Exposição A Marinha na República... Museu da Marinha, Lisboa, de 1 de Outubro de 2010 até 5 de Janeiro de 2011, das 10:00 às 17:00 horas.
A exposição, organizada no âmbito das Comemorações do 1.º Centenário da Implantação da República, está dividida em dois núcleos: (i) o papel dos Marinheiros e Navios no desenrolar dos acontecimentos do 5 de Outubro de 1910; (ii) o papel da Marinha na Implantação da República e das unidades navais na primeira década do século XX.
Num primeiro núcleo evoca-se a participação dos Marinheiros, abordada de forma sequencial, desde os dias que precederam o Cinco de Outubro, sendo localizado no Arsenal da Marinha, que confinava com a Praça do Município, o Terreiro do Paço e o rio Tejo. O segundo núcleo respeita aos Navios que a Marinha possuía em 1910 e em especial aos que estavam ancorados no estuário do Tejo na altura dos acontecimentos.
Este poste resulta de uma pequena reportagem feita a pensar sobretudo nos camarigos que, vivendo fora de Lisboa, não irão ter oportunidade de ver esta exposição de grande interesse cultural e historiográfico... Afinal, trata-se da nossa história e da nossa marinha... É também uma pequena homenagem aos nossos camaradas da Marinha que passaram pelo TO da Guiné, entre 1961 e 1974, bem como a todos os meus parentes, os Maçaricos de Ribamar, Lourinhã, que ao longo de séculos viveram (e ainda vivem) no mar, junto ao mar, com o mar, do mar, para o mar e por causa do mar, servindo nomeadamente a nossa Marinha... (Um exemplo extraordinário de gente de gente corajosa e abnegada que não se deixa facilmente encantar pelas sereias de terra...). (LG)
O papel da Marinha foi determinante no triunfo da República em 5 de Outubro de 1910... O desenvolvimento da nossa moderna Marinha de Guerra está, por sua vez, associado à reacção do País ao Ultimato Inglês, em 1890, e à expansão colonial...
Legenda > 1- Rotunda; 2- Quartel de marinheiros (em Alcântara); 3 - Baixa.... No estuário do Tejo, estavam ancorados três cruzadores (D. Carlos I, S. Rafael e Adamastor) e um navio de transporte (Pêro de Alenquer)...
A adesão de oficiais, sargentos e marinheiros aos ideais republicanos é explicada, na exposição, por factores de natureza sociológica: (i) duas importantes unidades da Marinha, em terra - o Arsenal da Marinha e o aquartelamento de marinheiros em Alcântara - situavam-se em zonas de habitação popular onde era maior a implantação do Partido Republicano; (ii) a longa permanência, no estuário do Tejo, de navios da Marinha, ou em fase de construção no Arsenal... Um desses navios, o cruzador Adamastor, tinha sido construído graças a uma subscrição pública nacional...
Foto acima: Os cruzadores da Marinha salvando a terra, aquando da proclamação da República. Imagem de Illustração Portugueza, nº 243, de 17 de Outubro de 1910.
As canhoneiras Zagaia e Lúrio navegavam, em 5 de Outubro de 1910, pelas águas de Cabo Verde e Guiné...
A esquadra de guerra portuguesa, em 1910, defendia a soberania do país nos diferentes territórios ultramarinos, desde a África à Ásia... Portugal dispunha de um couraçado (Vasco da Gama) e de cinco cruzadores (D. Carlos I, S. Gabriel, S. Rafael, Adamastor e Rainha D. Amélia)...
A canhoneira Pátria, óleo sobre tela, da autoria de Jorge Estrada (1906) (Museu da Marinha)... Construído no Arsenal da Marinha em Lisboa com fundos recolhidos por portugueses do Brasil, no âmbito de um Subscrição Patriótica... Entrou serviço da Armada em 1903...
O famoso Mapa Cor de Rosa (1886) cuja contestação, pela Inglaterra, levaria ao humilhante Ultimatum, de 1890... O ultimato do governo britânico, então chefiado pelo primeiro ministro Lord Salisbury, foi entregue a 11 de Janeiro de 1890 na forma de um Memorando que exigia a retirada das forças militares portuguesas, chefiadas pelo major Serpa Pinto, do território compreendido entre as colónias de Moçambique e Angola (actuais Zimbabwé e Zâmbia). Essa vasta região, de Angola à contra-costa, era reivindicada como direito histórico por Portugal. O famoso Mapa cor-de-rosa terá nascido justamente da Conferência de Berlim (1884/85), na altura em que as grandes potências europeias (Inglaterra, Alemanha e França) disputam entre si a partilha de África...
