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quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24948: S(C)em comentários (22): Caçadores de Angola...



Legenda: "Caçadores de Angola: Um elefante morto pelo grande caçador Teodoro Cabral, antigo Fiscal Geral da Caça da Colónia. Foto: c. 1930. Fonte: Portugal Colonial: revista de propaganda e expansão Colonial,. nº 1, março de 1931, pág. 16. 



Desta revista publicaram-se 72 números, de março de 1931 a janeiro-fevereiro de 1937. Estão dsponíveis, no sítio Hemeroteca Digital da Câmara Municipal de Lisboa... Imagens reproduzidas com a devida vénia... Foi seu fundador,  e primeiro director, Henrique Galvão (1895-1970).

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24627: Historiografia da presença portuguesa em África (384): Grandes surpresas na revista "As Colónias Portuguesas" e a Guiné na Exposição Internacional de Antuérpia, 1930 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Fevereiro de 2023:

Queridos amigos,
É compensador andar a bisbilhotar em publicações que à primeira vista não nos fazem pensar que dali salta pepita de ouro. Sugeriram-me na Biblioteca da Sociedade de Geografia que começasse a ver os primeiros volumes da revista As Colónias Portuguesas, e fiquei assombrado por encontrar um mapa com a localização dos estabelecimentos comerciais portugueses nas margens do Rio Grande de Buba, tratou-se, sem margem para dúvidas, do primeiro grande empreendimento económico do século XIX, teve vida efémera devido às sangrentas guerras no Forreá, mas aqui fica a ilustração desta nossa presença, eram fundamentalmente portugueses e cabo-verdianos; não deixa de ser interessante folhear o catálogo português, a apresentação da Guiné no contexto da Exposição Colonial Portuguesa na Grande Exposição de Antuérpia de 1930, publicação da Agência-Geral das Colónias, edição em francês.

Alude-se à descoberta da Guiné, aos primeiros navegadores, ao primeiro povoado protuguês, Porto da Cruz, fundado em 1584 pelos frades em Guinala, nas margens do Rio Grande de Buba; repertoriam-se as primeiras fortalezas, e as companhias comerciais; não escapa uma referência à questão de Bolama e às campanhas de Teixeira Pinto, tudo para se dizer que reinava agora uma paz profunda. Não falta um esquisso fisiográfico com rios, estações do ano e dados meteorológicos. Não havia então censo demográfico, mas são apresentadas as principais etnias, menciona-se que em 1925 havia na Guiné 768 europeus e sírios; depois de se falar nas 11 circunscrições administrativas, mencionam-se 2800 km de estradas, uma rede de 685 km para as comunicações telegráficas e duas estações de cabos submarinas. Quanto a dados económicos, toda a riqueza da Guiné provinha da agricultura e da criação de gado: arroz, amendoim, óleo de palma, couros, cera e borracha. Não deixa de surpreender a imagem com a cultura do algodão, é facto que ela existiu, embora sem continuidade. Obviamente para atrair os caçadores alerta-se para o facto da Guiné ser uma região privilegiada para a caça.

Um abraço do
Mário



Grandes surpresas na revista "As Colónias Portuguesas" e a Guiné na Exposição Internacional de Antuérpia, 1930

Mário Beja Santos

A revista "As Colónias Portuguesas" publicou-se entre 1833 e 1891, era inequivocamente dirigida à atração de investimentos, de funcionários da administração colonial, potenciais estudiosos do Terceiro Império. Comecei, na Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa, por percorrer o volume referente a 1933 e a 1934. E fui surpreendido por gravuras para mim totalmente inéditas, mesmo que conhecesse o conteúdo. Por exemplo, desconhecia por inteiro a marcação das feitorias portuguesas no Rio Grande de Buba, na sua época áurea, foi um período flamejante que acabou de forma caótica por causa da guerra do Forreá, mesmo quando as autoridades portuguesas conseguiram encontrar um régulo fiel que estabilizasse as relações entre Fulas e Biafadas, os estabelecimentos comerciais apagaram-se. A imagem deixou para a posteridade a localização desses empreendimentos que depois se reduziram à insignificância ou ao apagamento.
Pedro Inácio de Gouveia, brilhante oficial da Marinha, é depois de Augusto Frutuoso Figueiredo de Barros, Governador interino, o primeiro Governador da Guiné (1881-1884), haverá um segundo mandato. A primeira vez que me confrontei com a sua prosa, e que muito me impressionou, foi a carta que ele dirigiu ao ministro da Marinha e Ultramar referindo a viagem do alferes Marques Geraldes até Selho (hoje no Senegal), para ir buscar mulheres raptadas de um parente do régulo local, é um belíssimo documento.
A Igreja de São José de Bolama era o templo religioso da capital da colónia. Será devorada por um incêndio e deu origem à atual igreja.
Duas imagens, Cacheu e Bissau, respetivamente, desconhecia inteiramente estas gravuras, ajuda-nos a entender a relação entre as povoações e a fortificação de cada uma. Aspeto curioso é a minucia do artista que nos mostra a navegação do Geba, ainda não existe o cais do Pidjiquiti.


