca e arredores.
Era emigrante em França, para onde foi com os pais ainda criança e pela nossa Lei não estava sujeito ao serviço militar, mas quando atingiu a idade própria veio apresentar-se e foi incorporado.
Constava nos seus documentos que era analfabeto e agricultor e, no entanto, falava correctamente francês e era operário especializado da indústria metalomecânica.
O mais surpreendente, se é que o Francesinho não fosse ele uma permanente surpresa, era a correcção com que falava português com a pronúncia e os ditos da sua região, as terras do Basto.
A sua única preocupação era a de que, quando acabasse a tropa, as nossas autoridades lhe passassem um papel para apresentar no birú da fábrica onde trabalhava, justificando que esteve ao serviço da sua Pátria.
Desgraçadamente não foi preciso o papel, mas julgo que o tal birú [ bureau, escritório] da fábrica decerto deu por falta do portuguesinho, alegre e diligente, nascido na freguesia de Ribas, concelho de Celorico de Basto e falecido heroicamente em combate na Guiné Portuguesa.(**)
As últimas mãos que afagaram aquele rosto de menino, antes de se soldar a urna de chumbo que o trouxe de volta, foram as do Capitão Corvacho e a minha. Não é vergonha dizer que não contivemos as lágrimas que nos correram pela cara abaixo.
Se houvesse que configurar num homem só, a raça, o patriotismo e o espírito de sacrifício do valoroso soldado português, eu escolhia o Francesinho, sem hesitação.
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 8 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12126: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (19): Memórias de Guileje ao tempo da CART 1613 (1967/68), por José Neto (1929-2007) - Parte VI: A morte do comandante dos Lordes, o gr comb especial do alf mil Tavares Machado, em 28/12/1967
(*ª) António de Sousa Oliveira, sold at, nº mec. 06399965, natural de Lamelas, Ribas, Celorico de Basto, morreu em 28/12/1967, em combate. Está sepultado em Vale de Bouro.