Cartoon do grande Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905)... A claudicação de Portugal face às exigências britânicas será vista como uma suprema humilhação nacional pelos republicanos portugueses, que crucificaram o governo e o rei D. Carlos I. António de Serpa Pimentel será então nomeado primeiro-ministro, na sequência da queda do governo. Estes acontecimentos estão também na origem da criação de A Portuguesa, o nosso futuro hino nacional.
Sob a liderança do Ministro da Marinha, o açoriano Jacinto Cândido da Silva (1857-1926), e com a lei de 21 de Maio de 1896, Portugal iniciou um programa de modernização da sua esquadra de guerra, substituindo por modernos cruzadores as velhas e obsoletas corvetas mistas (compare-se a esquadra de 1880 com a de 19910). Foram construídos cruzadores no estrangeiro, em Inglaterra (D. Carlos) e em França (S. Gabriel e S. Rafael), mas também no Arsenal de Lisboa (Rainha D. Amélia)... Mas o primeiro cruzador a ser construído, em Itália, será o cruzador Adamastor, fruto da Grande Subscrição Nacional, uma campanha patriótica de recolha de fundos que mobilizou o país, na sequência da humilhação que foi o Ultimato inglês e da nossa incapacidade de resposta, política, diplomática e militar...
A canhoneira Chaimite, no Rio Tejo, em 3 de Outubro de 1898 (Foto do arquivo fotográfico do Museu da Marinha). Foi, além ao cruzador Adamastor, a outra unidade naval adquirida com os fundos resultantes da Grande Subscrição Nacional... Foi, além disso, a primeira unidade naval a ser construída em aço, no nosso país, no estaleiros da Parry & Son, em Lisboa... Lançada à água em 1898, será abatida em 1920, aos efectivos da Armada, depois de intensa actividade operacional.
Ainda com os dinheiros da Grande Subscrição Nacional (, iniciada em Lisboa, no Teatro da Trindade, em 23 de Janeiro de 1890, doze dias depois do Ultimato), foram construídos duas lanchas-canhoneiras, a Pero d'Anaia e Diogo Cão, em aço, nos estaleiros da Parry & Son. Foram navios como este que participaram nas campanhas de pacificação em África, nos últimos anos da Monarquia e depois durante a República... Ambos os navios foram lançados à água em 1895... Na foto acima, a Diogo Cão "num dos rios africanos por onde navegou entre 1895 e 1910" (Imagem do arquivo fotográfico do Museu da Marinha).
O cruzador Adamastor... Entrou ao serviço da Marinha em 1897 e foi abatido ao efectivo em 1932. A revolução industrial e os progressos tecnológicos no domínio da metalurgia permitiram substituir a vela e a madeira pelo aço e pela energia a vapor, bem, como equipar os novos navios com peças de artilharia mais potentes, sofisticadas e seguras. Houve igualmente uma revolução a nível do armamento e das transmissões: por exemplo, o cruzador D. Carlos foi a primeira unidade da nossa Armada a dispor de telegrafia sem fios (TSF).
Marinheiros do cruzador Adamastor, em exercício de manobras, em 1905. Na madrugada de 4 de Outubro de 1910, a guarnição tomou conta do navio e, sob as ordens do 2º tenente Mendes Cabeçadas (1883-1965), foram disparados três tiros de artilharia, sinal de código, para as forças em terra, significando que os navios no Tejo estavam sob controlo dos revoltosos... (Pormenor de fotografia do arquivo fotográfico do Museu da Marinha).
Machado Santos (1875-1921), o "herói da Rotunda", tinha o posto de 2º tenente... Morrerá assassinado, na noite de 19 de Outubro de 1921...
O resto da exposição é para se ver,com tempo e vagar, no Museu da Marinha, até ao próximo dia 5 de Janeiro de 2011. Sobre as comemorações do I Centenário da República, e as iniciativas culturais que se realizaram ao longo de 2010, vd. o sítio oficial da respectiva comissão.
Reportagem fotográfica: Luís Graça (2010) (com a devida vénia ao Museu da Marinha...)
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Nota de L.G.:
Último poste da série > 3 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7376: Agenda Cultural (93): A Sociedade Filarmónica de Crestuma (José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp, CART 1689, 1967/69)