A participação portuguesa na Exposição Internacional de Antuérpia, 1930:
A Guiné no catálogo da Exposição Colonial Portuguesa


Rosto, a cores, da apresentação da Guiné
Uma imagem idílica de uma estrada da Guiné. A autora deste conjunto de ilustrações foi uma reputada ilustradora e pintora, Raquel Roque Gameiro Ottolini, filha de um famosíssimo aguarelista, Alfredo Roque Gameiro, que tem uma cativante casa-museu em Minde, aí se podem ver obras que revelam o seu excecional talento. É bem provável que a autora tenha recebido informações sobre as estradas de terra batida da Guiné e idealizou esta atmosfera de sonho
Três imagens da Guiné para visitantes da Exposição Internacional de Antuérpia. Raquel Roque Gameiro era uma artista modernista, pendo para este arrozal, linhas sóbrias, com um arroz fora da moldura, para nos sugerir a pujança da cultura orizícola, já muito importante neste tempo. A segunda imagem é esclarecedora que havia cultura do algodão, o capataz branco segue atentamente o trabalho guineense.
Um curioso mapa da época, atribuindo o nome de Senegâmbia ao Senegal. A Africa Ocidental francesa era vastíssima e o nome Senegâmbia vinha do passado remoto. Veja-se os nomes do que se consideravam as povoações principais e como se procura caracterizar o Boé.
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Nota do editor

Último post da série de 30 DE AGOSTO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24601: Historiografia da presença portuguesa em África (383): Um importante ensaio sobre a missionação franciscana na Guiné e Rios da Guiné, século XVIII na "Revista Itinerarium", ano LXVIII, n.º 228, julho-dezembro de 2022 (2) (Mário Beja Santos)

domingo, 26 de março de 2006

Guiné 63/74 - P635: Bafatá: o Café do Teófilo, o desterrado (Manuel Mata / Humberto Reis / Luís Graça)


Foto nº 1




Foto nº 2


Foto nº 3

Guiné > Zona Leste > Bafatá > Estrada de Bambadinca-Batatá, vista de heli (foto nº 1); vista aérea de Bafatá, com o Rio Geba do lado direito (foto tirada de helicóptero, do lado oeste) (foto nº 2); o Humberto Reis na piscina de Bafatá (foto nº 3),


Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-fur mil op esp, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).

Fotos:  © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. O Café do Teófilo era conhecido por todos os tugas que estiveram em Bafatá, ou iam a Bafatá, em serviço ou em lazer. 

Era o caso do pessoal metropolitano da CCAÇ 12 que, mais ou menos de mês a mês, conforme a frequência e a intensidade da actividade operacional, ia a Bafatá comer o seu bifinho com batatas fritas (em geral na Transmontana), visitar as amigas do Bataclã, fazer compras na Casa Gouveia ou simplesmente distrair a vista pelas montras da civilização...

Com cerca de 4 mil habitantes (no princípio dos anos 60), Bafatá era a sede de concelho do mesmo nome e a segunda maior cidade da Guiné (passou de vila a cidade só em Março de 1970!)...

O Teófilo (ninguém sabe o seu nome completo) foi aqui evocado pelo Manuel Mata, do Esquadão de Reconhecimento Fox 2640 (Bafatá, 1969/71):

"Café do Teófilo: À saída de Bafatá, na estrada para Bambadinca. Este homem era sobrevivente de um grupo desterrado para a Guiné nos anos 30. No período da guerra era apontado como sendo informador do IN. Foi pessoa com quem me dei particularmente bem, pois tinha pelos alentejanos (em especial de Portalegre) um carinho especial. Era sítio que eu visitava com alguma regularidade, tomava-se uma cerveja gelada, com alguma descrição, acompanhada de uma breve conversa. Era uma pessoa de parcas palavras" (*).

Mandei a seguinte mensagem ao Manuel Mata:

"A história do Teófilo intressa-me. Eu julgo que ele era das Caldas da Rainha, do Oeste (eu sou da Lourinhã). Seria ? Fiquei com essa ideia, das minhas conversas (escassas) com ele... Eu ia lá algumas vezes, recordo-me da filha [, a Rita]. Ele era de poucas palavras (acrescentei eu, à tua legenda).

"Sabes o motivo por que foi desterrado (ou deportado, como se dizia na época) para a Guiné ? Por razões políticas ? Seria ? Terá estado envolvido nalgum movimento de contestação ao Estado Novo nos anos 30 ? Recorde-se que em 1936 foi criado o campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde (**), e que entre 1916 e 1939, mais de 15 mil portugueses foram presos e, muitos deles, deportados (para as ilhas adjacentes e colónias) por razões políticas, segundo estimativa do historiador Fernando Rosas ...

"De facto, no meu tempo, ele já tinha 40 anos de Guiné... Nunca aprofundei essa estória. Voltaste a saber dele ? Vou perguntar também ao meu camarada Humberto Reis, da CCAÇ 12" (***)...

2. Informações adicionais do Manuel Mata sobre o Teófilo:

No que respeita ao sr. Teófilo, soube em certa altura após o 25 de Abril de 74, suponho que por um dos meus amigos de Castelo Branco, donde a esposa do senhor era natural, que a Ritinha e o irmão (furriel na altura, em Bissau) viviam em Lisboa.

Quando cheguei a Bafatá, em Novembro de 1969, alguém me disse:
- O fulano ali do café procura militares de Castelo Branco e de Portalegre.

Lá fui eu e dois companheiros de Castelo Branco, acabámos por jantar com o senhor.

Posteriormente em conversas havidas, recordo de me contar que era sobrinho do dr. Tapadinhas, proprietário da Tipografia Tapadinhas, em Portalegre.

Contou-me que tinha sido desterrado para a Guiné no inicío dos anos trinta, num grupo de 40 elementos dos quais restavam três à data, estando ele e um outro em Bafatá de quem não me recordo o nome - sei que tinha uma taberna na Tabanca entre a casa dele e o Hospital (pessoa com que, de resto, privei algumas vezes, para ouvir os programas em Português da BBC de Londres).

Sei que o sr. Teófilo tinha vindo à Metrópole apenas duas vezes, tinha uma estima profunda pelos Guineenses, pois foi esse povo maravilhoso que o tratou de inúmeras doenças, e só assim conseguiu sobreviver.

Deu-me muitos conselhos, contou-me muita coisa confidencial, mas nunca quis falar da razão que deu origem ao seu desterro. Sempre respeitei a sua vontade, não o pressionando.

Manuel Mata

3. Comentário de L.G.:

Esta história é fantástica: o Manuel Mata veio-me refrescar a memória.

Lembro-me muito bem do velho Teófilo, que era apontado com um caso excepcional de sobrevivência às duras condições da Guiné: ele sobreviveu a tudo, o paludismo, a bilharziose, a doença do sono e tantas outras doenças tropicais; ao isolamento, ao desterro, à deseperança...

Como todos os brancos (em especial, comerciantes) que eu conheci na Guiné, o Teófilo tinha fama de estar feito com o IN (ou, noutros casos, era-se inevitavelmente suspeito de ser informador da PIDE/DGS, como era o caso de um comerciante de Bambadinca, cuja casa frequentei /frequentámos algumas vezes)... Não me recordo de ter visto os agentes da PIDE/DGS de Bafatá no Café Teófilo...No Transmontana, sim...

De qualquer modo, o Manuel Mata (que passou a sua comissão em Bafatá e era visita da casa do Teófilo) sabe mais histórias sobre este grupo de deportados que não nos quer contar, por razões que eu respeito... Tratava-se de homens que não morriam de amores pelo Estado Novo, conhecidos por serem do reviralho... E daí a suspeita (grosseira) de pactuarem com o IN (leia-se: os turras)... Enfim, é pelo menos uma primeira conclusão que eu posso tirar...

Mas há mais malta da nossa tertúlia que esteve em (ou passou por) Bafatá, para além do Manuel Mata (Esq Rec Fox 2640), do pessoal da CCAÇ 12 (eu, o Humberto, o Tony Levezinho, o Fernandes) e outra malta que esteve no Sector L1 (Bambadinca)... Refiro-me ao A. Marques Lopes (CART 1690), o Jorge Varanda (CCAÇ 2636), o Jorge Tavares (CCS do BCAÇ 2856), o Maurício Nunes Vieira (CCS do BART 3884) , etc.

O Teófilo, cuja memória evoco aqui oom o respeito que é devido aos "nossos mais velhos" (hoje se fosse vivo teria mais de 90 anos, mesmo perto dos 100), fez-me lembrar-me o caso dos lançados... Eram tipos (desde os condenados pela justiça do rei aos aventureiros, os judeus e depois aos cristãos -nosos, aos ‘assimilados’, etc.) que desde o tempo de D. Henrique eram literalmente lançados, sozinhos, com a missão de explorar, por conta e risco, a costa da África Ocidental, os países subsaarianos, até à próxima viagem das caravelas ...

Os lançados eram, na época dos Descobrimentos, uma espécie de guias e picadores, de espiões, de antropólogos, de mediadores culturais,  de embaixadores, de bandeirantes: iam à frente, para conhecer e mostrar uma caminho… Também eram conhecidos por tangomaus. Nem sempre foram bem vistos pela autoridade régia (que pretendia manter o monopólio do comércio com a África Ocidental, enquanto os lançados também faziam negócios com os ingleses, os franceses e e os holandeses) nem muito menos pelos missionários que os acusavam de estarem completamente cafrealizados, vivendo em poligamia, no pecado, à maneira dos cafres...

Estamos a falar ainda do Séc. XV… Os nossos amigos tertulianos estão a imaginar serem lançados no Xime, com uma missão (contactar os povos da margem direita do Corubal) e a promessa de voltarem a casa no ano seguinte ?

Estas são outras histórias do Império que muitos de nós desconhecem... Sobre os Lançados, vd. Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses (ed lit Luís de Albuquerque). Vol II. Lisboa: Círculo de Leitores. 1994.582-584.

Ver também o texto do senegalês Mamadou Mané - Algumas observações sobre a presença portuguesa na Senegâmbia até ao séc. XVII, publicado na Revista ICALP, vol. 18, Dezembro de 1989, pp. 117-125, disponível em formato pdf na página do Instituto Camões.
____________

Notas de L.G.

(*) Vd post de 25 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLII: Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Bafatá, 1969/71) (Manuel Mata) (3)

(**) Segundo o historiador Fernando Rosas, o número de deportados nas ilhas e nas colónias, em finais de 1931, meados de 1932, entre oficiais, sargentos praças e civis, era de 1421 (a maior parte em Angola, Timor, Cabo Verde e Açores).

Na Guiné, o número de deportados reviralhistas (opositores ao regime instalado em Portugal depois do golpe militar de 28 de Maio de 1926) era de 46, dos quais 18 oficiais, 5 sargentos, 5 praças e 18 civis... Será que entre estes civis poderia estar o nosso jovem Teófilo ? Recordo-me do Teófilo me ter sempre falado de um grupo original de 40 portugueses que veio para a Guiné, e de que ele era já (em 1969/71) um dos últimos sobreviventes. Julgo que mais tarde (se não mesmo logo em 1932) ele e os seus companheiros de infortúnio terão beneficiado de uma amnistia.

Fonte: História de Portugal (ed. lit. José Mattoso), Vol. 7: O Estado Novo (1926-1974). Lisboa: Circulo de Leitores 1994. 209.

(***) Eis o que o Humberto Reis me esclareceu sobre o assunto:

"Do Teófilo apenas me lembro de que era lá que se formava a coluna de regresso a Bambadinca, por isso aí se bebiam os últimos copos. Também me recordo que a filha, Rita, trabalhava nos correios lá em Bafatá e que a balança se queixava, cada vez que ela se punha lá em cima (era uma miúda nova mas já bastante forte para a idade). De resto já não me recordo de mais nada ".